Entrevistamos Vitor Kley sobre o novo álbum “As Pequenas Grandes Coisas”

vitor kley
Foto: Rodolfo Magalhães

“O que é a vida?”. Esta, que aparenta ser uma pergunta simples, carrega um profundo questionamento que permite as mais amplas interpretações. Quando Antônio Abujamra trazia essa pergunta em seu programa “Provocações”, os convidados revelavam um pouco sobre si mesmos ao refletirem sobre a resposta.

Se o apresentador e diretor de teatro ainda fosse vivo e recebesse Vitor Kley no programa, certamente receberia uma resposta tão simples e filosófica para a pergunta que quase não daria margem para múltiplas significados: a vida são as pequenas grandes coisas. Tendo como objetivo principal atentar as pessoas aos momentos e gestos simples da vida, “As Pequenas Grandes Coisas” é o novo álbum do cantor, que chega nessa sexta-feira (25) a todas as plataformas digitais.

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Após um período de quase 8 anos marcado pela positividade e o roxo que fizeram parte de “A Bolha”, Vitor Kley agora parte para um novo ciclo e uma estética pautada na cor azul, contado através das 11 faixas inéditas – dentre as quais estão incluídas as já conhecidas “De Novo” e “Que Seja de Alegria” – suas reflexões e aprendizados acerca dos bons momentos e desafios da vida. Com referências que vão de Jorge Drexler e as trilhas sonoras da Disney ao programa que Antônio Abujamra recebe o filósofo Clóvis de Barros (que é o único feat do disco), Vitor mostra um íntimo ainda desconhecido por seu público, além de assinar pela primeira vez a produção musical de um projeto próprio.

A Nação da Música conversou com Vitor Kley sobre o conceito por trás de “As Pequenas Grandes Coisas”, de que forma as faixas se conectam entre si ao longo do disco fazendo referências a momentos pessoais de sua vida – bem como a morte de seu pai – sem perder o otimismo característico de sua música, além de alguns spoilers sobre a nova fase de sua carreira.

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Entrevista por Natália Barão
————————————– Leia a entrevista na íntegra:
Oi, Vitor! Prazer em te conhecer!
Vitor Kley: Oi, Nat! Caraca, você tem cabelo azul! Agora vai começar a melhor entrevista! (risos).

Você tá vendo, a divulgação do seu álbum já está pesadíssima! (risos).
Vitor Kley: Já tá feita! (risos).

Como você está nessa véspera de lançamento?
Vitor Kley: Tô bem, Nat! A vida anda uma loucura de compreensões, de lançamentos, de emoções… sinal de que a vida tá valendo a pena, né?

Ah, sim, com certeza! Sem emoção não tem graça, né? Eu vi que teve lançamento do teaser do álbum ontem e inclusive eu tava muito ansiosa pra te ver e saber se você realmente tinha cortado o cabelo depois daquela cena da tesoura?!
Vitor Kley: Esse era o susto que eu queria dar! Eu ia entrar aqui de capuz e boné pra fazer suspense, mas aí a Ana ela falou “Vitor, não faz isso comigo, não, isso vai matar as pessoas” (risos). Aí eu falei “não, beleza Ana”, mas é justamente isso o lance do cabelo, como pode chamar tanta atenção assim?

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É que virou sua marca registrada esse cabelão!
Vitor Kley: E isso até é uma coisa que desde o princípio do conceito do álbum a gente quis muito puxar, porque como tu falou, é uma marca registrada. No passado, quando era mais novinho, já aconteceu de eu chegar no barbeiro e os caras ficarem tipo “corta esse cabelo comprido” e eu gosto do meu cabelo assim. Então eu qui trazer um pouco dessas coisas do meu passado e também unir isso no teaser com a ideia de ciclos se encerrando para novos se abrirem. Obviamente também existe muito essa coisa da transformação, da gente se vestir de uma forma diferente, mas eu, particularmente, gosto muito de ter o cabelo comprido. Então mesmo com essa coisa de nova era, cabelo, na verdade sou eu lançando novas canções, mas ainda sendo eu, do jeitinho que eu gosto, com a minha essência e com o meu cabelão, que também tem a ver com as pequenas grandes coisas. Foi bem legal conseguir unir tudo isso num teaser só.

