Na última terça-feira (26), nós da Nação da Música fomos convidados pela Warner Music Brasil a entrevistar o Lukas Graham que lançou no começo deste mês o seu mais novo disco, que carrega o mesmo nome do músico. O trabalho está disponível no Deezer, e você consegue ouvir clicando aqui.
As perguntas foram feitas e a entrevista foi conduzida por Veronica Stoldonik.
—————————————————————————————— Ouça a íntegra
Inscreva-se no canal da Nação da Música no YouTube, e siga no Instagram e Twitter.
—————————————————————————————— Leia a íntegra
NM: Primeiro de tudo, eu sei que você deve estar cansado de responder essa pergunta, mas acabei de descobrir sobre a cidade em que você nasceu, e estou muito curiosa pra saber um pouco mais sobre lá! Você vem de Christiania, e eu fiquei fascinada com a história e toda herança cultural da mesma. Como foi crescer num lugar desses?
Lukas: Cara, Christiania é como uma favela. A polícia só entra lá em traje de guerra, e nós tomamos conta da comunidade nós mesmos sem ajuda do governo. Não tem semáforos, não tem carros, e cachorros não usam coleiras. É incrível crescer num lugar assim por que você é muito mais livre do que no resto do mundo. Eu acredito que ter uma criação assim te dá um senso de comunidade muito forte, um sentimento de pertencer enorme, e muita lealdade. Ter esse lugar para voltar é muito importante mesmo para eu me manter com os pés no chão no meio de todo esse sucesso e fama.
NM: E como é para você agora estar no topo das paradas do mundo todo? Você algum dia pensou que isso fosse possível?
Lukas: Cara, é estranho demais (risos).
NM: Eu aposto que sim! (risos)
Lukas: Eu só escrevo músicas, cara. Eu as prático e trabalho muito. Mas ver isso acontecer de repente é muito, mas muito esquisito. Também é muito legal (risos). Mas o mais incrível disso tudo é poder ver o mundo, viajar para um monte de lugares e conhecer várias pessoas.
NM: Você teve um treinamento bem estrito e tradicional quando menor; você fazia parte do Copenhagen Boys’ Choir [grupo de coral de garotos da Dinamarca], e foi até para um conservatório. Como você acha que isso influenciou em quem você se tornou e como em você compõe?
Lukas: Eu acho que me influenciou em termos da minha ética de trabalho e no meu treinamento vocal. Eu com certeza sou um cantor melhor hoje do que jamais seria sem o treinamento, mas ele não influenciou muito nas minhas composições e no meu processo criativo. Meu processo criativo vem todo da minha infância em Christiania, da minha família e de amigos.
NM: E mesmo com essa criação bacana, você decidiu estudar direito. Por que você fez essa escolha ao invés de seguir a carreira musical logo de cara?
Lukas: Bom, eu sabia aos 12 anos de idade que eu queria ser um advogado ou um rockstar… Então eu estudei direito até conseguir meu contrato.
NM: Você chegou a terminar o curso?
Lukas: Ah, não. Nem fodendo. Hoje eu pago advogados (risos).
NM: Massa! (risos) Uma das coisas que eu acho mais legal sobre o seu trabalho é o fato de você fazer questão de se manter fiel às suas raízes e ideais; você não deixa ninguém dizer como você deve se vestir em sessões de fotos, shows e nada do tipo, e muitas bandas e artistas acabam se perdendo em suas carreiras por que eles deixam que outros mandem em tudo o que eles fazem Foi difícil isso para você? Como você acha que isso afeta a sua carreira e os seus planos?
Lukas: Podemos dizer o seguinte Vero: se você der importância para o que as outras pessoas pensam, você já está morto. Faz sentido?
NM: Faz sim.
Lukas: E para mim, acho que ter crescido em Christiania… Eu cresci com a polícia abusando do poder e a mídia escrevendo mentiras sobre a minha comunidade. Como agora, estou falando com você—você é uma jornalista, certo?
NM: Sim.
Lukas: Você é o inimigo; você, a polícia, advogados e políticos são inimigos. Então, no final das contas, você só tem que se lembrar de que alguém vai escrever alguma coisa que não é verdade. Pensando assim, pra que se importar em como você se veste? Por que se importar com o que as pessoas escrevem? Por que se fosse para você escrever um artigo ruim sobre mim, você o escreveria de qualquer forma—você não precisaria me ligar e conversar comigo para o fazer; você podia simplesmente escreve-lo. E acho que saber disso faz com que seja muito mais fácil conversar com jornalistas, por que eu não tenho medo do que vocês vão escrever—faz sentido? Eu sei que isso soa pesado, mas eu realmente não me importo.
Acho que o fato de eu não me importar faça com que eu seja tão honesto que no final das contas as coisas sempre acontecem melhor do que eu esperava (risos). Eu espero que você não tenha ficado ofendida por eu ter te chamado de inimiga, era só um modo de dizer.
————————————————————————————————————————————————————————————
> Leia também nossas entrevistas com Twenty One Pilots, Simple Plan e outras, aqui.
————————————————————————————————————————————————————————————
NM: Não, eu entendo o que você quer dizer. Faz muito sentido, até por que a mídia realmente faz esse tipo de coisa; eles realmente distorcem as palavras das pessoas e coisas do tipo, então eu entendo perfeitamente por que você disse isso.
