Ao longo da história, o meio musical tem sido marcado pelas mais diversas parcerias entre artistas e bandas, inclusive de diferentes países. Além de promover a união de estilos, muitas vezes, quase que opostos, e atrair novos públicos, as parcerias podem acabar criando um elo para além do campo profissional entre os artistas. Pode-se dizer, de certa forma, que foi isso que aconteceu com Guilherme Gê e Ney Matogrosso.
Quando Gê teve seu primeiro contato direto com Ney Matogrosso em 2017, durante a produção do musical “Puro Ney”, talvez não imaginasse que esse teria sido o ponto de partida para um “novo mundo” que os dois criariam anos mais tarde. Após terem se reencontrado em 2021 para gravar o single “Nada Será Como Antes”, lançado no ano passado, foi em 2024 que a parceria entre Ney e Gê – agora com a banda Hecto, formada junto de Marcelo Lader – floresceu, desencadeando no álbum conjunto “Canções Para Um Novo Mundo”, lançado na última sexta-feira (10).
A Nação da Música conversou com Guilherme Gê sobre a ideia de convidar Ney Matogrosso para lançar um álbum conjunto com a Hecto, que conta ainda com as parcerias de Ana Cañas, Frejat e Will Calhoun (baterista do Living Colour); além de bastidores das gravações e o que podemos esperar desta nova era.
Entrevista por Natália Barão
————————————– Leia a entrevista na íntegra:
E aí, Gê, tudo bem? Como você está?
Guilherme Gê: Tudo certo! Nascendo, né? (risos). Nascendo o álbum, hoje é o primeiro dia, né?
Sim, sim. Apesar de que os trabalhos já começaram um pouquinho antes, né? Com o lançamento do single.
Guilherme Gê: O trabalho é o tempo inteiro, né? Não para um minuto, né?
Agora que lançou o álbum de fato e que ele saiu na íntegra, como você está se sentindo?
Guilherme Gê: Tô muito feliz. É claro que ainda tem um processo grande pela frente de divulgação, mas as primeiras impressões, as primeiras respostas estão sendo muito boas. Tá indo mais longe do que eu imaginava, apesar de ainda estar muito no começo, mas tô muito feliz com o resultado.
Esse álbum é conjunto com o Ney Matogrosso, que você já conhece desde 2017, na época do musical “Puro Ney”, mas a primeira parceria de fato entre vocês, o single “Nada Será Como Antes”, foi lançada em 2023. Como veio a ideia de convidar o Ney pra gravar o álbum inteiro “Canções Para Um Novo Mundo”?
Guilherme Gê: Então, “Nada Será Como Antes” a gente gravou em 2021, durante a pandemia, e foi uma felicidade quando o Ney aceitou gravar essa música, né? Demorou ainda nove meses “de gestação” (risos) até a gente de fato conseguir gravar, porque ficava naquela coisa de abre e não abre da pandemia, aquela coisa toda que a gente passou. Então demorou um pouquinho. Nesse mesmo dia que a gente gravou “Nada Será Como Antes”, que foi a primeira gravação que a gente fez, foi uma experiência incrível. Quando eu cheguei em casa, peguei meu violão e pensei “como será que ficaria a voz do Ney em ‘Teu Sangue’?”, que foi o primeiro single que a gente lançou agora desse álbum de fato. Eu achei a voz dele dentro da matemática da música, porque ela é muito aguda, o que é um ponto fora da curva e não tão simples de entender como vai funcionar dentro de um arranjo. E eu achei isso de cara, foi meio que por osmose em decorrência da gravação que a gente tinha feito de “Nada Será Como Antes”, e a partir daí, começou a pintar essa ideia. Eu fiz o arranjo pra “Teu Sangue” pensando na voz do Ney – e na minha – um bom tempo depois, já começo de 2023, de uma forma equilibrada pros dois. Aí eu mandei para ele e naquele final de tarde ele falou assim “pô, gostei muito, Gê”. Aí, ok, fiquei na minha, né, aí às 01h da manhã ele mandou um outro WhatsApp assim “gostei mesmo, se for gravar, me chama”. E aí, lógico, ele deu o sinal verde pra gente conversar melhor sobre isso e eu comecei a selecionar outras músicas que tinham essa mesma temática de “Teu Sangue” até chegar nesse conceito de “Canções Para Um Novo Mundo”, que falam mais ou menos do mesmo assunto e apontam essa porta de “novo mundo”. Aí eu selecionei essas músicas e um belo dia, fui lá, marquei uma reunião com ele, mostrei as músicas e ele gostou. Foi mais ou menos esse o começo de tudo.