Eu adorei o teaser, assisti várias vezes para pescar easter eggs que poderiam ter e me chamou muito a atenção você junto com o mini você correndo juntos, desenhando ali no gramado, e eu notei que vocês dois são a capa do disco mas estão com as sombras estão invertidas.
Vitor Kley: É isso mesmo Nat! “As Pequenas Grandes Coisas” já vem através da capa, que foi uma das primeiras coisas que surgiram desse projeto. O menininho, que se chama Eric, simboliza o meu passado, a nossa essência e forma mais pura. A gente está se olhando, com as sombras de diferentes tamanhos, querendo dizer quase que literalmente as pequenas grandes coisas, que são coisas grandiosas na nossa forma mais genuína e mais iluminada. Além disso, mostra também o quanto a gente tem a aprender com as crianças. Então tudo começa nessa sequência dos teasers com esse encontro com a minha essência, pra eu voltar e conseguir encontrar a conexão desses meus dilemas do passado, de cortar o cabelo, por exemplo, e eu querendo continuar assim. Então o álbum todo, na verdade, está simbolizado nessa capa, e me dá muito orgulho ver que essa belíssima foto tirada pelo Rodolfo Magalhães simboliza e resume tudo que esse projeto diz.

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O que você me diria que diz esse projeto?
Vitor Kley: “As Pequenas Grandes Coisas” de verdade, Nat, cada dia vêm me surpreendendo mais, porque desde a construção até a finalização do projeto como um todo, eu já aprendi muitas coisas, fiz novas amizades, me trouxe novos horizontes. Esse álbum tem cinco produtores e eu sou um deles. Antes, eu sempre fui o cara que vestia uma camisa só, produzia com uma pessoa só e eu quis fazer esse novo voo nesse projeto, essa mudança de cor na sequência do arco íris que sai do roxo e vai pros tons de azul. A gente sair da gravadora, se tornar um artista independente, ir atrás da nossa equipe e ter certeza de cada pessoa que tá ali, todo esse conceito amarrado com o azul, que também simboliza o céu, os novos voos, a nossa leveza em poder estar fazendo algo que a gente sonhava há tanto tempo e, obviamente, chamando ainda o público pra prestar atenção nas pequenas grandes coisas. Acho que no passado eu percebi que os grandes feitos da nossa vida só chegam lá com uma sequência de pequenas coisas. Isso é até de uma carta que o Van Gogh recebeu do próprio irmão, e que a minha mãe me mostrou quando eu era pequeno, que diz “grandes coisas são feitas por uma sequência de pequenas coisas”.

E eu ficava pensando que pra construir um grande álbum e chegar no coração das pessoas – o que pra mim é uma grande coisa – é preciso uma sequência de feitos e de ciclos que têm que ser encerrados para que novos sejam iniciados com a execução, ir atrás, mentalizar, imaginar as coisas e depois, enfim, concretizar o projeto. Então eu vejo que esse álbum é muito isso, e uma frase que vem sempre comigo é “as grandes coisas até são grandes, mas não maiores que as pequenas”. Eu dou muito valor pra isso, pra estar aqui conversando contigo, brincar contigo, te abrir um sorriso, falar do teu cabelo, te dar bom dia, boa tarde, e isso tudo é uma coisa que o álbum chama a atenção, pra que as pessoas estejam mais atentas a esses pequenos grandes gestos, eu diria.

E que fazem toda a diferença, né?
Vitor Kley: Totalmente! E que mudam o mundo né, Nat?

Claro! Você comentou e eu nem tinha parado pra pensar nessa transição das cores do arco íris, porque eu lembro que “A Bolha” foi muito marcado pela estética do roxo. Eu sei que esse foi um ciclo muito intenso na sua vida, que acho que durou uns sete ou oito anos, e foi finalizado mês passado com o documentário “Maior que As Montanhas”. Nesse meio tempo da produção de “As Pequenas Grandes Coisas”, quais foram as pequenas grandes coisas que te levaram de um ciclo pro outro?
Vitor Kley: Nossa, muito legal essa tua leitura de tudo e falando do “Maior que As Montanhas”; acho que é a primeira pessoa que fala do documentário, que foi muito especial pra gente e que marcou mesmo o fim anunciando o último show da turnê de “A Bolha”. Esse foi um álbum muito profundo, eu diria, de transformações da minha própria vida pessoal. Acho que as pequenas grandes coisas que me levaram nessa transição de um álbum pro outro foi mesmo essa coragem de enfrentar o que tiver pela frente. Acho que o resumo da coragem é tu vai mesmo com medo. Porque existe o medo, existe o desconhecido, mas tu vai igual, vai lá descobrir e enfrentar isso. Eu vejo que esse é o pequeno grande gesto desse álbum, encerrar ciclos sentando numa sala de reunião pra falar “olha galera, o nosso ciclo acabou e eu quero experimentar novos voos”. Acho que a partir daí, as pequenas grandes coisas já vinham me dando um sinal.

