Resenha: “The Getaway” (2016) – Red Hot Chili Peppers

Foto: Steve Keros / Divulgação
Foto: Steve Keros / Divulgação

Cinco anos após o controverso “I’m With You” (2011), os Red Hot Chili Peppers voltam ao mercado fonográfico aspirando um novo patamar musical com o lançamento do décimo primeiro álbum de estúdio da banda; “The Getaway”, apresentado ao público no último dia 17 de junho.

Com a missão de expandir o rock-funk-pop dos californianos em direção à novas possibilidades e experimentos, o disco interrompe uma parceria de mais de duas décadas com o produtor Rick Rubin, abrindo espaço para os ingredientes contemporâneos de Danger Mouse e Nigel Godrich – membro honorário do Radiohead – nessa difícil empreitada.

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Muito difícil, pelo simples fato de tentar soar como algo novo sob Sol, especialmente em se tratando de Red Hot Chili Peppers, que já orbitou diante da estrela central do Sistema Solar ao esboçar a criação de um gênero híbrido lá em 1984, no confuso álbum de estreia que leva o nome da banda. A tentativa inicial foi aprimorada e consolidada ao longo do “Mother’s Milk” (1989) – já com a formação clássica com John Frusciante e Chad Smith – e, principalmente, no excelente “Blood Sugar Sex Magik” (1991).

O apogeu comercial do quarteto veio em 1999, com o lançamento do “Californication” e foi atestado, três anos mais tarde, pelo “By The Way”; com os Chili Peppers impulsionando dezenas de hits radiofônicos e subindo o degrau da música pop; carregando e destrinchando bem a proposta, até então inovadora de mesclar o funk e o rock.

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A história da banda em si já justifica um provável insucesso que as ambições inovadoras de “The Getaway” podem sugerir. Assim como os antecessores “Stadium Acardium” (2006) e “I’m With You” (2011), o novo disco dos Red Hot Chili Peppers respira novos ares, bebe de novas fontes e até apresenta novos elementos mas, no geral, acaba entregando um pouco mais do mesmo.

Nesse caso especifico, mais da faceta melodramática introspectiva dos caras, que começou a se desenhar de forma mais intensa e bem explorada no subestimado “One Hot Minute” (1995) – quando Dave Navarro substituiu Frusciante; passeou sutilmente no final dos anos 90 e pairou sobre boa parte dos trabalhos mais recentes.

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A diferença parece estar no desenrolar da temática: os problemas com as drogas e a perda de amigos deram lugar ao fim do casamento de Anthony Kieds com a modelo Helena Vestergaard, no final de 2014; fator que conduz explicitamente boa parte das letras e a atmosfera coração partido de “The Getaway”.

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Há de se considerar também toda expectativa gerada, antes mesmo do lançamento oficial do novo álbum, e suas consequências decorrentes. A verdade é que tudo isso começou a se desenhar de forma bastante promissora, principalmente após a divulgação prévia das três músicas que abrem o disco.

A faixa-título “The Getaway” chega com um beat retilíneo, calmo e bem guiado pela melodia fragmentada dos vocais de Kieds. A música esboça uma fuga no final, mas esse fluxo só é interrompido, de fato, pelo final brusco que antecede um clima crescente, amarrado pelo riff de baixo dos primeiros acordes de “Dark Necessities”.

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O primeiro single escolhido pelos caras apresenta todas as características rítmicas de um autentico hit do RHCP. O encaixe orquestrado pelo baixo de Flea na introdução soa ainda melhor quando as guitarras de Josh Klinghoffer aparecem para dobrar o arranjo ao longo do verso, bem acompanhados por um singelo piano ao fundo. No final, o clímax vem novamente em forma de riff, dessa vez de guitarra.

Em seguida, Chad Smith pesa a mão para apresentar “We Turn Red”, e a faixa remete à boas lembranças da fase “anos 90” do quarteto. Aqui, o baixo segue bem marcado, a guitarra dialoga em arcos com a linha vocal e o refrão traz um arranjo dedilhado de violão e slides sob medida, desacelerando o ritmo gradativamente.

