Em 35 anos de Ira!, Nasi e Edgard Scandurra passaram por muitas fases, altos e baixos e rompimentos, e desde 2013, ele se reuniram para alguns shows e voltaram a ativa e em 2016 anunciaram o projeto “Ira! Folk”, onde trabalham o repertório da banda com apenas voz e violão.
Após quase um ano na estrada com o novo projeto acústico, que conta também com a presença de Daniel Scandurra, filho de Edgard e violonista no show eles se preparam para o registro desse momento emblemático na gravação do show a ser realizado em março em São Paulo (confira aqui mais detalhes).
Nós da Nação da Música conversamos com o Nasi, que falou sobre a história da banda, as antigas e novas mídias, o registro do projeto Ira! Folk e os planos para o futuro.
Entrevista foi feita por Nelson Laboissiere.
————————————————————————————————————— Leia a íntegra
– São 35 anos desde a fundação do Ira!. Na sua opinião, qual o peso da banda para o rock e para a música brasileira?
Nasi: Acho que Ira! é uma banda importante para uma geração que colocou o rock no DNA da música brasileira. Ira! é uma banda que não só lançou alguns sucessos que são cantados por várias gerações, lançou discos conceituais, tem uma personalidade muito própria, bem diferente de algumas bandas, algo muito pessoal. A banda não deixou herdeiros, pelo menos no estilo, com o dueto de voz. Não vejo outra banda brasileira com isso que temos eu e o Edgard, o jeito de tocar guitarra dele, as músicas que começam com riffs de guitarra, dentre outras características que fazem da banda uma banda de única personalidade e uma das poucas em atividade até hoje.
– Nasi, qual a sua opinião sobre as plataformas de streaming? Você acha que elas auxiliam o Ira! a chegar a um novo público?
Nasi: Apesar de pessoalmente ser old school, ter coleção de vinil, CDs, ocasionalmente busco algumas coisas no YouTube ou no Google. Eu não sou consumidor dessas plataformas, por uma questão de habito e de geração. Mas acho elas de extrema importância. Não só o Ira! mas o meu trabalho solo está todo disponibilizado em plataformas digitais. Acredito que só o Acústico MTV por algum motivo não está. Acho isso importante. Não é questão de gostar ou não. São os novos tempos. O vinil está voltando a ativa, claro que não como fenômeno de massa, mas como um produto a ser cultuado. Vejo sempre com bons olhos e os próximos trabalhos do Ira! já visam este mercado digital. Acho que os artistas vão ter sempre que reaprender como divulgar seus trabalhos para chegar ao consumidor, vamos dizer assim.
– Nasi, vocês fizeram um projeto acústico com a MTV em 2004. O que fez vocês quererem fazer algo acústico novamente?
Nasi: Olha, mesmo sendo acústico, é um trabalho totalmente diferente. Pra falar a verdade, o Edgard usa em alguns momentos do show um pedal que faz o violão dele ter som de órgão, ter distorção. O acústico do Ira! foi um dos acústicos mais enxutos, tínhamos bateria, baixo, piano, dois violões, backing vocal, percussão, violoncelo. Nesse formato novo são dois instrumentos, um baixolão e um violão, assim as músicas voltam a um formato no qual elas foram criadas: Um violão na mão e uma música na cabeça. Aí depois isso era transportado para uma música de rock. Então tem um formato diferente. Algo que a Rita Lee fez há alguns anos atrás (“Rita Lee em Bossa ‘n’ Roll” de 1991). Acho que é por ai, apesar se usar o acústico diferente do “Acústico MTV”.
– Clássicos da banda como “Flores em Você”, “Flerte Fatal” e “Núcleo Base” e lados B como “Boneca de Cera” e “Culto de Amor” fazem parte dos setlists do “Ira! Folk”. Como foi a escolha do repertório para essa turnê?
Nasi: A espinha dorsal é obviamente a seleção de músicas que mais marcaram em nível de sucesso e popularidade a nossa carreira. De “Núcleo Base” até “Eu Quero Sempre Mais”. E também musicas que nesse formato são mais valorizáveis, baladas e até músicas que estavam saindo de nosso show de rock, tipo “Mudança de Comportamento”, “Tolices”, “Mariana foi pro Mar”, “Boneca de Cera” e algumas que a gente teve a oportunidade de resgatar. Faixas que não tocávamos há 25 anos como “Mesmo Distante”, uma canção bem lírica do “Psicoacústica”, uma faixa que “quebra” o disco que é um trabalho mais pesado e tem essa balada psicodélica que acho que foi executada só na época da turnê. Então esse formato deu oportunidade de resgatar uma música como essa.
– Para você, qual(is) a(s) músicas que ficaram com uma melhor roupagem no formato Ira! Folk?
