Entrevistamos Lucas Callut sobre álbum de estreia “Já que sou, o jeito é ser”

lucas callut
Foto: Guilherme Santi

No dia 02 de julho, o cantor e compositor Lucas Callut divulgou “Já que sou, o jeito é ser”, primeiro álbum da carreira. A obra é resultado de um mergulho profundo em sua própria trajetória, tanto pessoal quanto profissional, contemplando as nuances de seus desafios internos e a forma com a qual a arte se manifesta em sua vida.

A Nação da Música bateu um papo com Lucas Callut sobre as inspirações por trás do disco, projetos futuros e referências musicais.

- ANUNCIE AQUI -

Entrevista por Marina Moia.

————————————— Leia a íntegra:
O que te levou a escolher uma frase de “A Hora da Estrela” como título do seu primeiro álbum? Como a obra de Clarice inspirou você neste trabalho como um todo?
Lucas Callut: Eu li “A hora da estrela” pela primeira vez em 2006. Naquele momento já me senti impactado por Macabéa. Anos mais tarde, já como professor de Literatura, passei esse livro aos meus alunos e me deparei com esta frase “Já que sou, o jeito é ser”. Isso foi em plena pandemia, quando os meus seguidores, durante lives que eu fazia nas redes sociais, começaram a pedir que eu colocasse minhas composições nas plataformas de música. Eu já tinha deixado de lado o sonho de ser cantor, por ouvir que seria impossível. Mas ali uma chave virou e coincidentemente, revisitando a obra da Clarice que eu estava trabalhando com meus alunos, essa frase me chamou a atenção. Pareceu um sinal divino. Eu sou artista, e já que sou, o jeito é ser.

- ANUNCIE AQUI -

Além deste fato, sempre me identifiquei com Macabá. Em alguns momentos da vida me sentia como ela, mas não queria permanecer naquele estado de Macabéa. Foi então que eu passei a aterrar meus sonhos e criar caminhos para realizá-los.

O álbum tem uma pegada intimista e fala de emoções profundas. Qual faixa foi mais difícil de escrever?
Lucas Callut: A faixa mais complexa foi “24 de junho”, porque é uma homenagem aos meus pais. Eu nasci aos 7 meses, com 1,7kg. Foi uma gravidez de risco e desde o começo da vida eu tive de lutar para sobreviver. Nos anos 90, por ser prematuro, eu nem fiquei com minha mãe, fui direto para a incubadora. Uma enfermeira, vendo que eu estava perdendo peso, me levou a um quarto do hospital em que eu estava internado e me entregou escondido à minha mãe e pediu que ela tentasse me amamentar. Neste dia, minha mãe me pegou no colo e, conversando comigo, disse que eu teria de fazer uma escolha: ela luta para me dar a melhor educação e me formaria para ser uma pessoa boa para o mundo. Apesar de não ter luxos, já tinha muita gente que me amava. No entanto, se eu não quisesse, ela entenderia, mas ficaria muito triste. Comecei a mamar e logo saí do hospital.

Meu pai queria ter um filho com nome de santo. Mas como ele já havia tido minhas duas irmãs, minha mãe e ele haviam desistido da ideia. Quando ela engravidou por acidente, decidiram que seria Lucas. Acabei nascendo no dia de São João, e minha mãe pensou em colocar João Lucas, mas com medo de eu não sobreviver meu pai acabou correndo e me registrou com o nome que já estava combinado e ficou Lucas.

Mas voltando à pergunta – juro que tinha um porquê desse contexto – escrever “24 de junho” me fez revisitar e honrar minha história e tudo o que meus pais, mesmo com dificuldades, fizeram por mim. Hoje, lutar para realizar meu maior sonho e propósito de vida é uma forma de agradecer a eles. Por isso, escolhi essa faixa para ser o primeiro single, que antecedeu o lançamento do álbum. O processo até o nascimento do projeto completo durou 1 ano, começamos em junho de 2024.

- PUBLICIDADE -

Você se lembra da sensação de cantar “Como nossos pais” no karaokê aos 7 anos? O que mudou daquele menino pro artista de hoje?
Lucas Callut: Foi uma sensação de ter encontrado meu lar. Não estou falando de casa, estou falando de lar. O palco, seja ele na rua, num teatro, numa casa de shows ou onde tiver pessoas me assistindo, será sempre meu lugar de conforto. O que mudou daquela época para hoje é que eu vivi muitas coisas, experimentei outras profissões e aprendi muito e agora, mais do que nunca, a fome de viver esse sonho, que agora é realidade, aumentou.

Eu faço música para sobreviver: mental, física, financeira e essencialmente. Quando eu canto, mantenho aquele garotinho vivo, aquele garoto que sempre foi doce, apesar do mundo que o fez desistir tantas vezes. Mas dessa vez eu não vou desistir. É por nós. E como diria o Jão, “tudo que eu sonho eu consigo”.

- ANUNCIE AQUI -

Como você equilibra referências do rock brasileiro com o espírito da MPB nas suas músicas? Quais as suas principais inspirações musicais atualmente?
Lucas Callut: A Música Popular Brasileira vai muito além do formato “voz e violão”. Basta mergulharmos na história e pensarmos nos Mutantes, na Tropicália. A transição da bossa para as guitarras elétricas. Gil, em 1984, quando lança o disco “Raça Humana”, traz muito do rock.

Foi então que eu entendi que eu posso transitar muito bem entre o estilo intimista e o meu lado performer que o pop rock me permite. E não estou inventando a roda. Basta olhar para Cazuza e Rita Lee, minhas maiores inspirações para esse álbum. Eu canto o que o Brasil me oferece, seja com nuances melódicas, seja com o conteúdo das minhas letras. Eu sou fascinado pela nossa música e toda a versatilidade que ela nos permite ter.

Qual a próxima camada que você quer explorar como artista, agora que esse álbum está prestes a nascer?
Lucas Callut: Quero explorar ainda mais meu lado performático a partir dos shows e trazer outras expressões artísticas para a execução da minha música. As letras já trazem a Literatura, que é uma das minhas principais fontes de inspiração e alicerce para minha sobrevivência. No entanto, quero mais. Cores, formas, danças? Tenho explorado e experimentado formas de unir essas artes agora nesse processo de execução.
Já montei o roteiro do show e começamos a negociar datas. Mas muito vem por aí. Quero oferecer uma experiência sinestésica, afinal, é um álbum sobre a vida e a visa precisa ser sentida. Precisamos nos desmacabeizar.

Gostaria de mandar um recado aos leitores da Nação da Música?
Lucas Callut: Galera, é um prazer estar aqui no Nação da Música e eu espero que meu álbum os inspire a serem livres para ser quem são, amar quem quiserem amar, a gostarem do que quiserem gostar e, principalmente, sintam a liberdade de poder sonhar, independente da faixa etária. Como está na canção Clube da Esquina nº 2: “Os sonhos não envelhecem”.

- ANUNCIE AQUI -

Muito obrigado pela sua visita e por ler essa matéria! Compartilhe com seus amigos e pessoas que conheça que também curtam Lucas Callut, e acompanhe a Nação da Música através do Google Notícias, Instagram, Twitter, YouTube, e Spotify. Você também pode receber nossas atualizações diárias através do email - cadastre-se. Caso encontre algum erro de digitação ou informação, por favor nos avise clicando aqui.



Caso este player não carregue, por favor, tente acessa-lo diretamente no player do Spotify. Siga a NM no Instagram e Twitter

- ANUNCIE AQUI -
Marina Moia
Marina Moia
Jornalista e apaixonada por música desde que se conhece por gente.