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Aí tiveram vários outros vários momentos de decidir equipe, produtor e diretor, eu falar pro Paul Ralph de passar na casa lá no Rio de Janeiro pra trocar uma ideia sobre ter vários produtores, mantendo a unidade sem perder a essência da minha música que já foi solidificada com as pessoas que gostam de mim… então, tudo isso são atos de coragem que eu, meu irmão e nossa equipe fomos fazendo. E voltando agora pro que eu te falei antes, Nat, a junção de vários pequenos gestos construíram uma grande coisa. Se eu fosse te dizer, acho que esse é o álbum que eu mais tenho certeza da minha vida. Os outros sempre tinha alguma coisa que eu olhava para trás, uma voz ou um volume de mixagem que fosse, e sempre tinha uma duvidazinha. Hoje eu escuto esse “As Pequenas Grandes Coisas” e vejo as músicas que estão ali, com o time que foi formado e falo “cara, era para ser exatamente isso”.

Já que você tocou no assunto de mixagem, você comentou aqui e eu tinha visto também, que essa foi a primeira vez que você também trabalhou na produção musical. Como foi essa experiência?
Vitor Kley: Acho que essa experiência vem tentando acontecer há muito tempo, Nat, e é uma coisa que eu meio que me autossabotava, sabe? Eu já fazia muitas coisas, mas por algum motivo de talvez não estar trabalhando com produção há alguns anos, não ter produzido várias bandas de sucesso, eu não me enxergava como produtor e ficava sempre me diminuindo. Aí ouvindo as prés do álbum com o Paul Ralph, ele chegou pra mim e disse “Vitor, tu tem que assinar esse álbum, a alma das músicas está toda aí’. E ouvir isso de um cara que já gravou Skank, Cidade Negra, Armandinho, Kid Abelha, Jão e um monte de gente, te faz criar uma confiança, sabe? Foi realmente um novo momento pra mim e hoje eu me sinto muito, muito mais seguro do que antes, pelo menos nessa parte da produção. E sou muito grato a todos os produtores que fizeram parte disso também, foi uma honra ter trabalhado com cada um deles.

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É aquela coisa, né, ninguém nunca faz nada sozinho. E eu vi que nos dois singles que você lançou – “De Novo” e “Que Seja de Alegria” – você divulgou a ficha técnica com o nome de todo mundo também.
Vitor Kley: Exatamente, Nat, ninguém faz nada sozinho. Inclusive, obrigado também pela tua presença, tua disponibilidade e o teu querer de conversar comigo; isso que faz nossa música ir pra frente. Assim como tu falou, cada uma das pessoas daquela ficha técnica tem sim seu dedo ali, sua alma, sua vida. Eu percebi também em “As Pequenas Grandes Coisas” o quanto as pessoas se sentem felizes fazendo parte dos meus projetos. Eu fiquei observando isso em cada pessoa que tava no clipe, cada pessoa que tava numa gravação de guitarra, de voz, de arranjo musical, então eu me sinto muito no compromisso de honrar essas pessoas também, que é o mínimo que elas merecem de aparecer naquela ficha técnica e terem seu devido lugar em “As Pequenas Grandes Coisas”.

