Sempre que um artista encerra um ciclo, tende a se deparar com as altas expectativas dos fãs para os próximos lançamentos. O primeiro single inédito a suceder um álbum, rapidamente é associado como início de uma nova era e, consequentemente, de um futuro álbum. Mas, em meio a essa maré de imediatismos da indústria musical, o cantor Ziggy Alberts tem nadado contra a corrente.
Começando os trabalhos de 2024 com os singles “New Love” e “Outlaw”, lançados respectivamente em maio e junho, o australiano tem aproveitado os últimos meses “vivendo tudo que há pra viver” em cada um dos países por onde tem passado com sua turnê mundial, sem deixar de sonhar com os impactos que sua música tem causado e ainda poderá causar no público.
A Nação da Música conversou com Ziggy Alberts sobre os respectivos contextos e significados pessoais dos novos singles “New Love” e “Outlaw”, a colaboração com Donavon Frankenreiter em “I’ll Come A Running”, e se a nova era do cantor pretende trazer um novo álbum (ou EP) e uma passagem pelo Brasil ainda este ano.
Entrevista por Natália Barão
————————————– Leia a entrevista na íntegra:
Oi, Ziggy! Como você está?
Ziggy Alberts: Estou bem, Natália! E você?
Estou bem também! Com um pouco de frio, porque o inverno finalmente deu as caras aqui no Brasil (risos).
Ziggy Alberts: E numa escala de 1 a 10, o quanto está frio aí pra você?
Hm, acho que uns 7,5. Mas estava mais frio de manhã, na verdade.
Ziggy Alberts: Uau, isso é muito frio!
E você?
Ziggy Alberts: Eu estou em Toronto, no Canadá, vou te mostrar aqui. Desculpe, meu quarto da turnê está bagunçado, mas vou te mostrar mesmo assim (risos). Essa é a minha vida aqui no ônibus da turnê aqui em Toronto, aqui tem uma pequena janela, café, minha mochila e essa é a minha vista na maior parte das vezes (risos). Esse é o todo o meu mundo quando viajo pelo país.
Adorei! Parece bem aconchegante!
Ziggy Alberts: É bem aconchegante sim, para todos nós. É ainda mais depois daquela porta ali.
Que legal, ainda mais você estando viajando, né?
Ziggy Alberts: Sim, é perfeito. Imagine que ao invés de ter que estar num avião todos os dias, o que pode ser rapidamente muito cansativo, nós terminamos o show, entramos aqui, dormimos enquanto o motorista dirige durante a noite, e acordamos em outra cidade ou até outro país. É muita sorte.
Parece um ótimo estilo de vida! Falando nisso, vamos falar sobre música?
Ziggy Alberts: Vamos nessa!
Perfeito! Eu vi que você está com alguns novos lançamentos esse ano, que vamos falar melhor durante a entrevista, mas antes de tudo, eu gostaria de saber como você descreveria essa sua nova era.
Ziggy Alberts: Hm, que boa pergunta… acho que é bem inspirada no folk e no country. O folk sempre é o meu gênero, e eu tento sempre adicionar algum outro também. Eu diria que nessa nova era estou tentando fazer mais hinos para as pessoas cantarem, porque às vezes você faz uma música com letras mais específicas e detalhadas, e o que eu quero é falar de um sentimento específico em palavras que todo mundo entenda; pra mim isso é um hino. E vai parecer loucura, mas acho que essa era é sobre escolher a simplicidade. Isso é algo bem difícil de se fazer logo de cara porque, quando você começa, sua música é simples, você é inocente e não conhece outra coisa. Mas quando você fica mais velho, torna as coisas mais complexas. Então eu escolhi uma mensagem simples e direta, com muita positividade, que é bem o espírito do álbum e dessas músicas. Acho que é como eu melhor consigo descrever (risos).
Está ótimo, foi super completo e eu entendi totalmente! E o que você acha que mais mudou em relação à era “Dancing In The Dark”?
