Entrevista: BaianaSystem fala sobre Lollapalooza e “Duas Cidades”

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No ano passado o BaianaSystem abalou o cenário musical brasileiro com o lançamento do álbum “Duas Cidades”, trazendo uma identidade própria, única, e levando a guitarra baiana para todos os lados.

Formada primeiramente por Russo Passapusso na voz, SekoBass no baixo e Roberto Barreto na guitarra baiana, o grupo conta ainda com as colaborações dos Djs João Meirelles e Mahal Pitta, e de Ícaro Sá e JapaSystem na percurssão, que fecham o pacote de um trabalho que representa o cotidiano do brasileiro e que ocupou as principais listas dos melhores discos de 2016, inclusive a nossa.

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O Baiana foi um dos escolhidos para representar a música nacional no Lollapalooza Brasil, onde se apresentam no dia 25 de março, e a Nação da Música conversou com o Russo Passapusso na última quarta-feira (01) pra falar sobre a ansiedade de tocar no festival, os planos da banda para o carnaval e o restante do ano, e claro, o “Duas Cidades”.

A entrevista foi feita por Juliana Izaias.

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————————————————————————————————————— Leia a íntegra

– Faltando um pouco mais de um mês pro Lollapalooza, como tá a ansiedade? E o que o pessoal do festival pode esperar do show de vocês?

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Russo Passapusso: Então, a ansiedade tá muito forte, a gente vai sair do processo de carnaval diretamente pro Lollapalooza. Dentro do processo de carnaval a gente faz muitas experimentações então eu tenho certeza que coisas novas vão vir disso pra gente poder tá tranquilo pra esse show, que é o show chamado “Duas Cidades” desse disco que a gente lançou, e ai vai vim com certeza porque como você sabe carnaval a gente toca seis horas dentro de um percurso então é impossível não aparecer coisas novas dentro disso tudo. Vai ser um show aprimorado através das experiências do carnaval.

– No Lolla sempre rola uma grande variedade de estilos musicais e pessoas de diversas áreas do país, de que forma você descreveria o som e o show do Baiana pra um pessoal que talvez ainda não tenha conhecimento do trabalho do grupo?

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Russo Passapusso: BaianaSystem é uma banda que tem suas referências locais, da Bahia, são referências onde as pessoas, eu acho que tem um pouco de memória afetiva ali, ou samba reggae ou de uma estrutura que foi colocada por fora, da Tropicália e do Tropicalismo, Gilberto Gil, o forró, Luiz Gonzaga, tudo isso acho que são coisas que as pessoas tem como uma crise musical dentro delas. E isso ai é uma herança que quando a gente toca as pessoas conseguem reconhecer ali. Essas referências, essa eclética mundial, de busca, de renovação, de identificação, desfragmentação desses ritmos que são o dubstep, o próprio hip hop, rap, black music, kuduro, que é muito influente na Angola, justamente por causa de Salvador. Então eu diria que não teria como dizer um ritmo, um signo só, mas a gente consegue encontrar tudo isso dentro dessa fragmentação que dá pra explicar tudo que tem a ser dito, possivelmente a nossa música tradicional.

– E a gente tá começando o mês do carnaval, que é um evento que o Baiana teve uma grande participação no ano passado, até quebrando um certa continuidade da festa que sempre tem os artistas veteranos do axé e do sertanejo. Vocês têm planos de estarem participando esse ano novamente? E como foi pra vocês começarem a fazer parte dessa festa cultural brasileira?

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Russo Passapusso: Então, pra gente cada ano é um processo diferente, a gente faz bastante na significação mesmo, a gente experimenta coisas diferentes dentro disso tudo. Pra gente hoje em dia é muito interessante, já foi muito trabalhoso, já foi um processo educacional dentro da música, de respeito dentro da música ali, de tá levando mesmo as referências pra que as pessoas entendam o que tem que valorizar de verdade na música, mas hoje em dia a gente já tem ouvidos que são tão interessados quanto os nossos instrumentos em tocar, eles já estão tão interessados em ver a coisa que vai, que é verdadeira, que vai além do formato,que vai além da música pra satisfazer certos tipos de público do que você colocar uma música com ‘malunke’ e ela sabe que na verdade a gente precisa do nosso campo de experimentação da música. Então hoje em dia a gente vê que eles estão muito interessados no que a gente tá fazendo, no campo novo que a gente tá se jogando. Cada lugar que a gente coloca ali, cada duas músicas que a gente coloca ali, e que a gente tá buscando algo novo, o público já percebe e ajuda a gente a se achar. Hoje tem a própria colaboração, muito grande dentro do carnaval, com o público que segue o BaianaSystem.

