2024 tem sido um ano e tanto para o Mother Mother. Ao longo dos últimos meses, a banda canadense rodou diferentes partes do mundo com os shows de sua nova turnê, que, além de promover o álbum “Grief Chapter”, lançado em fevereiro, também celebra outros sucessos que fazem parte de seus 20 anos de carreira, além de covers de outros artistas.
Para além das celebrações ao atual momento que estão vivendo, o Mother Mother voltou um pouco ao passado quando divulgou no mês passado o “The Mother EP”, que reúne 4 faixas nunca antes lançadas oficialmente do primeiro álbum da carreira, e duas versões alternativas de “Oh Ana” e “Dirty Town”. E é claro que o Brasil não poderia ficar de fora dessas comemorações: no dia 23 de outubro, a banda desembarca em São Paulo para um show único no Tokio Marine Hall, com participação da banda Plutão Já Foi Planeta, como parte de sua primeira turnê solo na América Latina.
A Nação da Música conversou com o vocalista do Mother Mother, Ryan Guldemond, sobre a vinda à América Latina e expectativas para o show em São Paulo, além do conceito e detalhes por trás de algumas faixas do último álbum “Grief Chapter”.
Entrevista por Natália Barão
————————————– Leia a entrevista na íntegra:
Oi, Ryan! Como você está?
Ryan Guldemond: Estou bem! E você?
Tudo certo também! Onde você está?
Ryan Guldemond: Estou em Virginia.
Como está o tempo por aí?
Ryan Guldemond: Está bem agradável! Ensolarado, não muito quente. Nós estivemos na Flórida por alguns dias e estava absurdamente quente.
Entendi. Aqui no Brasil está um pouco mais frio ultimamente, mas o ano inteiro esteve absurdamente quente também! Mas então, vamos começar a falar sobre música?
Ryan Guldemond: Claro!
Basicamente um ano e meio depois de tocar no Lollapalooza Brasil, o Mother Mother vai voltar ao Brasil agora em outubro para um show da sua primeira turnê solo na América Latina! Antes de tudo, quais são as expectativas para essa volta?
Ryan Guldemond: A julgar pela última vez, achamos que vai ser bem legal! Nos festivais tem muita gente que não te conhece, então a energia é muito diversa (mesmo sendo bem incrível). Então esperamos isso também porque é o nosso próprio show solo, e as coisas ficam bem animadas.
Sim, eu estava lá no Lollapalooza e gostei bastante do show! Eu vi que um dos objetivos dessa turnê é expandir a conexão com a base de fãs de vocês da América Latina. Como vocês estiveram aqui em São Paulo no ano passado, você tem alguma lembrança mais especial dos fãs brasileiros?
Ryan Guldemond: Achei muito caloroso como os fãs nos esperaram do lado de fora do hotel, nos mostrando apoio. Mesmo as pessoas que não puderam pagar para ir ao festival, achei muito calorosa a forma que as pessoas estiveram felizes de só estar ali em frente ao hotel pra ter uma chance de interagir com a gente. Acho que isso já mostra todo o nível de dedicação e gratidão que os fãs brasileiros têm de ter alguma conexão que seja com a gente. Então nós só queremos nutrir isso e começar uma jornada de amizade nesse mercado e voltar o máximo de vezes possível.
Sim, os fãs brasileiros têm essa fama de serem bem apaixonados e calorosos mesmo! Acho que isso deve ser bem legal para os artistas estrangeiros, como vocês.
Ryan Guldemond: Com certeza! É um presente!
Agora vocês estão voltando com novidades, porque em fevereiro vocês lançaram seu 9º álbum, “Grief Chapter”. Eu ouvi antes da nossa conversa, gostei de muitas faixas, mas, antes de nos aprofundarmos nisso, gostaria de saber qual é a história desse álbum.
Ryan Guldemond: Acho que tiveram duas fontes de inspiração: uma é a vida, e nós queríamos falar dela falando sobre a morte, porque acho que essa é a forma mais efetiva de se lembrar do quanto a vida é preciosa; e musicalmente, queríamos retratar a banda, cada membro individualmente de uma forma confiante e impactante. Queríamos gravar um som que mostrasse que cinco pessoas deram tudo de si.