Lukas: Você já conheceu pessoas que moram nas favelas?
NM: Sim, já conheci!
Lukas: Eu acho que elas são as pessoas mais incríveis; elas me fazem lembrar de casa. Eu lembro muito de tê-las conhecido.
NM: Você já veio para o Brasil?
Lukas: Sim, eu fui para o Brazil quando eu era garoto e tinha 12 anos de idade, e depois de adulto quando eu tinha 20. Você conhece o Mr. Catra e o DJ Primo?
NM: Sim, lógico!
Lukas: O Mr. Catra esteve na minha comunidade com a banda dele, e eles gostaram muito do lugar. Eu me lembro de ter conhecido eles, foi muito legal mesmo.
NM: Eu entendo; a mídia mostra as favelas como lugares muito perigosos, mas uma vez que você conhece as pessoas que realmente moram lá, elas são muito boas; o fato de elas serem humildes faz com que elas sejam felizes apenas por estarem vivas, sabe?
Lukas: Exatamente. Foi assim que eu cresci; a diferença da minha favela e das favelas do Rio de Janeiro é que na minha comunidade a gente tem o menor nível de violência da região por que todo mundo cuida de todo mundo.
NM: E isso é muito importante; no final das contas, é a única coisa que importa.
Lukas: No final das contas, você é tão forte quanto o seu elo mais fraco.
NM: Exatamente.
Lukas: Posso te dizer que ninguém fala com a polícia. Nós temos um dizer que fala “eu não estive lá; se estive, eu devia estar dormindo”.
NM: Faz muito sentido.
Lukas: Mas eu sei que os problemas das favelas são maiores.
NM: Sim, pois elas são comunidades muito grandes que estão espalhadas pelo país inteiro; elas não ficam apenas no Rio ou São Paulo, elas estão em todo lugar.
Lukas: Eu sei. Eu só vi as do Rio e de São Paulo, então posso imaginar.
NM: Mas está tudo bem; nós estamos realmente tentando mudar a situação. Nossa próxima pergunta—a dinâmica entre você e os outros meninos da banda é muito boa; vocês parecem ser muito próximos, e até mesmo estudaram juntos no colegial. Como é trabalhar com eles? Você já comentou uma vez que não cria melodias, que é apenas um compositor. Quão fácil é para vocês entrarem em acordo quando estão criando um álbum juntos?
Lukas: Podemos dizer que a banda é na verdade parte do processo criativo; ela é parte do show ao vivo. Eu componho com três caras chamados Stefano, Rissi, e Pilo. A banda entra bem depois no processo criativo, depois das composições estarem prontas e quase sempre depois das melodias também estarem prontas. Mas acho que o que a banda contribui é com um show ao vivo que é muito incrível e maravilhoso; por que é meu nome, minha história, minhas músicas, mas quando você nos vê no palco você consegue ver que realmente somos uma banda.
A energia que trocamos um com o outro é fenomenal. E na real, os três caras que compõe comigo também estudaram no mesmo colegial, então nós sete viemos da mesma escola, o que por si é bem incrível.
NM: A morte do seu pai é algo que todos sabemos ter influenciado em sua vida—ele foi (e ainda é) uma grande influência em sua carreira e em suas músicas. Você quer dividir algo que tenha aprendido com ele que fez com que você se tornasse a pessoa que é hoje?
Lukas: Quando a gente era adolescente e começamos a sair com garotas, o meu pai sempre dizia “tenha certeza de que ELA está se divertindo”. No começo eu não entendi, mas conforme eu fui ficando mais velho eu finalmente entendi o que ele quis dizer; primeiro de tudo, não significa mesmo não (risos). Mas se ela quer sair e dançar, se ela SÓ quiser dançar, então faça com que aquela seja a melhor dança da vida dela. Se ela só quiser tomar um drink, faça com que aquele seja o drink mais incrível da vida dela. E se ela te encontrar e ficar tipo “ah, você não é meu tipo”, não tem problema—a escolha é sempre dela; e como um homem, você deve respeitar isso.
NM: O que está por vir para Lukas Graham nós próximos meses?
Lukas: Nós temos muitas turnês encaminhadas; muitos shows, vai ser insano. E o próximo grande acontecimento é que vou ter um bebê em setembro com a minha querida esposa; a música “7 Years” está realmente se tornando realidade.
NM: Que demais, meus parabéns! E por último… Quer deixar um recado para os fãs brasileiros?
Lukas: Sim (risos). Senhoras e senhores, muito obrigado por escutar as nossas músicas, e por favor, não parem de escuta-las. “7 Years” não é o que temos de melhor, ainda temos muito para mostrar a vocês. Obrigado!
NM: Vocês estão planejando vir para o Brasil logo?
Lukas: Ainda não posso ir ao Brasil, mas quero muito. Eu passei muito tempo na América do Sul quando tinha 20 anos, há sete anos atrás, e adoraria poder voltar ao Brasil.
NM: Que bacana, espero que você venha logo!
Lukas: Eu também espero muito mesmo que sim!
Não deixe de curtir a nossa página no Facebook, e acompanhar as novidades do Lukas Graham e da Nação da Música.
Inscreva-se no canal da Nação da Música no YouTube, e siga no Instagram e Twitter.