Entrevistamos Captain Sensible, do The Damned, sobre vinda ao Brasil e reunião da banda

the damned
Divulgação

Quando se fala sobre o movimento punk da década de 70, nomes como Sex Pistols, Ramones e The Clash instantaneamente nos vêm à cabeça, já que estes foram alguns dos precursores da cena mundial. Outras bandas, porém, podem não ser lembradas de imediato, apesar de sua importância para o crescimento da cena punk para novos horizontes. Este é o caso do The Damned.

Fundado em 1976, em Londres, o grupo composto originalmente por Dave Vanian (vocal), Captain Sensible (guitarra), Rat Scabies (bateria) e Paul Gray (baixo) foi não apenas um dos grandes representantes do “punk raiz”, marcado pela clássica melodia acelerada de três acordes e letras rebeldes, mas também da versatilidade presente na cena, com músicas que iam do garage punk a elementos mais psicodélicos, além de terem sido um dos pioneiros da cena musical gótica.

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Dez anos depois de sua última vinda ao Brasil, o The Damned volta ao país agora no início de março para se apresentar na Supercharged Worldwide in ’25, turnê mundial do The Offspring, nos shows de São Paulo (8/3) e Curitiba (9/3). Além disso, a banda anunciou ainda uma apresentação solo no Cine Joia, em São Paulo, no dia 7 de março (quinta-feira), para a alegria dos fãs que poderão ver, pela primeira vez em 35 anos, a formação original do The Damned reunida ao vivo.

A Nação da Música conversou com Captain Sensible, o guitarrista do The Damned, sobre a vinda da banda ao Brasil e expectativas para tocar junto do Offspring, os bastidores da reunião dos membros originais do grupo e como foram as gravações do último álbum, “Darkadelic” (2023).

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Entrevista por Natália Barão

————————————– Leia a entrevista na íntegra:
Oi! Antes de tudo, como devo te chamar: Captain ou Raymond?
Captain Sensible: Ah, eu me tornei capitão Deus sabe quando… acho que em 1977? Já faz tanto tempo que tenho que lidar com o fato de que Capitão agora é simplesmente meu nome (risos). Eu deveria ser um almirante ou um general ou… não sei, primeiro-ministro por agora… eu deveria ter sido promovido de qualquer forma (risos).

Mas acho que continua sendo um título chique! (risos).
Captain Sensible: Sim (risos), bem, era irônico, na verdade, porque eu estava no meio de um caso de amor com o álcool e eu costumava beber, beber, beber, e me comportava muito mal (risos). Eu não era sensato, nem um capitão; o nome só foi imposto a mim como uma piada, obviamente (risos).

Mas… então está tudo bem se eu te chamar de Captain?
Captain Sensible: Sim, claro! Obrigado!

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Perfeito, então muito prazer em conhecê-lo, Captain! Meu nome é Natália!
Captain Sensible: Oi, Natália!

Onde você está agora?
Captain Sensible: Estou em Porto, que é onde eu moro. Então conheço algumas palavras em português, como “obrigado” e “copa de vinho tinto” (risos).

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Só o essencial! (risos)
Captain Sensible: Eu não sei muito português, só as palavras importantes!

Eu percebi! Você acabou de dizer as frases mais importantes em português (risos).
Captain Sensible: Obrigado! (*em português)

Mas então, vamos falar sobre o The Damned?
Captain Sensible: Sim!

Eu vi que vocês vão voltar ao Brasil agora em março, mais de dez anos depois da última vez. Como você está se sentindo em voltar ao nosso país?
Captain Sensible: Bem, eu genuinamente adoro viajar. Tive muita sorte de ter um trabalho que me levou a vários lugares, e tive uma experiência muito divertida em São Paulo da última vez que estivemos aí. Lembro que teve uma chuva absolutamente torrencial, algo que eu nunca tinha visto antes, então foi bem “emocionante” (risos). Eu até filmei no meu celular e coloquei no YouTube – provavelmente ainda está lá – e tive que me esconder num bar, e, mesmo tendo sido bastante dramático, foi divertido ficar ali bebendo (risos).