Acho que a ilustração perfeita disso é no clipe de “Que Seja de Alegria”, que tem até um monte de gente entrando e saindo, e dá pra ver no rosto dessas pessoas que, mesmo interpretando personagens e obviamente não estar todo mundo de produção e figurino aparecendo, que o clima ali é de fato “que seja de alegria”.
Vitor Kley: Exatamente! Os pontos principais do clipe são a união da humanidade, de tipo, mesmo nos momentos difíceis, tamo junto, ao mesmo tempo que mostra muito as realidades que eu tenho, como a praia, essa coisa de ter vários tipos de seres humanos ali, porque eu sempre fui ensinado a respeitar todo mundo, e, cara, eu tenho relações incríveis com muitos tipos de pessoas. Eu acho isso demais, porque cada um tem uma história pra me contar, de onde veio, pra onde vai, então a gente quis simbolizar isso ali. E o ponto principal, que é o plot twist do clipe, é quando a criança vem e me toca. O clipe começa comigo entrando meio fechado, com uma coisa um tanto artificial da praia montada ali atrás, que fala um pouco sobre os dias de hoje, e o momento que eu abro o sorriso e que minha vida anda pra frente, é com a entrada da criança, que faz essa conexão com as pequenas grandes coisas, a capa, o teaser, que é quando eu vejo a pureza mesmo da vida. Tem até uma música do 5 a Seco chamada “Interior” que fala “quando me entristeço porque a vida passa, eu lembro do que vai nascer” e a simbologia daquela imagem é bem isso: o cara tá meio triste, cercado por informações, um mundo artificial, pessoas, e de repente, a criança vem e fala assim “ei, existe muita vida pela frente, tá tudo certo, vamos sorrir e ser felizes independente do que esteja acontecendo”. Eu achei muito legal poder ter essas diferentes leituras nesse clipe.

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Você comentou dessa virada do clipe, de quando a criança te toca e aí a vida anda pra frente, e eu lembrei que você já tem uma relação com esse universo das crianças, porque você tem (ou tinha) também a Turma do Menino Sol, né?
Vitor Kley: Tem até hoje esse projeto! Esses dias eu até olhei e pô, o projeto vai super bem! É muito louco, “O Sol” que trouxe isso pra nossa vida e eu nem imaginava, foi um presente do universo mesmo. A música foi pro mundo, as crianças começaram a gostar e acho que começou a virar até tema de apresentação de escola, porque a música, querendo ou não, tem uma coisa didática ali da melanina, falando sobre o Sol iluminar e tal. Então acho que acabou conectando nesse sentido; eu tô tentando buscar explicações onde às vezes não tem (risos), mas acho que a minha figura, meu cabelo comprido, o meu jeito meio despojado de falar e tudo mais, acabou se conectando com as crianças também. Já me chamavam de Menino Sol, que foi um apelido que uma criança me deu, inclusive, e a Turma do Menino Sol nasceu por idealização do Rick, que me chamou um dia e falou “cara, as crianças te amam tanto, vamos fazer o projeto pra elas”. Eu achei isso muito legal e foi também um fator decisivo pra botar o Eric, que é o meu mini eu, na capa, porque acho que faz uma homenagem e até um agradecimento a esse público infantil, que é a geração que vai cuidar do mundo.

Ainda sobre “Que Seja de Alegria”, esse foi o segundo single a ser lançado depois de “De Novo”, que foi lançado lá em dezembro, e eu queria saber se foi até proposital a sequência desses lançamentos como os abre alas de “As Pequenas Grandes Coisas” porque no fim do clipe de “De Novo” a última cena é você abrindo um envelope que tá escrito “se for pra chorar, que seja de alegria”, que é uma das frases da música.
Vitor Kley: Isso, exatamente! Eu me dispus junto com o meu time maravilhoso a fazer tudo conectado. Quando eu decidi fazer o álbum, eu falei “beleza, vamos fazer, mas do jeito que a gente sempre sonhou”:vamos fazer os clipes, vai ter conexão, o figurino que eu tô usando tem um porquê o lance de ser upcycling com os recortes, o lance de “De Novo” ser o primeiro single e que é uma volta, né? O Paul Ralph falou “Vitor Kley de novo; eu gosto desse título, tu tá voltando, tu tá mudando as cores”. Em “De Novo”, a gente tá em busca de alguma coisa e não chega lá, sendo um conflito comigo mesmo de que tudo parece estar se repetindo, até que no fim eu recebo uma carta de mim mesmo falando assim “cara, se for para chorar, que seja de alegria”, mesmo que tu tenha os dilemas da vida e te coloque em frente a desafios, vai lá, enfrenta isso, tenha coragem; até nos dias nublados, há porque sorrir. A partir daí vem “Que Seja de Alegria”, em que eu entro ainda meio em dúvida do que tá acontecendo, até que eu sou tocado pela pela pequena grande coisa, que é a criança, entendo que estou começando a descobrir o sentido da vida. Essa é a música que abre o álbum, falando do fim de um ciclo e início de um novo; a partir daí, o álbum vai se desenrolando e entra nas quatro colunas principais: “Que Seja de Alegria’, o início; “Vai Ficar Bem”, que é o dilema existencial sobre humanidade que reforça que eu preciso estar atento à vida, senão ela vai escapar das minhas mãos; o desafio em “Vai Por Mim” de um filho que vê o pai com depressão na cama, sem força para continuar lutando e mesmo assim tendo que seguir a vida; e depois “Arco Íris”, que finaliza o álbum dizendo “eu achei o pote de ouro” no sentido de que eu compreendi que passar por tudo isso era necessário pra que eu entendesse o sentido da vida, que está nas pequenas grandes coisas. Apesar de tudo isso que eu estou passando e vivendo, eu preciso ter o pé no chão, a ingenuidade de uma criança, pra conseguir seguir adiante. Então, basicamente, a história montada e contada se desenrola por aí.

