Misturando folk com pop, Jonavo une referências de cidade grande e interior em novo álbum “Casulo”, disponível em todas as plataformas digitais a partir desta sexta-feira (16).
Natural de Campo Grande, o cantor e compositor sul-mato-grossense vem ganhando presença na cena cultural paulistana e é um dos contribuidores da fomentação do folk no Brasil. Com simpatia e bom humor, Jonavo conversou com a redação da Nação da Música e falou sobre inspirações, sua trajetória musical e experiências no exterior.
Entrevista feita por Gabriela Cavalheiro.
————————————————————————————————————— Leia na íntegra
Oi, Jonavo! Tudo bom? Vamos começar a entrevista pelo básico. Como é ser um artista Folk no Brasil? Como é a recepção do público brasileiro?
Jonavo: Quando eu vim de Campo Grande, há seis anos, eu tinha meu primeiro disco embaixo do braço e não consegui lugar pra tocar aqui em São Paulo porque ou você era um artista muito do mainstream ou você era um artista do underground e eu tava no meio do rolê. Eu fazia uma música que seria facilmente absorvida pelos dois mundos, tanto no mundo mais conceitual quanto no mundo um pouco mais popular. E aí eu comecei a encontrar, a me reencontrar e ressignificar meu trabalho que sempre foi a partir de violão, bandolim, as coisas que eu trago lá no Mato Grosso do Sul, uma coisa meio urbana, meio rural.
Na época tava rolando uma tendência de folk no mundo. Naquele momento, o Mumfords & Sons tava lançando aquele disco “The Road to Red Rocks” que é um puta sucesso, o John Mayer tava lançando aquele disco “Born and Raised”, o Lumineers tinha acabado de estourar. Esse disco do John Mayer foi muito importante pra mim porque conversou bastante comigo, aquele momento em que eu tava ali saindo de casa, só com meu violão, tinha deixado a minha banda pra trás… Várias coisas estavam me mostrando que meu caminho era aquele mesmo. E quando eu cheguei aqui tinha muita gente fazendo folk em inglês e eu tentei trocar ideia com o pessoal e tentei achar uma galera que era folk, mas não se denominava folk e cantava em português porque é a nossa língua, né? E aí eu comecei a ir atrás dessas pessoas, comecei a fazer várias coisas e acabei fazendo o primeiro festival de folk brasileiro que é o Folk + Brasil. Então eu comecei a fazer um trabalho que é meio um serviço. Tem acontecido muita coisa bacana, muita gente tá rolando no folk, muita gente tá acontecendo e acho que é uma tendência, né?
Seu primeiro álbum, “Jonavo & Barulho Zen”, foi lançado em 2011. O que que mudou no seu som desde então? O que podemos esperar de “Casulo”?
Jonavo: O primeiro disco, eu acredito que seja um disco em que você tá aprendendo muita coisa. Foi um disco que eu fiz com músicas que eu escrevi desde os 15 anos de idade, então dos 15 aos 20, eu escrevi muita coisa e acabei desaguando nesse primeiro disco. Tem coisas muito boas que eu canto e toco até hoje, mas também tem coisas que já não me representam mais. Então eu acredito que o que mais mudou foi o amadurecimento. Até clichê falar essa coisa do amadurecimento (risos). Acho que a apuração da linguagem também. Essa coisa tanto do conceito sonoro, das buscas por uma unidade… Acho que o primeiro disco não tem tanto uma unidade quanto tem esse.
Eu tive uma viagem que eu fiz pra Nashville e consegui estudar muito a coisa da country music lá e consegui ver muita coisa e voltei inspirado por isso. Então, “Casulo” tem influências de Nashville, tem influências de Campo Grande, do Mato Grosso do Sul… Esse disco tem até um hip hop, mas ele é voltado pro country, pro folk.
Aproveitando que você falou sobre a viagem para os Estados Unidos, vi que você gravou o clipe de “Beijo, Beijo” por lá e aproveitou também para se apresentar na rua. Como foi essa experiência?
Jonavo: Embora eu não escreva música em inglês e acho que é importante que a gente cante a nossa língua, eu gosto muito e sou, obviamente como todo mundo, influenciado muito pela música americana e pelo country e blues de lá. Essa viagem que eu fiz foi meio que de experiência sonora. Eu fiz um show em Boston, aí fui pra Nova York, toquei no Central Park, toquei no metrô. Eu queria entender como que as pessoas daquele lugar absorveriam a minha música, cantada na minha língua, sabe?
Quando eu fiz o show lá em Boston, eu consegui entender que as pessoas pararam pra prestar atenção quando eu toquei guarânia, por exemplo, que é um ritmo extremamente brasileiro e cantado em português. O pessoal não conhecia aquilo, nunca tinha visto, então eu consegui levar isso e consegui, com a nossa música, fazer algo diferente lá. Não fiquei tocando música dos caras lá porque eles já tão cansados disso [risos].
