O cantor e compositor André Prando lançou recentemente seu terceiro álbum de estúdio, “Iririu”, nas plataformas digitais de áudio. Após seis anos do lançamento do seu último disco, “Voador” (2018), o cantor experimentou em seu novo trabalho diversos ritmos, como reggae, baião, tango, pop, blues, congo e rock.
Com 11 faixas, incluindo a faixa-título, “Iririu”, e “Zum Zum Zum”, colaboração com Juliana Linhares, o disco conta com visualizers disponíveis no canal oficial do Youtube do cantor.
A Nação da Música conversou com André Prando sobre o disco “Iririu”, seu processo criativo e referências para o seu novo trabalho.
Entrevista por Isabel Bahé
————————————– Leia a entrevista na íntegra:
Como foi o processo criativo para compor seu novo disco?
André: Eu lido com meu trabalho com um entendimento de obra, então geralmente lanço um álbum e fico bem focado naquele momento, mas as ideias vão se misturando, e o próximo trabalho já começa a se desenvolver no meio de outra campanha. Vim maturando a ideia de compor algo que falasse sobre a palavra iririu há alguns anos. Pelo que sei, ela já circula por aí desde os anos 1990, mas só tive contato lá por 2009 – quando entrei na UFES, uma época de grande expansão e conexões que se tornaram importantes em minha vida – e mais ou menos desde 2020 tenho pensado na concepção do álbum Iririu.
O repertório do álbum vem se acumulando e amadurecendo de forma bem viva, “Patuá” é a música mais antiga do álbum, uma parceria com LUIZGA. Começamos a compor em dezembro de 2017 e finalizamos em outubro de 2021, o restante é a maioria de 2020 pra cá, tendo finalizado “AMORTECONSIDERO” e “Muita coisa” no meio de 2023. A produção musical e os arranjos foram feitos por Rodolfo Simor e eu – foi o Rodolfo, inclusive, quem produziu meu primeiro álbum, Estranho Sutil (2015). De lá pra cá, lancei outros trabalhos e me conectei com muita gente pelo Brasil a fora, fiz shows em palcos importantes, gravei com artistas que são referência pra mim. Desde meu álbum anterior, Voador (2018), que me permitiu vôos importantes, fiquei um tempo sem saber como dar “o próximo grande passo”.
Foi quando comecei a desenvolver a ideia do Iririu, pensando nesse resgate de uma história e identidade do meu estado de origem, pensando em conseguir aproximar minha música de minha pessoa, de expressar coisas mais íntimas, contar uma saga de amadurecimento, abraçar as pessoas que me conectei em mais de 10 anos de trabalho, gravar com diferentes músicos pra além do formato banda base, orquestra, sopro…Senti a necessidade de “voltar pra casa”.
Achei pertinente contar um pouco da história de uma palavra que nasce e se desenvolve no Espírito Santo e ganha as estradas, envolve diferentes identidades, diferentes histórias, diferentes gerações, norteados pela vida ávida, pela expansão da consciência, pela celebração da natureza e um modelo simples de vida, valorizando as conexões e vivências, tendo a arte como forte expressão.
O disco é norteado pela saga do amadurecimento. Depois que você atravessa o portal “Iririu”, que é a primeira canção do álbum, você acessa com profundidade a complexidade da paixão, com dilemas entre o espiritual e o carnal, abordo a antropofagia sob o olhar de Oswald de Andrade pra analisar o crescimento da criança, do adulto e a relação nossa com a natureza numa consciência de unidade, abordo morte/vida, temos referências da cultura psicodélica de Albert Hofmann, Timothy Leary, Hermann Hesse, Jodorowsky de forma bem diluída em questões comuns do dia a dia, o tema da estrada, da vida nômade e cigana do artista também é bem desenvolvido em todo álbum e o amor, em suas diferentes faces, é o fio condutor dessa saga.
Existe uma diversidade de sonoridades no seu novo trabalho. Por que você decidiu trabalhar com tantos gêneros nesse disco?
André: Por que não? Nesse álbum, quis aproximar a minha música de quem eu sou como pessoa. Consumo muitas referências diferentes, sou uma pessoa que ouve e frequenta o samba, o rock, o reggae, jazz, forró, balada… Por que minha música não expressaria essa pluralidade? Parti daí. Tivemos o cuidado de produzir o álbum com uma narrativa bem conectada, com diferentes climas e momentos, e é a minha forma de passar por esses diferentes gêneros sem forçar uma barra, sem caricatura.
Você já tinha trabalhado com esses gêneros antes? Como foi teu processo?
André: Sim. Além dos álbuns e EPs já lançados, gravei muitos feats com outros artistas e fico feliz de entender que a leitura que esses diferentes nomes têm de mim realmente passa pela pluralidade. Sempre tentei fazer isso em cada trabalho, na real, em diferentes intensidades e talvez, agora, tenha conseguido fazer isso mais claramente e com naturalidade.
Iririu foi lançado seis anos depois do seu último disco, Voando. Quais mudanças você percebeu entre seus dois trabalhos?
André: Acho que soa tudo diferente e ao mesmo tempo há conexão. Voador tem uma pluralidade que me agrada bastante e de uma forma geral soa bem rock. Talvez essa seja a maior diferença. Iririu tem menos rock, mas tem uma boa dose, e permite mutações. Também procurei escrever letras mais diretas, tem muita subjetividade e profundidade sim, mas com uma linguagem mais clara.
Quais foram as suas referências e inspirações para compor a estética visual do Iririu?
André: Originalmente, a ideia pra capa do disco era outra. Tinha como referência a Tropicália, o Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, do The Beatles, com uma ideia de coletividade e reunir todo mundo que participou do álbum (umas 40 pessoas). Chegamos a fazer as fotos e criar uma tipografia, mas alguns dias depois, eu e a Melina Furlan (fotógrafa) nos juntamos ao Caio Mota (figurinista, diretor artístico, costureiro e maquiador) pra fazer um novo ensaio fotográfico e criar vídeos pra usar de visualizers. Durante o ensaio, fiquei tão impressionado com o figurino, acessórios e ideias que o Caio trouxe, que sugeri pra Melina usar alguma dessas novas fotos pra compor a capa do álbum. Ela concordou na hora!
Resultado é essa identidade mais focada em retrato, diferente de todos os meus trabalhos anteriores que traziam alguma representação, alguma fantasia e ilustração. Em Iririu, pela primeira vez, sou eu em meio à natureza, e, para além da capa em si, há o uso de outros símbolos, como o coração que é fio condutor da narrativa; a cor vermelha, que é muito presente na identidade e na minha vida; e a cobra coral que simboliza proteção e imponência. A tipografia também tem a intenção de comunicar algo sóbrio, imponente, misterioso.
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