No dia 28 de abril, Freya Ridings lançou seu segundo álbum de estúdio, “Blood Orange”, que narra todo o processo do sofrimento à superação de um término ao longo de suas 14 faixas, que incluem as conhecidas “Weekends”, “Face in the Crowd”, “Perfect”, “Can I Jump?’ e “I Feel Love”, além da música homônima do disco.
A Nação da Música conversou com Freya Ridings sobre as dificuldades e descobertas pessoais e enquanto artista durante o processo de composição de “Blood Orange”, que incluindo o fator pandemia, a recepção dos fãs dessa nova era, e como se deu a escolha dos anos 70 como principal referência musical.
Entrevista por Natália Barão
————————————– Leia a entrevista na íntegra:
Oi, Freya! Como você está?
Freya Ridings: Oi, Natalia. Prazer em te conhecer! Estou bem, e você?
Prazer te conhecer também! Eu estou bem, só com um pouco de frio aqui no Brasil.
Freya Ridings: Eu soube que está sendo um dia bem frio aí no Brasil, em São Paulo.
Sim! Foi um dia horrível para sair da cama! (risos)
Freya Ridings: Sim, eu imagino! (risos). 15 graus, isso é quase tão frio quanto aqui!
Onde você está?
Freya Ridings: Em Londres.
Ah sim, em Londres! Posso imaginar que dias assim são comuns por aí, certo?
Freya Ridings: Sim, é basicamente sempre assim. Se nós temos 15 graus ficamos tipo “uau!” porque está sempre frio, até no verão.
Eu imagino! Bem, podemos começar nossa conversa?
Freya Ridings: Sim, 100%.
Bem, você acabou de lançar seu novo álbum “Blood Orange”, e nós vamos falar mais sobre isso ao longo da nossa conversa, mas antes de tudo, deixe eu te perguntar: agora que o álbum saiu, como você está se sentindo?
Freya Ridings: Pra ser honesta eu me sinto um pouco emotiva. Tipo, eu estava um pouco assustada de lançá-lo, acho que talvez porque com o lockdown foram quatro anos que estive fazendo esse álbum e foi tão emocionante ter construído tudo isso e colocado tanto da minha alma, que finalmente lançar parecia assustador. Mas eu sinto que os fãs sempre estiveram comigo. No dia que o disco saiu, eu fiz um show de lançamento, e poder ver a cara deles comigo tocando as músicas ao vivo significou muito porque caso contrário, eu só iria querer correr pra chorar na minha cama, porque é muita pressão! Eu juro por Deus, eu senti que a minha cabeça ia explodir! Mas acho que é porque eu tenho muito orgulho dessas músicas e eu as amo tanto que só queria dar vida a elas. Então estou muito animada e orgulhosa por essas músicas estarem no mundo.
E você mencionou os seus fãs, eu vi que durante a pandemia (que é quando o álbum deveria ter saído originalmente), eles foram um grande termômetro quando você tocava algumas das faixas em lives, certo? Com o álbum agora lançado, como você sentiu que foi a recepção deles?
Freya Ridings: É muito interessante porque eles me ajudaram a escolher muitas das músicas que entraram em “Blood Orange”. Durante o lockdown, eu comecei a fazer essas lives semanais no Instagram, em que eu estava apenas sentada no piano da casa dos meus pais, só tocando ideias para novas músicas e querendo ver quais delas teriam uma boa repercussão, e assim eles me ajudaram a escolher o que queriam ver no álbum. Pra mim, acho que o mais interessante é que, na verdade, eles gostaram de músicas que não sabiam nada a respeito, e isso talvez aconteça porque as pessoas gostem mesmo daquilo que nunca ouviram antes. E espero que tudo seja uma mistura de músicas que eles ajudaram a criar com músicas que não faziam ideia de como seriam, e eles estejam gostando.
Com certeza estão gostando. Eu estou!
Freya Ridings: Obrigada!
E dentre as 14 faixas do álbum, você sente que os fãs têm uma preferida?