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– O álbum “Duas Cidades” teve uma recepção muita calorosa, tanto de público como de crítica, entrando em diversas listas de melhores discos do ano. Como foi pra vocês esse reconhecimento? Vocês esperavam algo do tipo na época que começaram a produzir?

Russo Passapusso: Ah é aquela coisa, primeiramente o reconhecimento do trabalho, que não é um trabalho de agora, pra você chegar em um ponto ali onde você consegue ter muita coisa, muitas referências, você tem uma dificuldade muito grande, a disponibilidade de que tem que ser algo em conjunto, quando você se fala de um grupo musical, a gente agradece muito a participação, a sabedoria do Daniel Ganjaman, é um cara que fez o disco que a gente queria fazer, e todas as outras participações que a gente teve ali, as pessoas que trabalham com a nossa música tradicional e que sabe valorizar o que a gente tem aqui de cultura.

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A gente fala de música, principalmente a gente fala de cultura, de comportamento, que é onde a música interage com as pessoas, não só pra você ouvir ali, ouvir dentro do carro, mas que te diga algo do seu dia-a-dia, da sua vida, como um livro e tudo mais. Então a gente tem esse valor por ela, a gente fica muito feliz de ter ganhado os prêmios, a gente tava tendo um processo tão grande de construção de um trabalho que quando a gente percebeu que tinha ganhado esses prêmios foi com um ‘delay’ , a gente percebeu depois, ‘nossa cara, foi mesmo? Olha o que aconteceu com o disco’, porque a gente já tava fazendo novas músicas, trabalhando de outro jeito, com outra história, e ai as coisas acontecem com a gente com certo ‘delay’. A gente trabalha, de um trabalho já pula pra outro, que gira em torno daquele trabalho que a gente fez atrás, é um processo que só ajuda a gente a trabalhar mais, e de trabalhar em uma relação de amor mesmo a música, de doação, de composição, de querer fazer músicas melhores, de energias melhores, de mostrar pras pessoas o valor da guitarra baiana, da percussão como um todo, o valor do instrumental como uma parte muito fundamental da música, da nossa música brasileira, que seja cada vez mais o respeito pela música instrumental, pela música eletrônica e tudo mais, isso tudo dentro de um conjunto.

– Alguns lugares chegaram a definir o grupo como um “movimento cultural”, por trazerem uma grande influência da música brasileira em si. Vocês também veem dessa forma?

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Russo Passapusso: Eu vejo música muito como comportamento, como traduzida, como aquilo que você vive. Eu sei que tem muitas interpretações de música, pessoas que fazem música de outras formas e tudo mais, mas como pra gente é, de deixar pras pessoas que compõem porque vivem aquilo, as pessoas que fazem a música porque tem uma relação, uma mensagem de melhoria na vida das pessoas, as pessoas que entendem a questão de a música ser um objeto pra educar, de educação, a gente é muito apaixonado pela coisa da música atingir crianças e conseguir trabalhar aquilo ali como um instrumento de valor cultural.

A gente não procura estereotipar, nem levantar nenhuma bandeira, nenhum troféu de movimento porque os movimentos eles precisam estar em ação o tempo todo pra se tornar. Não tem como você caracterizar que isso é um movimento que está acontecendo na Bahia, um movimento que está acontecendo no Brasil, o BaianaSystem representa isso e tal. Não depende da banda, não depende só da música, ele depende das pessoas que estão ouvindo, do comportamento maior, dessas músicas se multiplicarem, com outras bandas que são influenciadas por aquilo, com as referências que influenciaram e estão fazendo parte daquilo também, e tá dando cada vez mais veracidade para aquilo que está sendo renovado ali dentro da história. Então é um conjunto de coisas que movem o movimento e que não dependem só da gente. A gente faz a nossa parte, procura tá vivendo e vendo o comportamento que seja condizente com o ambiente que a gente tá convivendo pra que a coisa possa acontecer.

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– Vocês tem diversas parcerias no currículo da banda, tem alguém que ainda gostariam de trabalhar junto?