Ziggy Alberts: “Dancing In The Dark” foi de propósito um future folk. Eu queria descrever um momento na vida, como uma cápsula do tempo, em que as músicas tinham como tema esse período do lockdown, que todos nós vivemos. E agora, eu sinto que essa nova era “New Love” está aqui pra dizer que estamos conseguindo reconhecer o passado, e estamos prontos pra seguir em frente, tendo mais paz, felicidade e podendo ir atrás dos nossos sonhos, deixando a mediocridade pra trás para viver o melhor que pudermos como uma sociedade pacífica e saudável. Essa visão vai além dessas músicas, porque nós todos podemos parar de sonhar em algum momento da vida, e acho que precisamos sonhar enquanto sociedade para fazer do mundo o melhor que ele possa ser.
Concordo! Falando sobre “New Love”, que foi o primeiro single dessa nova era, lançado em maio, me chamou a atenção o verso “making a change on who I was”. Pensando nisso, o que você sente que mais mudou em você com esse single?
Ziggy Alberts: Na prática, eu escolho a simplicidade para todas as minhas músicas, e essa em particular foi a faísca para essa nova era. Era uma música simples, sem segredo, e só. Você escolhe a simplicidade porque, às vezes, a coisa mais bonita que você pode escolher, é a coisa mais simples, e você deixa isso claro com a escolha. E também acho que eu escrevi mais como eu me sinto, por exemplo, a primeira parte da música diz: “parece que eu estive correndo na maior parte da minha vida / eu levanto e vejo o que passou / eu tenho esse sonho de que / de manhã cedo, você entra / eu saio / e eu acordo”. É exatamente como eu me senti no quarto de hotel quando escrevi essa música, quando eu tinha acabado de ter um pesadelo e acordei no meu ônibus de turnê de manhã. Nesse pesadelo, o amor entrava pela porta, eu saía e aí acordava. E escrever exatamente sobre como eu me sinto é bastante libertador. Sobre a sua pergunta a respeito desse verso, no fim do dia, estou mudando quem eu era, e isso não é jogar fora o antigo você, mas sim descobrir o seu potencial. E acho que eu estou tendo menos compromisso e me dando uma maior chance de brilhar. Isso pode até parecer óbvio, mas acho que estamos frequentemente com medo do quão incrível pode ser a nossa vida e de saber o quanto podemos mudar o mundo, seja pro bem, seja pro mal. Essa é a verdade, e assusta quando você percebe e pensa “bem, eu preciso tentar e ver como posso dar o meu melhor para o mundo”, seja você um músico, ou alguém que trabalha num café ou faz um podcast; não importa o que você faça, para mudar o mundo, é preciso fazer alguma coisa. Quando você se dá conta disso e sente essa responsabilidade, é algo muito poderoso. A cada dia, nós tentamos mais e mais estar um passo adiante, mas às vezes caímos, então temos que levantar e continuar.
Que tipo de mudança você gostaria de fazer no mundo?
Ziggy Alberts: Se eu puder, mesmo que só pra mim mesmo, viver tranquilamente do jeito que eu espero ser e fazendo o que eu puder, então vou estar fazendo a diferença. E se eu puder me expressar através dessa música, criando um contexto em que as pessoas se juntem para cantar e dançar as mesmas palavras, compartilhando a mesma sensação de pertencimento, isso é tudo que eu vou querer fazer na vida. Se você consegue deixar as pessoas felizes, fazendo com que elas consigam se enxergar em você, podemos ter paz, e isso é tudo que eu estou tentando fazer, porque é algo importante pra mim. E mesmo que possa ser muito difícil, eu sei que vale a pena e que é algo significante. E, se eu puder fazer isso, qualquer um também pode. Se cada um de nós formos a nossa melhor versão e perceber a conexão que temos uns com os outros, o mundo vai mudar. O mundo já está mudando, e vai continuar se mantivermos nossa conexão.
Concordo. Como estamos falando sobre mudanças e as coisas simples da vida, no seu single “Outlaw”, lançado em junho, tem um verso que também me chamou a atenção: “se eu puder ser mais humano, você também pode ser?”. Pensando nisso, que característica você mais admira em alguém?
Ziggy Alberts: Tem uma música chamada “Human Too”, do The 1975, que é uma banda que eu amo…
Ah, sim! Também gosto bastante deles, fui em dois shows aqui no Brasil!
Ziggy Alberts: Nossa, que inveja! (risos). Eu ainda não consegui assistir um show deles!
Ainda!