Eu notei mesmo que tinha um toque bem pessoal nas letras, e achei muito interessante como as faixas exploraram temas mais “sombrios”, pensando nessa temática e não apenas na morte em si, mas também sobre as dificuldades de se abrir, como em “Head Shrink”. De forma geral, tem alguma experiência pessoal sua nesse álbum?
Ryan Guldemond: É legal você ter mencionado “Head Shrink” porque essa é provavelmente a minha música preferida do álbum. Eu estava meio que preso no meu apartamento por causa de uma dor nas costas terrível, tipo uma hérnia de disco, e fiquei de cama por umas três semanas. Eu não conseguia me mexer porque estava com muita dor, e foi aí que escrevi essa música. Eu fazia uns pequenos intervalos de tipo, dois minutos em pé com a minha guitarra, e logo voltava pra cama por causa da dor. Aí eu ficava animado de novo com a música, levantava pra tocar por mais uns minutinhos, voltava pra cama e repetia esse processo. Então, acho que essa música é sobre abrir a porta de uma dor física para entrar num lugar mais profundo e descobrir as raízes mais emocionais ou traumáticas dessa dor. Tem uma teoria de que as nossas dores físicas são expressões de coisas mais profundas, e acredito bastante nisso; acho que sempre que temos alguma dor, tipo nos joelhos, podemos ver isso como uma maneira de acessar nosso panorama emocional. Essa música é sobre isso, e é bem autobiográfica.
Também gostei bastante dessa música e concordo com você, porque podemos pensar que as febres emocionais podem doer tanto quanto uma febre por alguma doença, e esse álbum traz diferentes perspectivas sobre esses temas. Pensando que a vida humana acaba com a morte, e que esta traz o luto para as pessoas que ficam, na sua opinião, qual seria o capítulo seguinte do luto?
Ryan Guldemond: Acho que a redenção. Acho que depois de você ficar muito tempo de luto, tudo que se pode fazer é deixar isso de lado para se libertar. Então talvez o que venha em seguida seja a redenção e a libertação.
Falando sobre luto, essas coisas, quando eu assisti o clipe de “Nobody Escapes”, instantaneamente pensei na saga de terror “Premonição” (não sei se você já assistiu). Pensando na ideia de que a morte vem pra todo mundo e que não podemos fugir disso quando chega a hora, como você definiria o seu olhar ou a sua opinião sobre a morte, depois da composição desse álbum?
Ryan Guldemond: Acho que quanto mais você investiga a morte, mais misteriosa ela fica. Acho que eu passei tanto tempo escrevendo um álbum inteiro sobre isso, que eu tenho menos respostas ainda agora; e há algo bonito nesse mistério pra mim porque te permite sonhar com as possibilidades. Não tem uma verdade absoluta. A única verdade da qual somos providos é uma derivação da nossa habilidade limitada como humanos de compreender o universo.
Eu não acho que a morte seja um conceito inventado, então escolho acreditar que existe uma forma de continuação; não sei bem o que é, mas é no que eu acredito, e isso me faz sentir não um alívio, mas uma alegria de imaginar o que seja, e me inspira a aproveitar os dias ao máximo. Por exemplo, nós vamos dormir e acordamos, metaforicamente, e, durante a vida inteira, nós vamos dormir, esquecemos que isso é um milagre e que vai tudo acabar, e aí lembramos quando alguém morre, ou estamos num casamento, ou um bebê nasce, ou lemos um livro incrível, ou ouvimos uma música que nos provoca grandes sentimentos, e acordamos para o fato de que a vida é finita e profundamente especial. Eu, pessoalmente, só quero estar acordado com mais frequência. Adoraria não cair no sono de novo, e eu provavelmente vou hoje (risos), mas acho que quanto mais eu pensar nisso, mais vou escrever e mais isso vai me fazer acordar.
Eu tenho uma opinião pessoal que é bem parecida com a sua. Antes eu mencionei a saga “Premonição”, e eu notei que tem meio que uma estética de terror presente nos clipes de “Normalize” e “Explode”. Você curte filmes de terror?