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Além disso, o que mais te inspirou na hora de compor as músicas de “Casulo”?
Jonavo: O casulo é uma referência a um apartamento que eu morava quando cheguei em São Paulo. Quando cheguei, eu ficava muito enclausurado nesse apartamento porque não conseguia lugar pra tocar, era aquela coisa meio “vai procurar a sua turma”. E eu fiquei muito sozinho nesse lugar, nesse apartamento, e acabei apelidando ele de casulo, o que fez com que o disco se chamasse “Casulo”, com todas essas músicas que escrevi na cozinha daquele apartamento, buscando a minha nova sonoridade. Ele tem referências à minha chegada, com “180 Fios”, que é uma música que fala de quando eu tava morando no bairro da Liberdade meio que tropeçando nos mendigos e aquela coisa toda de você chegar e se chocar com isso. Hoje eu não me choco mais porque São Paulo é foda [risos].
O disco também tem músicas como “Bom Dia”, que foi feita numa viagem que fiz pra Campo Grande, fiz numa fazenda, acordando e encontrando as coisas no mato… Aí ele já tem uma faixa mais urbana, que é a própria “Casulo”, uma música que tem uma pegada de rock’n’roll. Eu concentrei as coisas que eu fiz e que escrevi naquele apartamento da Liberdade no “Casulo”. Inclusive, todo encarte do disco foi feito no apartamento, pra simbolizar esse momento.
Legal! E você ainda mora no casulo?
Jonavo: Não, na verdade eu agora moro em outro casulo. Eu mudei de apartamento [risos]. Eu decorei um apartamento que é o que tá no disco pra simbolizar esse casulo e a minha produtora fica lá. É onde eu também trabalho com outros artistas, faço um trabalho de eventos de folk. Acabou que eu reproduzi o casulo.
O álbum teve várias participações especiais! Vamos começar falando sobre “Musicando o Vento”, que contou com o Renato Teixeira. Como foi a experiência de gravar com alguém de tanto renome?
Jonavo: O Renato, a gente foi se aproximando de mansinho… Acredito que essas participações e parcerias têm que acontecer genuinamente, não dá simplesmente pra chegar num cara desses e falar “ah participa aí”. Quando eu comecei a fazer os eventos de folk em São Paulo, o Renato foi assistir o primeiro show do Folk + Brasil e aí a gente conversou. Depois, a gente se encontrou num aeroporto, relembrou aquela noite e ele me chamou pra ir na casa dele e a partir daí a gente começou a se frequentar. A gente foi se conhecendo melhor, eu participei de um sarau na casa dele onde tava o Geraldo Roca, que é um grande compositor da minha terra, e eu fiz essa música “Musicando o Vento” citando ele. Aí eu cantei essa música pros dois e eles adoraram, falaram muita coisa boa. Depois, eu liguei pro Renato e falei “Renato, você cantaria esse música comigo?” e ele falou “quando?”. Foi muito bacana porque foi uma primeira estrela que brilhou assim pra mim ali, naquele disco. E aí depois ele acabou participando de shows meus e a gente manteve uma amizade.
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“Livre”, cover do Fernando & Sorocaba, foi feita junto com o rapper Lauro Pirata. Como foi unir o folk com hip-hop?
Jonavo: Olha, eu acho que não adianta querer fazer o folk que nem os caras faziam nos anos 60, tentar imitar o Bob Dylan, sabe? Acho que tem influências disso, mais até de outros artistas do que do próprio Bob Dylan, mas eu acho que a gente precisa falar com a galera da nossa idade, com a galera que tá chegando comigo. Não adianta eu querer falar com a galera que tava ouvindo o Bob Dylan naquela época. Tempos mudaram, as sonoridades mudaram, as influências mudaram, o papo mudou. Não vou falar sobre os mesmos assuntos. Então eu acredito que eu preciso inventar uma maneira de fazer o meu folk, o meu som. E o Pirata, ele começou a aparecer no Sunday Folk, que é um evento que eu produzo aos domingos, dando canja fazendo rap nesses saraus. Quando fui gravar “Livre”, eu já tava colocando a batida de hip hop e falei que “putz, eu preciso de um rapper” e aí eu convidei e foi muito bacana.
Temos mais duas participações [no disco]. Uma delas é da minha irmã em “Slackline in Love” que é uma faixa que eu escrevi também nesse apartamento, no casulo, e ela presenciou aquele momento em que eu tava escrevendo e começou a cantar comigo. Acho que eu também nem sei muito bem cantar essa música sem ela, sabe? Então foi meio que inevitável porque logo que eu fiz a música, ela já ia cantando junto e tal, aí ela participou do disco naturalmente. A música tá dando muito bem na internet, no YouTube, as pessoas tão gostando muito dela.
