Entrevistamos Luca Argel sobre releitura de Vinicius de Moraes

luca argel
Foto: Christie Batziou

No começo de maio, o artista Luca Argel divulgou “Meigo Energúmeno” nas plataformas digitais, álbum onde realiza uma releitura de seis obras do repertório de Vinicius de Moraes, propondo uma audaciosa revisão crítica para as suas canções.

Fruto de sua pesquisa para dissertação de mestrado pela Universidade do Porto, em Portugal, o trabalho chega em formato de disco e livro. O livro “Meigo Energúmeno – Notas para uma leitura antimachista de Vinicius de Moraes” é um ensaio onde o autor se debruça sobre a obra de Vinicius em busca de explorar uma nova interpretação dos seus textos.

- ANUNCIE AQUI -

A Nação da Música entrevistou Luca Argel sobre o processo criativo por trás do projeto e também sua vivência em Portugal, onde vive há muitos anos.

Entrevista por Marina Moia.

- ANUNCIE AQUI -

—————————————- Leia a íntegra:
O que te motivou a realizar uma leitura antimachista da obra de Vinicius de Moraes? E como foi o processo de seleção das seis canções para o álbum?
Luca Argel: Começou como um exercício muito informal, quase por acaso. Eu precisava reler os livros do Vinicius para escrever um artigo durante o meu curso de mestrado, e enquanto fazia isso comecei a reparar em traços de machismo que sempre me passaram despercebidos. Passei a ler com mais atenção e a anotar todos os trechos em que encontrava algum desses traços. No final, já tinha tanta coisa anotada que percebi que podia escrever uma dissertação inteira só sobre esse assunto, e foi o que acabou acontecendo! Já o processo de seleção das músicas foi mais simples. Eu tenho no final do livro um índice de todas as canções mencionadas, qualquer uma delas teria contexto pra ser gravada. Só que eram quase cinquenta… Então fiz uma pré-seleção, entre as minhas preferidas pessoais, e as que eram mais conhecidas. Fui experimentando cada uma no violão, e a gente sente quando toca… É igual ao trabalho de um joalheiro que olha uma pedra preciosa e sabe na hora avaliar se é verdadeira ou falsa. Com música às vezes é assim. Algumas canções brilharam mais, e foram as que gravei.

Como equilibrar o respeito pela importância histórica de um artista e a crítica aos aspectos problemáticos da sua obra?
Luca Argel: Eu acho que a crítica quando é feita com muito rigor, dedicação e honestidade, é a maior homenagem que se pode fazer a um artista. É a maior prova de que ele foi levado a sério, lido e ouvido com toda a atenção. E foi o que tentei fazer. A crítica que faço à obra do Vinicius em nada diminui a importância dele, ninguém teria esse poder. Eu, e acho que qualquer pessoa que leia o livro, continuará admirando a enorme beleza das canções, dos poemas, das peças, das crônicas… Mas vai ganhar uma ferramenta a mais de leitura, uma camada que antes estava invisível, passa a ficar visível.

O álbum surgiu a partir da sua dissertação de mestrado. Que desafios enfrentou ao transformar uma pesquisa teórica em um trabalho artístico?
Luca Argel: Foi relativamente simples, porque nunca fui um acadêmico que migrou pras artes, é exatamente o contrário. Mesmo na academia, sempre tentei pensar minha escrita de forma artística, como uma experiência estética, não apenas intelectual. O livro, embora teórico, tem uma construção muito fluida, e tenta o tempo todo colocar as palavras de Vinicius em primeiro plano. Daí, tirar um álbum de um trabalho assim vem muito naturalmente.

Você vive em Portugal há mais de uma década. Como essa vivência transformou sua visão sobre o Brasil? Você sente que há diferenças entre como a música brasileira é consumida e entendida no Brasil e em Portugal?
Luca Argel: Enxergar o Brasil a partir de fora é uma experiência que eu acho que todo brasileiro devia ter. Pra mim, foi uma redescoberta não só do Brasil, mas de mim mesmo. Gostos, preferências, jeitos de estar no mundo que eu achava que eram perfeitamente normais, eu descobri que vinham muito da brasilidade. E claro, ter a dimensão do que é, em perspectiva, a nossa riqueza cultural, é assustadoramente bonito. Quer dizer, eu sempre soube dessa riqueza, mas acho que em geral a gente não tem ideia de como isso é raro e especial no mundo. Do quanto nós somos privilegiados de poder chamar essa cultura de nossa. E há diferenças sim, entre como nós consumimos a música brasileira, e como não-brasileiros a consomem. Há certos nichos musicais, por exemplo, que são muito mais valorizados fora do Brasil do que dentro. Por outro lado, mesmo a música mais “mainstream” no Brasil tem camadas de referências que só mesmo nós conseguimos entender. Estrangeiros podem até curtir a sonoridade, mas não sabem da missa a metade. O Brasil realmente não é pra principiantes.

- PUBLICIDADE -

Gostaria de deixar um recado aos leitores da Nação da Música?
Luca Argel: Se estiverem atrás de novidades pra ler ou pra ouvir, vão atrás do Meigo Energúmeno!

Muito obrigado pela sua visita e por ler essa matéria! Compartilhe com seus amigos e pessoas que conheça que também curtam Lucas Argel, e acompanhe a Nação da Música através do Google Notícias, Instagram, Twitter, YouTube, e Spotify. Você também pode receber nossas atualizações diárias através do email - cadastre-se. Caso encontre algum erro de digitação ou informação, por favor nos avise clicando aqui.

- ANUNCIE AQUI -


Caso este player não carregue, por favor, tente acessa-lo diretamente no player do Spotify. Siga a NM no Instagram e Twitter

Marina Moia
Marina Moia
Jornalista e apaixonada por música desde que se conhece por gente.