Ryan Guldemond: Não sou bem um entusiasta de filmes, mas gosto de filmes que são mais sombrios, perturbadores e artísticos. Gostei muito daquele filme “Beau is afraid”, você já assistiu?
Não, acho que não.
Ryan Guldemond: Foi o filme mais recente que eu assisti e que gostei bastante, é com o Joaquin Phoenix, e é basicamente um retrato de 3 horas e meia do que seria um surto psicótico.
Interessante, vou procurar depois! Obrigada pela dica, eu adoro assistir filmes e sou uma grande fã de filmes de terror (risos). E mudando de assunto, outra faixa que chamou a minha atenção foi “The Matrix”, que, tanto na letra, quanto no clipe, a temática das redes sociais é bastante presente – pelo menos na minha percepção – no sentido do quão mal podemos ficar pela toxicidade que rola nesse ambiente digital. Como você é uma pessoa pública, gostaria de saber se você tem algum mantra pessoal que te ajude a viver nessa matrix da internet.
Ryan Guldemond: Um mantra… acho que têm vários mantras, que vêm e vão todos os dias. Espera um segundo. Eu tenho essas cartas de anjos, como essas aqui, e todo dia eu tiro três cartas para ver qual vai ser o meu mantra do dia. Eu ainda não tirei hoje, então vou fazer isso agora aqui com você! A primeira carta é gentileza, a segunda é compreensão, e a terceira… me fala quando parar.
Hm, para!
Ryan Guldemond: Ok, você escolheu a última, que é… celebração!
Que demais, adorei!
Ryan Guldemond: Então hoje meu mantra é gentileza, compreensão e celebração!
Vou fazer desse meu mantra também!
Ryan Guldemond: Perfeito!
E você faz isso todo dia?
Ryan Guldemond: Sim.
Que legal! E como começou?
Ryan Guldemond: Meus pais têm essas cartas. Minha mãe as vende na livraria dela, então todos nós fazemos isso.
Sua irmã também?
Ryan Guldemond: Minha irmã tem as dela em casa, acho que ela não costuma levar quando estamos na estrada, mas eu sempre faço a banda tirar as cartas. Às vezes eu fico tipo “não esqueçam! a vida é linda, temos que escolher as cartas e celebrar” (risos), pra trazer uma boa palavra que nos ajude a ficar bem despertos pra não cair no sono.
Gostei muito dessa perspectiva e fiquei muito honrada de escolher uma carta!
Ryan Guldemond: Obrigado pela sua ajuda!
Acho que nosso tempo está quase acabando, então, pra encerrar, o que mais podemos esperar do Mother Mother em 2024 além da turnê na América Latina?
Ryan Guldemond: Nós temos muitas coisas legais vindo aí. Temos música nova, música antiga, covers… tem muita pra vir futuramente. Temos trabalhado muito durante a turnê, porque eu sempre levo meu pequeno estúdio na estrada para continuar trabalhando e manter a energia fluindo. Então peço que, por favor, fiquem de olhos e ouvidos bem abertos.
Com certeza eu vou! Você falou em covers, e lembrei que no show do Lollapalooza vocês fizeram um cover de “Creep”, do Radiohead.
Ryan Guldemond: Sim, nós amamos tocar essa. A Molly faz um ótimo trabalho cantando.
Sim, eu adorei a versão de vocês! Será que você me daria um spoiler de um artista que vocês vão fazer cover ou gostariam de fazer?
Ryan Guldemond: Bem, a Jasmine, nossa outra vocalista feminina, tem cantado um cover muito bonito de “Video Games”, da Lana Del Rey. Então não vejo porque não tocarmos essa ao vivo quando vermos pra América Latina; podem esperar por isso!
A fanbase da Lana Del Rey é muito forte e apaixonada por aqui, tenho certeza que as pessoas vão gostar!
Ryan Guldemond: Maravilha!
Ryan, muito obrigada pelo nosso papo! Adorei conversar com você e escolher as cartas (risos), espero ver vocês por aqui no show!
Ryan Guldemond: Muito obrigado, Natália! Adorei falar com você também e, por favor, venha nos dar um oi, que seria ótimo!
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