A Orquestra Petrobrás Sinfônica, a OPES, vai apresentar o álbum “Dark Side of The Moon”, do Pink Floyd, em São Paulo no final de novembro. Ela chega à capital paulista depois de três performances no Rio de Janeiro.
Este é mais um espetáculo da série “Álbuns” que já homenageou o “Thriller”, do Michael Jackson, e o “Ventura”, dos Los Hermanos.
Para falar sobre esta releitura do disco do Pink Floyd, conversamos com Mateus Simões, Diretor Executivo da OPES, que além de trabalhar neste concerto, atuou também nos outros dois desta série.
Ele fala sobre todo o processo com a orquestra, o que leva à escolha dos respectivos discos e sobre a música clássica no Brasil. Confira abaixo:
Entrevista feita por Henry Zatz
———————————————————————————– Leia a íntegra:
Bom, vamos começar falando do “Dark Side of The Moon”. O que os espectadores podem esperar desta performance?
Mateus: Eu acho que o principal é chegar no concerto sabendo que a gente criou uma versão sinfônica do “Dark Side of The Moon”. A gente transformou nove músicas em nove movimentos de uma sinfonia, que elas conversam entre si e é um mundo paralelo. Eu diria que é como se uma orquestra tivesse composto o álbum.
A gente teve que interpretar as coisas, aplicar a melodia pela orquestra, é uma viagem paralela. Obviamente, a gente não está desvinculando, a gente ama Pink Floyd, a gente está apaixonado pela obra, mas a gente tentou criar uma releitura, como se uma orquestra tivesse composto aquele disco, isso que é o mais legal.
Esse é mais um dessa série de álbuns. Como os fãs enxergam essa releitura? Tem muita gente que não goste que encoste na obra do seu artista?
Mateus: Acontece, é um risco que a gente corre. Mas pelo menos, por enquanto, até hoje todos os feedbacks que a gente recebeu foram positivos. Já aconteceu de falarem “essa é minha música favorita, em vez disso poderia ser tal coisa”, mas ainda não ouvimos um “eu não gostei”, isso ainda não aconteceu. Porque para esse projeto nascer são mais ou menos 18 meses de trabalho, contando a duração de estudo, elaboração de repertório, a casa que vai ser, formação, instrumentos que a gente vai colocar.
Quando a gente chega no palco, a gente está muito seguro, a gente ouve os fãs pro “Dark Side”, pros Los Hermanos, pro “Thriller”, a gente buscou o fã. Eu, pelo menos, sempre leio uma biografia, um livro sobre o disco, para poder desenvolver o trabalho. A gente sempre fala isso, os projetos são sempre muito conceituados. Não é pegar as músicas, transformar em orquestra e toca. Por isso que a gente tem tido sucesso com os fãs, a gente tem esse carinho com as obras.
E aproveitando que você mencionou “Thriler” e “Ventura”. O que você tira de lição destes espetáculos e como leva isso para esta próxima apresentação?
Mateus: A primeira é sempre que tiver um lugar maior é melhor ir, porque sempre esgota, está esgotando tudo muito rápido. Brincadeiras à parte, artisticamente vai mais ou menos pelo que eu falei antes.
A gente sempre teve um carinho muito grande, mas tem que ter esse carinho sempre que for fazer qualquer tipo de modificação. Muita gente se conecta com músicas, mas quem é fã de músicas se conecta com álbuns. Você está pegando grandes fãs de grandes álbuns, álbuns que as pessoas têm tatuagens, álbuns que as pessoas se casaram ao som daquelas músicas. E você está interpretando elas sem ninguém do grupo ou sem nenhum intérprete com você. A gente potencializou nosso cuidado com carinho e trabalho de pesquisa de cada projeto.
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Por que a escolha pelo “Dark Side of The Moon” e pelo próprio Pink Floyd?
Mateus: A gente tem uma lógica, na verdade. A gente começou com um grande álbum contemporâneo brasileiro, porque a gente acha muito bacana sempre tocar música brasileira, valorizar e ele já tinha sido considerado, por alguns sites, como um dos discos mais importantes dos últimos 20 anos do Brasil.
E a gente achou bacana, naquele momento, estrear com ele. Tudo estava convergindo para isso, nosso gerente de marketing trabalhava com o Marcelo Camelo, trabalhou com a Banda do Mar, a gente quando conversava com as pessoas o nome do Los Hermanos surgia, então foi isso. Naquele momento não existia a série “álbuns”, era um projeto.
Devido ao sucesso, a gente criou a série “álbuns”. E qual o álbum mais vendido da história? O “Thriller”. Qual o maior artista pop da história? Michael Jackson. Então a gente não tinha como não fazer o Michael Jackson, era para ser o “Thriller”, era para ser o maior disco de todos os tempos.
Aí depois que a gente terminou ele, a gente falou “beleza, a gente fez um brasileiraço bem bacana, contemporâneo, 15 músicas com todo mundo cantando de cabo a rabo, fez um pop do Rei do Pop, a gente precisa de um disco de rock agora, disco de rock emblemático”.
Como a gente pesquisou, o “Dark Side of The Moon” está fazendo 45 anos. A gente ouve muitos discos até chegar na decisão. E o “Dark Side of The Moon” conversa tanto com a orquestra, tanto! Você tem tantos efeitos de orquestra no disco que era para ser ele. É um disco muito sinfônico, o “Dark Side of The Moon” é praticamente uma sinfonia. Vem daí a escolha, a gente foi vendo as efemérides, foi estudando, a gente queria um disco de rock clássico para trabalhar dessa vez e a gente queria algo que conversasse com a orquestra.