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Ultimamente temos tido algumas chuvas bem fortes por aqui, mas, como você disse, acho que tudo fica melhor quando estamos num bar (risos). Você já experimentou alguma bebida local brasileira, como as caipirinhas?
Captain Sensible: Não. Eu experimento qualquer coisa, mas espero que alguém me compre uma (risos).

Ah, você tem que experimentar! É muito popular aqui!
Captain Sensible: Ok, vou experimentar!

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Vocês estão vindo como uma das atrações de abertura da turnê do The Offspring nos shows em São Paulo e também em Curitiba. Como surgiu o convite para fazer parte desse evento?
Captain Sensible: Essa é uma pergunta muito boa porque eu nunca sou a pessoa que organiza nada; se deixassem para mim, nada aconteceria (risos). Sou uma pessoa bem caótica, como você pode esperar pela minha reputação (risos). Mas nós fizemos um álbum com os caras do The Offspring há o que, uns 20 anos atrás ou algo assim? Acho que se chamava “Grave Disorder”. Mas enfim, nós os conhecemos desde essa época, então tocar nesses shows é uma coisa legal de se fazer.

Eu vi que eles já fizeram um cover da música de vocês, “Smash It Up”, que fez parte da trilha sonora de um filme do Batman, certo?
Captain Sensible: Sim, eu fui assistir a esse filme do Batman. Estava gritando de tanto rir quando o Robin roubou o Batmóvel e “Smash It Up” começou a tocar, e tudo que eu conseguia ouvir era o som de caixas registradoras fazendo “ka-ching, ka-ching” (risos). Eu estava pensando em todo o dinheiro que ia ganhar com essa música, acho que todo mundo no cinema pensou que eu tinha enlouquecido (risos).

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E é aquele Batman dos anos 90, certo? Que tinha aqueles efeitos sonoros bem no estilo dos quadrinhos.
Captain Sensible: Não faço ideia, não sei muito sobre filmes porque não gosto, no geral.

Sério?
Captain Sensible: Eu joguei minha televisão fora há 40 anos, quando eu tinha filhos pequenos porque não queria que eles fossem influenciados pela “máquina de lavagem cerebral” no canto da sala, sabe? (risos). Então nunca mais comprei uma TV desde então e não assisto TV. É uma experiência muito estranha porque você nunca sabe do que todo mundo está falando. Durante os anos de Covid, eu pensei que todo mundo tinha enlouquecido (risos). Eu achei que eu estava certo, mas, ainda assim, não sabia por que as pessoas estavam se comportando de forma tão estranha, sabe (risos).

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Acho que é um estilo de vida muito punk! (risos).
Captain Sensible: Sim. Honestamente, acho que todo mundo pode ser criativo. Você tem que descobrir no que é bom e criar algo para si mesmo: se você gosta de futebol, não fique assistindo esses superastros jogando; compre uma bola e vá para o parque jogar com seus amigos. Se você gosta de música, compre uma guitarra. A ética punk é bem fácil, sabe, basta aprender três acordes, escrever uma música e montar uma banda. E isso ainda é tão verdadeiro quanto sempre foi. Ou seja, compre uma guitarra e não venha ver o The Damned (risos), ops, eu não deveria ter dito isso! (risos).

Ah, não, definitivamente as pessoas precisam ver o The Damned ao vivo! E falando nisso, além de vocês, outras bandas também vão se apresentar nessa turnê do The Offspring, como o Sublime, Rise Against, Amyl and the Sniffers e The Warning. Você já conhecia alguma delas?
Captain Sensible: Não, não conheço. Eu sou velho e só conheço as bandas antigas, tipo The Clash e os Sex Pistols – eles são horríveis! (risos). Eles eram recém-chegados quando nós íamos aos shows deles, gritávamos com eles e jogávamos cerveja neles (risos). Então essas são as bandas que eu conheço. Horríveis! (risos).