Freya Ridings: Sim, 100%. No começo eu não tinha certeza, mas agora acho que é “Dancing in a Hurricane”. As mensagens que eu recebo sobre essa música são uma loucura! E eu fico tipo “uau!”, porque no começo pensei que seria “Face in the Crowd”, que foi a favorita deles durante as lives da pandemia. Mas agora acho que é “Dancing in a Hurricane”, talvez porque seja verão e é uma música com mais energia, quase que típica para festivais, e eu adorei tocá-la ao vivo nas últimas semanas. Nós temos o Glastonbury vindo aí, que eu não sabia se iria acontecer ou não, então foi quase como se essa música tivesse se manifestado, e mal posso esperar para tocá-la nos palcos novamente!
E falando sobre as faixas do álbum, que tratam sobre o seu processo de superar um coração partido depois de um término (o que é muito difícil), elas dividem-se em dois momentos, sendo um mais “amargo” e outro mais “doce”, certo? Têm as músicas mais tristes e melancólicas, em que você ainda está sofrendo, e as mais felizes e resilientes, de quando você já seguiu em frente e está bem com isso. Pensando nessas duas fases, existe, para cada uma delas, alguma faixa que tenha descrito mais fielmente o que você passou?
Freya Ridings: Esse é um bom ponto de vista. Acho que provavelmente as mais tristes, que são as baladas, são as que têm menos “barulho” na cabeça, e eu escrevo muitas delas completamente sozinha. Então pra mim, acho que quando isso acontece se tem ainda menos filtro do que quando se co-escreve música com outras pessoas, porque não há nada entre você, o piano e seu fluxo de consciência. No meu caso, isso não foi nada intencional essa coisa de “amargo” e “doce”; foi só o que aconteceu na minha vida. Eu achei que esse seria um álbum muito triste, e então acidentalmente eu voltei com o meu ex, nós superamos muitos dos problemas que tivemos por anos e de repente estávamos muito felizes, e eu fiquei tipo “eu não faço ideia do que fazer com toda essa felicidade, eu sou uma garota de músicas tristes! O que eu faço agora?”; então pensei que talvez eu pudesse só fazer algumas músicas mais felizes. Mas acho que pra mim, as músicas que têm um lugar especial no meu coração são aquelas que têm uma espécie de “fogo”, uma determinação que não deve ser confundida com raiva, mas sim uma excitação de superar uma dor e transformá-la em algo lindo. Músicas como “Castles” e “Dancing in a Hurricane” são parecidas no sentido de que o cerne é sobre se reconstruir sem querer esperar que alguém te faça feliz, mas sim tentar dar a volta por cima e encontrar a beleza do momento, por mais difícil que ele seja. Acho que empoderar mulheres e esse sentimento de compartilhar que nós somos mais fortes do que pensamos é a minha grande paixão de vida.
Isso é muito inspirador! E eu notei que algumas das músicas mais tristes têm na verdade uma melodia mais dançante e animada. Como foi o processo de composição dessas faixas?
Freya Ridings: Acho que músicas como “Weekends” deveriam ser músicas realmente tristes, e então o produtor meio que teve a ideia de fazer algo mais alegre e dançante, e eu não topei essa ideia logo de cara, mas pensei que como as letras já eram bem tristes, se a música em si não fosse mais eufórica para equilibrar essa melancolia, seria triste demais. Eu queria dançar a dor, sabe? Não queria só ficar imersa nisso pra sempre. E foi por isso que eu decidi sair da minha zona de conforto e tentar algo diferente. Acho que talvez eu tenha ido um pouco longe demais em “Weekends”, pra ser sincera, mas acho que o resto do álbum tem esse instrumental mais orgânico, mas com mais energia que o primeiro disco. Eu gostei muito de tocar as músicas ao vivo, foi uma das minhas coisas favoritas, assim como ver a repercussão das músicas que os fãs escolheram, porque no final do dia são eles que escolhem, não a gente. Você pode ser o mais corajosa que puder ou ser vulnerável; e a escolha acaba sendo deles.
Sim, e eu achei isso da sonoridade muito interessante porque me remeteu à vibe da música “Dancing On My Own”, da Robyn, não sei se você conhece…
Freya Ridings: Sim! Eu amo essa música!
Sim! É uma ótima música triste e dançante ao mesmo tempo!
Freya Ridings: Sim, com certeza! Existem muitas músicas bem tristes que têm esse tipo de batida, mas eu diria que “Dancing On My Own”, da Robyn, é provavelmente a melhor delas.
Com certeza é uma das melhores!
Freya Ridings: Sim, 100%.