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Sim, dá pra perceber bem esse arco narrativo! Eu achei interessante que a sua música tem mesmo essa energia solar, que acho que não tem palavra melhor pra definir, não só por “O Sol”, mas pela energia de outras músicas suas, como “Adrenalizou” e “Pupila”. Mas eu senti que nesse álbum, essa energia solar está um pouco diferente, com músicas um pouco mais intimistas e acústicas; acho que “A Gente Podia Sair Dessa” e “Vai Por Mim” são bons exemplos disso. Queria saber como veio esse processo de composição.
Vitor Kley: Eu acho que “As Pequenas Grandes Coisas” é muito direcionado a uma nova fase musical minha. Tu foi muito bem na leitura, têm canções que são super explosivas, tipo a própria “Que Seja de Alegria”, “De Novo” e “Uma Porrada de Problema”, que é bem popzão e tal. Mas eu também quis botar um outro lado nesse álbum, porque eu não gosto de me repetir. Acho que só de trazer novos produtores e novos músicos, e eu ter assinado essa produção já traz um ar diferente, mas eu queria mesmo ousar mais. Eu escuto muito Jorge Drexler, que é um uruguaio, meu pai ouvia muito Eros Ramazzotti, minha mãe gosta muito de Alejandro Sanz, que são coisas que eu vejo que ficam extremamente evidentes em “Carta Marcada” e em “Tudo de Bom”. Aí, ao mesmo tempo, eu amo as trilhas sonoras da Disney: eu amo o Phil Collins do Tarzan, eu amo a trilha sonora de Toy Story, do Hércules, e vejo que “A Gente Pode Sair Dessa” traz um pouco disso; essa era uma música que tinha banda, só que eu achei que era um arranjo mais pra ao vivo.

O Paul Ralph disse que o álbum precisava descansar em alguma hora, e olha que engraçado, “A Gente Pode Sair Dessa” e “Vai Por Mim”, que foram as que tu citou, são exatamente as músicas que a gente usa como descanso do álbum ali no meio. Aí vem “Segredos”, que é uma música que é super linear, eu diria, porque ela não tem uma explosão. Então esse é um álbum que começa alto, vem uma coisa meio bossa nova beat, aí vem o pop com “Quando É Pra Ser” e com “Uma Porrada de Problema”, uma coisa existencial com “Vai Ficar Bem” e aí lá no fim, ele vira outra coisa e tu consegue ver a divisão quase de lado A, lado B. É uma coisa que eu achei muito legal e com referências que estão dentro de mim, não sei, uma coisa até meio latino em algumas assim…

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Eu notei isso também! Eu senti que em “Carta Marcada” a melodia tem um quê de Rita Lee, mas uma coisa que eu achei comum em todas as faixas é que todas têm um refrão muito chiclete! Achei impressionante essa capacidade (risos).
Vitor Kley: Tu sabe que eu falo “As Pequenas Grandes Coisas” é um álbum de canções. Isso é uma coisa que eu tenho que falar em todas as entrevistas e às vezes acabo esquecendo, mas agora tu puxou isso e graças a Deus eu lembrei (risos), porque são muitas canções, né? É uma coisa pra todo mundo cantar e é uma coisa que eu vejo que está inserida em mim.