Ziggy Alberts: Pois é, não acredito que ainda não consegui assistir a um show deles. Preciso muito disso! (risos). Mas enfim, isso foi algo que me inspirou bastante para essa letra. Agora, o que eu mais admiro em alguém… é uma ótima pergunta… eu admiro quando as pessoas são humanas, e, pra mim, isso é quando as pessoas são honestas, estando certas ou erradas, e procuram fazer o melhor que podem, tratando os outros com respeito. Vou te dar um exemplo: eu admiro muito o Jack Johnson, mas porque eu conheço a esposa dele, a família, a equipe, e são todas ótimas pessoas, assim como ele; e ao mesmo tempo que ele é um bom marido, um bom pai e uma boa pessoa, ele também tenta cuidar do meio ambiente. Eu admirar e gostar da música dele é uma coisa, mas o que eu realmente amo são os valores que ele tem. Eu admiro mais os valores que uma pessoa tem do que a fama ou qualquer coisa do tipo.
Sim, isso é bem bacana mesmo. Você mencionou isso sobre honestidade e valores, ainda em “Outlaw”, na minha percepção pelo menos, é uma música que fala sobre continuar verdadeiro a si mesmo sem se importar com as expectativas dos outros (o que pode ser bem difícil às vezes). Pensando nisso, qual você diria que é a sua verdade? Como músico ou até no sentido de valores, como você estava dizendo agora.
Ziggy Alberts: Uau, mais uma ótima pergunta! Pra mim, a grande verdade em “Outlaw” é que às vezes, na vida, você precisa ser um foragido, do que é normal, por exemplo; mas, se você estiver fazendo algo importante, você vai se destacar em meio à multidão. Nem sempre é fácil, mas vai ser impossível se você ficar tentando se encaixar. É bem melhor ser um foragido porque depende apenas da sua escolha; se você ficar tentando se encaixar, logo vai acabar se perdendo de quem você é. Acho que isso se aplica bastante na minha vida. A minha verdade é sonhar e poder fazer acontecer (ou pelo menos tentar) a magia que eu acho que é possível; é correr atrás, porque eu acho que é assim que mais e mais as coisas vão acontecendo pra mim, além até do que eu possa imaginar. Talvez eu já tenha sentido um pouco do que é isso, mas a verdade pra mim é que, você pode ser uma boa força para o mundo, mas a minha vida me mostrou que importa o que você faz, como você trata a si mesmo e como trata os outros. Às vezes nós podemos achar que não importa, tipo “ah, ninguém está vendo isso mesmo”, mas importa sim, porque eu acredito que a nossa evolução é espiritual, e se todo mundo perceber a verdade dentro de cada um, da conexão que temos uns com os outros, com o planeta e com a nossa comunidade, vamos perceber que somos todos iguais, e não trataríamos ninguém mal. A minha verdade é que eu quero viver o meu sonho e criar muitas coisas, podendo sair um pouco da minha cabeça para mergulhar mais no mundo. Isso é o mais importante pra mim.
Gostei bastante dessa verdade! Já que você disse ser um cara muito sonhador, falando nos sonhos que se tornam realidade, eu vi que nesse ano você fez uma parceria com o Donavon Frankenreiter na música “I’ll Come A Running”, e que ele é alguém que você admira tanto como músico, quanto como surfista. Como aconteceu o convite para essa parceria e como foi pra você trabalhar com ele?
Ziggy Alberts: O mais doido é que eu não sei te dizer como isso aconteceu (risos). Talvez tenha sido porque ele viu eu me apresentar com o Jack Johnson, já que eles são amigos, e muita gente adora o Donavon Frankenreiter no Brasil. Então acho que talvez o Donavon tenha me visto com o Jack e gostou da minha música. E, acredite se quiser, mas o agente dele perguntou pra minha equipe se eu queria, e eu fiquei tipo “eu? claro, eu adoro o Donavon Frankenreiter”, ainda mais que o convite veio dele mesmo. Foi tudo muito rápido, ele me mandou algumas músicas e eu amei a letra de “I’ll Come A Running”. Foram muitos sonhos se tornando realidade, sabe? Talvez isso só tenha acontecido por causa da turnê que eu fiz com o Jack Johnson, que me deu uma grande exposição; ou talvez isso tenha acontecido porque eu me importo com o meio ambiente, que foi a razão de eu ter conhecido o Jack, já que eu estava envolvido na questão das turnês ecológicas, e eles acabaram nos convidando para ver como funcionava. Tudo dá certo quando você se importa de verdade, acho que essa é a mensagem final. Eu me importo em tentar fazer algo de bom para o meio ambiente com as minhas músicas e algumas ações, mesmo que eu acabe falhando algumas vezes, mas eu continuo com essa mentalidade. Foi assim que eu conheci o Jack, que me levou em turnê e me fez conhecer pessoas incríveis, como o Donavon. Tudo acaba dando certo quando a gente se importa.