Você comentou que apesar de vocês terem gravado “Nada Será Como Antes” em 2021, você pensou nesse arranjo de como seria o Ney cantando “Teu Sangue”, que foi o primeiro single oficial do “Canções Para Um Novo Mundo”. O que te fez pensar nele pra essa música? Porque vocês já tinham gravado com Zeca Baleiro, né?
Guilherme Gê: Exatamente. Então, essa música é interessante porque eu compus ela em 2016. O mote dela é muito legal também porque eu tava na rua, passeando com a minha cachorrinha e aí ouvi uma conversa entre dois funcionários de um prédio, e um deles reclamava “não, porque ele fez isso, fez aquilo, pô, não aguento mais”, aí o outro virou pra ele e falou assim “teu sangue”. Então esse é o mote da música, de vamos nos suportar. Claro, ela também fala de várias outras coisas, mas o mote veio daí, e essa música foi gravada em 2016 por um outro cantor, o Madu. Mas antes mesmo dele gravar, eu mostrei essa música pra dois amigos meus e os dois disseram a mesma coisa: “essa música é a cara do Ney”. Isso lá em 2016, aí eu pensei “pô, mas eu não tenho nem como mandar, não tenho contatos, não tenho nada, não conheço”; mas aí, um ano depois, a gente se conheceu no “Puro Ney” e a partir daí a coisa foi indo aos poucos, naturalmente, como deve ser, porque a natureza não dá saltos, né? As coisas acontecem no tempo certo e a gente tem que saber respeitar isso. E foi o que aconteceu. Então, essa é uma música muito antiga que veio lá do começo pra essas duas pessoas, e uma delas foi o Marcos Suzano, que é percussionista, também participa do disco e é parceiraço meu de longa data, toca na banda do Ney também há muitos anos. Quando o Suzano disse que essa música era a cara do Ney, eu fiquei o tempo inteiro com isso na cabeça, então foi interessante a sua pergunta porque talvez esse tenha sido o primeiro ponto de contato pra esse disco.
Eu achei muito interessante a história por trás, acho que tinha até visto um Reels que vocês postaram falando do mote, achei muito engraçado. E além de “Teu Sangue”, “Nosso Grito” também já tinha sido divulgada antes do lançamento do álbum na íntegra. Uma coisa que me chamou muito a atenção foi a capa do single, que mostra você e o Ney em frente ao espelho, os dois passando o lápis de olho, e eu achei isso muito interessante porque, pelo que eu vi, o conceito musical do disco é misturar o rock da Hecto com a MPB do Ney, e eu achei que essa foto traz muito essa sinergia. Então queria saber de você, depois desse processo de gravação e agora com o lançamento, o que você acha que tem de mais MPB na Hecto e o que você acha que tem de mais rock no Ney?
Guilherme Gê: Só um parênteses antes, que essa capa é do Marcos Hermes, que fez toda a cobertura, e foi ideia dele essa foto da gente passando o lápis, e ela me remete também a como se a gente estivesse se preparando pra entrar no palco, que acho que é a ideia também isso de “partir pro ataque”, no bom sentido. Mas assim, a Hecto, desde o começo, sempre teve um viés MPB; a própria gravação de “Teu Sangue”, da primeira versão com o Zeca Baleiro, apesar de ser rock, tem uma coisa meio afro, meio MPB, que é um DNA colocado pelo próprio Zeca também. E a gente também tem gravações com o Tom Zé, né, a gente gravou “Augusto Angélica Consolação”, que é esse samba clássico dele que foi vertido para o rock, além de outras músicas não lançadas ainda, que a Hecto começou lá em 2020. A gente trabalhou muito durante a pandemia, então temos muita música gravada que ainda não foi lançada; estamos aguardando o momento certo pra isso. E várias têm essa mistura de MPB com rock, então é algo natural mesmo.
