Entrevistamos Pedro Iaco sobre novo álbum “Sangria”

pedro iaco
Foto: Gal Oppido

No dia 25 de junho, o cantor e compositor paulistano Pedro Iaco divulgou o disco “Sangria” nas plataformas digitais. O disco traz participações especiais de Hansi Kürsch e Marcus Siepen, vocalista e guitarrista do Blind Guardian, do Ensemble SP, do pianista André Mehmari e da violonista e compositora Elodie Bouny, que também arranja e produz o disco.

A Nação da Música conversou com Pedro Iaco sobre a criação e produção do disco inédito, as diversas colaborações realizadas e muito mais.

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Entrevista por Marina Moia.

—————————————- Leia a íntegra:
“Sangria” é um título poderoso e o disco fala de vida, morte, renascimento… Como foi o processo de criação deste trabalho?
Pedro Iaco: Muita gente morreu pra esse trabalho existir, inclusive eu mesmo. Mas muita vida nasceu também. Por isso, esse trabalho realmente é um convite ao renascimento. O processo se deu início na pandemia a partir da experiência do isolamento que, se por um lado nos privou de tanta liberdade, nos convocou a ter um contato muito profundo com nós mesmos e com o planeta, de um modo muito umbilical. A pandemia foi o sintoma de um esgotamento ecológico, social, existencial, de um modo de vida que precisa morrer para que nasça um outro jeito de se estar no mundo. A partir de uma experiência tão impactante, as músicas nasceram torrencialmente. Foi talvez o período mais criativo da minha vida, em que eu acho que o único jeito de extrair sentimento dessa experiência foi através da criação.

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Como foi trabalhar com Elodie Bouny na direção musical e nos arranjos do álbum?
Pedro Iaco: Um privilégio infinito. A Elodie é dotada de uma genialidade, de uma visão e de uma luz que alia o que existe de mais intuitivo a um conhecimento absoluto. A ideia original do disco era que ele nascesse em formato solo, voz e violão, como um retrato fiel do isolamento, mas a gente percebeu que todos nós passamos por isso juntos, então a coletivização dessa experiência permitiu que a gente pudesse dar as mãos uns pros outros e também buscar eco em outras partes do planeta, convidando músicos de diversos continentes para que cada um trouxesse para o disco suas mortes, vidas e renascimentos. A Elodie foi a verdadeira orquestradora de tudo no sentido da criação dos arranjos, da coordenação e da vidência. Foi um aprendizado eterno em termos musicais, mas também uma lição muito grande de humildade, escuta, troca, amor e confiança.

As faixas transitam entre choro, flamenco, música erudita… Como você equilibra tantas referências sem perder sua identidade?
Pedro Iaco: Eu acho que os gêneros musicais, no fundo, são bordas e contornos que as pessoas criam para separar coisas que são uma coisa só. Toda música verdadeira nasce do coração, da experiência humana em relação à natureza, aos acontecimentos, aos desacontecimentos, aos imprevistos, ao que a gente sabe e ao que a gente não sabe. A música é um grande mistério porque no fundo a gente não sabe de onde ela vem, não sabe se a gente vem dela ou ela que vem da gente. O que é a identidade? Qual seria a identidade do mar, do céu, da floresta e dos cosmos? Eu acho que existe uma tradição do pensamento ocidental que vê a identidade como conceito fixo e estável ao invés de um organismo vivo que se transforma a cada momento. A minha voz não é a mesma todos os dias, assim como nunca se entra duas vezes no mesmo rio. Acho que percebo isso como um processo verdadeiro que faz nascer uma identidade dentro da multiplicidade, uma personalidade dentro do devir e inventa talvez um novo tipo de música, que talvez não existe ou para o qual não achamos, ainda bem, um nome. Nada se perde, tudo se transforma. Nada foi intencional neste trabalho, nenhum recurso, nenhum arranjo, nenhum instrumento, foi tudo sendo guiado pela própria música e a gente foi muito mais um instrumento pra fazer a música se encontrar com ela mesma.