Total! Você tem mais sonhos para o futuro?
Ziggy Alberts: Sim, muitos! Eu quero fazer uma turnê de verdade no Brasil, porque eu acabei tocando só em Floripa no ano passado, mas queria fazer algo maior e tocar em vários outros lugares do Brasil, também da Argentina e talvez do Chile. Isso seria um sonho! Quero poder fazer mais viagens para surfar para continuar me incentivando a praticar esse esporte, porque gosto muito de fazer isso e quero continuar me aventurando nisso. E gostaria de sonhar que posso viver uma vida com ainda mais atenção, para poder absorver todas as coisas incríveis que estão acontecendo comigo.
Trabalhar com outros artistas? Um top 3 dos que você mais tem vontade, sonhando alto.
Ziggy Alberts: Hmm, boa pergunta. Eu já estou trabalhando com muitos dos artistas que eu sonhava em trabalhar (risos), mas talvez o Hozier, da Irlanda, que eu gosto muito dele. Hmm, quem mais? Acho que o Ziggy Marley seria divertido também, fazer um som meio reggae. E por último… ah, claro! Como eu não disse isso antes? The 1975!
Sim! Eu estava esperando você falar eles! (risos)
Ziggy Alberts: É isso, o The 1975 é o top 1 das minhas colaborações dos sonhos! (risos). Aí viria o Ziggy Marley, porque tenho certeza que seria muito divertido, e também gostaria de fazer algo com o Hozier. Mas hoje, a prioridade seria o The 1975, com certeza. Se eles me chamasse hoje perguntando se eu poderia sair em turnê com eles, eu largaria tudo que eu estivesse fazendo. Desculpe, mas eu largaria mesmo (risos), esse é o meu grande sonho!
Esse é o poder da manifestação, né? (risos)
Ziggy Alberts: Vai que acaba acontecendo? Se um dia eu sair em turnê com o The 1975, ficaria super feliz de falar com você de novo e contar como aconteceu, comemorar, aí a gente poderia comemorar, eu faria o meu show e depois estaria no meio do público pra ver o show deles, curtindo muito!
Seria a história perfeita! (risos). Ziggy, pra encerrar a nossa conversa, duas perguntinhas rápidas: podemos esperar um EP ou um álbum seu ainda esse ano, com esses dois novos singles, e você pretende trazer a New Love Tour aqui pro Brasil?
Ziggy Alberts: Vocês podem esperar mais trabalhos vindo aí, que eu ainda não posso falar muito sobre o que vier com os singles. E, se tudo der certo, vamos poder fazer um anúncio para a New Love Tour que nos traga de volta ao Brasil durante dois anos. Serão duas vezes em dois anos. Se der certo, eu e você podemos nos decepcionar, mas vamos esperar e ver!
Pois bem, já estou ansiosa para que você venha mesmo ao Brasil! Você já esteve em São Paulo?
Ziggy Alberts: Não, só em Floripa.
Ah sim! Você gostou de lá?
Ziggy Alberts: Muito! Fiz muitas caminhadas, foi “muito bom”.
Olha só, você fala português!
Ziggy Alberts: Um “perquino”, mas estou aprendendo!
Olha, pelo que eu vi até agora, achei excelente!
Ziggy Alberts: Que ótimo!
Ziggy, muito obrigada pelo seu tempo e pelo nosso papo! Adorei falar com você, e adoraria continuar filosofando sobre sonhos e o meio ambiente (risos), espero que a gente se fale no futuro e que nos encontremos aqui no Brasil!
Ziggy Alberts: Obrigado Natália! Espero que, se eu conseguir fazer um show no Brasil esse ano, a gente consiga se encontrar pessoalmente!
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