————————————– Leia a entrevista na íntegra:
Eu sei que vocês disseram que deram uma pausa por questões pessoais há cerca de cinco anos e agora estão voltando. Gostaria de saber o que foi o impulso para o retorno de vocês. Vocês continuam com as carreiras individuais, então o que motivou essa decisão de voltar? Como foi essa história?
5 a Seco: O 5 a Seco sempre foi movido pelo desejo de estarmos juntos. Foi assim em 2009, quando começamos. A ideia era ser um grupo para shows, sem necessariamente planejar uma banda estável. A vontade de estar junto, o prazer e o sentimento de pertencimento a esse coletivo foram se fortalecendo ao longo do tempo, de uma forma quase inevitável para nós. Chegamos à conclusão de que era isso o que queríamos, que era isso que precisaríamos abraçar. A pausa também aconteceu no momento certo, para evitar a burocratização das relações dentro da banda e das rotinas de turnê.
O mais importante sempre foi o brilho no olho, a felicidade e a saúde da nossa amizade, que continua sendo o centro de tudo. Quando voltamos ao estúdio neste ano, o processo foi muito intenso, porque além de produzir o disco, também nos preparamos para voltar aos palcos, como no Coala Festival. O pontapé para o retorno foi a saudade, a vontade de estarmos juntos e a sensação de que era o momento certo. Voltar agora, mais velhos e maduros, com outras referências, tem sido maravilhoso.
Em relação ao disco, vocês mencionaram que o tempo, como tema, foi algo que surgiu naturalmente, e isso me faz pensar na relação entre esse tema e a obra de vocês. Como foi que o tema do tempo acabou permeando o trabalho, e de que forma ele se reflete nas músicas?
5 a Seco: Eu acho que o tempo, como tema, surgiu quase por uma questão de urgência, não de planejamento. Cada um de nós, de forma individual, vivencia a passagem do tempo de maneiras muito pessoais e isso naturalmente acaba sendo refletido nas músicas. O tempo se torna um tema incontornável, algo que, à medida que envelhecemos, fica cada vez mais evidente. O corpo vai mudando, as pessoas ao nosso redor também mudam, e isso impacta diretamente nossa visão de mundo.
Não foi uma decisão prévia de que falaríamos sobre o tempo, mas a nossa vivência e o momento em que estávamos, tanto pessoal quanto coletivamente, fizeram com que esse tema se tornasse central no disco. À medida que íamos compondo, o tempo apareceu como um elemento recorrente, e é engraçado como a gente só percebe isso depois de ter o trabalho finalizado. Olhando para o conjunto do álbum, vemos que o tempo é algo que permeia as canções, mas sem que tenhamos planejado isso conscientemente. É mais uma reflexão do que uma escolha.
Sobre o título do álbum, “Sentido”, como ele foi escolhido? Como ele se conecta com a temática do disco?
5 a Seco: O nome “Sentido” surgiu um pouco tarde no processo, mas foi um daqueles momentos em que, quando apareceu, todos nós sentimos que fazia total sentido. O Vini [Calderoni] teve a ideia e, quando ele sugeriu, todos nós aceitamos de imediato. O título reflete a ideia de que as coisas acontecem de maneira orgânica e, sem a gente perceber, o que a gente precisa é do tempo para dar o nome certo a algo. Como ele mesmo costuma fazer, ele foi o responsável por batizar o disco, e, quando ele trouxe “Sentido”, ficou claro que era isso que estava mais alinhado com o que queríamos expressar.
O significado do título é multifacetado. A palavra sentido carrega várias interpretações: pode se referir ao sentido da vida, ao sentido do que estamos fazendo aqui, ou até mesmo ao sentido da amizade e da união que ainda existe entre nós. O mais interessante é que cada um de nós teve uma interpretação diferente do nome, e isso é muito representativo do nosso processo criativo, que é sempre plural e variado.
Além disso, tem algo interessante sobre o processo coletivo do 5 a Seco. Cada um traz suas próprias vivências, suas experiências pessoais, e isso acaba moldando o resultado final. Mesmo que as músicas sejam criadas de forma individual, todas elas convergem para um mesmo ponto, que é o disco, e isso cria uma identidade única para o trabalho. O fato de estarmos todos vivendo experiências paralelas em nossas carreiras solo também tem uma influência importante no que acontece dentro do grupo. Cada um de nós traz algo único, mas, no final, o trabalho tem uma coesão que reflete o coletivo.
