Falar de amor é, talvez, uma das principais premissas da música. Quantas canções já não foram feitas celebrando o amor e a sensação de se estar apaixonado por alguém? Ou ainda lamentando um amor perdido ou não correspondido? Partindo do sentimento, existem diversas nuances que complementam – ou até mesmo antecedem – o amor, como, por exemplo, o flerte e a sedução. Essas foram justamente as inspirações para o single “Lençóis”, da banda QueOnda.
Diferentemente da anterior “Metaverso”, a faixa inédita lançada no final de outubro explora a chama que se acende entre duas pessoas durante a conquista, inclusive pela presença marcante do saxofone e das flautas. Com inspirações que vão do jazz a Djavan, a banda formada por Renato Galv Santos (bateria), Lucas Rodrigues (baixo), Felipe Viegas (teclado e guitarra), Pedro Alex (voz e guitarra) e Sarará Santos (saxofone e flauta) traz ao público mais uma amostra do que seu álbum de estreia reserva para 2025.
A Nação da Música conversou com todos os integrantes do QueOnda sobre o processo de composição e produção musical de “Lençóis”, spoilers sobre o álbum de estreia da banda e como tem sido a experiência de abrir os shows da turnê de despedida do Natiruts.
Entrevista por Natália Barão
————————————– Leia a entrevista na íntegra:
Oi, pessoal! Tudo bem com vocês? Estão por São Paulo?
Renato Galv Santos: Natália, tudo certinho por aqui!
Pedro Alex: Tudo bem, Natália! Já até começando por isso, o QueOnda consiste nessa interseção de várias influências e de várias localidades. Atualmente, eu e o Lucas estamos morando aqui em Brasília; o Renato tá fixado em São Paulo; e o Roze e o Felipe ficam mais nesse bate e volta entre Brasília e as cidades que eles mais vão, que no caso são São Paulo e Goiânia, respectivamente.
Ah sim, entendi. Eu vi que hoje vocês estão de lançamento novo com o single “Lençóis”, né? Eu já escutei e, antes de tudo, queria saber como veio a composição dessa faixa.
Pedro Alex: Essa música especificamente, assim como algumas outras músicas do disco que estamos preparando, teve um processo diferente do que normalmente a gente faz no QueOnda, que é de sentar todo mundo junto e construir a música desde o princípio. Eu já tinha a letra toda pronta dessa música e mais ou menos uma ideia de refrão e tal, só que eu imaginava outra coisa pro som. Só que a partir do momento que eu entrei pro QueOnda e a gente começou a realmente produzir as coisas juntos, a linguagem de todos os meninos fez o som ser o que é hoje.
Acho que a gente teve muita cumplicidade e escuta um do outro pra poder assimilar as ideias e construir o arranjo dessa música juntos, por mais que eu tivesse já uma ideia por ter concebido a letra antes. Acho que foi muito importante a gente estar todo mundo junto, participando de todos os processos, na composição do arranjo e tal, para a gente chegar nesse resultado. Mas falando um pouquinho da composição, ela fala sobre encontro, sobre o flerte. Tipo assim, você tá começando a viver uma coisa que começa a bater muito forte no coração, e a música fala muito sobre essas primeiras impressões, do flerte, do olhar, do toque, das palavras, do sussurrar. Então, acho que essa é uma música que fala sobre encontros, quando você está diante de um momento oportuno com a outra pessoa.
Eu achei a faixa muito interessante justamente por toda essa temática do flerte, e gostei principalmente do saxofone e das flautas, que trazem muito essa parte sensorial do flerte numa grande explosão musical que mistura diferentes ritmos, que acho que é bem característico do som de vocês, indo soul e R&B até um pouco de MPB. Eu queria saber como foi essa junção de referências musicais.
Renato Galv Santos: Eu sinto que a gente caminhou por um lugar de muitas coisas em comum de nós cinco que passeiam nesses estilos todos. Algumas coisas a gente conversou, outras fluíram naturalmente, como o tipo de batida, porque envolve também a intenção da música. Principalmente o Felipe vai poder falar melhor sobre a parte harmônica, todo o lance de linhas foi saindo muito naturalmente, baseado numa intenção comum dos cinco. Acho que a gente pegou esse recorte de soul, R&B, MPB, um pouco de jazz e misturou nessa atmosfera do que a gente tava pretendendo ali com a intenção musical e que o Pedrão já tinha trazido na letra, narrando essas sensações que a gente tava provocando ali nessa fase de composição.
