Entrevistamos Russo Passapusso, do Baianasystem, sobre Festival MADA 2024

BaianaSystem
Foto: @RafaelStrabelli / Nação da Música.

O ano de 2024 traz um importante marco para o BaianaSystem. O grupo liderado por Russo Passapusso completa 15 anos de carreira, data extremamente preciosa na indústria musical. Em meio a tantos aprendizados, evoluções e conquistas, a banda pode ser considerada como um dos principais expoentes da cultura nordestina, a qual atrela as mais diversas referências musicais, de guitarras do rock’n’roll a batuques jamaicanos, proporcionando uma experiência única para o público.

Como se a data já não fosse significativa o suficiente, ao longo deste ano, o BaianaSystem pôde celebrar o aniversário de formas bastante significativas. Para além do tradicional Bloco Navio Pirata, que tornou-se nos últimos anos um dos principais blocos de rua do Brasil, a banda se apresentou duas vezes no Rock in Rio 2024 – sendo uma delas com o projeto Olodumbaiana – e foi uma das convidadas do histórico show de 30 anos do Planet Hemp, consagrando o encontro com um mashup das músicas “Dig Dig Dig (Hempa)” e “Duas Cidades”. Agora, o BaianaSystem prepara-se para ancorar em Natal, como uma das atrações do Festival MADA neste sábado (19).

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A Nação da Música falou com Russo Passapusso, vocalista do BaianaSystem, sobre as expectativas para tocar no Festival MADA neste final de semana, os últimos feitos do grupo neste ano e o que podemos esperar de novidades.

Entrevista por Natália Barão
————————————– Leia a entrevista na íntegra:
Vocês vão tocar agora no Festival MADA, que acontece dia 19, em Natal. Uma das características do Baianasystem é proporcionar aos fãs uma experiência única com o Navio Pirata em cada lugar que vocês passam (tanto que, nos posts de vocês no Instagram, sempre tem uma #bs e a sigla do estado em que vocês forem tocar). Com isso, quais são as expectativas para esse show?
Russo Passapusso: O que faz cada show ser diferente é que a gente se permite mergulhar na cultura do lugar, e estamos contando os minutos para chegar no Rio Grande do Norte justamente por isso, pra saber como os nossos sotaques se misturam, como a gente vai se encaixar dentro dessa pluralidade brasileira e esse show de diversidade. Posso garantir que a gente aprende mais com o público do que eles com a gente, porque num país tão grande, a gente tem muita oportunidade e possibilidades nesses lugares. A gente gosta de chegar antes justamente pra aprender mais com os artistas, ver além da cultura, o que tem nos sebos de discos, o que está tocando na rádio, o sotaque das pessoas… e a mistura de toda essa história é o que permite uma nova imagem, como se estivéssemos montando um quebra cabeça. Estamos nos preparando pra aprender, agradecer e agradar muito dentro do nosso show, que vai ser uma experiência inesquecível, com certeza.

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Esse show acontece quase um mês depois de vocês terem se apresentado em dois dias diferentes do Rock in Rio 2024. No primeiro show, vocês foram uma das atrações do inédito Dia Brasil, junto de outros artistas nacionais, enquanto no segundo se juntaram a Olodum, abrindo os trabalhos do projeto Olodumbaiana no festival. Como foi a experiência de cada um desses shows pra vocês?
Russo Passapusso: Não existiria a Baiana se não tivesse o Olodum, né? O Olodum é uma representação muito forte, uma causa, um ideal. É essa matriz africana de onde começa tudo em relação a som e sonoridade, e que bate no nosso peito como o “tum tum tum” do tambor. Então pra gente essa foi uma experiência explosiva. Foi um momento inesquecível fazer isso no Rock in Rio cruzando todos os elementos. A gente tocar de dia também foi muito importante para fazer um show solar, e acredito que nessa fusão que fizemos, o público não separou o que era Baiana do que era o Olodum; e a nossa grande alegria é ser o Olodum Baiana.