Além disso, eu venho de uma escola da MPB, da bossa nova, trabalhei muito tempo com o Roberto Menescal, então tem esse DNA também no “meu sangue”. E o Ney, ontem mesmo passou na minha timeline o “Homem de Neanderthal” que é o primeiro disco solo dele, e eu dei uma ouvida meio que rapidamente, esse é um disco que eu conheço bastante até por ter pesquisado muito naquela época do musical, e esse disco, por exemplo, tem essa mistura muito forte de rock e MPB. Ele tem algumas baladas lindas ali no meio, que aí sim é MPB pura, mas ao mesmo tempo tem essas guitarras distorcidas e a atitude rock, né? Isso é uma coisa muito à frente do tempo para um disco de 75, e ele já trazia isso que a gente está fazendo agora. Acho que sempre esteve presente também, ele mesmo fala que o Secos e Molhados, apesar de não ter sido uma banda de rock, era uma banda que trazia essa atitude rock. A gente chegou num meio termo assim pra esse disco, mas acho que ficou muito clara essa mistura da MPB e do rock.
Com certeza, só de ouvir os singles dá pra perceber bastante. Quando eu pensei nessa pergunta, eu pensei mais em atitude, porque muita gente fala da “atitude rock’n’roll”, e falando nisso, eu vi que, ao todo, o disco tem nove faixas, todas compostas por quando você (além de outros parceiros em algumas faixas, pelo que eu vi na ficha técnica). O Ney chegou a contribuir pro álbum de alguma forma nesse sentido de dar alguma canetada, de repente sugerir um arranjo, trazer alguma coisa nova? Ou ele veio mais como intérprete (o que já é uma grande coisa)?
Guilherme Gê: Sim, exatamente. O Ney é um intérprete-autor, eu sempre falo que ele é um intérprete que interpreta a música de uma forma tão grandiosa, tão verdadeira, que acaba se tornando moralmente um parceiro daquela composição. Ele não chegou a canetar nada assim nesse ponto, mas eu sou muito aberto e com o Ney não poderia ser diferente também, porque a gente está falando de um dos maiores intérpretes da música brasileira, né? Então quando ele interpretava de uma forma, mudava uma nota ou outra da melodia, eu falava “Ney, vai fundo”, deixava na mão dele e sempre foi 100% de acerto, lógico (risos), não poderia ser diferente. Ele trouxe a cara dele para as músicas, e isso por si só já é tudo. A questão dos arranjos, eu já tinha levado todos prontos pro estúdio, então a gente não teve muita troca, mas, ao mesmo tempo, muitos meses antes da gente entrar no estúdio, eu mostrei todos os esboços pra ele e ele falou “Gê, eu gosto de tudo”. Ele não quis mudar nada, concordou com tudo e a gente foi em frente.
Outra faixa que me chamou a atenção foi “Monólogo”, que eu vi que foi musicada por você e pelo Sérgio Britto (do Titãs) em cima de um poema do Paulo Sérgio Valle. Como esse poema foi parar no álbum?
Guilherme Gê: O Paulo Sérgio Valle é um parceiro meu já de muitos anos, a gente tem várias músicas juntos desde 2010. Ele é um dos principais letristas do Brasil, irmão do Marcos Valle, e tem uma obra gigantesca; as músicas mais tocadas do Brasil são dele: “Evidências” é dele com o José Augusto, “Samba de Verão”, que é a sexta música mais executada do mundo… enfim, ele lançou um livro em 2019 e eu peguei esse poema, que é “Monólogo”, comecei a letrar e começou a ficar muito interessante. Aí meio que bloqueou uma parte, e eu mandei para o Sérgio Britto, que é meu parceiro também de longa data e que já produzi os discos, e ele logo de cara continuou a ideia de uma forma incrível, fechando essa parceria entre os três. Achei que essa música tinha muito a ver com o conceito do “Canções Para O Novo Mundo”, então por isso que ela está aí. Teve ainda um arranjo de cordas que eu fiz e a bateria do Guto Goffi, do Barão Vermelho, também meu parceiro de estrada e foi mais ou menos isso.