Felipe Viegas: Sim, e legal demais. Acho que o sax entra muito na coisa das referências ali também, que a gente tentou remeter a uma coisa da Sade depois que a gente gravou, por exemplo, e outras referências que levam pra esse lugar que a música chama com a sensualidade, as harmonias ali soando junto com o groove, como um lance envolvente.
Pedro Alex: Esse lance das harmonias e do sax que o Felipão trouxe é muito interessante porque o sax, em muitos momentos da história da música, foi usado como um elemento de sensualidade em diversas love songs. E por essa ser uma love song, a gente quis trazer também o protagonismo do sax na música. Então, em alguns momentos, o sax tem naipes que se você parar pra perceber, vão costurando a minha voz durante toda a música com uma linha, realmente trazendo esse sentimento até de nostalgia de outros clássicos que também têm o sax. Acho que o Felipe, como o tecladista e gênio das harmonias, assim como o Lucas, sabem muito bem como colocar as harmonias de acordo com o ambiente que a música pede. Em algum momento essa música tinha só dois acordes, aí o Felipe e o Lucas quiseram explorar outras coisas e, no segundo verso, a harmonia já tinha um campo harmônico diferente, com as mesmas acordes, e essas são coisas que a gente vai experimentando muito na hora de gravar.
Vocês comentaram da batida e, pra mim, em comparação com o outro single de vocês, “Metaverso”, essa é uma das coisas que mais me fez pensar um pouquinho no estilo que muitas vezes é usado no trap e que eu acho que contribui bastante pra intenção dessa música de trazer a ideia do flerte, da sedução, sensualidade. O trap é um gênero que vocês teriam curiosidade de experimentar explorar algum dia?
Renato Galv Santos: Acredito que sim e, intrinsecamente, já têm alguns elementos que passeiam por aí. Acho que tem a ver, conversa sim.
Lucas Rodrigues: É, total. Pra mim, essa música em específico, tenho referências de Dexter, 509E, e esse lance da batida groove de baixo e que, facilmente chegaria no trap, está meio que nesse lugar.
Pedro Alex: Dentro do QueOnda, nós cinco temos o costume de escutar trap no dia a dia, e acho que cada um abrange essa escuta num lugar específico. Naturalmente acho que até pelo espírito do tempo, a própria letra já é mais falada, meio rap também, e esse assunto de flerte também é uma coisa que o trap traz em partes. Outra coisa que acho que também remete muito ao trap é o fato do baixo ser bem grave e ter batidas marcantes e que vêm com muita pressão da bateria. Acho que é nesse lugar que o QueOnda se conecta com o trap; não sei se a gente faria um trap nos moldes convencionais, acho que, se rolar isso um dia, seria um “trap QueOnda”, digamos assim.
É justo! E mudando um pouco de vertente, eu vi que o som de vocês tem muita influência do Djavan e, ouvindo os dois singles, eu consegui pescar um pouco dessa referência. Mas, como a proposta de “Lençóis” é justamente falar sobre o flerte, queria saber, pra vocês, qual música do Djavan mais remete a essa sensação?
Pedro Alex: Eu acho que em relação à letra, têm muitas músicas do Djavan que falam não sei se sobre flerte de forma tão direta, mas ele é um compositor que fala muito sobre detalhes. Tem até uma música dele que é aquela “sedução, frenesi, sinto você aqui”, que acho que tem esse lance. Tem outra música dele que chama “Seduzir” e que também fala sobre esse contexto; “Florir” também é uma música que lembra “Lençóis” liricamente no sentido de se atentar a esses detalhes; “Esfinge” também… acho que todas essas músicas trazem um pouco dessa ambientação. Todos nós somos muito fãs dele.
Felipe Viegas: “Cigana”, “Bicho solto” também.
Renato Galv Santos: “Tenha calma”.
Sarará Santos: “Me leve”.
