Theodoro e Sebastião Reis já carregam em sua história de vida muita música e aprendizado ao lado do pai Nando Reis, que é um grande ícone da música brasileira. Juntos eles formam a banda 2 Reis e lançaram no final de julho o primeiro álbum.
A Nação da Música conversou com Sebastião sobre como foi o processo de produção de “Dois Reis“, como é toda essa experiência de trabalhar em família e outros assuntos que você confere a seguir.
Entrevista feita por Maria Victoria Pera Mazza
————————————————————————————————————— Leia a íntegra
Eu estava ouvindo o álbum “Dois Reis” e dá para captar diversos gêneros musicais como rock, folk e até pop, o que é interessante para que uma banda possa experimentar ritmos diferentes. Então, como se definiriam, se é que gostariam de ser encaixados em algum gênero.
Sebastião Reis: Eu definiria como rock, ele é um disco de rock. Acho que até dentro da palavra já dá pra captar isso. O rock já é pop, por exemplo, então definiria assim mesmo.
E você acha que esse tipo de definição limita um pouco as bandas no geral?
Sebastião: É uma boa pergunta porque assim: é rock, claro. Mas como você captou bem, tem vários elementos. É música, na verdade. Dentro do rock mesmo tem um pouco de reggae, tem de tudo, acho que é uma mistura. Pode limitar se você pensar ‘pô, quero fazer só desse jeito’, aquela coisa quadrada. É de fato um disco de rock, mas você vê que tem outros elementos. No nosso caso não foi tão limitador, a gente buscou usar elementos do reggae, do folk, da MPB… Então, pode ser limitador se você seguir por um caminho, mas também não. Acho que é tudo música (risos).
Como foi a produção de “Dois Reis”? Desde a composição das canções até a escolha das músicas que entrariam no disco…
Sebastião: Eu e meu irmão, a gente tem um jeito de compor que, geralmente, eu trago as músicas no violão, a base harmônica, os acordes, junto com a melodia e com o pensamento do que aquela música me traz. Sobre o sentimento principal e que já dá uma boa adiantada na letra. Algumas músicas a gente fez assim, que são as parcerias onde eu trazia tudo isso, o Theo ajudava na melodia e trazia a letra. Outras eu fiz sozinho, outras o Theo fez basicamente sozinho, mas até nessas tem uma parceria. Eu mostro pra ele, ele me dá uma dica, eu dou uma dica pra ele, então, nessa questão de composição foi tudo com muita parceria.
Claro, tem uma regravação, uma música que o Theo tinha feito uns dez anos atrás com a primeira banda dele, que é a “Se Prepare”, terceira do disco. Essa eu não participei em nada no sentido da composição, na essência. Mas nos arranjos, na hora de trazer pra gravação, para o estúdio e para a banda eu tive participação. Depois de compor, a gente decidiu procurar um estúdio. Mas antes de tudo a gente queria um produtor e achamos o Fernando Nunes, que é um cara fantástico que tocou com o meu pai, com a Cássia, tocou com todo mundo, é um cara que é um puta músico e um puta produtor. Ele ajudou muito, soube interpretar as músicas, soube o que a gente queria, soube fazer um disco de rock. Ele é muito bom, ajudou muito nos arranjos. Como ele é um grande músico, pensou muito nos arranjos com a gente, ajudou, trouxe ideias e foi fantástico o trabalho do Fernando.
Aí a gente foi para o estúdio Space Blues, a escolha foi até porque buscamos pegar bastante elementos dos anos 70, que é a nossa maior influência musical, pelo menos pra mim, acho que para o meu irmão também. É a década que mais me agrada na música. Nesse estúdio a gente tinha todos os recursos para manter essa sonoridade, instrumentos antigos, analógicos, os teclados… A gente achou esse estúdio pensando nisso, que é do Alexandre Fontanetti, coprodutor do disco. Foi um cara que ajudou muito também nos timbres, algo que eu acho essencial. Então, foi assim.
Na hora do estúdio foi aquilo de ficar pensando muito nos timbres, ficar procurando a sonoridade e por isso até a gente fez com oito músicas. Não é um disco longo, é um disco rápido, mas que trabalhamos muito as músicas. Teve essa preocupação de fazer oito músicas do jeito que a gente queria.
Ah, é importante fazer algo que, principalmente, vocês gostem!
Sebastião: Sim, que agrade! Ainda mais sendo o primeiro trabalho.
2 Reis lançou um EP em 2015, certo? Como se sente hoje avaliando o EP e esse primeiro álbum? Acredita que já deu pra sentir um amadurecimento musical nesses dois anos?
