Entrevistamos James Priestner, do Rare Americans, sobre o álbum “The Human Animal”

Rare Americans Press Photo
Divulgação

Há alguns anos atrás, era-se feito um grande evento quando artistas lançavam videoclipes. Fosse pela coreografia, figurino ou até mesmo pelo enredo, diversos clipes entraram para a história da indústria musical. E, em meio aos diferentes formatos de se produzir um clipe, a banda canadense Rare Americans merece um destaque especial.

Fundado em 2018, o grupo encontrou nas animações a grande marca para seus vídeos musicais se tornarem únicos, com histórias e personagens que conquistaram uma legião de fãs. E, neste ano, o Rare Americans atingiram um novo patamar com o lançamento do novo álbum “The Human Animal”, que aconteceu no dia 16 de agosto: totalizando 25 músicas inéditas, desde o dia 7 de maio, uma faixa foi lançada por semana, acompanhada de um clipe em animação, com exceção do single “The Machine”, que marcou o primeiro projeto audiovisual da banda gravado metade em live action.

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A Nação da Música conversou com James Priestner, vocalista da banda, para saber mais sobre o conceito de “The Human Animal”, detalhes sobre a estratégia de divulgação das faixas junto dos vídeos em animação em meio ao cenário dos clipes musicais, além do que o Rare Americans está preparando para o futuro.

Entrevista por Natália Barão
————————————– Leia a entrevista na íntegra:
Oi, James! Como você está?
James Priestner: Estou fantástico! E você?

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Estou bem também! Onde você está?
James Priestner: Estou em Vancouver, no Canadá.

Ah, que legal! Como está o tempo por aí?
James Priestner: Está bom! Estamos tipicamente no meio do verão e hoje está um pouco nublado, bem mediano, mas estou feliz por estar dentro de casa fazendo algumas entrevistas.

Legal! Aqui no Brasil está um pouco frio, um pouco quente… tecnicamente estamos no inverno, mas está um inverno estranho esse ano. Mas bora falar sobre música, então?
James Priestner: Claro, vamos lá!

Bem, nessa sexta-feira o Rare Americans lançou o novo álbum, “The Human Animal”. Então, antes de tudo, queria saber qual você diria ser a história desse disco?
James Priestner: Esse disco traz a exploração da experiência humana, sabe? Todas as variações das emoções pelas quais nós passamos, os diferentes traumas e lutas com que temos que lidar no dia a dia; ainda mais num mundo que está cada vez mais competitivo e sobrecarregado de informação. Tipo, como conseguimos manter a sanidade e a felicidade em tempos tão loucos quanto esses?

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Sim, eu notei isso pelas músicas, e até pelo próprio título do álbum, “The Human Animal”, que traz essa ideia de dualidade entre as duas espécies. Então, pra você, qual é a característica mais animalesca nos seres humanos?
James Priestner: Acho que a devassidão que nós somos capazes de criar. O que eu acho interessante nos seres humanos é que nós temos um tipo de espectro em que nós conseguimos criar as invenções mais malucas, desde antibióticos e aviões que voam, até vacinas e prédios que vão até o céu, e, por outro lado, conseguimos cometer os atos mais desprezíveis, como assassinar pessoas, roubar e até mesmo criar invenções que podem levar à nossa própria morte, como temos feito com o clima. Acho que é interessante o fato de sermos a espécie mais bem sucedida e termos esse vasto espectro do que somos capazes de fazer.

Sim, concordo. E, por curiosidade, você tem um animal preferido?
James Priestner: Hmm, acho que a onça

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Por que?
James Priestner: Eu adoro as onças porque elas são inacreditavelmente fortes, engenhosas, têm a habilidade de se esconder e nunca serem vistas e têm uma presença um pouco mística na selva. Acho isso muito legal!

Demais! Acho que se eu tivesse que escolher um favorito seria o pinguim, porque eu amo os pinguins! (risos).
James Priestner: Muito bem, eles são ótimos também! (risos)

Algo que eu achei muito interessante foi a estratégia de lançamento desse álbum, que teve uma faixa lançada por semana, desde o dia 7 de maio, junto de um clipe em animação. Com certeza todo esse planejamento levou muito trabalho, né?
James Priestner: Sim, levou muito trabalho! Nós queríamos tentar algo um pouco diferente dessa vez ao invés de só lançar um ou dois singles e ficar repostando esse link por dois meses. E como nós tínhamos todo o material, várias músicas, decidimos tentar lançar uma a cada semana. Achamos que esse seria um jeito bem diferente de apresentarmos nossa música dessa vez. Nos últimos cinco anos temos sempre tentando fazer coisas novas e essa foi mais uma ideia e mais uma tentativa, que os nossos fãs pareceram gostar.