Chique! Tanto “Lençóis” quanto “Metaverso” vão fazer parte do álbum de estreia do QueOnda, que vai sair no ano que vem. Eu queria saber o que vocês podem me contar sobre esse projeto: talvez um pouco da história, do som, o nome…
Pedro Alex: Maestria Lucão, Felipão, podem soltar aí se quiserem!
Sarará Santos: Acho que o QueOnda tem muitas sensações no nome: pode ser usado como uma expressão de falar “nossa, que onda!” ou “que onda boa!”; mas também uma onda baixa de energia; e ainda uma onda de descobrir um novo som, ou explorar uma onda que já existe, mas desenvolvendo os detalhes. E essa última onda em específico, acho que só existe quando tem um coletivo que vibra numa onda parecida. Isso pra mim é a onda: uma vibração que passa pela água, que faz onda e caminha pelos lugares. O QueOnda nasceu meio que aos poucos, começando com o Lucas e o Renato, que vão poder falar melhor sobre esse início.
Renato Galv Santos: Eu sinto que tinha uma pulsação entre todos nós aqui, e que teve essa origem comigo e com o Lucas experimentando coisas. Todas essas linguagens que abrangem o QueOnda já estavam presentes no início, e acho que o encontro de todos nós fez brotar essa identidade que vai além das várias fontes que a gente bebe musicalmente, artisticamente e socialmente. Todo tipo de influência que a gente tem e que achamos ter uma fluidez e potência muito grandes, trazemos aqui pro QueOnda, e sempre conseguimos nos alinhar muito fácil musicalmente, pra chegar de uma forma bastante natural, num resultado que mantenha essa chama acesa entre nós.
Pedro Alex: Complementando isso que o Renato falou, eu digo que o QueOnda é a banda que eu sempre quis tocar junto. Já tinha uma concepção no grupo e quando eu entrei, conseguimos manter essa concepção adicionando uma linguagem que eu normalmente trago nas minhas coisas e que é mais pop em termos de produção musical; já os meninos, vêm de uma base um pouco mais sofisticada, que inclui o jazz, a MPB, a música instrumental. Mas acho que esses são dois lugares que todo mundo consome muito, sabe? Por mais que os meninos façam muito esse tipo de linguagem, eles também acessaram muito essa linguagem do pop, ouvindo e curtindo muito, enquanto eu, por outro lado, também curto muito a MPB, o jazz, a música instrumental. E acho que nesse processo de todo mundo escutar tudo, a gente consegue se ouvir muito no sentido de ter uma cumplicidade dentro da banda em que a gente tenta ao máximo se desprender do ego e chegar num caminho comum pra todo mundo.
Acho que o disco do QueOnda vai acabar trazendo todas essas facetas porque como é um disco que começou a ser produzido em 2020 com uma outra linguagem, a gente chega agora em 2024 com uma linguagem que vai trazer uma mistura muito legal de MPB, arrocha, soul, R&B, neo soul (que é a nossa principal vertente) e que vai conseguir mostrar mais facetas do QueOnd além das que a gente já mostrou na black music. Sobre o disco é isso que a gente pode dizer: que vai sair uma mistura bem legal e um mexidão muito bom!
Lucas Rodrigues: Total! Desde o início, eu e o Renato já meio que trocávamos ideia sentindo a formação desse jeito, falando sobre o sax ali e depois sobre alguém cantando mesmo, aí pintou o Pedro Alex e que foi demais porque o bicho chegou tocando várias paradas, produzindo e totalmente conectado na Onda que a gente já tava construindo há um tempo.
Pedro Alex: E acho que o mais importante de tudo, antes de qualquer coisa, é que a gente ficou muito amigo. Existe uma convergência de vibe antes de qualquer coisa, e como tem muita gente boa no meio da música, é difícil encontrar uma galera que você realmente se dê bem, que você fique afim de sair para além da música e trocar ideia sobre a vida um do outro. Não fica uma coisa reservada só pro ambiente da música, a gente realmente trouxe as amizades pra vida. O Felipe, Lucas e Renato se conhecem desde criança, então pra mim foi muito legal poder entrar nesse espaço já estabelecido da amizade deles e conseguir essa amizade deles traz esse senso de família dentro do QueOnda também.