Algum trecho específico desse poema te deu esse estalo de musicar em cima?
Guilherme Gê: Sim, a primeira parte, basicamente o refrão, que eu falo “o corpo cansado / alma desperta um mundo errado que o sono acerta / dorme animal com o teu ronco de bicho / que pensar é teu mal, que recolham o teu lixo”. Essa parte do ronco “dorme animal com o teu ronco de bicho” me pegou. “Que recolham teu lixo” é uma coisa muito forte, né? E foi a mesma coisa que pegou o Ney e é uma das preferidas dele também. Ele falou: “gostei muito dessa parte do animal, gostei muito” (risos). Então tem essa sintonia também.
Falando em sintonia, como foram as gravações? Tem algum bastidor curioso que você possa me contar? Porque pensando que seu primeiro contato com ele foi no musical e aí em 2021 vocês gravaram “Nada Será Como Antes”, que desencadeou esse álbum que está saindo nessa sexta agora, eu imagino que a relação de vocês nesse período todo de gravação deve ter se aprofundado em muitos níveis, tanto no pessoal quanto no profissional, né?
Guilherme Gê: Sim, a gente continua divulgando, fazendo entrevista, e tem sido uma experiência incrível porque o Ney é uma pessoa muito simples. Ele é de uma simplicidade inacreditável pra um artista do tamanho dele, apesar da gente saber de outros grandes artistas que têm essa mesma tranquilidade, essa mesma generosidade, A parte de estúdio sempre foi de uma leveza impressionante e com um astral muito bom. A gente deu muita risada, sempre foi muito divertido de fazer apesar de ter as demandas ali e todas as obrigações. A maioria das músicas a gente gravou, inclusive, só a voz dele; eu já tinha gravado a minha voz antes e depois algumas outras a gente misturou gravando junto. Sobre essa coisa do rock, da atitude rock, foi interessante, tem uma coisa de bastidor que ele falou: na gravação de “Canção Para O Novo Mundo” – que é uma música minha com o Mauro Santa Cecília – a gente estava ouvindo depois que ele gravou ele, e ele comentou “é rock mesmo, né, Gê? é rock!”.
A gente estava ainda no processo de produção do disco, entendendo como seria e ele falou “é rock, é um disco de rock, né Gê?”, e eu disse “é, é um disco de rock né, Ney, mas essa música até não é tão rock assim, não tem distorção” e ele falou assim “mas a atitude rock”, e é justamente isso, né? São olhares de alguém muito experiente que a gente começa a entender como funciona essa coisa. Mas é tudo muito legal, foi tudo muito bom e está sendo muito bomAs filmagens do videoclipe também, o Ney é uma pessoa muito disponível e muito profissional nas coisas; ele se coloca à disposição e vamo embora. E lembrando que ele tá com 83 anos, né? É impressionante, ele não deixa de fazer nada que tem que ser feito com a maior das boas vontades.
Uma vitalidade impressionante! Acho que ano passado mesmo ele tava em turnê, né?
Guilherme Gê: Exato, e continua, né? Ele é um exemplo, eu sempre tento pegar as coisas tipo “ô Ney, o que você toma no café da manhã?”, pra gente ir pelo mesmo caminho, pra ter saúde, né? (risos). A gente sempre conversa sobre essas coisas, ele é muito simples em tudo e eu fico vendo também que é a maneira de ser. Claro que deve ter DNA e uma série de questões genéticas, mas também tem a calma, a maneira tranquila dele lidar com as coisas é contagiante. Eu também me considero uma pessoa tranquila e muita gente fala que eu passo tranquilidade quando eu produzo. Então quando a gente se une num estúdio ou entrevista, realmente fica uma energia muito zen e a gente consegue transitar tranquilamente pelas coisas.
Sim, eu imagino. E, além do Ney, esse álbum também tem outras parcerias, como o Frejat, a Ana Cañas e o Will Calhoun, do Living Color. Eu vi no release uma aspa sua que eu achei muito interessante dizendo que “as parcerias não poderiam ter sido mais perfeitas e exatas para cada música”. Eu queria saber como vocês chegaram em cada um desses nomes e como cada um deles se encaixou perfeitamente nas respectivas faixas.
