Entrevistamos Malu Magri sobre “Dúvida”, arte e novos projetos

Malu Magri
Foto: Julia Pessini/ Divulgação

Após um hiato de quase quatro anos, a cantora e compositora Malu Magri lançou no fim de abril deste ano o single “Dúvida”, colaboração com Califrê, nas plataformas digitais de música.

Foi um longo processo de reflexão de si mesma e amadurecimento ao mesmo tempo em que Malu imergia em um período criativo onde colocou as suas percepções sobre si, relacionamentos e sua forma de relacionar-se em sua poética. Ela retorna deste hiato, perpassado pelo período pandêmico, mais segura de si como artista e com projetos a caminho.

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Juntamente com o lançamento da música, Malu Magri divulgou em seu canal oficial do YouTube o videoclipe, dirigido por Pietro Leonardi, e está se preparando para lançar seu primeiro álbum de estúdio, “Morrendo de Prazer”, previsto para o segundo semestre deste ano.

A Nação da Música conversou com a cantora sobre o lançamento de “Dúvida” e o clipe, inspirações, seu processo artístico e seus planos para o futuro.

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Entrevista por Isabel Bahé
————————————– Leia a entrevista na íntegra:

“Dúvida” foi o seu primeiro lançamento desde 2020, certo? Fala um pouco sobre a tua inspiração para o single.

Malu Magri: É isso né, eu tive um hiato de quatro anos depois do lançamento do meu EP [“De Uma Hora Pra Outra” (2020)], que foi um trabalho em que as composições foram inspiradas em relacionamentos amorosos e familiares, paixão, e também a romantização de algumas coisas. E como foram as primeiras músicas que lancei, eu obviamente estava num momento muito diferente, e acho que eu tinha uma idealização do que seria colocar as composições no mundo, o que seria falar sobre as minhas relações… como falar isso de um jeito bonito, sabe, que as pessoas pudessem ouvir e falar ‘nossa que lindo, que tocante’. 

E aí depois desse tempo sem lançar nada eu escrevi muito, inclusive já tenho gatilhado um disco que a gente vai lançar na segunda metade deste ano, mais outro que eu tô pensando também já com outras músicas. E durante esse tempo que foi da pandemia até hoje, eu refleti muito sobre a forma como me relacionava com as pessoas. Quando a gente [no caso, eu] tá vivendo uma relação, tem muito essa coisa de colocar o defeito no outro, apontar o dedo na cara do outro. 

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“Dúvida” veio como um pedido de desculpas. Eu tive algumas relações conturbadas em que eu sei que errei muito, e conversei sobre isso com as pessoas com quem eu me relacionei tanto durante a relação quanto depois do término. E aí percebi que eu não vou deixar de magoar as pessoas. O lance é como a gente faz isso, como a gente tá aberto a se comunicar sobre isso. Na letra [de “Dúvida”] eu falo sobre essa necessidade de estar apaixonada, porque acho que a paixão é um motor da vida, mas também de saber que com essa paixão que a gente sente vem essa consequência: tem uma grande probabilidade de magoar a outra pessoa. 

Eu acho que [a inspiração] foi trazer um pouco desse outro lugar, que não seja a paixão e o floreio e o friozinho na barriga, sabe? Foi uma coisa tipo, ‘Ah eu sou muito sacana mesmo, todo mundo é um pouco, e foi mal galera. É isso aí, agora já é tarde, tô pedindo desculpa mas não duvida que eu vou te magoar da próxima vez’ [risos].

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Você passou quatro anos de hiato, por que você decidiu tirar esse tempo sem nenhum lançamento?

Malu: Vamos entrar aqui numa sessão de análise, tá? [risos] Como eu falei, eu escrevi muitas músicas durante esses quatro anos, realmente foi um período criativo muito fértil. A pandemia foi um momento muito delicado assim criativamente falando. […] Eu comecei a dar aulas de canto online, voltei a fazer freelas de trilha sonora para publicidade e planejamento estratégico, e sempre pensava que em algum momento iria surgir o espaço para voltar a compor e lançar minhas coisas. Mas a gente que cria o tempo para as coisas, elas não caem do céu. 

Foi também um período de autossabotagem gigante. Durante esses quatro anos, não deixei de compor, mas ao mesmo tempo eu não estava confiante o suficiente para produzir as minhas coisas e tirá-las do papel de fato. No ano passado eu conheci quem é hoje um dos meus melhores amigos, o Ignacio [Salvati], o meu produtor. Eu virei para ele e falei: ‘Tô com muita saudade de dedicar minha vida para uma coisa que eu acredito, para música, que é a minha vida, é tudo para mim. Eu preciso focar, você não quer trabalhar comigo?’ E aí a gente começou a trabalhar e o Ignacio virou minha vida de cabeça para baixo só que do lado certo, organizou tudo. É isso, eu acho que eu não tava com a cabeça boa e se eu lançasse qualquer coisa durante esses quatro anos não seria eu, seria uma máscara, sabe? Acho que não tinha outro jeito senão sumir para me reencontrar.

Que bom que você tomou esse tempo para você, é até perigoso quando continuamos trabalhando com algo que a gente ama, como a arte e a música, num período que a gente não tá bem. Podemos até acabar nos desapaixonando, e como você disse, esse período não deixou de ser criativo já que você continuou compondo.

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Malu: Total, algumas músicas foram mais tristes, e que estão neste próximo álbum, e a gente colocou ritmos 100% dançantes nelas. São músicas que se você parar pra ouvir a letra fala ‘Meu Deus, coitada’, mas ouvindo a música no todo você dança, sabe? Então é justamente isso, pegar esse momento de hoje e entender que esses que esses últimos quatro anos foram importantes para a gente dançar conforme a música, fazer disso uma coisa positiva. 

