Nesta sexta-feira (06), o duo Coisa Nossa, formado por Paula Raya e João Mantuano, lança o primeiro álbum da carreira, autointitulado, nas plataformas digitais, pelo Selo Toca Discos.
Os artistas se encontraram pela primeira vez em 2022, apresentados por Felipe Rodarte, no mítico Estúdio Toca do Bandido e, de lá pra cá, compuseram diversas canções, incluindo as 11 que compõem o trabalho de estreia.
A Nação da Música entrevistou Paula Raya e João Mantuano sobre a criação do álbum, as referências que trouxeram com eles e também sobre os próximos passos da carreira.
Entrevista por Marina Moia.
————————————– Leia a íntegra:
Como a poesia de Caetano Veloso, a visão de Jards Macalé e a elegância de Roberto Carlos se traduzem na essência de “Diferentes Semelhanças”? Como essas referências ajudaram a moldar a identidade musical do duo Coisa Nossa?
Coisa Nossa: Jards Macalé tem uma construção de arranjo e poesia carregada de mistério, profundidade e conexão estética, fazendo referência direta nas nossas canções; junto com a estrutura inusitada de Wally Salomão em poetisar uma realidade brasileira e a fatalidade de Torquato Neto. Portanto, essa tríade que provoca essa atmosfera, esse clima, é o que nos inspira. O Caetano nos encanta pela beleza da poesia. Pelo apreço à palavra, às metáforas. Pela atemporalidade. E Roberto Carlos… Bem, tem alguém melhor do que ele pra falar de amor de forma simples, direta e bela? Acho que os três artistas citados possuem uma identidade própria muito forte. A música brasileira, de forma geral, inclusive, possui essa característica.
Foram muitas misturas, muitas influências que construíram a identidade do nosso povo. Na música, na arte, de modo geral, não seria diferente. Não à toa, os estrangeiros quando vêm pra cá se encantam com o modo como o brasileiro é capaz de fazer samba, falando de assuntos trágicos, através de ritmos que nos alegram e nos impedem de ficar parados. Então nesse projeto a gente quis trazer essa pesquisa, explorar essa mistura que a própria música popular brasileira já tem no seu DNA. Sentimos que com o tempo isso pode ter se dissipado um pouco com a digitalização, a globalização, e a padronização das formas de produção.
A metáfora do estuário, onde as águas se encontram, é muito presente na trajetória de vocês. Vocês enxergam isso também como uma representação das diferentes bagagens culturais e musicais que carregam?
Coisa Nossa: Sem dúvidas. Inclusive, as metáforas fazem parte da nossa construção poética. Isso é algo que temos em comum. A metáfora do estuário é justamente a intersecção de opostos: doce e salgado, terra e água. Tudo num mesmo lugar. E nós dois, apesar de termos nossas intersecções, temos uma construção anterior, uma bagagem, que nos fazem ser os indivíduos que somos hoje. E acho que a beleza, a riqueza, tá nessas diferenças, também. Ter a escuta aberta para absorver o que o outro pode te trazer de novo, se alimentar disso. A interseção é mais fácil, né? É confortável. E a nossa criação reside tanto no conforto do que temos em comum quanto no desconforto do que é inusitado para nós enquanto indivíduos.
O álbum de estreia promete uma fusão de gêneros musicais que vão do samba ao folk. Como foi o processo criativo para encontrar um equilíbrio entre essas diferentes influências e criar algo que soasse único e “bem nosso”, como vocês disseram?
Coisa Nossa: Conseguimos essa fusão na harmonização; usar melodias nascidas do violão e ritmar em outro gênero raiz. No caso de arrebol por exemplo, usamos uma clássica passagem harmônica de samba subdominante de um acorde menor para um maior, com as melodias de samba clássico, mas com um ritmo de folk/blues. O resultado é essa especificação identitária que adotamos na linguagem do Coisa Nossa.
É interessante observar que ambos os gêneros são raízes populares de forte tradicionalidade, a mistura dos dois não se faz complicada por estarem confluindo em suas naturezas. Até mesmo os assuntos das letras e figuras de linguagem são comuns entre si na forma de uso popular.
A produção musical conta com nomes como Felipe Rodarte e Constança Scofield, que têm vasta experiência no mercado. Qual foi o impacto dessa parceria no desenvolvimento do álbum e na consolidação da identidade sonora do Coisa Nossa?
Coisa Nossa: Trabalhar com o Felipe e com a Constança é sempre bom. Eles compreendem as necessidades e o que a música e o artista pedem e propõe nas suas naturezas, sempre contribuindo na tradução das nossas peculiaridades. Possuem um vasto conhecimento prático e físico da produção em si e do que deve ser impetuoso. Ambos possuem uma certidão através de um direcionamento intuitivo criativo, inteligente e panorâmico.
Isso transparece na obra: o conhecimento e qualidade experiente. Além de também trabalharmos com Álvaro Alencar que saca tudo e captou o som mais bonito que escutamos na vida, com muito entusiasmo, dedicação e uma sensibilidade imensa.
Vocês mencionam que o álbum trará uma fusão rica de influências. Há alguma faixa que desafie ou surpreenda mais o público? Qual mensagem principal vocês esperam que os ouvintes levem ao ouvir o álbum?
Coisa Nossa: “Love livre” é uma faixa com um tom um pouco diferente do restante do álbum, de alguma maneira. É uma música que cita o carnaval, o bloco de rua, a multidão, o colorido desse imagético presente na vida ou na memória de todos. Diferentemente das outras canções, essa não possui um ar contemplativo, não menciona elementos da natureza. Ela é da ação, do corpo a corpo, do movimento da cidade, do barulho, do suor, até da sujeira, pode-se dizer. Ela tem uma pulsação, uma vibração diferente mesmo. Tem um quê de “Muitos carnavais”, disco do Caetano, em termos de composição e energia, apesar de divergir em termos de produção musical.
Ao mesmo tempo, a gente acha que cada faixa tem sua própria peculiaridade e elas cumprem diferentes funções e narrativas dentro da obra.
Sobre a segunda pergunta, a gente não tem controle algum sobre a forma como nossa arte será sentida. E acho que a beleza e a graça vem daí. Mas uma coisa é certa: a gente sente que esse disco foi pensado para abrir espaço para respirar em meio ao bombardeio de estímulos que recebemos diariamente, a cada segundo. É um convite para a contemplação, para o sentir, para pousar.
Com o álbum sendo lançado, quais são os próximos passos? Turnês, novos projetos ou colaborações em vista?
Coisa Nossa: A partir do lançamento do álbum agora em dezembro vamos iniciar nossa agenda de shows. A ideia é rodar bastante com esse disco, levar pra todos os cantos do nosso país. Fora dele também, é claro. Estamos loucos para finalmente poder rodar com ele e entender como será recebido. O foco total está nisso.
Sobre parcerias, com certeza já pensamos nisso. Compusemos algumas faixas em colaboração, temos outras que conseguimos vislumbrar enquanto feat com outros artistas da nossa geração. Mas são embriões de ideias ainda que serão lapidadas após um tempo de lançamento. Temos que cuidar para aproveitar todas as etapas do processo e não deixar a ansiedade passar na frente e atropelar. Agora é curtir e trabalhar muito pelo primeiro álbum.
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