Um dos momentos mais marcantes do show de vocês é a roda, que contagia todo o público com uma energia bastante intensa, e é até o nome da parceria entre vocês e a Pitty. Esse movimento está presente também em outras vertentes musicais, como o punk rock, por exemplo. Na visão de vocês, que tipo de conexão a roda gera entre vocês e o público?
Russo Passapusso: A roda na real nasce com representações e pelo entendimento do próprio público. Na primeira vez que começou a ter roda, a gente não pediu, não falávamos em relação a isso. Então é algo muito forte, porque tem a ver com as frequências sonoras, com o tipo de som que a gente faz. Claro que têm muitas manifestações sonoras de roda: têm as representações indígenas dos nossos ritmos ali misturados dentro desse processo todo de musicalidade; tem a roda do punk, a roda de capoeira, a roda de samba. O que a gente entende é que o nosso público é muito diverso e essa roda muda de forma a todo momento nos nossos shows. Quem tá no meio pede uma coisa que rege a roda de uma forma, parecendo que o vazio está no meio, quando na verdade está cheio de energia. A gente acredita muito que esse meio da roda está preenchido de som, e o nosso som é preenchido com energia positiva. Então, a gente fica muito feliz quando vê uma roda, porque é como se fosse um foco de energia positiva ali dentro daquele lugar e, melhor de tudo, gerada pelo público.

Em 2024, vocês lançaram alguns singles inéditos, com a participação de outros artistas que, assim como vocês, exaltam as sonoridades latino-americanas. Considerando que o som de vocês é uma grande mistura de ritmos, atualmente, existe algum estilo musical específico que tem melhor representado o Baianasystem? Se sim, por que?
Russo Passapusso: Hm, se existe algum ritmo? Não, acredito que não. Eu acho que cada ritmo, cada estilo musical, tem seu momento e dá forma à poesia e à estrutura de linguagem que está sendo comunicada com aquele público. É engraçado, porque você pode estar tocando um ijexá ou no Rio Grande do Norte, ou no Sul, ou em BH, e ele vai ter outras formatações. O público vai receber aquela manifestação, aquele ritmo, dançando e se expressando com suas memórias musicais de outra forma. Então, a gente não tem um ritmo específico pra dizer o que seria o BaianaSystem, até porque o BaianaSystem não é feito em cima de ritmos, mas sim de ideias e ideais. A gente tem muito essa relação com a palavra, a poesia, a manifestação, e a gente entende que a música é apenas a fotografia daquelas ideias e sentimentos naquele momento, e isso é muito bom! A gente costuma fazer versões e até mudar o ritmo das músicas às vezes, pra mostrar que tudo é um grande mashup, e esse processo vem muito da cultura Soundsystem. A gente acha essa experiência muito válida porque ela fala muito sobre o nosso Brasil, nosso brasileirismo e toda essa diversidade.

Nesse ano, vocês participaram do show histórico de 30 anos do Planet Hemp, que contou com a presença de vários outros artistas. Como se deu esse encontro entre vocês?
Russo Passapusso: A gente sofre muita influência do Planet Hemp, do Nação Zumbi, do Olodum, esse movimento também com Ramiro Souto todo da Bahia, o samba reggae, a Tropicália. Isso tudo é muito importante pra gente. O Planet Hemp é uma matriz muito forte pra nós. BNegão é um dos caras mais importantes dentro da roda de ideias do BaianaSystem, e tem um guia muito forte ali, quase que como um cordão umbilical com as nossas memórias de passado e futuro em relação ao Planet Hemp. Então ficamos muito felizes com esse encontro.