Em “Moonvow”, você conta com Hansi Kürsch e Marcus Siepen, do Blind Guardian. Como surgiu essa colaboração inusitada com o universo do metal?
Pedro Iaco: Acho que o Blind Guardian é a banda da minha vida e o cantor Hansi Kürsch talvez seja um dos maiores responsáveis por eu começar a cantar de verdade. Foi muito inspirado nele, no Freddie Mercury, e outros cantores, que eu comecei a fazer canto lírico na adolescência, quando eu era mais novo. Basicamente, na época da pandemia, a banda criou um concurso para que os fãs de várias partes do mundo fizessem versões de músicas deles, com total liberdade, e postassem vídeos. E eu acabei fazendo a versão de uma música chamada “Bright Eyes”, feita originalmente por eles com bateria e duas guitarras, para um arranjo de voz e violão 7 cordas. Esse vídeo acabou chegando a eles, que fizeram até um vídeo de react e adoraram a versão. Isso me aproximou do guitarrista da banda e, na época em que o disco estava sendo criado, percebi que eu tinha uma valsa muito noturna, lunar, que tinha a ver com o Blind Guardian. Essa música se chamava “Uivante”. Mostrei pro Marcus, ele adorou, eu perguntei se ele e o Hansi topariam participar, ele disse que sim. E aí nasceu uma letra que eu fiz em inglês e a música se transformou em “Moonvow”, com a participação deles. A utopia se concretizou, o sonho virou realidade e a realidade virou sonho.

O disco reúne nomes de diferentes origens e estilos, como André Mehmari, Luísa Lacerda, Ensemble SP, entre outros. O que cada artista trouxe de especial para a construção do universo de “Sangria”?
Pedro Iaco: Cada artista trouxe a sua alma pro disco de um jeito impecável. O [André] Mehmari, por exemplo, com o cravo é muito interessante porque o cravo é um instrumento que remonta a uma antiguidade, ao barroco, e é no mínimo surrealista contar a história do Brasil, como a gente fez na última faixa, acompanhada por um cravo. Mas o cravo foi devidamente tribalizado, canibalizado e antropofagisado por uma tribo indígena. Luísa Lacerda encarnou a deusa Vênus, acompanhada pela harpa da Liuba Klevtsova, da Rússia, harpista da Oosesp, porque a deusa Vênus toca lira na mitologia grega. O Ensemble SP, quarteto de cordas, é uma espécie de coração do disco pela riqueza, pelo calor, pela beleza. E algumas músicas encarnam o sol e outras a lua, então o piano da Erika Ribeiro, por exemplo, traz um pouco dessa luz prateada da lua, mas também o fogo de um eclipse.

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A gente teve tantos convidados e é um sonho e privilégio tão grande! O Mû Mbana da Guiné-Bissau, pra mim, é a voz da Terra. Talvez, se o planeta Terra tivesse uma voz, seria a voz dele. A gente escolheu ele, ou na verdade a música escolheu ele, pra ser a voz de “Valsa do Apocalipse”, que é uma música que conta uma história do fim do mundo. E é como se a voz dele fosse a própria voz do vírus. O vírus fala através dele. Um coro lírico de quatro cantores, do coro lírico do teatro municipal, envolve essa música. O Thiago Lamattina traz a doçura especial do vibrafone, o Guegué Medeiros faz a festa dançar em “Galope em Pé de Vento” com suas repercussões maravilhosas e o Duo Siqueira Lima faz o impossível na “Alma de Choro”. “Sangria” é a junção da gota de sangue de cada um deles.

Agora que o álbum está no ar, quais os planos para o segundo semestre de 2025?
Pedro Iaco: Três videoclipes, dirigidos pelo Gal Oppido, um grande artista plástico, uma série de documentários e um EPK sobre os discos e as gravações. Muito shows de lançamentos no Brasil e fora também, como Estados Unidos e Europa. Quem sabe, na África também. Mas também descanso, também agradecer, também um pouco de silêncio, pra poder aquietar a alma, o corpo e o coração depois de um puerpério tão profundo, tão longo e tão rico. Acho que eu também preciso morrer agora pra voltar a vida depois de parir algo muito maior do que eu.

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Marina Moia
Marina Moia
Jornalista e apaixonada por música desde que se conhece por gente.