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O que você acha dos Ramones?
Captain Sensible: Ah, os Ramones! Bem, eu sempre digo que a prova de que Deus não existe é Ele ter levado os Ramones e deixado o Eric Clapton aqui (risos). Nós fizemos muitos shows com os Ramones, eles eram ótimos! Eles fizeram um álbum, em 74 ou 75, que mostrou a todos em Londres – onde estávamos tentando montar bandas punk – que era possível fazer isso, porque a música, o rock que era tocado nas arenas daquela época era muito popular. The Yes e Genesis, essas bandas eram tão grandes que nós nem pensávamos que iríamos conseguir um público grande o suficiente para encher um pub, porque estávamos indo completamente contra a moda. Então, quando os Ramones nos mostraram que você poderia realmente fazer um álbum e estar em uma banda punk, foi muito inspirador.

Eu sou uma grande entusiasta do movimento punk, e gosto muito do fato de que, apesar dos diferentes estilos, a essência da contracultura permanece a mesma. Até pensando no próprio The Damned, que começou com um punk mais cru e depois incorporou alguns elementos do rock gótico, algumas coisas psicodélicas. Considerando toda essa diversidade do punk, eu gostaria de saber o que você considera a coisa mais punk do The Damned e por quê?
Captain Sensible: Acho que os membros da banda são personagens bastante voláteis. É por isso que tivemos tantas brigas, porque sabíamos defender nossa posição; nós éramos todos excluídos e nos unimos porque ninguém gostava da gente e não gostávamos de ninguém. Então, era como estar numa gangue de motociclistas, era nós contra o mundo. Então, a coisa mais punk do The Damned é que não havia mais nada que pudéssemos fazer além de tocar música. Se a banda tivesse fracassado, o Rat, por exemplo, teria sido um ótimo ladrão (risos), tanto que ele até escreveu uma música sobre isso. O que eu teria feito? Provavelmente teria virado um bêbado vivendo numa caixa de papelão em algum lugar (risos). Nós tocamos música alta e rápida também, mas acho que a atitude é a coisa mais punk sobre nós.

Eu gosto disso! E já que você mencionou o Rat, eu vi que vocês reuniram todos os membros originais do The Damned, em 2021, depois de 35 anos. Como essa reunião aconteceu, e como foi para você tocar junto com os outros novamente depois de tanto tempo?
Captain Sensible: Bem, o engraçado foi que nós reunimos a formação original, só nós quatro, com o Brian James, e foi uma experiência fabulosa fazer aquele som explosivo de punk de garagem novamente. É realmente muito cru, todas as arestas brutas do rock’n’roll reapareceram, e foi uma coisa magnífica. Sempre comparo o primeiro álbum do The Damned com o dos Sex Pistols: acho que o álbum dos Sex Pistols soa polido e foi lindamente gravado, e o primeiro álbum do The Damned soa como um álbum punk caótico, do jeito que deveria soar, sabe? Nós fizemos esse som novamente há alguns anos atrás e foi legal fazer isso antes que um de nós morresse (risos). Foi uma coisa legal de se fazer e então pensamos, “por que não reunir a formação do ‘Black Album’ novamente?”. Foi uma coisa muito boa mas completamente diferente porque, por exemplo, o Paul é um baixista punk, mas é meio que um virtuoso, sabe? Ele faz solos durante todo o show, se ele toca 20, 25 músicas ou algo assim, ele não está contando as músicas, mas sim a quantidade de notas que toca. Ele diz que deveria ser um bilionário pela quantidade de notas que toca em comparação com outros baixistas (risos). O Dave ainda tem sua fantástica voz de barítono, então é uma ótima formação para tocar.