Russo Passapusso: Tem muita gente que a gente gostaria de trabalhar, só que assim, o próprio processo de composição de trabalho é muito dentro do processo que a gente tá vivendo, se a gente viajar pra África, a gente vai com certeza tá dentro de um ambiente que a gente vai querer trabalhar com tal africano (…) tanto da música internacional como da música nacional, as referências na música brasileira da gente são maravilhosas, o que a gente fala muito é o amor que a gente tem por Margareth Menezes, Lazzo Matumbi, Antonio Carlos & Jocafi (…) Então essas são as pessoas que a gente quer trabalhar mais pra poder avançar na nossa música.

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– E qual o planejamento para 2017? Shows, estúdio?

Russo Passapusso: A gente vai tocar no carnaval, tocar no Lolla, que é um marco fundamental pra gente; é muito importante tocar no Lolla, com bandas assim, em um festival aqui dentro, um festival absurdo aqui dentro do Brasil, vai ser muito bom pra gente se reconhecer, pra gente entender, pra gente conseguir dar continuidade. Já tocamos em outros festivais, mas aqui no Brasil pra gente esse é o de grande importância, é um marco. E posteriormente, a gente já ta trabalhando muita coisa nova, amanhã a gente lança um clipe de uma música nova, “Invisível”, da festa do dois de fevereiro, festa de Iemanjá. Então a gente já vem o um trabalho muito forte, o disco acabou de ser lançado ai, foi ano passado, e a gente vai lançar o clipe agora, já estamos trabalhando junto com o Bira Reis, falando mais sobre a música orgânica, não só sobre a música eletrônica, caminhando por novos caminhos, tem muitas parcerias já ocorrendo por conta disso, tem uma parceria nossa muito forte ocorrendo com um MC daqui de Salvador chamado Vandal, que é um cara que ta com uma linguagem muito completa e ciente dentro do trabalho que ele ta fazendo, então eu já abro também esse microfone pra ele cantar ali dentro do Baiana como participação. Então tem muita coisa acontecendo ao mesmo tempo agora no BaianaSystem e que com certeza vai sair ai como produto, como música, pra dar energia ai nos destinos da vida. Tem muito material saindo assim, a gente ta vivendo agora esse processo com um monte de produção.

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– No “Duas Cidades” vocês retratam muito o cotidiano do brasileiro, e agora o país se encontra atravessando um momento histórico de certa forma. A situação que a gente se encontra motiva vocês a quererem ir pro estúdio e produzirem material?

Russo Passapusso: Com certeza! Não só compor, mas a nossa expressão é isso da música. Esse momento que a gente vive é um momento que a gente sente muito as pessoas á flor da pele, sente muito a opinião das pessoas, entende, as pessoas são muitos claras de que querem se comunicar, tanto no mundo virtual como no mundo real, você consegue compreender a pessoa, o pensamento dela, através de uma simples conversa. Nossa música sempre caminhou por isso, sempre, a música sempre foi um reflexo dessa vida, do cotidiano, uma coisa típica da gente, uma coisa espiritual, sentimental, colocando ela pra fora, uma coisa que seria antropologia e social. Então isso pra gente sempre foi material, a matéria prima principal da história, então não muda muito o processo da gente de antes para agora porque está acontecendo isso.

As letras elas se fazem cada vez mais presentes, as letras antigas que não tinham muito a ver com o processo acabam tendo mais, as letras que a gente está fazendo, às vezes, imaginando uma coisa futurística, algo que não esteja acontecendo, que a galera começa a ouvir mais presente. Eu acho que a arte é isso, ela tá ali como recado, como algo que você coloca dentro da garrafa e coloca no mar, e é esse mar que vai dizer a necessidade da história. É o que acontece com a nossa vida, no nosso social.

 Gostaria de deixar um recado pros seus fãs e pros leitores da Nação da Música?

Russo Passapusso: O recado é ter uma relação com a música muito pura, a música liberta, a música sempre dá conselho, a música de acordo com o mundo que a gente vive, o comportamento que a gente tem. Não deixar de se arriscar dentro dos ambientes das pessoas que também fazem música, das pessoas que ouvem, e o fruto da história é isso ai.

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Prefere ser chamada de Ju. Jornalista, apaixonada por música, festivais, seriados, gatos e Arctic Monkeys.