Eu acho muito interessante escutar uma música, um álbum que seja, e fazer essas associações. Por exemplo, “Quando É Pra Ser” eu achei muito uma vibe pop reggae, com umas distorçõezinhas bem que me lembraram até um pouco o som do Charlie Brown Jr; “Vai Ficar Bem” também, me trouxe um pouco um “Dias de Luta, Dias de Glória”. Mas isso são impressões minhas (risos).
Vitor Kley: Mas é isso aí mesmo! Eu não fico ouvindo muitas referências quando eu crio, mas quando eu mostro pras pessoas, às vezes elas vêm e falam “me lembrou o Charlie Brown” e eu fico tipo, pode crer, veio daí! A “Quando É Pra Ser” tem uma coisa mais flow, mais rápido, com referência de algumas coisas do Armandinho, bem pop reggae mesmo. A Rita Lee que tu falou da “Carta Marcada” e “Tudo de Bom (Ô Moça)” têm um pouco dessa coisa da música popular brasileira mesmo.

Total! Falando em faixas, acho que uma das que mais me chamou a atenção, não só por ser também um descanso do álbum, como você disse, mas também pela mensagem tão direta da letra, é “Vai Por Mim”, que deu pra entender que é uma música dedicada ao seu pai, que inclusive meus sentimentos. E, se você se sentir confortável pra falar sobre isso, eu queria saber um pouco mais sobre essa faixa, e principalmente sobre a participação do Clóvis de Barros, se ele escreveu isso especificamente pra essa faixa, como foi esse contato entre vocês…
Vitor Kley: Primeiramente, obrigado, Nat. O pai agora virou o nosso farol eterno! Quando eu escrevi “Vai Por Mim” era 2018, se eu não me engano, meu pai já sofria de depressão e eu acabei fazendo bem ao pé da letra o que eu vivia dentro de casa com a minha família. Pra qualquer pessoa que eu mostrava a pré dela, ficava um silêncio na sala, porque isso é muito forte. O Marcelo Camelo, que produziu, até questionou “Vitor, tem certeza que tu quer lançar isso? porque é uma coisa muito de vocês” e eu falei “não, Marcelo, eu quero lançar, eu sei que meu o pai ia ficar feliz de poder fazer o bem pras pessoas”. Eu até acreditava que essa música ia fazer bem pra ele, que ia ser uma fonte de energia pra ele vencer essa parada, mas a doença dele foi se agravando muito e no fim a gente já começou a pensar o contrário, que talvez a música pudesse trazer emoções tão fortes que poderia dar algo ruim nele. Aí no fim, o universo quis que fosse assim, e a última chance que eu tive de mostrar essa música pro meu pai ainda em matéria foi no velório dele, pra que todas as pessoas que estavam lá pelo bem dele ouvissem a homenagem que a gente tinha feito pra ele. E as frases que o Clóvis diz ali, foi ele mesmo que escreveu especificamente pra essa música. E foi muito legal porque quando eu fiz a pré dessa música em casa, Nat, eu peguei de uma entrevista que o Clóvis deu pro Abujamra. O Abujamra tinha aquela frase icônica que perguntava “o que é a vida?” e daí o Clóvis respondia “é potência sobre potência…” e não sei o que, aí ele começa a perguntar várias vezes e quando chega no fim o Clóvis fala “dor e sofrimento, se você preferir, porque eu não lembro de ter sofrido antes de nascer e tenho a nítida impressão de que não sofrerei depois de morrer”.

E na época que eu escrevi essa música, aquilo fazia sentido, porque eu via que meu pai não queria mais estar aqui. Quando eu conversei com o Clóvis ele falou “sabia que eu me tornei filósofo porque eu era depressivo?”; eu fiquei em silêncio e ele continuou “isso é lindo demais, mas a gente tem que terminar de outro jeito, botando o teu pai pra cima”. Aí ele falou “vamos marcar de gravar e olha, conte comigo”, daquele jeitão dele, firme e forte. E quando a gente gravou, ele falou um monte de coisa linda, e essa frase que está na música foi a que mais se encaixou nesse momento. E, cara, eu tenho certeza que, no fim das contas, o meu pai tá amarradão lá do alto. É engraçado, eu sinto que essa música ganhou um sentido muito maior; ela já tinha um sentido grandioso, que era poder ajudar ele a vencer essa doença, mas hoje eu vejo que o meu pai está naquela música ali. Quando eu canto ela, eu sinto ele junto comigo, me dando força pra cantar e falando “tô bem aqui em cima e tô orgulhoso pra caralho de vocês e de tudo que vocês estão fazendo”. Então, se eu fosse te dizer, acho que é a música mais poderosa do álbum, ainda mais agora.