Quando você olha para o teu trabalho de 4 anos atrás e o teu percurso de composição do disco que vai sair neste ano, o que você vê de diferença na Malu antiga e na de hoje?

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Malu: Uma coisa que acho muito certa é a maturidade musical. Desde sempre trampei com músicos impecáveis, mas antes a minha autoestima e segurança com meu trabalho estavam num lugar muito diferente de onde está hoje. Eu sempre acreditei muito no meu trabalho, e acho que a minha relação com a música quando eu lancei o EP [“De Uma Hora Pra Outra” (2020)] era uma relação em que eu me colocava no lugar de admiradora e não de profissional. Acabei entregando muitas canções nas mãos de outras pessoas para fazer o que elas quisessem, e a música, a partir daquele momento, já não era tanto uma composição minha. 

Naquele momento [as músicas] desenharam muito o que eu era sonoramente e visualmente, mas hoje acho que eu realmente me assumi com propriedade. […] Acho que realmente dei uma amadurecida nesse sentido, porque identificar quem a gente é para se colocar nesse lugar no mundo exige uma certa maturidade.

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Isso está se refletindo nas suas composições, certo? Como você falou, em “Dúvida” você refletiu sobre uma questão que acontece e às vezes não queremos admitir. Refletir durante o processo de composição influenciou no teu amadurecimento como artista e como pessoa?

Malu: Ah, com certeza. Eu sou muito fã da psicanálise, composição e música. Um dia eu estava no estúdio com o Zé [Nigro], o produtor musical do disco, montando os equipamentos e falei: ‘Zé, preciso de papel e caneta agora’. Escrevi isso que veio num pulso: ‘Tem alma em tudo que me resta, e trunfo em tudo que não presta. Existe vida além daqui, mas a olho nu não adianta tentar descobrir. O tato às vezes é ilusão, na brincadeira é que se faz amor. Se não tem pretensão é o desejo que salva o coração. No brilho eu posso escurecer o personagem que não quero ser, se tento o equilíbrio constante minha alma sempre vai arder’. É bem abstrato, mas é isso. Quando colocamos na luz quem somos, apagamos o personagem que está mentindo, e ocupar este lugar de verdade. 

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As minhas composições dizem muito mais sobre mim do que numa entrevista, por exemplo, onde você me faz uma pergunta e eu te respondo diretamente, porque depois que elas ficam prontas eu sinto que a Malu Magri, compositora, conseguiu descrever naquele momento o que a pessoa física nunca conseguiu.

Junto com o lançamento de “Dúvida”, você também lançou um clipe da música, com algumas referências visuais a Marina Abramovic inclusive. Fala um pouquinho sobre a estética do clipe.

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Malu: O vídeo foi  dirigido pelo Pietro Leonardi, que é um cara fantástico. […] Começamos a chegar nessas estéticas de [película] Super8, que ele gosta muito de trabalhar, e trouxemos referências como o barbante vermelho, do clipe da Postal Service, e eu trouxe a referência de uma performance da Marina [Abramovic] com o ex-marido dela, “Rest Energy”, e eu acho aquela coisa a mais linda porque é isso, o amor tanto numa relação romântica quanto uma amizade ou familiar, precisa de um certo desequilíbrio para se manter vivo. 

Nesse clipe eu queria trazer um lado mais raivoso do amor, porque a raiva pode parecer algo estranho, ruim, mas para mim ela é um motor de vida. Sem a raiva não tem carinho, não tem admiração, não tem amor. […] O roteiro [do clipe] foi pensado na dinâmica de um tempo não-linear, onde essas pessoas estão traçando seu caminho e de algum jeito se encontram, mas também gera um conflito e raiva, como se a mesma mão que eu dou um tapa na sua cara fosse a mesma que uso para te fazer carinho, sabe? Esses caconismos que sempre vão existir.

Fala um pouco sobre “Morrendo de Prazer”, o seu primeiro disco.

Malu: Nossa, falo muito [risos]. Esse está sendo um dos momentos mais importantes da minha vida, são músicas que já tinha feito há um tempo e tá sendo muito louco. […]  Era para o disco ser um bug dance quando eu compus as músicas uns anos atrás, mas elas acabaram caminhando para um outro lugar, com referências mais de rock brasileiro. No final, o disco tá bem diferente de quando comecei, e cada pessoa que participou desse disco é surreal, que eu sempre sonhei em trabalhar. 

[O disco] fala sobre a forma que eu me vejo hoje com muita autenticidade. É uma declaração de amor ao próprio amor. Eu tentei escrever num tweet esses dias o conceito do disco e é estranho, porque a concepção que tenho de prazer hoje vai muito além da libido, sabe? É libido, mas em vários outros campos da vida. É um morrer de prazer cíclico, de você sentir prazer, morrer, sentir prazer, morrer, e assim vai.

E por último, o que você está preparando de projetos para o futuro?

Malu: Durante o primeiro semestre deste ano, antes do lançamento do disco, estamos com o projeto ‘Malu Magri canta Elis Regina” em São Paulo, vamos para Minas Gerais e outras casas fora do estado, com datas ainda a confirmar, até o fim deste semestre. Um mês antes de lançar o trabalho, divulgaremos um outro clipe de um dos single, e partir de setembro, quando lançaremos “Morrendo de Prazer”, vamos rodar só com o disco.

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Isabel Bahé
Isabel Bahéhttps://linktr.ee/isabelfbahe
Estudante de jornalismo e bibliófila que respira músicas.