Em relação às escolhas no disco, acredito que é um reflexo da nossa trajetória pessoal e profissional. O processo criativo é sempre leve porque, ao mesmo tempo em que estamos cada um em seu próprio espaço, ainda conseguimos nos conectar de maneira profunda nas músicas e no objetivo comum. Isso fez com que o resultado fosse muito autêntico e alinhado com o que somos como grupo. Assim, “Sentido” não só faz sentido como título, mas também sintetiza o momento que estamos vivendo agora.
Por fim, uma curiosidade: o nome do disco foi decidido literalmente no último minuto, durante o show no Coala. Eu estava escrevendo uma fala que faria no palco para anunciar o álbum, e a palavra “sentido” apareceu várias vezes. Foi quase como um sinal, e logo todos nós concordamos. Esse processo foi natural, orgânico, e, de certa forma, bem simbólico de como a nossa música se desenvolve – sem pressa, sem pressões, apenas vivendo o momento.
Vi que vocês também tiveram a participação do Chico Buarque. Ele trabalhou com vocês na produção da música?
5 a Seco: A canção foi composta pelo Alfredo Del Penho, Vini Calderoni e Beto Lemos. Foi algo indescritível, se você conhece a obra do Chico Buarque como a gente conhece, você pode imaginar como foi para nós. Eu até postei isso hoje de manhã: o Chico Buarque é muito mais que uma influência, ele é uma peça essencial na história da MPB, que é o espaço onde a gente se encontra. Ele é uma pedra fundadora, um pilar, alguém que ouvimos desde que nascemos. Para mim, o Chico Buarque é sinônimo de música, é um dos meus maiores heróis, assim como é para todos nós. Para a gente, ouvir ele dizer “sim”, ainda estamos flutuando de felicidade.
Eu acredito que o Chico aceitou o convite porque ele sentiu que essa faixa estava realmente conectada com ele. Não sei se posso falar por ele, mas para a gente, foi algo profundo, como se ele estivesse sempre ali, só esperando a gravação. Quando estávamos no estúdio e ouvíamos a música, a parte em que ele cantaria, a gente já cantava junto com a voz dele, e isso nos emocionava. Antes mesmo de ele gravar, já sabíamos que a versão com a voz dele seria algo imenso. Quando ele gravou, ficou ainda mais incrível.
Sobre a ideia do coletivo, que vocês mencionaram várias vezes, é uma temática muito interessante, porque hoje, grupos e coletivos são mais raros, principalmente na música. Sabemos que a música sempre é feita em coletivo, mas o mercado tem dado mais visibilidade para artistas solos. Como isso reflete no momento atual? Qual mensagem vocês acham que o disco, com essa essência coletiva, passa para o mundo atual?
5 a Seco: Acho que a Música em si já é uma mensagem, carregada das vivências de cada um. O ser humano só sobrevive enquanto espécie em grupo. Desde os primórdios, é assim, e continuará sendo assim. Quanto mais nos individualizamos, mais enfraquecemos. Para mim, é quase uma questão de sobrevivência, fazer parte de um coletivo.
Você falou de uma ideia interessante sobre como, nos anos 90, havia muitas bandas no topo das paradas, mas, nos anos 2000 e hoje, são quase todos artistas solos. A sociedade tem se individualizado e isso afeta os coletivos, como as bandas. Esse processo de individualização está mais ligado ao capitalismo, que promove essa divisão. Mesmo com toda essa separação, ainda existem resistências, e acho que esse disco é uma delas. Ele representa uma resistência a esse movimento, apesar de estarmos inseridos nesse sistema.
Este disco, mesmo sem ser um manifesto, é um gesto de resistência. Não temos a intenção de fazer um discurso político ou algo do tipo, mas o que queremos é promover o coletivo, a amizade e a troca. Quando o público nos vê no palco, não é só a música que eles celebram, mas também a união da banda, o fato de estarmos juntos. Esse é o grande tema do disco, a volta ao coletivo. Não é algo discursivo, mas um gesto coletivo de resistência.
Para concluir, a última pergunta: vocês pretendem fazer shows de divulgação para o álbum? Como será a agenda de apresentações?
Em breve, teremos novidades sobre isso. Estamos ansiosos para compartilhar mais com vocês, mas ainda estamos acertando os detalhes. Aguardem!
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