Com certeza! Eu achei muito especial toda essa construção por trás da música e ainda mais simbólico que, logo depois, vem justamente “Arco Íris”, que é também o fenômeno da natureza que aparece logo depois da chuva e que traz uma sensação boa nas pessoas. Pensando nisso, queria saber que tipos de arco íris você enxerga agora pra essa era de “As Pequenas Grandes Coisas”.
Vitor Kley: Nossa, muito legal isso que você falou, eu não tinha parado pra observar que o fenômeno natural tinha tão a ver com o fenômeno pessoal e espiritual que eu carrego. Mas a escolha de ter botado “Arco Íris” foi bem nesse sentido. Acho que dentro de grandes desafios, normalmente, a minha tendência é enxergar isso da melhor maneira possível. Por isso que eu botei “Arco Íris” depois de “Vai Por Mim”, eu já imaginava essa como a última faixa, mas agora tu falando do fenômeno natural faz ainda mais sentido. Obrigado por isso, Nat, vou usar em algumas respostas daqui pra frente (risos).

Que honra! Quando você usar, lembra que foi um cabelinho azul que te disse isso! (risos).
Vitor Kley: Vou lembrar, vou citar teu nome! (risos). “Arco Íris” é a minha favorita do álbum, sem sombra de dúvidas, é a música que eu mais amo nesse álbum e que me causa até coisas físicas! E eu vejo vários tipos de arco íris mesmo na vida, dizer um é muito difícil, mas se eu fosse falar especificamente dessa música, é a nossa maneira de ser, nossa maneira de existir, bem, como diz a letra: “eu assobio andando assim, avisa o mundo que eu sou feliz e nada mais / ninguém me tira a alegria de ser, de respirar, de viver, de crescer, de existir em meio a gente que mal existe / será que eu achei a ponte para o pote de ouro?”, até falando pra ti agora, é isso, sabe? Às vezes a gente fica se preocupando, se limitando, escutando umas baboseira, e, no fim das contas, a gente tem que ser a gente, cara!

Essa é a última música do álbum justamente por isso, ele fica se indagando se encontrou o pote de ouro pra na bridge da música ele falar “eu achei!” e é isso, ele achou! Ele passou por um monte de coisa pra achar o pote de ouro e entendeu que tem que ser ele mesmo. Eu acho que o arco íris principal é a gente entender esse sentido da nossa vida, ser do nosso jeito, tratar bem as pessoas, não ligar pra tanta chatice dos outros e ficar mais ligado nas coisas boas da vida. Porra Nat, como um dia eu quero sair na rua e ver todo mundo feliz, todo mundo sendo do jeito mais puro, sincero e respeitoso! Tipo, o cara com a mangueira cuidando das plantas falar “e aí, Vitor, beleza?”, aí passar o cara do jornal, o porteiro também cumprimentando… sei lá, tô aqui viajando já, mas porra, queria muito que esse arco íris fosse um fenômeno mundial no coração das pessoas!

Acho que esse é justamente o poder da música! E que, como artista, você é muito capaz de proporcionar isso pras pessoas.
Vitor Kley: Tomara, Nat! Eu acho que a gente tá no caminho certo, de verdade, todo mundo está fazendo isso por um bem muito maior que vai além música. Agora sendo um cara mais chato e crítico (risos), porra, têm momentos que tu fala “cara, não é possível que a humanidade esteja andando assim!”. Espero que esse álbum seja um respiro, que as pessoas olhem o nome do álbum, “As Pequenas Grandes Coisas”, e falem “caceta, entendi!” e saiam na rua cumprimentando as pessoas, reatando a amizade com o pai… espero que aconteça isso!

Tenho certeza que sim, muitas músicas vão inspirar isso nas pessoas além de “Arco Íris”. E eu achei curioso que no teaser do álbum tem tanto o trecho da frase do Clóvis quanto o “eu achei o pote de ouro”!
Vitor Kley: Ficou muito massa! Já é dando um spoiler pra galera. O Clóvis falando “nossa vida vale pela capacidade de amar e pela sorte de ser amado” e depois eu gritando “eu achei o pote de ouro!”, indicando que o cara achou o sentido da vida e ele tá super feliz com isso, mas, ao mesmo tempo, tem um tom filosófico e até de drama pelo Sound Effects que a gente fez ali. Ah, cara, que legal!