Você mencionou o “Black Album”, que é muito especial na discografia do The Damned, mas qual é o álbum mais especial para você?
Captain Sensible: No “Black Album”, o Dave começou a escrever essas músicas que tinham uma coisa mais gótica, e isso tudo antes da cena chegar. Músicas como “Blackout” e “Plan 9, Channel 7” eram sombrias e ele estava levando a banda para uma nova cena. Foi um momento muito interessante esse de poder interpretar as músicas e a visão dele. Eu sempre digo que há três bandas no The Damned: uma banda punk, uma banda gótica e uma banda de garage psych; e é a mistura desses três elementos que faz o som do The Damned. Eu realmente gosto do garage psych, acho muito, muito emocionante a guitarra com fuzz, o órgão Farfisa, tamborins bem altos na mixagem, muitos gritos… isso funciona pra mim.

Eu vi que em 2023 vocês lançaram um novo álbum chamado “Darkadelic”, cinco anos depois do último, “Evil Spirits”. O que esse disco significou para você?
Captain Sensible: Nós não nos propomos deliberadamente a escrever um tipo específico de álbum, é só o que acontece no estúdio na hora, juntamos essa coleção de músicas e as gravamos. Mas pensamos que o álbum tinha que ter um título, aí o Dave disse: “bem, é um pouco psicodélico e um pouco sombrio”, então ele juntou as duas palavras (“darkadelic”). Eu pensei que era uma espécie de vingança da guitarra, porque nós trabalhamos com Tony Visconti no álbum anterior (“Evil Spirits”), e ele estava se dando muito bem com o tecladista, tinha muitos teclados bem altos na mixagem e a guitarra era meio que uma coisa secundária para ele, o que é estranho, porque ele era o produtor do T. Rex e sempre tinha a guitarra de Marc Bolan bem alta na mixagem. Então, além disso, “Darkadelic” foi a vingança da guitarra. Eu me certifiquei de escrever muitos solos de guitarra e de deixar a guitarra bem alta na mixagem; foi isso que significou para mim. E está cheio de bons riffs também, as músicas são bem fortes. Dave e eu somos muito competitivos como compositores; eu gosto das músicas dele e espero que ele goste das minhas, mas nós brigamos pra colocar nossas músicas no álbum, tipo eu quero ter mais músicas no álbum do que ele (risos) é bem saudável!

Aquela rivalidade saudável (risos). E, pra encerrar a nossa conversa, o que os fãs podem esperar dos shows aqui no Brasil (tanto o com o The Offspring quanto o show solo que vocês vão fazer aqui em São Paulo)? E o que mais podemos esperar do The Damned em 2025?
Captain Sensible: Esperamos fazer justiça às músicas. Se alguém já tocou qualquer uma das músicas do The Damned, tipo “New Rose” ou “Ignite”, vai te dizer que é realmente emocionante tocá-las, e pra mim é. Embora eu tenha tocado essas músicas muitas vezes, o som é tão emocionante, eu deixo o amplificador bem alto, e dá até pra esquecer que você é um velho, porque você passa a se sentir como um jovem punk rock de novo. É uma coisa ótima.

Tem alguma música específica que te traga esse sentimento quando tocada ao vivo?
Captain Sensible: Qualquer uma com um solo de guitarra longo! (risos). O engraçado é que, ocasionalmente, eu me empolgo com a guitarra e o Sr. Vanian olha para mim no palco e começa a bater no relógio, fingindo que a bateria acabou porque o tempo não está passando (risos). Nós temos essas brincadeiras no palco um com o outro.

Parece ótimo! (risos). E além dos shows aqui no Brasil, podemos esperar algo mais do The Damned este ano?
Captain Sensible: Nós só fazemos o que fazemos. É barulhento e divertido, e espero que ainda haja algum punk rock ali, sabe, apesar de sermos velhos aposentados (risos).

Com certeza terão, e de diferentes idades! Capitão, muito obrigada pela nossa conversa! Espero que se divirta muito aqui no Brasil e experimente algumas caipirinhas! (risos)
Captain Sensible: Obrigado por conversar comigo, Natália! Espero que alguém me compre uma (caipirinha) porque eu nem sei como pronunciar isso (risos).

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Natália Barão
Natália Barão
Jornalista, apaixonada por música, escorpiana, meio bossa nova e rock'n'roll com aquele je ne sais quoi