Tenho certeza que gostaram sim! Eu achei bem interessante! O álbum saiu agora na íntegra com nove faixas que ainda não tinham sido lançadas, certo? Eu vi que a maior parte dos lançamentos acabou seguindo a ordem da tracklist do disco. Esse foi talvez um critério de escolha para os lançamentos?
James Priestner: Nós meio que escolhemos as músicas que queríamos lançar semanalmente e pensamos muito em quais seriam. Mas aí pra real sequência do disco eu fiquei ouvindo tudo por horas e horas e horas tentando pensar tipo “vou colocar essa aqui e essa outra ali”, e eventualmente eu acabei batendo minha cabeça na parede (risos) até meu empresário falar “você tem 24 horas pra tomar uma decisão”. Então eu acabei falando “beleza, vai assim mesmo, não quero mais ter que pensar nisso!” (risos).

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Teve o lançamento de alguma faixa que tenha sido mais especial ou significativo pra você?
James Priestner: Essa é uma boa pergunta! Acho que a música “Young Minds” foi uma delas porque eu a escrevi a partir de uma experiência muito pessoal. Outra música desse álbum que talvez seja a minha preferida e que não esteve no lançamento semanal foi “Flip the Switch”, que também foi composta depois de eu ter feito um retiro de ayahuasca. Ela tem muitos sons da floresta, e eu acho isso bem interessante. É um pouco estranho e obscuro, mas eu gosto bastante!

No final é isso que vale, né?
James Priestner: Exatamente!

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Os clipes das músicas do AR4 trazem de volta alguns personagens que já fizeram parte desse universo de animação que vocês criaram. Existe alguma diferença entre as animações dessa nova era e as passadas?
James Priestner: Boa pergunta. Nós tentamos meio que desenvolver um pouco mais as histórias de alguns personagens, e acho que os fãs realmente gostam quando podem aprender mais sobre eles. Então fizemos um esforço a mais para fazer isso nessa leva de músicas. Além disso, acho que em toda era que criamos, tentamos genuinamente fazer o que estamos gostando no momento e o que estamos vivendo, seja no som ou na letra do que escrevemos. Tentamos fazer isso com integridade e ser autênticos na forma que fazemos isso, e torcemos para que os fãs gostem dessa abordagem.

O personagem Jamesy Boy é inspirado em você, né?
James Priestner: Isso, esse sou eu.

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Existe algum tipo de aventura que você gostaria de fazer o Jamesy Boy experimentar, que ainda não tentou?
James Priestner: Ah sim, com certeza! Eu sou uma pessoa bastante aventureira por natureza: adoro experiências doidas, amo ir a lugares diferentes, cidades diferentes e fazer coisas novas na natureza. Sou um grande amante da natureza e da selva, amo caminhar por aí, fazer mergulho… ainda quero escalar montanhas na Ruanda para ver os gorilas e ver os ursos cinzentos aqui no norte de Vancouver, onde eu moro. Eu amo muito a natureza e ver os animais em seu habitat natural, então acho que é algo que eu gostaria de explorar mais nesse universo da animação também.

Que demais! Esses clipes em animação foram uma das coisas que fizeram vocês se destacarem na indústria musical, mas, atualmente, mesmo as pessoas sendo muito dependentes da internet e das redes sociais (como vocês falam na letra de “The Machine”), muitos artistas sentem que não vale muito a pena fazer clipes hoje em dia. Eu gostaria de saber a sua opinião sobre isso e se você acredita que as animações podem ser um atrativo maior pros clipes musicais.
James Priestner: Infelizmente eu concordo totalmente com os outros artistas (risos). Está ficando cada vez mais difícil justificar o custo dos clipes, porque cada vez mais músicas e vídeos estão sendo lançados a cada dia, e ter um retorno financeiro desses clipes está ficando quase impossível – a menos que você seja a Taylor Swift ou a Billie Eilish, por exemplo, que tem um apoio mundial da mídia. Os custos dos clipes ou das animações não são baratos, e a menos que você tenha milhões e milhões de visualizações no YouTube ou streams no Spotify, você não consegue ganhar muito dinheiro – especialmente do YouTube. Por isso eu diria que está cada vez mais difícil justificar os custos para um clipe. Nós estamos numa posição um pouco complicada porque construímos nossa marca na animação, e acho que esse é um dos grandes fatores que atraem os fãs e nos tornam diferentes dos outros artistas. Mas o custo limpo de fazer tudo isso é muito desafiador, porque chega um ponto em que isso precisa gerar lucros também. Então isso é algo que estamos sempre observando e reavaliando, tentando entender. Mas eu sou muito empático a outros artistas e o quão desafiador tem sido estar nessa indústria.

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Sim, eu entendo, apesar de eu amar videoclipes. Eu cresci assistindo clipes na MTV, e até hoje fico muito animada quando um artista lança um clipe musical. Mas ainda falando sobre “The Machine”, eu vi que esse foi o primeiro vídeo de vocês metade animação, metade live action. Como foi essa experiência?
James Priestner: Foi legal e diferente. Nunca havíamos feito isso antes, então foi divertido tentar fazer uma coisa nova e ver como ficaria misturar tudo junto. Tivemos que fazer um grande planejamento pra isso, e eu diria que foi uma experiência nova pra nós, o que é sempre algo positivo porque você consegue aprender bastante com elas, e acho que a vida é sobre isso, sabe? Tentar coisas novas, aprender, seguir em frente e tomar decisões. Se vamos fazer isso de novo? Eu não sei… acho que vimos pela nossa audiência que eles preferem os vídeos totalmente animados. Sempre que tentamos fazer um vídeo em live action o índice de visualizações é bem baixo. Acho que é um pouco de tentativa e erro; nós pensamos “ah, vamos fazer essa combinação e ver se os fãs gostam”. Mas além das visualizações, eu diria que o engajamento não é tão forte quanto o das animações, e isso é outra coisa que a gente vai aprendendo para se basear em decisões futuras.