Guilherme Gê: Sobre essa questão de não poderiam ser melhores essas parcerias, eu disse isso porque, por experiência própria de produzir muita gente e já ter feito muitas pontes entre artistas (de Luiz Melodia, Alaíde Costa, Roberta Campos; o próprio Tom Zé, com quem já tem uma relação mais profunda de amizade também), essas três participações foram as mais incríveis e mais bem conectadas que já aconteceram. Eu sempre prezei muito que esse encaixe entre os artistas fosse natural, e apesar de ser uma coisa óbvia, às vezes as pessoas querem pegar uma carona, e esse não é o objetivo. O objetivo da participação, pra mim, é o encaixe, a verdade entre um artista e outro, então tem que ser tudo bem conectado; e dá pra ouvir esse equilíbrio nas músicas. O Will Calhoun eu conheci em 2023, quando ele fez um workshop aqui no Rio, na Casa da Glória, e eu fui lá assistir. A gente conversou um pouco, eu sou fã de Living Colour há muitos anos, eles foram a primeira banda negra de rock a fazer sucesso nos Estados Unidos, então tem essa coisa afro muito forte neles e um som mais pesado, que eu gosto também.
Depois da gente ter se conhecido, eu vi que eles iam fazer um show aqui no Rio ano passado e pensei “pô, não, não custa nada sonhar”, porque a agenda dele é difícil, enfim, é uma banda grande. Aí eu comecei a calcular “se ele vai fazer um show na quinta-feira, deve chegar aqui na segunda” e falei antes com o Marcelinho da Lua, que também é amigo do Will Calhoun, e ele disse que achava possível sim. Aí eu falei depois com o Marcos Hermes, que é muito amigo de todos eles do Living Colour há muito tempo, e o Marcos fez essa ponte. Foram enviadas duas músicas pro Will e ele adorou as duas. A gravação foi dois dias antes do show deles aqui e foi uma catarse, foi um negócio incrível; ele é um cara espetacular. Ele deixou um depoimento em vídeo que depois a gente vai divulgar, mas foi incrível, ele levou as duas músicas para um outro lugar. O Frejat é um cara que eu tenho uma admiração profunda e é uma influência muito forte não só pra mim, mas acho que para toda a minha geração e outras também. Eu pensei assim em chamar ele não só pela música, que tinha muito a ver com a história dele, mas também pela letra, porque o letrista de “Solaris” é o Mauro Santa Cecília, que é parceiro do Frejat também, é o autor de “Por Você”, do Barão Vermelho, “Amor pra Recomeçar”, e eu pensei “poxa, talvez tenha a ver essa conexão”. Aí eu falei com o Humberto Barros, grande tecladista e grande amigo também, ele fez essa ponte e o Frejat adorou e quis participar. A gente ficou muito feliz, o Ney também e o resultado foi maravilhoso!
A Ana Cañas foi uma sugestão do próprio Ney, e eu achei muito interessante. Comecei a pensar na voz dela, na música, o Ney fez essa ponte, a gente combinou e ela gravou. A região que a Ana cantou foi um pouco mais grave da que ela costuma cantar normalmente, então deu um outro sentido pra música também e ficou incrível o resultado, ela adorou e eu também achei muito bacana toda a questão com ela. Essas duas músicas têm esse traço de ter três vozes e não ser simplesmente um dueto, mas um “trieto” (risos). Soa estranho isso, né, mas é um “trieto” (risos), que soa com muita naturalidade e muito equilíbrio. Eu achei inusitado também porque não é tão comum assim três vozes numa música, eu acho pelo menos, e gostei muito desse resultado.
Incrível! Eu já achei muito interessante o conceito de ser um álbum conjunto; não é nem um “simples” (entre muitas aspas) feat, são de fato dois artistas juntos lançando um álbum, que também tem a parte dos feats, ficando realmente um “trieto”.
Guilherme Gê: Exatamente! É legal você ter falado isso porque a gente combinou lá no começo que era um álbum de parceria, não um álbum da Hecto convidando o Ney; nunca foi isso, como aconteceu lá atrás em “Nada Será Como Antes”, que era um single e a gente fez um arranjo combinado. Esse trabalho não: é um trabalho de Ney Matogrosso e da Hecto, conexão total dos dois artistas.
