A coluna NM Apresenta desta semana tem como destaque uma banda nacional. Os cariocas do Canto Cego estão na estrada desde 2010, mas sua atual formação está tocando junta a somente três meses. O Nação da Música conversou um pouco com a vocalista Roberta Dittz, que nos contou um pouco sobre o processo criativo do grupo, que tem uma sonoridade que mescla rock com pitadas de ritmos brasileiros. Confira!
Entrevista por: Nelson Laboissiere
Nação da Música: A banda nasceu em 2010, mas como e quando vocês se conheceram?
Roberta Dittz: Na verdade, a banda passou por bastante mudanças desde 2010. A formação atual tem menos de 3 meses, com a nova baterista Ruth. Mas tudo começou bem antes na Maré (bairro do Rio de Janeiro) com a banda Veneto que tinha o Magrão, o Diogo (ex-guitarrista) e o Hugo (ex-baterista). Eles tocavam pela Maré e chegaram a tocar no Viradão Cultural em 2010, só que o vocalista saiu. E ficaram a procura de alguém que pudesse substituí-lo. Aí, por intermédio de uma amiga que trabalhava no Museu da Maré conheci eles. E de outubro de 2010 até final de 2011, reestruturamos o conceito da banda e mudamos pra “Canto Cego” fizemos alguns shows e boa parte do repertório autoral nascia ali. No final de 2011 o Diogo saiu, e conhecemos o Rodrigo (atual guitarrista) em um evento na baixada com a banda 7quedas, que ele liderava na época. Quando o Hugo saiu da bateria ficamos com o Jorge por um ano e meio, depois com o Henrique por 6 meses, e agora estamos com a Ruth. Ela é também da Maré e todo mundo da música e do rock meio que se conhecem por lá. A história é meio embaralhada, mas até hoje foi isso.
Nação da Música: O som da banda combina Rock, poesia e alguns gêneros brasileiros. De onde veio a idéia para a sonoridade peculiar e como foi o processo de criação da identidade da banda?
Roberta Dittz: Eu estava completamente envolvida com a poesia, desde que comecei a frequentar boa parte dos saraus que acontecem na cidade do Rio (Corujão da Poesia, CEP 20.000, Ponte de Versos, Labirinto Poético, Arte em Andamento). Eu cantava desde adolescente, mas nem escrevia com frequência. Só que as coisas ficaram tão envolventes que comecei a escrever também e fazer performances de poesia. Quando conheci o pessoal da banda, mostrei algumas músicas pra eles e sugeri essa ideia de poesia e rock. E ele abraçaram de uma forma tão espontânea que nem deu pra não ser isso. Poesia é meio difícil de assimilar, porque as pessoas sempre acham muito sério ou muito engessado, mas tudo fluiu sem barreiras por esse caminho, e estamos nele até hoje. Toda identidade tanto musical, e visual foi surgindo na tentativa no erro, um processo diário que continua até hoje.
Nação da Música: Quais as influências?
Roberta Dittz: O Rodrigo e o Magrão são vidrados em Foo Fighters, Queens of the Stone Age, Radiohead, Dead Sara, dessas bandas mais atuais. Fora os clássicos eternos como Led Zeppelin, Janis Joplin, Queen, Jimi Hendrix. Dos brazucas que não podem faltar Lenine, Arnaldo Antunes, Titãs, Paralamas do Sucesso. Eu sou completamente influenciada por uma espanhola chamada Concha Buika que tem uma pegada mais flamenca, e Nina Simone. Agora também temos um “quê” das trocas que estamos vivenciando com as bandas autorais aqui do Rio, como Novezeronove, Folks, Stereophant, Drenna, Algoz, Posada e o Clã, Filtra, Ventre, Medulla, El Efecto, que não chegam a ser influências mas estar compartilhando com essa galera com certeza afeta nossas composições a cada dia.
Nação da Música: Quais os maiores desafios e conquistas para vocês?
