Entrevistamos A Olívia sobre novo disco, “Obrigado por Perguntar”

A Olívia
Foto: Camila Cara/ Divulgação

A Olívia lançou, em 11 de julho deste ano, o seu mais recente disco de estúdio, intitulado “Obrigado por Perguntar”. O sucessor de “Selva Rock Brasileira” (2024) conta com 13 faixas que passeiam pelo punk, reggae, indie, pop e hardcore, além de experimentar uma abordagem poética para refletir e criticar nosso tempo.

O título do disco traz uma peculiaridade que é, na verdade, rotineira. Ao mesmo tempo em que questionam a insustentabilidade do cotidiano, A Olívia traz a frase como um reflexo do mundo atual, em que as relações estão desgastadas, com pouco espaço para o afeto.

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“Na vida real, quase ninguém para pra saber como você está. As pessoas estão cansadas, o planeta fervendo, as guerras seguem a mil… ‘obrigado por perguntar’ é a mensagem que transborda do peito. É dizer aquilo que se sente, sem pedir licença pra dizer, mas com total consciência e respeito pela palavra. A gente precisa ser firme e ao mesmo tempo se reencantar pela vida. Sem amor, fica insustentável”, conta Louis Vidall em nota.

“Obrigado por Perguntar” é, segundo os integrantes d’A Olívia, um dos seus maiores projetos desde a estreia, em 2017. O Nação da Música conversou com os músicos Pedro Lauletta (teclado e percussão), Pedro Tiepolo (baixo), Louis Vidall (vocal e guitarra), Murilo Fedele (bateria) e Marcelo Rosado (guitarra) sobre as faixas do novo disco, os temas abordados neste trabalho e as influências musicais de cada um.

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Entrevista por Isabel Bahé.

————————————– Leia a entrevista na íntegra:
Como surgiu a ideia do título, “Obrigado por Perguntar”?. O que ele representa? Como vocês chegaram a essa escolha? É um título que parece excêntrico, apesar de ser uma frase que a gente usa o tempo todo.
A Olívia: Acho que vem exatamente daí. É algo que falamos constantemente, mas que soa estranho quando dito com real intenção. Quase nunca paramos para perguntar de verdade como o outro está, e muitas vezes a resposta vem com pressa, como se a pessoa não esperasse que você realmente escutasse.

Por exemplo, na faixa “Boa Tarde”, tem um momento em que diz “Obrigado por não perguntar”. É uma brincadeira com essa dinâmica, sabe? Como se você estivesse no trabalho, alguém liga e pergunta “Oi, boa tarde, tudo bem?”, e você responde com tudo o que gostaria de dizer, mas não tem tempo nem para falar com a família ou amigos.

Não é exatamente um desabafo, mas também não é só uma ideia solta. É algo que está na cabeça e no coração. “Obrigado por Perguntar” parece, conceitualmente, um disco muito coeso.

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Vocês mencionaram que o álbum aborda questões que podem ser consideradas globais. Quais são essas mensagens e por que decidiram tratá-las?
A Olívia: Mas uma coisa interessante do trabalho é trazer temas amplos de um jeito muito pessoal. “Obrigado por Perguntar” é um exemplo: uma frase comum, mas que abre espaço para outras reflexões.

Tem questões globais óbvias, como “Insustentável”, que claramente fala sobre meio ambiente — e não só isso, mas também política. Porém, a abordagem é sobre como isso afeta o indivíduo, o universo particular da pessoa.

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No nosso EP anterior, “Selva Rock Brasileira”, já tínhamos uma pegada mais ambiental, como em “Lobo Guará”, que fala sobre animais em extinção. Já em “Insustentável”, que é uma faixa central deste álbum, vai além de só dizer “precisamos salvar as baleias”. Claro, é importante, mas a raiz do problema está no cotidiano: um estilo de vida insustentável.

Por exemplo, a hora extra que não paga nem uma cerveja depois do trabalho, ou perguntar “tudo bem?” sem ter tempo para ouvir a resposta. Ou ainda, os centros comerciais das grandes cidades, sempre nos mesmos lugares, refletindo discussões atuais que envolvem capitalismo, consumismo… coisas que funcionam globalmente, cada país do seu jeito, mas com problemas parecidos.

Vocês citam influências do punk, reggae, indie, pop e hardcore — gêneros bem distintos. Como equilibraram isso em um só trabalho?
A Olívia: Naturalmente, sendo uma banda de cinco integrantes, cada um tem gostos e influências diferentes, e isso acaba se misturando no nosso som. A sonoridade foi algo que fomos descobrindo aos poucos, e neste álbum conseguimos consolidar isso.