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Ainda sobre a participação no show do Planet Hemp, vocês tocaram juntos uma versão de “Dig Dig Dig (Hempa)” com “Duas Cidades”, de vocês. Na visão de vocês, como essas duas músicas se convergem? Pessoalmente, acho que elas se assemelham tanto na forma como misturam os ritmos, quanto na abordagem mais crítica de perspectivas sociais.
Russo Passapusso: “Dig Dig Dig” é uma grande referência que a gente tem pela Bahia e tudo que é essa coisa do Soundsystem, do samba reggae, e que tem um elo com o raggamuffin, o rock’n’roll e tudo isso. A gente é filho desses processos, desses ritmos e dessas linguagens, que se cruzaram dentro do nosso português e da nossa forma de expressar música urbana, que é também a música preta brasileira. Então, essas duas músicas são primas. A “Dig Dig Dig”, do Planet Hemp, vem antes, e o “Duas Cidades”, de Salvador, é um referencial disso que mostra tanto um pé dentro da cultura jamaicana com renques, quanto o processo que a gente gosta muito do Nordeste, esse parentesco universal do rádio e o repente em profusão. É claro que o canto falado é uma expressão que a gente tem no Nordeste e que também tem no mundo do hip hop e tudo mais. Então vemos isso tudo como uma expressão natural e musical, e agradecemos muito ao Planet Hemp por ter feito e ainda fazer esse caminho, plantando a cada dia esse passado que o futuro ainda não alcançou na nossa cabeça. É muito bonito ver a trajetória do Planet Hemp.

Todos esses acontecimentos citados nas perguntas anteriores rolaram justamente no ano em que vocês estão completando 15 anos de carreira. Olhando pra trás, com todas as conquistas, parcerias e shows até aqui, como vocês descreveriam essa jornada do Baianasystem?
Russo Passapusso: 15 anos… um adolescente, né? (risos). O mais importante desses 15 anos é a renovação. Os mestres, as compositoras e os compositores sempre falam que a idade não aparece dentro da cabeça pela renovação das ideias, e isso é muito importante. A gente convive muito com pessoas que são de outra época, que têm ideias mais modernas, avançadas, jovens e inovadoras de recriação do que às vezes carregamos dentro de nós com esse saudosismo vintage. É muito bom ver que o tempo passou e que a gente ainda tem fôlego e poesia musical e ainda se comunica com o que vive agora. O tempo pra gente é um guia do agora e é muito forte se colocar isso, né? Têm culturas que falam que o futuro tá atrás porque é o que a gente não sabe, o que a gente não vê, e o passado tá na frente pelo que a gente lembra, porque a gente consegue enxergar; então a gente costuma caminhar no sentido atemporal. A gente fez um disco chamado “O Futuro Não Demora” porque falava isso mesmo, que o futuro é agora: no processo de mudança, ele não demora, porque a gente tem que fazer a nossa parte dentro desse processo todo. A gente não atrela muito a ideia de futurismo como uma questão moderna ou evolutiva, mas descaracterizamos isso pra poder buscar no todo o tempo que nos ensina, o caminho que nos faz, como a gente vai fazer os próximos caminhos, e isso é algo muito bonito.

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Por fim, podemos avistar mais alguma novidade do BS ainda para esse ano (ou talvez já para 2025)?
Russo Passapusso: Pra 2025, com certeza mais música. A gente nunca parou de fazer música, nunca parou de fazer disco. E estamos fazendo, colocando no molho e um tempero já há um tempo. Esse disco vai sair com certeza ano que vem e vai ser algo muito maravilhoso, porque faz parte de algo que a gente sempre crava dentro do processo, que é uma discografia que tem a ver com a nossa presença nesse mundo, que a gente tem orgulho. Estando ou não estando aqui pra colaborar, essa música é eterna e universal e fica pras pessoas ouvirem; novas realidades se criam a partir disso, a partir de ouvidos que têm coisas diferentes na cabeça e que vão estar criando, a partir daquelas mensagens, um novo pensamento. A gente acredita muito nisso e fica muito feliz.

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Natália Barão
Natália Barão
Jornalista, apaixonada por música, escorpiana, meio bossa nova e rock'n'roll com aquele je ne sais quoi