E Vitor, pra finalizar o nosso papo muito legal que eu não queria que acabasse inclusive…
Viror Kley: Eu também não! (risos). Eu tô aqui viajando já, até esqueci que era entrevista! (risos).

Ah, assim que é bom! (risos). Eu queria saber o que mais a gente pode esperar da era “As Pequenas Grandes Coisas”, de próximos lançamentos, de repente próximos clipes, porque o teaser me deu a impressão de que pode vir aí…
Vitor Kley: O teaser, na verdade, é uma trilogia, ainda têm mais dois pra sair. Esse teaser, já vou adiantar, não tem a ver com o clipe, mas legal você ter pensado nisso, porque ficou tão bonito que parece o clipe! O single do álbum nesse primeiro momento vai ser “Carta Marcada”, que é uma música que eu amo, acho esse que bolero bossa beat vai causar um impacto diferente nas pessoas, e o clipe té demais! Acho que é capaz até da gente conversar de novo quando ele sair, Nat, porque é um clipe muito legal e eu amei fazer, mas ele vai sair mais pra frente. E vai ter turnê também de “As Pequenas Grandes Coisas”, a gente já tem algumas datas marcadas em Portugal, tentando estender ainda pra outros países ali por perto, mas cara, eu tô muito feliz só de voltar pra Portugal, que é um lugar que eu amo de paixão e que recebeu a gente super bem!

Obviamente vão ter datas no Brasil também, a gente já tem algumas marcadas em BH, Porto Alegre, São Paulo, Curitiba, Santa Catarina, que a gente está vendo aqui de fazer algo especial porque aqui é a nossa área, né? Quero muito que esse álbum passe por todos os lugares possíveis, porque, como a gente tava falando antes, ele tem um propósito além da música, de despertar dentro das pessoas esse olhar pras pequenas grandes coisas da vida, e acho que o show é uma grande ferramenta de conexão pra isso. Eu sou suspeito pra falar, mas o show está demais com essas inúmeras novas sonoridades que a gente tava comentando, a gente tá se mantendo bem fiel a isso.

Imagino que vai ter uma estética azul também…
Vitor Kley: Com certeza, Nat! Já estamos com o palco montado, eu tava até agora vendo ali o projeto. Nossos figurinos vão ser todos em jeans Upcycling com Ventana, que é a marca que está nos apoiando. É muito legal esse lance da gente poder pegar jeans da nossa família, fazer os retalhos e usar; tem tudo a ver com “As Pequenas Grandes Coisas”. Vai ser muito massa, tá tudo bem amarradinho e vai ser um céu azul muito lindo de se viver!

O céu azul é até a sua foto de perfil no Insta, né…
Vitor Kley: O azul é a cor, o jeans é o figurino e o céu azul é o símbolo mesmo desse novo voo, do que significa tudo isso. Até no camarim vai ter todo um céu azul, como o próprio símbolo ali do Insta. E têm muitas coisas que a gente tava simbolizando com esse céu azul, como o fundo de “Que Seja de Alegria”, “De Novo” tem também umas coisinhas do céu azul… aos pouquinhos a gente foi soltando esses easter eggs e agora chegou a hora de botar tudo pro mundo!

E vem aí! Vitor, muito, muito, muito obrigada pelo nosso papo! Amei conversar com você, e estou ansiosa pra ver o que mais vem por aí, pra ir nos shows também, e te muito sucesso, que já está fazendo, e tenho certeza que vai fazer ainda mais!
Vitor Kley: Obrigado, Nat, te espero no show pra tu conhecer o nosso céuzão azul! Gostei das tuas observações, as tuas considerações foram muito certeiras, e depois, quando tu ouvir mais vezes e a gente se encontrar no show, eu vou perguntar “ô Nat, agora me fala qual é a construção que tu fez das músicas?” (risos). Brigadão, tá, a gente se vê por aí!

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Natália Barão
Natália Barão
Jornalista, apaixonada por música, escorpiana, meio bossa nova e rock'n'roll com aquele je ne sais quoi