Lucas Rodrigues: Total.
Além de todo esse processo de produção, composição e futuro lançamento do álbum do QueOnda, eu vi que vocês também têm feito os shows de abertura da turnê de despedida do Natiruts, né? Eu queria saber como surgiu esse convite e como tem sido essa experiência para vocês.
Pedro Alex: O convite da turnê do Nat na verdade surgiu muito porque o Alexandre, o vocalista, é meu pai também. A gente tava começando a gravar nossas demos, meu pai viu os ensaios e sentiu que poderia ser uma banda interessante pra abrir o show e que fosse de um segmento diferente do que o Nat faz porque talvez, na lógica das pessoas, seria tipo “pô, vai ter turnê final do Nat, então vai abrir uma banda de reggae”, mas na cabeça ele já tava com o pensamento de colocar uma banda talvez de outro estilo. E ele gostou muito do QueOnda, do que a gente tava produzindo. Os meninos também gravaram projetos solo dele, então ele já conhecia o trabalho deles de antes. Acho que foi essa convergência de várias coisas, mas principalmente a identificação dele com o que a gente estava fazendo ali dentro do estúdio.
Lucas Rodrigues: Ele sempre tava ali muito atento a tudo, então foi um lance de chegar mesmo nesse lugar.
Felipe Viegas: E fazer os shows de abertura do Natiruts foi uma coisa pra gente, né? Acho que todo mundo sentiu isso. Foi emocionante demais poder tocar a música que a gente tá produzindo para um público tão grande e tão a fim de ouvir. A gente foi muito bem recebido em todos os lugares que passamos, então foi maravilhoso nesse sentido também.
Pedro Alex: Com certeza foi uma experiência muito especial, acho que até pra gente que é de Brasília também. Duas bandas de Brasília tocando fora de Brasília, num estádio, num lugar grande, para um público que queria ouvir as músicas de Brasília, do DF e tal, acho que traz várias misturas de sentimentos pra gente nesses shows.
Renato Galv Santos: Foi bem bonita essa fusão de uma banda com uma história consagrada, um repertório lindo, e uma banda nova, recente, que tá chegando. Foi foda!
Eu tenho certeza! E bem meninos, pra encerrar, queria saber o que podemos esperar do QueOnda pra 2025 – já que 2024 já praticamente acabou – além do álbum de vocês.
Renato Galv Santos: Nossa vontade é fazer muito show!
Pedro Alex: Exatamente!
Sarará Santos: Isso, muito som!
Renato Galv Santos: Muitos shows, muitos preparativos…
Pedro Alex: Eu acho que o nosso forte é o ao vivo. Nossa escola é o play, né? De todo mundo aqui, de nós cinco. O que a gente mais gosta de fazer é show, basicamente, então, todas as oportunidades que a gente puder estar da melhor forma fazendo os shows do QueOnda, apresentando o nosso trabalho pro público, é melhor pra gente, porque acreditamos que é o nosso grande trunfo. As músicas estão muito lindas e a gente quer muito que todo mundo escute e receba da melhor forma. Mas acho que estamos mais ansiosos pra continuar os shows, principalmente.
Sarará Santos: Sim, sim.
Pedro Alex: E têm muitas novidades também: a gente vai ter feats no álbum, que não vamos falar muito sobre agora, mas são nomes que a gente vê nessa cena de R&B, de música brasileira. Vai ser bem variado, cada um com uma identidade muito forte e específica, e que combina com a energia de cada ação que eles estão participando. A gente está muito animado com essas participações, ainda mais para trazê-las ao vivo, nos momentos oportunos. E é isso, de resto, muita onda mesmo! (risos).
Sarará Santos: Muita onda!
Então vai ser uma grande, uma grande mistura de ondas esse álbum, né? (risos)
Pedro Alex: Exatamente! Vai ser um grande mar!
Com certeza! Meninos, muito obrigada pelo nosso papo! Já estou ansiosa pelo disco e desejo muito sucesso pra vocês!
Pedro Alex: Muito obrigado pelo espaço, Natália! Foi ótimo falar com você!
Renato Galv Santos: Valeu, Natália!
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