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Saldo: três boas músicas, que revisitam algumas das melhores características dos Red Hot Chili Peppers – sem mergulhar fundo na mesmice; e abrem um pouco mais de espaço para a personalidade musical de Josh Klinghoffer – algo extremamente preterido até então. Boa fórmula para deflagrar um novo modo de concepção, com o dedo sutil dos novos produtores.

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Poderia ser um EP? Talvez. Mas como ainda restam dez faixas pela frente, é de se esperar um pouco mais de intensidade e, principalmente, mais experimentos musicais que, ao menos, justifiquem toda expectativa gerada, certo?

Errado. “The Longest View” e “Goodbye Angels” dão continuidade ao disco brecando, por hora, qualquer anseio por reviravoltas; estacionando nas lineares baladinhas românticas. A segunda até chega a esboçar um caminho diferente em seu pré-refrão – sustentado pela bateria, que soa muito similar à introdução de “Can’t Stop”; e no refrão bem encaixado. Mas ainda não convence o suficiente, como as anteriores. Pode-se dizer o mesmo a respeito do interlúdio em forma de slap, feito por Flea, que abre caminho para um solo cheio de fuzz e clichês “Frusciantianos” de Josh.

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“Sick Love” traz uma discreta participação de Elton John nos pianos. O desenrolar da faixa é bem digerível. Ainda transitando em uma marcha mais lenta, mas com arranjos simplórios bem harmonizados. Os timbres duvidosos escolhidos por Klinghoffer – especialmente no solo final – destoam.

A tão aguardada fuga da zona de conforto enfim se apresenta escancaradamente em “Go Robot”, que reforça a assinatura de Danger Mouse e funciona surpreendentemente bem, ao adicionar a temática flashback 80’s ao estilo consagrado do grupo. Algo que soa meio Prince, meio Daft Punk, mas de um modo autentico RHCP.

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Destaques positivos também para “Detroit” e “This Ticonderoga”; as duas faixas que mais se aproximam de um – cada vez mais distante – lado visceral do RHCP. De forma mais contida, ambas também apresentam algumas variações; em vocais mais altos, arranjos de cordas e quebras inesperadas. Antes delas, mais linearidade em “Feasting On The Flowers”, que não acrescenta quase nada ao conjunto.

Anthony Kieds parece ter reservado todo o resto de lamúria que ainda lhe sobrava para “Encore” e “The Hunter”, trazendo a melancolia reflexiva à tona sob arranjos pouco inspiradores. E finalmente, “Dreams Of a Samurai” encerra o “The Getaway” com piano e coro feminino. A linha vocal no padrão linear, que guia quase todo álbum, entrega o necessário para que a bateria quebrada de Chad Smith dite o ritmo do verso, com as guitarras assumindo a responsa no refrão.

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Depois de mais de 30 anos de carreira, a tentativa de reinvenção dos Red Hot Chili Peppers em “The Getaway” é louvável. Por mais que o disco não entregue genuinamente o que ele promete – e a banda ainda se mostre refém da sua própria história; é notório que há um incômodo criado por essa zona de conforto.

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O quarteto se mostra aberto à experimentos nessa nova fase e, mesmo que de forma ainda tímida, isso pode indicar o ponto de partida para um caminho mais ousado. A tentativa é componente fundamental de um processo maior, e “The Getaway” pode ser definido, em um futuro próximo, como um álbum que desencadeou uma possível transição dos Red Hot Chili Peppers.

Vale ressaltar também a impressão de que Anthony, Flea e Chad se mostram mais abertos para a liberdade criativa de Josh Klinghoffer. Em contrapartida, o guitarrista ainda precisa imprimir um pouco mais da sua identidade para sair da sombra do seu antecessor. A primeira grande reviravolta na carreira dos Chili Peppers se deu no ápice criativo do “Blood Sugar Sex Magik”, quando Frusciante se transformou em Frusciante. Ainda há tempo para Josh ser Josh.

Tracklist

01 – The Getaway
02 – Dark Necessities
03 – We Turn Red
04 – The Longest Wave
05 – Goodbye Angels
06 – Sick Love
07 – Go Robot
08 – Feasting On The Flowers
09 – Detroit
10 – This Ticonderoga
11 – Encore
12 – The Hunter
13 – Dreams Of A Samurai

Nota: 6,0

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