Sebastião: Com certeza rolou um grande amadurecimento. Digo até que eu percebo isso escutando e comparando o EP e o disco. Penso que, a gente como banda, eu e meu irmão como duo também, a gente cresceu muito nesse meio tempo. Eu entrei na faculdade de música, tô estudando mais, então rolou esse amadurecimento bem grande em relação até ao que a gente quer como som da banda. Ali era um protótipo no EP, eu consigo ver elementos dele no disco facilmente, só que percebo que foram muito mais elaborados e aplicados da forma como queríamos no disco. Mais pela gente mesmo, por ter crescido também porque na época do EP eu tinha 18, 19 anos. Quando comecei a banda eu tinha 17, sabe? Eu tô com 22, então, nesse meio tempo mudou bastante coisa. Rolou um amadurecimento pessoal e musical também.
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Agora em relação às letras das músicas… Acredito que a maioria dos compositores queiram despertar um sentimento em seus ouvintes quando escrevem algo. Tem alguma coisa importante que vocês quiseram passar com esse álbum?
Sebastião: Acho que a primeira coisa, que é um pouco clichê, diria amor. É uma mensagem que a gente passa com as nossas músicas, também acho que esse disco tem alguma coisa em relação ao tempo. Tem três músicas que falam, que conversam sobre isso: “Curva dos 30”, “A Sombra do Futuro” e “O Tempo”. Não é que tem uma mensagem específica, cada um que escuta vai absorver a mensagem e interpretar de cada jeito, mas a gente falou bastante sobre o tempo. Coisa de família mesmo, a gente fica meio nostálgico (risos). Então assim, tem essa música “Curva dos 30”, que é do meu irmão que ele escreveu quando estava chegando nesse momento de fazer trinta anos, que é um momento igual quando eu fiz vinte, que você acha que vai estar bem estabelecido e não. Fala das angústias, do medo, ou seja, ele chegando lá.
Aí temos uma música minha, “A Sombra do Futuro”, que sou eu pensando sobre o futuro, com medo do que vai acontecer… Sou eu temendo a curva dos trinta (risos). Mas nem é só em relação a idade, é em relação a algo existencial mesmo, o que vai acontecer, como vai ser, o que é a vida. E tem “O Tempo” também, que é uma música bem épica e sinto que ela fala de crescer, pensando e analisando o tempo. Mas a mensagem é que cada pessoa vai entender do seu jeito. O que você sentiu quando escutou, o que eu penso quando escuto, acho que a música tem essas coisas: a gente faz pensando em uma coisa, mas a partir do momento que é feita, ela é do mundo.
Depende muito do momento que aquela pessoa está passando…
Sebastião: Exato! Às vezes eu escuto uma pensando em algo, aí eu escuto depois de seis meses e ela já faz outro sentido.
Você falou bastante do Theodoro… Como é essa relação profissional entre vocês? Acredita que o fato de terem crescido juntos ajuda na hora de tomar decisões, de discordar ou até mesmo apontar um erro do outro?
Sebastião: (risos) É ótimo porque a gente se conhece muito bem, ele é meu irmão mais velho então eu sempre tive muita admiração por ele. Um cara que, quando eu era mais novo, eu me inspirava, é aquela pessoa que é referência. A gente tem muita intimidade, é muito bom isso. A gente se conhece muito bem e isso facilita. Mas também tem briga de irmão, briga às vezes por nada, discorda por qualquer coisa, tá irritado em um dia… É normal. A relação em si é muito boa, é ótima. Meu irmão tem as coisas dele, mas a relação é perfeita. É bom trabalhar com irmão.
O sucesso do pai de vocês é indiscutível e ele colocou a voz em músicas que já marcaram muita gente. Por conta disso, já se sentiu pressionado, não só pelo público mas até por vocês dois, para seguirem o mesmo caminho? Acha que as pessoas têm certa exigência ao ouvirem o seu trabalho?
Sebastião: Com certeza, a partir do momento que a gente é filho de alguém que tem referência na música, é um cara que é popular e faz sucesso, a gente já começa com uma cobrança, coisa das pessoas olharem para o nosso som pensando com uma referência, comparando já. Mas, assim, eu não sei como não ser filho do meu pai, então, sempre foi assim. Pra mim acaba sendo até normal. Eu quero seguir a mesma carreira musical, é algo que eu quero fazer e tô começando agora – e tem que se acostumar com isso mesmo, com as pessoas comparando. Mas é a pressão normal de você saber que tem que fazer uma coisa boa e, por um lado, é algo bom. Claro que tem a parte chata como qualquer pressão tem, mas tem o lado de você querer sempre fazer um puta trabalho… Tem que se esforçar, tem que estudar e tem que fazer as coisas para serem boas.
Poderia deixar um recado pra galera que ouve vocês e curte a Nação da Música?
Sebastião: Espero que o pessoal curta o disco, ele foi feito pra vocês, pras pessoas que curtem música, fãs dos 2 Reis também. Vamos apoiar a cena, vamos escutar as músicas, vamos aos shows… Acho que é importante apoiar. Não só nos meus shows, mas dos seus amigos também.
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