Que ótimo! A música sempre foi algo presente na tua família?
Jonavo: Na verdade, meus pais são artistas plásticos. Os dois. Meu pai é designer de interiores, minha mãe é artista plástica e trabalha num museu de arte grande. E eu sempre vi meus pais sujos de glitter, tinta, sabe… Então a arte sempre esteve presente. A música foi uma coisa que eu busquei, que eu queria. Meus pais não eram envolvidos diretamente com a música, mais com as artes plásticas mesmo. E de certa forma, todo mundo em casa é artista. A Maria Eugênia, essa minha irmã, ela é atriz, já participou da “Grande Família” e agora tá numa série da Rede Globo que ainda não estreou, é atriz de teatro, veio comigo pra cá. Então a família é sempre assim cheia de arte. Ah, meu bisavó tocava bandolim, então acho que eu herdei esse rastro musical do meu avô [risos].
Além disso, você já se apresentou com Zeca Baleiro, Zé Geraldo, Corcel… Qual é a colaboração dos sonhos?
Jonavo: Poxa! Nossa, tem tanta gente! Eu gosto dessa coisa dos encontros e acho legal que eles pintem naturalmente. O Zeca Baleiro foi supernatural a forma como ele se aproximou, Zé Geraldo… O Renato também.
Eu gostaria de cantar uma música com o Nando Reis. Muito! Acho que ele é uma puta de uma referência pra mim. Paolo Nutini, eu gostaria de fazer uma música com ele ou com o John Mayer.. Sei lá. Acho que são caras que eu me inspiro muito na hora de fazer o meu trabalho.
Falando em Corcel. Você dirigiu o clipe de “Fé na Estrada”, né? O clipe ficou lindo! Como foi dirigir esse projeto?
Jonavo: Obrigado! Eu sou produtor musical do disco da Corcel junto com o Pit de Souza e a gente tá há dois anos trabalhando com elas. Essa música “Fé na Estrada” é uma parceria minha com elas e aí foi meio que natural. A gente produziu o disco, o EP delas, que saiu agora no final do ano, tá nas plataformas digitais. E elas também são produto que a gente faz lá no Casulo, que é a nossa produtora. Essa música “Fé na Estrada” é algo que a gente acreditou muito que seria… não um ‘grito feminista’, mas um grito das mulheres que querem viajar, querem seguir os seus sonhos e tal. Acho que não tinha uma música assim ainda que representasse essa vertente das mulheres, a mulher na estrada com o seu violão, fazendo um som na madrugada. A gente sempre ouviu muito dos caras fazendo isso, mas as mulheres também fazem, né? E lindamente. Eu posso presenciar isso todos os dias porque eu sou cercado de mulheres que cantam, tocam e fazem acontecer nesse sentido.
Então, a música é uma inspiração que conta essa história e quando eu tive a incumbência de dirigir o clipe e roteirizar, eu pensei nessa coisa das gerações. Você pode ver ali no carro, que tem a menininha meio que representando o sonho que as meninas tinham de fazer aquilo e vem a Lucinha [Turnbull] libertar aquele sonho. Na verdade, foi uma coisa meio poética, né? Pra mim representou meio que a Lucinha Turnbull libertando a menininha daquele sonho e ela representando o futuro de tudo aquilo. Eu gostei muito, foi muito intenso, eu dei muito sangue e amor pelo projeto.
Com o “Casulo” na rua, disco lançado, qual são os planos para 2018?
Jonavo: Já fiz algumas coisas muito legais esse ano, tanto shows aqui em São Paulo quanto show em Minas Gerais, Mato Grosso do Sul… Agora tô querendo também expandir, pegar meu violão e ir pra outros lugares que eu nunca fui como o Rio Grande do Sul, tô aguardando convites e parcerias. E correr, sabe? Aquela coisa que eu fiz no Estados Unidos, fazer em outros lugares do mundo. Eu quero ter mais contato com a música do mundo, quero levar essa música que eu faço pra outros lugares de uma forma talvez, agora nesse início [de carreira], menos glamorosa, mas mais mochileira, sabe? Pegar meu violão, colocar nas costas e ir. Pegar um ônibus e parecer aí, aparecer em Minas, aparecer no nordeste e enfim, é isso daí que vai acontecer. É o que eu não preciso da indústria pra fazer, eu só vou fazendo e isso é o mais legal.
Gostaria de mandar um recado para os leitores do Nação da Música?
Jonavo: Provavelmente eu vá ter esse contato eles pela primeira vez, então eu fico feliz que o trabalho esteja chegando em mais pessoas e agradeço a oportunidade! Se vocês me derem a oportunidade de ouvir o meu disco completo, a partir de sexta-feira (16) ele estará disponível, e ele passeia por muitos sentidos e aí eu gostaria que esses sentimentos fossem compartilhados com vocês.
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