Como você comentou, todo o processo de gravação de “Blood Orange” aconteceu durante a pandemia, quando você estava na casa dos seus pais em Londres, antes de se mudarem para Los Angeles, certo? Nesses momentos de contato familiar, alguma memória de infância serviu de inspiração para as músicas do “Blood Orange”?
Freya Ridings: Esse é um bom ponto de vista! Acho que definitivamente voltar a estar perto da minha mãe influenciou as composições, porque ela é a mulher mais sábia que eu conheço, e sempre que eu estou em conflito por alguma razão, estar perto dela para ouvir as metáforas incríveis e muito engraçadas dela ajudou muito. Ela tem uma chamada “Wither On The Wine”, que era para quando eu estava chateada ou sofrendo emocionalmente por alguém que eu queria mostrar o quanto me machucou, e ela dizia “não gaste tanta energia, coloque isso em outro lugar e não se deixe afetar tanto assim”. E foi por isso que eu escrevi uma música com esse nome, porque eu estava determinada a não gastar mais energia alguma com alguém que me machucou. Às vezes a resposta mais alta que você pode dar a alguém é o silêncio, e é exatamente isso que essa música significa pra mim. Então estar perto da minha mãe e da casa onde passei minha infância com certeza inspirou esse álbum, e como o meu irmão ainda me ajudou a terminar a letra dessa música, foi tudo uma grande experiência familiar.
Que bacana! Voltando à sonoridade do álbum, eu vi que talvez a maior inspiração foram as músicas dos anos 70, certo? Então eu gostaria de saber quais foram essas influências, e com que artista ou banda dessa época você gostaria de colaborar (ou gostaria de ter colaborado)?
Freya Ridings: Ah, têm tantos! Pra mim os anos 70 são a década em que você ama as músicas de simplesmente qualquer gênero! Tem algo na autenticidade dos artistas e na coragem das composições que é inigualável, desde Carole King até Elton John, Stevie Wonder, Aretha Franklin… têm tantos ainda, como David Bowie, Nile Rodgers também foram grandes inspirações pra mim. Acho que a instrumentação e o fato de que tudo foi gravado em fita, com todas as imperfeições, mostra o quanto de coração havia nessas músicas. O que me inspira é o fato de que todos os instrumentos são reais, porque muito das produções atuais feitas pelos computadores não são, e pra mim significa muito tentar achar os verdadeiros músicos que realmente tocaram violinos, violoncelos e violões acústicos porque é muito diferente de como costumávamos gravar música. Era mais como se todo mundo voltasse ao estúdio para tocar junto numa sala, enquanto agora há um pequeno espaço para apenas uma pessoa, o que eu acho menos emocional, e eu queria justamente trazer de volta essa emoção junto com um pouco mais de conexão, não perfeição; esse era o meu objetivo. E com quem eu colaboraria? Ah, essa é difícil… provavelmente com o Elton John. Eu amaria trabalhar com ele, seria muito divertido!
Com certeza, ele é incrível!
Freya Ridings: Sim, e um colega ruivo ainda! Eu o amo por isso (risos).
E eu perguntei isso porque achei engraçado que, apesar do álbum ter sido lançado só agora sendo que foi produzido há um tempo atrás, quando eu ouvi, a primeira coisa que veio na minha cabeça foi a série “Daisy Jones and the Six”, não sei se você conhece.
Freya Ridings: Eu sou obcecada por “Daisy Jones and the Six”! Você também gosta?
Sim, muito! Meu Deus, eu amo absurdamente essa série, com certeza vou comprar o livro também porque o que eu assisti não foi o suficiente pra mim! (risos). Você gostou do final?
Freya Ridings: Meu deus, eu amei, sou obcecada pela música! Na verdade eu não leio muitos livros porque eu sou disléxica, mas eu li o outro livro da autora de “Daisy Jones and the Six”, “Os sete maridos de Evelyn Hugo”, e mandei mensagem pra ela no Instagram dizendo que se ela precisar de alguém pra escrever músicas para essa história, eu ficaria muito honrada! Eu amo “Daisy Jones and the Six”, a trilha sonora é incrível e meu deus, é exatamente isso que eu quis dizer com pessoas num estúdio gravando um álbum juntas. Eu não conseguia parar de ouvir as músicas! Eu inclusive fiz um cover numa rádio do Reino Unido de uma das principais faixas, que é “Honeycomb”, no dia do lançamento do meu álbum (que está disponível no YouTube), porque essa música era basicamente tudo que eu queria cantar e eu queria muito ser a Daisy Jones por um momento (risos). Eu amei muito essa série, ela é muito boa!