Roberta Dittz: Eita, essa pergunta rende muito! Tem o desafio pessoal, aquela história de estudar treinar pesquisar e romper com as próprias limitações, além desse eterno aprendizado o principal é como criar um público. Como fazer as pessoas quererem o teu som, procurarem a tua ideia. Formar um público no sentido mais intenso desse público. A gente não quer durar pouco tempo no coração das pessoas, então o desafio maior é esse plano mesmo de fazer espalhar o nosso som por toda vida, e também poder viver dele. E acredito que o contexto musical, principalmente no que se refere a mídia de massa, não está facilitando muito as coisas. Ou você se rende ao conteúdo sexual ou ao conteúdo conformista. E não é essa a essência do nosso Canto. Mas mesmo assim, por esse caminho tortuoso dentro do gênero Rock (o que dificulta mais as coisas) a gente vem sentindo um crescimento gradual, tanto de público, como de reconhecimento, de valorização. É um “trabalho de formiga” mesmo, mas cada ano que chega a gente sente a diferença do ano que passou, como uma crescente que uma hora vai nos dar uma gratificação maior. Basta continuar trabalhando e se dedicando.
Nação da Música: Recentemente, vocês tiveram a oportunidade de trabalhar no lendário estúdio Toca do Bandido. Como foi o caminho para essa conquista e a experiência de tocar lá?
Roberta Dittz: Já é a segunda vez que estivemos na Toca. A primeira foi em 2012, quando ganhamos o Festival da Nova Música Brasileira, ficamos um final de semana lá com a banda Pedras Pilotáveis e gravamos duas músicas. Foi uma experiência marcante, divisora de águas em diversos sentidos, e de novas perspectivas. Porque às vezes a gente desacredita, e ver toda uma galera apostando em você, confiando no seu trabalho é uma sensação que muda as convicções de uma maneira muito positiva. Essa experiência foi fundamental, e agora em janeiro gravamos um dia na Toca do Bandido pela Converse Rubber Tracks através de uma inscrição de bandas pelo site do programa, a gente colocou toda nossa energia nisso e faixa ficou incrível. Só veio a confirmar todo aprendizado que a gente vem acumulando. Agora estamos nos organizando pra gravar o clipe de “Nuvem Negra”.
Nação da Música: Teria(m) algum(ns) artista(s) que vocês gostariam de trabalhar? Por que?
Roberta Dittz: Ah sim, sempre. Dos brasileiros no meu particular, Lenine e Arnaldo Antunes, o Lenine pelo groove, gingado daquele violão percussivo, o Arnaldo Antunes pela poesia infindável. Nós tivemos uma participação com George Israel no Studio RJ ano passado que foi sensacional ele no Sax e cantando “Blues do ano 2000” que é uma parceria dele com Nilo Romero, e póstuma com Cazuza. E também somos encantados com o Lirinha, do antigo Cordel do Fogo Encantado, queríamos entrar em contato com ele algum dia pra gravar compor alguma coisa. Acho que todos os artistas que a gente admira, acaba que tem esse desejo. E com quem está ao nosso lado como o pessoal que já citamos (Novezeronove, Drenna, Folks,…) está rolando bastante parcerias, e criações em conjunto que com certeza serão lançadas por esse ano.
Nação da Música: Quais os próximos planos da Canto Cego?
Roberta Dittz: Os planos são muitos, a gente tá tentando organizar a verba que é sempre curta. Lançamos o clipe de “Vão” agora em Janeiro. E queremos no final de Março lançar “Nuvem Negra” e depois “Maestrina” pro meio do ano. Agora, estamos também pensando em gravar um EP, mas ainda não sabemos nem as músicas que estarão nele. Mas a gente quer muito ter essa primeira “obra” na mão dos amigos e admiradores em geral. A ideia esse ano, além desses lançamentos é ter um plano de divulgação mais elaborado, e cair dentro com as bandas amigas da cena pra fazer a coisa acontecer. Participamos com a galera da campanha pra volta da Rádio Cidade e num é que a rádio voltou! E a Kiss FM também voltou, além da Maldita na frequência AM. Estamos na fé que esse ano é do Rock!
Nação da Música: Deixe uma mensagem para os fãs e possíveis futuros admiradores da banda!
Roberta Dittz: Quem puder acompanhar as bandas independentes que estão surgindo não vai se arrepender! Porque a energia que a galera tá colocando nas músicas e no palco é transformadora. A gente acredita que renovando o cenário musical também vamos renovar a vida de cada um que participa dele. A Canto Cego está aí de afetos fartos pra todo mundo que acompanha a gente, e não deixem de ir em algum show, porque é a nossa melhor maneira de dizer cada palavra e cada intenção que mora em nossas músicas.