Nasi: Uma em especial, que acho que tem uma história bacana: “Mariana foi pro Mar”. Uma música country folk que foi lançada no “Invisível DJ”, que foi o último lançado pelo Ira!, na verdade o Ira! rachou no meio da turnê desse álbum e essa música viria a ser o segundo single. Nós lançamos o primeiro single que é o “Vou tentar” que teve videoclipe, dirigido pelo Selton (Mello) e iríamos lançar como segundo single e tínhamos uma expectativa muito grande em torno dessa música, sem pretensões, mas era uma espécie de “Faroeste Caboclo” do Ira!, vamos dizer assim, em num estilo que eu gosto muito. Eu sou um grande fã do Johnny Cash então um dia que ele baixou no Ira! foi quando fizemos “Mariana foi pro Mar”. Então essa música foi abortada. Acho que pelo formato dela ser a cara do Ira! Folk, já que a gente a toca do jeito que ela foi gravada. Ela ganha uma vida nesse show e o público, os fãs do Ira! passaram a cultuar muito. A gente sente a emoção deles quando anunciamos essa música no show, pois parece que damos uma vida a algo que foi abortado. Ela é emblemática e é um dos momentos que eu mais gosto.
– Qual o saldo da turnê Ira! Folk para você, para a banda e para o futuro?
Nasi: O bom é que é uma experiência nova pra gente. Nós já fizemos de tudo, o Edgard trabalhou com música eletrônica, eu já trabalhei com rap e com blues, já fizemos acústico, já fizemos discos com várias influências, conseguir encontrar uma coisa diferente do que a gente já fez na vida como é isso é importante para a saúde, emocional e mental da gente, que já tem uma estrada e já tocou em todo o tipo de show e de público. Em relação ao futuro, eu costumo brincar que nós somos profissionais do barulho, é por isso que nós nascemos, que nós temos perdas auditivas, é isso que é a nossa verve.
– Dia 11 de março será a gravação do projeto em São Paulo e vocês receberão Yamandu Costa e Fernanda Takai como convidados. Você pode adiantar como será a participação deles no show?
Nasi: Não posso, porque sinceramente eu vou sentar com o Edgard e conversar sobre isso, até sobre as músicas. Voltamos recentemente de férias e só fizemos vídeoconferências. Na verdade, sobre a gravação eu não sei ainda se vai ser um DVD físico, acho que ainda não tem um nome pra coisa. Pode ser que seja um show disponibilizado em plataformas, um especial para um TV fechada, pro YouTube, pra Netflix. É uma produção independente. Não posso garantir pro público do Ira! que vai virar um DVD, só temos certeza de que ele será lançado.
– Vocês estão planejando alguma música inédita do projeto folk ou algo especial para a gravação?
Nasi: Sinceramente, a base desse show que vamos gravar é praticamente 99% do que a gente fez com bastante sucesso durante esse último ano. Mas como eu ainda vou sentar com o Edgard, pode ser que a gente resolva incluir uma música ou outra, não sei. Mas acho que não, mas se tiver uma surpresa vai ser uma ou outra. O que a gente quer registrar é algo que a gente consolidou neste quase um ano de apresentações.
– Novos planos para as carreiras solo sua em 2017 ou o foco será a banda?
Nasi: Em relação ao Ira! temos duas metas: uma é esse registro do Ira! Folk e estamos planejando algum material com banda, talvez não seja um disco, mas um compacto single ou duplo, duas ou quatro músicas novas, com banda. Nossa vontade é que ele saia em plataforma digital e em vinil. Eu tô iniciando um projeto com o guitarrista Zé Vito, que toca com o Marcel e com o Jards Macalé, a gente tá iniciando o projeto de fazer um disco de afrobeat, nós somos fãs do Fela Kuti. Nos encontramos no verão e já estamos esboçando um projeto e já começamos a compor. Eu também tenho um projeto pessoal que é um documentário sobre a cultura de Orixá e urbana. Na última vez que fui pra Nigéria há dois anos eu levei uma equipe de cinegrafistas e trouxemos um material muito rico. Vou esse ano para a Nigéria novamente, por questões religiosas e para captar mais material. Tem o diretor João Wagner junto na parada. Tudo indica que entre o final desse ano e início do próximo isso vai virar um documentário.
– Deixe uma mensagem para os fãs do Ira! e seguidores da Nação da Música.
Nasi: O que eu falo pros fãs, não só de São Paulo onde vai ser gravado no dia 11 de março, como de outros estados que estão se mobilizando pra vir, eu convido a todos a ir nas comemorações de 35 anos de vida do Ira! e participarem desse momento histórico. Estamos escrevendo um novo capítulo, pois será uma gravação ao vivo e o público será tão importante quanto os músicos que estarão no palco.
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