Qual a meta da série “álbuns”? Que as pessoas assistam ao concerto ouvindo músicas que elas conhecem, que elas gostem de cantar e que elas tenham algum tipo de afinidade, mas que elas descubram que a música clássica está em todos os lugares e tudo é música e “Dark Side” faz isso muito bem.
E todas essas apresentações desta série tiveram bom público e pelo que vemos “Dark Side of The Moon” caminha para o mesmo lugar, já que os ingressos foram esgotados no Rio e estão com boa venda em SP. Como você enxerga essa alta procura?
Mateus: Para ser bem sincero, se fosse analisar de fora do grupo da Orquestra Sinfônica, vendo como um fã de música, vendo como uma pessoa que ama cultura no geral, eu acho que o principal é que todos nossos projetos são feitos com muita sinceridade, estou sendo bem honesto.
A gente tenta fazer um trabalho não para esgotar, para mídia e para dinheiro, não é isso. A gente faz trabalhos que a gente acredita, a gente busca artistas que a gente tem certeza que tem qualidade, que são artistas que são grandes compositores, que merecem essa homenagem. E além disso, com as nossas séries populares, quando a pessoa vai ao nosso concerto, ela chega tensa, mas ela sente aquele ambiente receptivo e sai feliz, sai alegre.
No final dos shows de “Dark Side”, a gente colocou DJs de rock clássico, então a pessoa sai, toma uma cerveja, dança um pouco, curte e vai para casa. Isso tudo para que a pessoa se sinta bem. Então quando a pessoa pensar em ir a um concerto de música clássica, alguém vai virar e falar “poxa, vai ter uma obra super popular tipo Bethoven”, a pessoa não vai se assustar mais, ela vai pensar que naquele ambiente ela se sente bem. Eu sinto que vem muito dessa nossa sinceridade e desse carinho que a gente tem pelo público, a gente trata com todo o carinho do mundo.
Eu sou diretor, mas toda a equipe fica sempre na porta, vendo se tem algum problema, tentando resolver tudo, eu dou meu nome, distribui nossos contatos, a gente quer estar em contato com todo mundo. Isso é um reflexo da soma dos projetos, do desenvolvimento que a gente tem, da nossa equipe que tem um carinho com o público, junto com o carinho da nossa temporada clássica para atrair esse público.
Então acaba sendo, além de tudo, uma forma de inserir novas pessoas na música clássica, algo que não é tão consumido no Brasil?
Mateus: Exatamente! Eu trabalho com música clássica há mais de dez anos, eu sou do metal, eu sou do punk rock, eu sou do hardcore, eu sou de outra galera. Hoje em dia estou na música clássica, mas sou de outro nicho.
Antes de entrar no meio da música clássica, eu tinha essa impressão. O problema não é a música em si necessariamente, o problema é o ambiente, é o medo. “Eu vou de terno? Eu vou de calça? Que horas eu bato palma? Eu posso de repente tomar uma cervejinha? Posso bater um papo? Posso não entender o que está acontecendo no palco?” São tantas perguntas que eu acabava não indo, eu não me sentia no ambiente, eu não sentia que eu poderia chegar lá e dar uma tossida por exemplo, a pessoa segura a tosse no concerto, porque acha que vai atrapalhar todo mundo. Relaxa, sabe, pode ser mais tranquilo, pode ser um ambiente mais agradável.
Então a gente trabalha esse ambiente, trabalha nossa imagem, porque a gente sabe que a música clássica, quem for ao concerto vai ser agradável, vai gostar, vai curtir. Pode, de repente, não se transformar num fã de música clássica, mas vai ser bacana. Então a gente tenta trabalhar o ambiente, a experiência.
E já tem outros álbuns planejados para o futuro?
Mateus: Sim, ano que vem vai ser o “Black Album”, do Metallica.
E por fim, para voltar ao “Dark Side of The Moon”, Roger Waters esteve no Brasil recentemente e suas posições políticas geraram conflitos. Você acha que isso pode ter alguma reação na orquestra? E como você vê essa cobrança em cima de artistas?
Mateus: Eu não acho que afeta diretamente o nosso espetáculo, mas uma coisa que é um fato é o seguinte, música sempre esteve conectada com política. Eu acho que é uma manifestação cultural, é uma manifestação forte. Você pega o punk, por exemplo, Tropicália, são movimentos que tiveram muita importância no mundo, muito engajados com política. O álbum “The Wall” é uma crítica muito grande, são tantos assuntos debatidos naquele disco que eu não sei nem por onde começar.
Eu acho maravilhoso o artista que se manifesta, o artista que mostra um ponto de vista que a música vai além de letras e instrumentos. Mas realmente no nosso concerto a gente foca na obra dele, não acho que tenha nenhum tipo de problema não. Diria que tem que se manifestar mesmo, manda brasa, fala o que você acredita e a gente vai fazendo nosso trabalho por aqui também, porque a gente gosta muito da música dele.
Os ingressos para o espetáculo em São Paulo estão disponíveis no site Eventim. Ele vai acontecer no dia 26 de novembro no Allianz Parque. Confira as informações completas abaixo:
——————————————- SÃO PAULO (SP)
Data: segunda-feira, 26 de novembro de 2018
Local: Allianz Parque Hall – Av. Francisco Matarazzo, 1705
Horário: 18h30 (abertura dos portões) | 20h30 (início do show)
Ingressos: Cadeira VIP – R$ 230 (inteira)/ R$ 115 (meia-entrada)
Deck VIP – R$ 260 (inteira)/ R$ 130 (meia-entrada)
Cadeira Premium – R$ 100 (inteira)/ R$ 50 (meia-entrada)
Classificação etária: 16 anos. Menores entre 5 e 15 anos de idade, acompanhados do responsável legal.
Vendas: Eventim.
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