Bem, você já tem o cabelo e o álbum! (risos)
Freya Ridings: Ai meu deus, obrigada! (risos)
“Honeycomb” é a sua preferida?
Freya Ridings: Ai, eu não sei… eu gosto muito de “River”, mas todas as músicas são brilhantes, na verdade. Acho que foi o Marcus Mumford que compôs, e eu amo quando isso acontece de artistas escreverem todas as músicas de uma série, como o Labirinth em “Euphoria”. Eu realmente adoraria compor músicas para uma série, é uma das minhas grandes paixões e que eu adoraria realizar. Eu acabei de escrever uma música para um filme que vai sair no fim do mês que vem, e estou muito animada com isso, então espero poder fazer cada vez mais disso!
Você me deixou muito curiosa agora sobre esse filme! (risos)
Freya Ridings: É bem divertido! Espero que você goste, eu fiquei muito orgulhosa disso!
E é uma comédia, uma comédia romântica…
Freya Ridings: É um filme infantil, mas é uma música que eu sinto muito orgulho porque acho que ela empodera as meninas mais novas, e mal posso esperar pra compartilhar. Foi feita pelo mesmo produtor de “Dancing in a Hurricane”, então são músicas meio “irmãs”, mas diferentes ao mesmo tempo. É tudo o que eu posso dizer, e provavelmente já falei demais! (risos)
Hmm, está bem! Encerrando a nossa conversa, eu tenho uma pergunta um pouco mais reflexiva: como você acha que o “Blood Orange” te mudou, tanto como artista, quanto como pessoa?
Freya Ridings: Ai meu deus, é uma ótima pergunta! Eu sinto que eu estava determinada a ir pro lado de fazer esse álbum mais corajoso do que antes, que realmente acabei fazendo isso. Acho que fazer músicas sobre coisas que eu não achei que pudesse escrever ou dizer em público e poder compartilhar coisas que são um tabu por serem constrangedoras, como a solidão que sentimos após um término ou stalkear o seu ex no supermercado, é conseguir “dançar” para fora de uma depressão bem sombria. O álbum está aí e eu sou muito grata por ele; eu coloquei muito amor nele e isso é na verdade algo muito vulnerável e assustador de se fazer, sabe, lançar um álbum enquanto artista independente. Tudo que eu fiz foi colocando o meu coração, então estou muito ansiosa para ver como essas músicas vão crescer e evoluir, porque quando as pessoas me falam suas favoritas, eu posso realmente fazê-las crescer, como “Castles”, que foi uma música que eu passei dois anos tocando ao vivo para se tornar o que é hoje. Então estou bem animada para ver a jornada que essas músicas terão!
Eu preciso perguntar isso: você pensa em trazer a “Blood Orange Tour” pro Brasil?
Freya Ridings: Eu vou! Literalmente todos os dias que eu falo com o meu agente no telefone eu imploro pra que ele agende um show no Brasil, eu fico tipo “por favor, não podemos marcar um, nem que seja num festival?”. Mas eu adoraria fazer uma turnê principal aí, é definitivamente uma das maiores prioridades da minha lista. Acho que esse ano provavelmente vou tocar só na Europa, mas no começo de 2024 ir para o Brasil é um dos meus maiores objetivos porque o apoio e o amor que os fãs brasileiros mostraram sempre me deixa impressionada, e nem consigo imaginar o que é realmente estar aí e tocar de verdade pra vocês, podendo agradecer pessoalmente por todo o carinho que eu não tinha ideia que vocês tiveram pelo primeiro álbum. Então eu adoraria ir até aí com o segundo disco e poder tocar “Lost Without You”, “Castles” e outras das músicas novas.
Bem, eu já estou muito ansiosa por isso! Freya, muito obrigada pelo seu tempo, adorei nossa conversa! Até usei propositalmente o meu casaco laranja para homenagear o seu álbum! (risos)
Freya Ridings: Ai meu deus, eu vi que era laranja! Eu adorei! Muito obrigada, Natália, você é muito amável! Obrigada pela nossa conversa!
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