Na tarde desta quarta-feira (24), a Nação da Música conversou um pouco com o rapper Emicida, que falou um pouco sobre a indicação da animação “O Menino e o Mundo” ao Oscar, seu processo de criação, viagem a África e ainda prometeu grandes surpresas para o show do Lollapalooza esse ano.
O festival acontece entre os dias 12 e 13 de março, e além de Emicida, grandes nomes do rap marcarão presença, como Eminem e Snoop Dog. Garanta seu ingresso aqui. Se liga na entrevista:
Perguntas: Andressa Oliveira / Entrevista: Felipe Santana
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Leia na íntegra ———————————————————————————————————
01. Vamos começar falando de algo que está bem em evidência no momento. Quais são suas expectativas quanto ao filme “O Menino e o Mundo” – que você faz parte da trilha sonora – ser vencedor do Oscar?
Se a seleção tava do jeito que tava e eu torci pra ela até o final, imagina “O Menino e o Mundo” que é favorito. Eu acho que tem chance sim, “Divertida Mente” é um filme bacana mas “O Menino e o Mundo” tem uma força poética ai de representação dessa diversidade que foi cobrada no Oscar também, que pode favorecer o filme. Eu to torcendo bastante. A gente ganhou o festival de Annie agora, como melhor filme independente, e isso já fez muitos olhos caírem em cima do filme também, e isso é muito importante, principalmente num lugar como Hollywood. Eu to acreditando cara, a minha maior característica é acreditar e com relação ao filme eu acredito muito. E não ganhar nós ta no corre porque mano, só chegar la já foi uma grande conquista né? O Brasil fez de conta que o filme não existia durante muito tempo, e ver ele chegar la pela própria força dele, ver o menino chegar la sozinho, é mágico. Já mostra muita coisa, mostra também outras coisas que a gente deixa passar, que tem bacana aqui embaixo de nosso nariz e a gente espera o gringo dar um carimbo de que aquilo é legal.
02. Pensando em como você transita bem entre um estilo e outro nas suas músicas, como você explicaria o seu processo de composição?
Eu sou doido mano. Eu fico… É tipo um quebra-cabeça pra mim sabe, eu nasci num contexto que é o seguinte: Eu era um dos mais novos na casa, o mais novo era eu e meu irmão filhote, tinha duas irmãs mais velhas e minha mãe. Nós nunca mandávamos no rádio. Como nunca tinha poder de mandar no rádio, nós crescemos ouvindo as músicas que outras pessoas gostavam porque quando chegava nossa vez de ouvir no rádio nós já tínhamos que dormir praticamente. Então eu aprendi ouvindo estes outros gêneros musicais e tudo aquilo acabou se tornando minha escola. Por isso pra mim é tão simples talvez transitar e eu sou um escutador de música né cara? Eu gosto mesmo de parar, ouvir música, gosto de estudar, gosto de pesquisar. Durante muito tempo eu ouvi jazz, e jazz tem essa coisa expansiva, de buscar referência também, de criar um diálogo com outros gêneros que podem enriquecer ele, então tudo isso me fez moldar a formula como faço rap, eu sempre falo isso, eu me vejo muito como jazzista.
03. Ano passado você lançou o disco “Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa”. Qual a sua música favorita do álbum?
Isso ai é uma pergunta horrível de você fazer. É que nem perguntar pra uma mãe na frente do filho qual que é o mais bonito, qual que é o mais inteligente. Eu acho que tem momentos, a música ela conversa, ela varia de momento pra momento, ela conversa com nosso estado de espirito de um jeito diferenciado. Nesse momento a música que eu mais tenho escutado é a música “Baiana”, que tem o Caetano Veloso. Eu acho que tanto no que diz respeito a reverência a Bahia, a alusão assim ao corpo feminino – o que a gente também descreve na música – e a profundidade que a poesia dela tem, e a riqueza rítmica dela é uma parada que me faz olhar pra ela e achar que eu fui muito feliz ali.
04. O álbum aborda o racismo de uma forma direta. Você acredita que suas músicas podem ter um poder de fazer a diferença na sociedade em que vivemos?