Sim, com certeza. Toda tentativa é válida, até porque, quem sabe não vale de novo no futuro, não é mesmo?
James Priestner: Exato, com certeza!

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Falando sobre sonoridade, quais foram suas referências musicais para esse álbum?
James Priestner: Não teve nenhuma em particular pra esse disco. Eu diria que, no passado, tiveram artistas que eu conheci, gostei muito da música e que eu diria que tiveram uma forte influência no que eu fiz logo de cara. Nessa época eu diria que eu estava mais interessado em músicas mais orgânicas, e muitas que eram antigas. Não queria dizer rock’n’roll, mas algo mais indie, além de bandas de diferentes épocas, tipo os anos 70, 90, começo dos anos 2000, que eram um pouco menos programadas no sentido de ter um pouco menos de batidas e mais instrumentos. Acho que eu era muito mais inspirado a tentar criar músicas que tivessem muito mais energia e um sentimento mais orgânico; esse foi meio que o norte pras músicas desse álbum.

Tem algum artista ou banda com quem você gostaria de colaborar?
James Priestner: Boa pergunta. Hmm, o Alex Turner, do Arctic Monkeys, é alguém que eu sempre admirei muito. Ele é muito bom, um grande profissional que já trabalhou com muitos estilos musicais diferentes, que é algo que eu respeito bastante. Então ele com certeza está no topo da minha lista. Ah, e claro, não tem como falar do Rare Americans sem falar do Gorillaz também! (risos). Se nós tivéssemos um bebê animação, isso seria muito legal! (risos).

Sim, com certeza! Impossível não fazer essa associação! Você ouviu o último álbum do Gorillaz?
James Priestner: Sim, eu ouvi, mas só os singles. Ainda não ouvi na íntegra.

Você ouviu a música que eles cantam em parceria com o MC Binn, que é um artista brasileiro? Se chama “Controllah”, é um das minhas favoritas.
James Priestner: Ouvi sim! Achei ele um grande artista, ele usa vários estilos musicais diferentes, achei ele muito prolífico. É um cara muito interessante. Tem um outro álbum ou artista que eu também adoro chamado Little Joy. Você conhece?

Não! Acho que não!
James Priestner: É um artista brasileiro, acho que se chama Rodrigo Amarante, e tem também o baterista do The Strokes, que traz um pouco da vibe da banda, mas é um grupo bem acústico. É muito legal, eu curto bastante o som deles.

Que interessante! Vou dar uma olhada depois!
James Priestner: Você conhece os Los Hermanos?

Ah sim, claro!
James Priestner: Então, é o vocalista dessa banda junto com o baterista do The Strokes, que montaram esse grupo chamado Little Joy. Dá uma procurada depois!

Que demais! Adorei que você me recomendou um artista brasileiro (risos). Será que eu também posso te fazer uma recomendação?
James Priestner: Claro, com certeza!

Hmm, deixa eu pensar… ultimamente eu tenho ouvido bastante Chappell Roan, não sei se você conhece.
James Priestner: Como se soletra?

C-h-a-p-p-e-l-l.
James Priestner: Ah sim, Chappell Roan! Sei exatamente de quem você está falando, ela está dominando totalmente a indústria agora.

Sim, estou totalmente obcecada por ela!
James Priestner: Sim sim, você e várias outras pessoas. Ela é ótima mesmo.

James, pra finalizar, o que mais podemos esperar dessa nova era do Rare Americans? Talvez uma turnê mundial? Talvez uma passagem pelo Brasil?
James Priestner: Nós temos muita coisa chegando ainda. Temos outro álbum pra lançar, que estamos muito animados, que vai se chamar “Skids” e vai ser um projeto muito legal! Além disso, temos uma turnê na América do Norte, que já vai começar as vendas. E esperamos que a nossa fanbase no Brasil continue crescendo, para podermos fazer shows aí no ano que vem. Esse é o nosso plano.

Esse novo álbum vai ser lançado ainda esse ano ou no próximo?
James Priestner: Talvez mais no final do ano ou no começo do próximo, ainda estamos tentando entender.

Demais, já estou ansiosa pra esse novo projeto! James, muito obrigada pela nossa conversa. Adorei conversar com você e espero que a gente possa se falar de novo no futuro!
James Priestner: Muito obrigado você, Natália! Agradeço muito pelo apoio e pela sua pesquisa. Foram ótimas perguntas! E com sorte nos veremos no show, quem sabe no Brasil!

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Natália Barão
Natália Barão
Jornalista, apaixonada por música, escorpiana, meio bossa nova e rock'n'roll com aquele je ne sais quoi