Com uma experiência de quase 30 anos na estrada, a banda de reggae Alma Djem abraça sua história com o projeto “Acústico em São Paulo, lançado em partes pelo grupo. A mais recente, “Acústico Alma Djem – Paraíso”, lançada no dia 04 deste mês, traz como destaque uma colaboração com um grande nome do MPB: Roberta Campos.
Roberta participa da nova versão de “Rouxinóis”, uma composição do vocalista Marcelo Mira com Rodrigo Leite e Cauique. A música faz parte das 31 que compõem o “Acústico em São Paulo”, que traz outras figuras da música nacional para somar à sonoridade eclética de Alma Djem. A Nação da Música conversou com o trio de reggae sobre a regravação com Roberta Campos e o projeto Acústico em São Paulo, além dos possíveis encaminhamentos futuros do grupo.
Entrevista por Isabel Bahé.
————————————– Leia a entrevista na íntegra:
Vocês lançaram o “Rouxinóis” recentemente, e definem a música como uma mistura de reggae com MPB. Como vocês descreveriam essa identidade sonora? Quais elementos foram essenciais pra criar esse som?
Marcelo Mira: Essa música a gente já tinha feito em 2023, numa parceria minha com o Rodrigo Leite e Cauique. Os dois são compositores de samba, conhecidos por músicas como “Falta Você”, “Pé na Areia” e vários sambas . Essa pegada acabou trazendo um pouco da MPB pra sonoridade. Quando a gente compôs, eu falei: “Cara, essa música tem um reggae bonito, um reggae com vibe MPB.”
A gente gravou em 2023, sem clipe, e deixou rolar pra ver como o público ia receber. Rapidinho, ela passou de 500 mil plays no Spotify, e aí a gente viu que a galera tava curtindo. Quando fomos escolher o repertório pro DVD acústico, sabíamos que ela ia funcionar bem nos arranjos mais tranquilos. Aí resolvemos chamar a Roberta Campos pra participar.
A Roberta Campos é uma voz bem tradicional na MPB. Como surgiu a ideia? Foi algo que vocês imaginavam pra música?
Pit De Souza: Na real, ela já conhecia o Alma Djem. Quando eu tava gravando com o Renato Galossi (que já produziu ela), ele soltou: “Cara, a Roberta quer fazer algo com vocês, ela curte o trabalho de vocês.” Isso foi antes do acústico. Aí eu falei: “Quando tiver uma oportunidade, a gente faz essa parceria.”
Quando a gente foi fechar os convidados pro acústico, eu sugeri: “Cara, acho que é o momento perfeito pra chamar a Roberta. A doçura da voz dela vai casar demais.” E foi assim que rolou.
A música tem uma letra poética, falando de “trazer de volta a melodia que se perdeu”. E uma coisa também que surpreende, principalmente quando a gente presta atenção na letra, é que a faixa foi gravada em São Paulo, que é o inverso do que a letra traz. Teve algum propósito aí? Porque ela invoca uma tranquilidade que geralmente a gente não encontra em metrópoles.
Marcelo Mira: Ela foi composta em São Paulo, na Mooca. Mais paulista impossível, né? E aí a gente gravou ela, o arranjo inicial foi do Juninho Sarpa, já foi no estúdio dele em Artur Nogueira, no interior de São Paulo.
Talvez isso tenha ajudado a trazer uma coisa mais tranquila, mais calma. Mas tem aquela coisa também: a gente, como compositor e como artista, com o tempo consegue se isolar um pouco artisticamente do lugar que a gente tá. Então, essa tranquilidade da música, da composição, está na gente. A cidade acaba não influenciando tanto.
Então, essa coisa de “ah, pô, a influência de São Paulo faz com que as músicas fiquem um pouco mais pra frente, os arranjos um pouco mais pesados”, eu acredito que não. Acho que dá pra gente fazer, com certeza, um som tranquilo baseado ali, mesmo morando nessa metrópole. É uma questão de você se conectar também, né?
Já nos perguntaram: por que vocês não gravaram um acústico na praia, ou por que não gravou numa cachoeira ou no mato? E aí a gente fala: “Cara, a gente mora em São Paulo, a gente queria homenagear a cidade, né?” E mostrar também que é possível fazer uma sonoridade bonita, melódica, harmoniosa, mesmo estando aqui no meio dessa loucura da metrópole.
No “Projeto Acústico”, vocês têm um repertório extenso e trabalharam com diversos artistas. Vocês fizeram um tipo de curadoria? Como foi pensado o repertório desse projeto?
Marcelo Rifa: A gente vinha de uma sequência de um bom tempo sem lançar música autoral e aí em 2023 a gente começou a escoar essas composições. Tinha muita coisa na gaveta.
Aí veio “Aeroporto”, “Rede no Coqueiro”, “Borboleta Azul”… até que veio a ideia de gravar o DVD acústico. Eu falei: “Cara, tem muita coisa boa, faz tempo que o Alma Djem não lança um álbum de inéditas, vamos tirar essas coisas da gaveta”. Fizemos algumas reuniões com nosso empresário, com o Juninho Sarpa, produtor, e começamos a fazer uma audição disso.
Só que obviamente a gente tinha sucessos do Alma Djem que não poderiam ficar de fora, músicas que já tocaram em rádio, novelas, etc. E a gente tinha também algumas releituras de artistas que a gente queria fazer.
Então não tinha como ser um repertório muito pequeno, porque a gente tinha que trazer os nossos sucessos, colocar as músicas inéditas que o público já tá esperando há um tempo, e a gente queria fazer algumas homenagens, releituras de músicas já conhecidas. Então a gente aproveitou e falou: “Cara, vamos fazer um DVD extenso, mas com certeza ele vai fazer total sentido para a galera” – e tem feito.
Vocês são uma banda de reggae, que flertam com MPB, se relacionam com samba e trazem também um repertório, principalmente nesse projeto, de diversos ritmos. Como funciona essa experimentação com outros gêneros musicais?
Marcelo Rifa: No Alma Djem, desde o começo, a gente nunca quis fazer um reggae raiz. Ele é nosso ponto de partida, mas a gente nunca quis ter uma identidade jamaicana, por exemplo. A gente sempre quis ter um reggae do Brasil, autenticamente do Brasil, que é uma coisa que muitos artistas já conseguiram aqui.
Nós costumamos dizer o seguinte, assim: o japonês nunca vai tocar samba que nem o brasileiro, cara. O brasileiro nunca vai tocar reggae igual o jamaicano. Então é melhor você achar uma identidade própria e fazer o seu reggae e homenagear esse ritmo que é tão importante para a humanidade. E a gente dá a nossa humilde contribuição, na busca sempre por originalidade e brasilidade.
Vocês estão com muitos projetos aqui, mas eu queria saber como tá o planejamento do futuro. Vocês já tão conversando sobre shows ou já tem projetos que estão pensando? Como tá esse calendário de vocês?
Marcelo Rifa: Gravamos uma música com o Pato Banton, que é um ícone do reggae mundial. Ele teve uma passagem agora aqui pelo Brasil para fazer alguns shows e a gente se juntou com ele no estúdio, fizemos uma música muito bacana. Provavelmente vai ser o primeiro single logo após os lançamentos do acústico.
A gente tem alguns outros singles com participações que a gente ainda tá conversando, mas coisas bem legais pra gente manter essa coisa dos feats. E provavelmente ano que vem a gente deva vir com um projeto audiovisual também, mas uma coisa menorzinha, mais intimista. O importante agora é não parar, dar continuidade nos lançamentos e continuar nesse fluxo aí que o DVD trouxe pra gente.
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