Por exemplo, em “Hasta luego”, tem influência do reggae, mas também uma levada punk, um indie maluco, um baixo mais sujo, e a bateria do Murilo com uma pegada hardcore, ele vem de um background mais pesado. Tudo isso junto forma o que a gente é.

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Dos gêneros que vocês mencionaram, o que achei mais fora da curva foi o reggae, porque geralmente o indie está muito associado ao rock, especialmente ao rock mais clássico. O indie normalmente tem essa pegada rock, seja punk, hardcore ou outros subgêneros. Mas o reggae me deixou bem curiosa.
A Olívia: Sim, exato. E claro, não somos uma banda de reggae, nem fazemos músicas do gênero, mas achamos legal trazer essas influências diferentes, sabe? Isso evita que o som fique genérico, como algo que já ouvimos mil vezes. Também não é algo forçado. Por exemplo, incorporamos um pouco da vibe jamaicana, até porque minha banda favorita é The Clash.

Isso já dá uma ideia das nossas influências. Também temos muita referência dos Paralamas e outras bandas. Acho que a mensagem também conta: se falamos de questões globais, misturar influências acabou definindo o tom do álbum.

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Se vocês fossem fazer uma playlist do A Olívia, sem incluir músicas da banda, o que não poderia faltar?
A Olívia: Ainda bem que o Pedrão não está aqui, porque senão a playlist dele teria 75 músicas! Ele conhece muita coisa, escuta de tudo. Por exemplo, ele curte umas batidas mais dance, rock clássico, prog… Ele é bem eclético. Com certeza, muito mais do que estou dizendo agora.

Já eu talvez seja o mais “indie” da banda, com um gosto mais moderno, até porque sou um pouco mais novo. Mas também escuto muita coisa. O Luiz, acho que é muito fã de Crush, mas não sei se tem outras influências.

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Por muito tempo, falávamos sobre Titãs e Paralamas, e parecia que éramos 100% oitentistas, né? Mas na verdade, fazemos rock no Brasil, então minhas maiores referências são bandas de rock brasileiro. Só que a gente escuta de tudo, né? Todo mundo é viciado em Beatles, todo mundo ama alguma música do Led Zeppelin, do Pink Floyd, e todo mundo adora Clube da Esquina. Gostamos de tudo, sabe?

O Murilo, por exemplo, que já tocou em bandas de metal, traz um peso diferente. Mas no final, é isso: até tivemos dificuldade em nos definir. Acabamos ficando com “rock brasileiro” porque, pô, pode ter várias influências, pode ser muita coisa.

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E isso é mais legal do que se prender a um rótulo muito específico. Tecnicamente, somos independentes, mas a sonoridade pode ser mil coisas diferentes.

Como vocês trabalham sendo cinco integrantes com gostos diferentes, mesmo que eles se encontrem em algum momento?
A Olívia: A maior parte das vezes, eu [Louis] trago as canções quase prontas, com letras e melodias definidas. Mas nunca foi algo rígido, tipo “tem que ser assim”. A gente sempre encontra o ritmo e a batida juntos. É comum eu chegar com uma ideia de guitarra que acaba virando teclado, ou o Pedrinho ter um riff de baixo que eu adapto para guitarra. Os arranjos são sempre muito coletivos.

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Nesse álbum, como somos muitos, às vezes quando uma música estava indo para um caminho incerto, o produtor (o Caneu) entrava e dizia: “Olha, já temos uma música pesada, já tem solo de guitarra… Que tal fazer essa com solo de teclado?” Teve esse cuidado de equilibrar as coisas.

Também temos parcerias legais. Por exemplo, uma música surgiu de um riff de baixo que o Pedrinho tocava nos ensaios. Eu falei: “Cara, isso é muito bom, manda pra mim!” e aí desenvolvemos juntos. Outra música, “Viveram Amor”, veio de uma ideia antiga do Marcelo, que adaptamos juntos.

“Record e cole” é uma boa definição, mas o que mais batalhamos nesse álbum foi a intenção por trás de cada música. Como sou o mais ligado nas letras, sei tudo o que está escrito, e às vezes a gente ouvia e pensava: “Essa guitarra tem que ser pesada, tem que bater forte. Não dá pra colocar um arpejo fofo aqui. Guarda isso pra outra música.”

A intenção e o sentimento de cada faixa foram importantes. E, como o Luiz falou, pensar no álbum como um todo também. Nos outros trabalhos, focamos mais no conceito do EP, mas neste álbum, cada música teve seu momento.

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Isabel Bahé
Isabel Bahéhttps://linktr.ee/isabelfbahe
Jornalista bibliófila que respira músicas.