Acreditar na mudança eu realmente acredito. Acho que a gente tem força, tem potencial pra fazer a música transformar a vida das pessoas. Inclusive a “Laboratório Fantasma” existe justamente por causa disso. Eu não sei, as vezes as pessoas tentam impor uma narrativa pro disco que não é verdadeira. Acho que o disco fala muito de delicadeza e de inteligencia sabe? De força, força ancestral. Agora, a construção do povo negro no Brasil é tão invisibilizada que a cada vez que a gente se manifesta as pessoas levantam a guarda acreditando que vai levantar uma insurreição. Aquele disco é um disco de dialogo, é um disco de pureza, de poesia e de delicadeza. Claro, tem “Boa Esperança” e “Mandume”, que são duas músicas tensas, são duas porradas, que chocou, balançou o Brasil. Mas essa não é a unica coisa grandiosa que a África deu para nós. Muito pelo contrário, essa é uma interrupção da nossa grandeza, o resto do disco fala do quão conseguimos ser grandiosos independente do contexto que nos abandonaram.
05. Como a sua viagem à África influenciou o seu CD e seu modo de pensar?
Eu voltei outra pessoa de lá. Acredito que voltei mais humano, mais calmo, mais maduro, olhando para o mundo de uma maneira mais sensível. Isso é uma coisa que realmente mudou minha cabeça como ser humano mesmo, não foi só uma viagem pra fazer uma gravação não. Foi uma viagem ancestral, que eu tive a oportunidade de pisar no solo de onde meus ancestrais saíram que é uma coisa que é negada a grande maioria dos meus irmãos e irmãs aqui no Brasil. Tudo isso me fez ver o mundo de uma outra maneira, me fez voltar com uma outra grandeza pra cá. E com relação ao disco mano, a gente tava no coração do que pode ser chamado de vale do Silício tanto das histórias tanto do ritmo. É a terra mãe do tambor e das pessoas, então com relação a história, com relação a musica, nao tinha lugar melhor pra gente fazer esse disco. E o que eu acho mais bonito é que o disco que mais tentou se aproximar da África da minha carreira, o disco que mergulhou lá dentro, ele fala tanto de la, como daqui. Ele acabou falando muito de nós também, o Brasil se viu muito naquilo e pra mim foi uma prova de que o Brasil precisa realmente olhar mais pra África com mais respeito, com mais devoção talvez. Gratidão talvez seja a palavra.
06. Pergunta feita pelo fã Rafael Schumaker: “O rap sempre foi subversivo, porém esta cada vez se tornando mais mainstream, a ponto de surgirem novos grupos de rap a todo momento, tornando cada vez mais impossível alguém conhecer TUDO o que acontece nessa cena nacional. Você acha que o caminho do rap vai ser cada vez menos underground e mais mainstream? E isso é bom?”
Eu acho que responder isso com “sim” ou com “não” é delicado, porque você precisa avaliar artista por artista, o que pra você é o rap e se aquele determinado artista faz justiça ao que você acredita que é a nossa cultura, entendeu? Eu sou muito feliz com os artistas que tem alcançado popularidade no Brasil. Acho que a gente tem um ótimo representante, a maior bandeira do rap nacional continua sendo o Racionais Mc’s, e eu acho que isso é incrível. Mesmo com as pessoas dizendo que o rap mudou, que o rap virou isso ou aquilo, eu vejo que os grandes expoentes da coisa ainda se preocupam muito com o contexto no qual o rap foi criado e com a história dele sabe? Me orgulho muito de ser um desses expoentes até, me orgulho de ser um desses expoentes que faz jus a essa historia e compartilha ela com quem tem se aproximado da cultura nesse momento.
07. Lollapalooza é um festival de peso. Como está se preparando para a sua apresentação? O que o público pode esperar?
Alimentos leves e suco verde (risos). Cara, eu to mexendo no setlist, vai ser diferente do show que a gente tem na estrada. Quem acha que nós vai repetir o show na estrada vai dar com os burros n’água. Nós vamos fazer um show completamente diferente, vai ter um monte de participação surpresa, não vou falar os nomes aqui porque é surpresa. Mas vai ser foda. To bem em cima desse show mano, to dedicado nele aqui porque quero fazer uma coisa impactante mesmo, to empolgado.
08. Quais são seus planos para o ano de 2016?
Olha, a gente vai fazer esse show do Cartola, inclusive tem ele agora 4, 5 e 6 (de março) aqui no SESC Belenzinho, vai ser bem bacana, é um show que quero fazer mais porque ele me ensina muito. O disco tá sendo lançado na Europa esse ano, então eu também tenho uma turnê pra Europa. E quero voltar a desenhar as roupas, tenho uma parceria muito bacana com a West Coast, e eu quero fazer isso de novo em 2016, fazer uma segunda parte da nossa coleção.
09. Alguma mensagem para os fãs e para a galera que vai ou está pensando em ir no Lollapalooza?
Ah, se eles tão pensando em ir lá, eu gostaria que eles concretizassem esse pensamento e realmente fossem porque vou precisar deles na plateia la, entendeu? (risos)
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