Sim, total Pensando que o nome do álbum é “Canções Para Um Novo Mundo”, tem alguma canção, seja desse álbum, seja na vida, de qualquer artista, que te traz esse sentimento de mudança, de novo mundo?
Guilherme Gê: Têm muitas. Eu ouço muito música instrumental, music, jazz, música erudita… eu acho que as músicas principalmente que o Philip Glass faz, que é um compositor e pianista americano que já deve estar quase com 80, pra mim são de uma profundidade tão grande, e ele entra nesse lugar do novo. Ele parece que está sempre muito à frente de tudo, ele é considerado um minimalista, mas fala que não, que é mais do que isso, mas enfim, o tipo de música que ele faz é muito diferente e é sempre essa coisa do novo. Pra mim, acho que daqui a 100 anos não vamos ver isso; ele vai ser um um novo Bach, um novo Debussy. Têm outros artistas também que me levam para isso, como o Milton Nascimento e que a galera toda do Clube de Esquina, do Lô Borges, eles fazem essa coisa do novo; Tom Jobim também tem muito isso; indo lá pra fora, Radiohead é uma banda que eu também sou muito ligado e me traz essa coisa do novo. Esses artistas que eu citei acho que são os mais fortes nessa coisa do novo pra mim.
Sim, e já são situações excelentes! Gê, acho que o nosso tempo já está praticamente acabando, mas queria comentar sobre a indicação de “Teu Sangue” e da Hecto, respectivamente, como “Melhor Música de Rock” e “Melhor Banda de Rock” no Prêmio Claro de Música, do ano passado. O que você sentiu com esse reconhecimento e o que mais a gente pode esperar de 2025 para Hecto com a era “Canções Para Um Novo Mundo”? De repente, talvez uma turnê conjunta com o Ney, até para casar com aquele conceito que a gente comentou do álbum ser um álbum conjunto de dois artistas…
Guilherme Gê: Só pra retificar um detalhezinho, a indicação de “Melhor Artista de Rock” foi Ney Matogrosso e Hecto. Mas a gente ficou muito feliz, lógico, principalmente no ambiente musical que a gente viveu e vive hoje, que não é tão favorável ao rock. Acho que 2025 vai ser um ano de colher muitos frutos, já temos algumas coisas, alguns caminhos indicados que podem render muitas coisas e que a gente não pode falar ainda. Sobre shows, a gente ainda não definiu isso, então é uma uma pergunta sem resposta (risos), porque a gente ainda não parou pra ver como é que vai ficar isso, porque a agenda do Ney é complicada e a gente está realmente focando mais na divulgação. E o Ney, claro, tem a carreira dele, ele continua fazendo muitos shows, fazendo muita coisa e precisa descansar um pouco também (risos), tem que deixar ele descansar um pouco! Mas a gente vai pensar nisso e colocar o que que vai ser feito também.
Certo, perfeito!
Guilherme Gê: E lembrando que a gente tem o videoclipe também!
Sim, que é lançado nessa sexta, né?
Guilherme Gê: Exatamente, vai sair agora ao meio dia.
Alguma curiosidade, algum bastidor que você queira compartilhar sobre o clipe? Eu vi que já teve um trechinho divulgado…
Guilherme Gê: Assim, de cabeça, não lembro de nada. Foi bem trabalhoso de fazer, mas acho que o que eu posso falar é a direção do Batman Zavareze, que é sempre incrível, né? Ele até deu uma pista de algumas coisas que podem acontecer, que eu não posso falar ainda, que é surpresa (risos). Mas o Batman abraçou a Hecto, e como ele já trabalha com o Ney também há um tempo, já tem essa intimidade. Ele é um terceiro elemento que entrou muito bem dentro do trabalho, vai render muitos frutos.
Tenho certeza que sim. Só pelos singles que eu ouvi eu tenho certeza que vem aí um caminho muito rico de muitas realizações e conquistas! Gê, muito obrigada pelo nosso papo. Adorei conversar com você e espero termos outras oportunidades pra conversar de novo!
Guilherme Gê: Muito obrigado, Natália! A gente se fala, com certeza. Valeu!
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