Nesta sexta-feira (15), a banda BaianaSystem liberou para o público o seu mais novo disco de estúdio, chamado “O Futuro Não Demora”. O trabalho é sucessor do aclamado “Duas Cidades” e vem recheado de participações especiais.
A Nação da Música teve a oportunidade de conversar com o guitarrista Roberto Barreto sobre o processo de pesquisa e produção do novo disco, como surgiram as colaborações dos artistas e também sobre o planos para o Carnaval.
Entrevista por Marina Moia.
————————————————– Leia a íntegra:
Obrigada por falar com a gente hoje. Sei que o processo de pesquisa, criação, produção, tudo, deste novo disco foi bem diferente do “Duas Cidades”. Pode nos falar dessas diferenças? Tanto do processo inicial como o fato de não divulgarem singles antes do lançamento oficial…
Beto: Na verdade foi um processo que foi acontecendo naturalmente e a gente foi percebendo isso até mesmo como uma reação ao show “Duas Cidades”, aquela coisa muito enérgica, muito frenética, um ritmo muito forte de circular pelo Brasil e tocar o próprio show na formatação que a gente teve, com a coisa eletrônica muito forte e presente.
Quando a gente voltava, queríamos dar uma respirada, tentando entender um pouco. Percebemos também esse ciclo de 10 anos sendo formado a partir de 2009, que foi a primeira vez que a gente tocou, coisas do primeiro disco que de alguma forma estavam ali presentes, mas não tinham sido evidenciadas, o ijexá mais presente.
E outras coisas que a gente naturalmente começou a fazer; o projeto com o maestro Ubiratan Marques, da Orquestra Afrosinfônica. Começamos a ter temas instrumentais que ele começou a compor arranjos em cima e a pensar como sinfonia. Junto a isso, a presença de Antônio Carlos e Jocafi com o Russo [Passapusso – vocalista] compondo o que seria a princípio uma continuação do “Paraíso da Miragem”.
Percebemos que estávamos indo pra um caminho assim, que ia ser mais longo. A gente vinha de uma sequência de singles sendo lançados e sentimos a necessidade de tratar isso como uma obra mais ampla. Com as participações, as pessoas envolvidas, o processo de ir muito para a ilha de Itaparica. Nós temos uma casa lá, então ter esse olhar Salvador de lá. São 50 minutos de travessia, mas você consegue olhar pra Salvador de outra maneira, ampliando nosso entendimento da nossa formação, uma coisa mais ancestral, vendo tudo de uma maneira mais completa.
Foi assim que tudo foi se desenhando [risos]. Foi nos mostrando que estava sendo assim, que tinha o “Melô do Centro da Terra”, as coisas com elementos de água e fogo, que era o que compunha a sinfonia e ajudava a explicar muito o que sentíamos. Não ficamos somente presos na música. A gente teve convívio com Antônio Risério que estava morando na ilha, os próprios jovens do projeto “Maré de Março” e que tentam mostrar toda a importância da história do lugar.
Foi esse conjunto de coisas que foi dando esse caráter e, no final das contas, [Daniel] Ganjaman acabou vindo pra Salvador, foi pra Itaparica, pra de lá também mergulhar no disco e entender o que a gente queria. Foi o caminho inverso do que aconteceu no anterior e ao mesmo tempo foi sendo formado por ele mesmo, pelo próprio disco.
“Duas Cidades” foi muito aclamado, com razão, e vocês colheram muitos frutos desse trabalho, que figurou em diversas listas de Melhores Discos. Houve uma pressão na hora de começar a pensar no novo álbum?
Beto: Ele maturou o nosso show porque tem o disco “Duas Cidades” e o show “Duas Cidades”, que andaram em paralelo. A gente sabia sim o que tínhamos feito em “Duas Cidades”, como você falou foi um disco premiado, aclamado. O “Duas Cidades” é meio que uma tradução do que a gente fazia ao vivo, das coisas que tinham sido desenhadas no primeiro disco.
Não sentimos essa pressão nesse sentido porque a gente trabalha de maneira independente, sem necessariamente uma cobrança de alguém ou por um resultado tal, mas temos as nossas expectativas.
O processo desse disco foi demorado, mas não foi sofrido. As coisas foram acontecendo naturalmente. As participações, os músicos que estavam gravando, as sequências das músicas, a ideia de contar uma história com início, meio e fim, de não soltar os singles. Isso tudo aconteceu de forma natural, ao mesmo tempo que a gente ia entendendo tudo e seguíamos fazendo shows.
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“O Futuro Não Demora” tem como uma das principais características as participações, em quase todas as faixas. Como foi esse processo de escolha dos artistas? Vocês trabalharam com todos em estúdio?
Beto: A maioria foi presencial; o único que a gente não conseguiu, por causa de distância e de agenda, foi o Manu Chao. A gente não conseguiu gravar junto, ele até veio ao Brasil recentemente, mas não esteve em Salvador. Isso começou com ele lá atrás, meados do ano passado, mas ele está morando em Barcelona e estava um pouco recluso.
Fomos chegando de uma maneira muito natural, da mesma forma que “O Futuro Não Demora”, e foi assim com as participações. Em “Sulamericano”, eu percebi que as guitarras que eu tava fazendo, a forma que a gente tava tocando, tinha muito a ver com “Clandestino” de Manu Chao. Queríamos então achar alguém com essa conexão, essa ligação com ele, e tivemos através de Maria, que mora em Londres e nos levou pra tocar lá, e é muito próxima de Manu Chao. Falamos “mostre esse trabalho porque achamos que tem muito a ver com ele”. E ele não topa participar de qualquer coisa, ele tem que curtir, pra ouvir e entender a história. Ele então ouviu e logo já mandou pra gente uma letra, com ele cantando [risos].
Com Curumin foi a mesma coisa; quando ouvimos a música [“Sonar”], pensamos que tinha muito a ver com ele. O Russo mandou um rascunho, uma base que a gente tinha feito, e ele em seguida já mandou uma letra.
O “Melô do Centro da Terra” era uma faixa que eu tinha feito com o Lourimbau há 10 anos para a trilha sonora de um filme. A gente foi buscar isso pela importância que tem, pelo assunto que ela falava, pelo mantra. Entendemos que ela ajudava a contar essa história [do disco].
Foram pessoas que foram naturalmente aparecendo. Antônio Carlos e Jocafi já vinha de uma parceria com o Russo, com uma possível continuação do disco do Russo “Paraíso da Miragem” e isso começou a fazer sentido dentro do disco do Baiana. Essa faixa que a gente já tinha escrito com a Orquestra, que chamava “Água”, eles foram e colocaram a letra em cima.
BaianaSystem é presença garantida no Carnaval, que logo começa. Vamos ter o Navio Pirata novamente, certo? Quais as expectativas e o que público pode esperar
Beto: A gente vai tocar apenas um dia em Salvador neste ano, que é na quinta-feira, no primeiro dia de Carnaval. Depois vamos tocar em Recife, no Rio de Janeiro e vamos fazer o Navio Pirata em São Paulo também.
O Navio Pirata faz parte de todo um entendimento nosso, do que é o Carnaval, de como é estar no Carnaval, da participação popular no Carnaval. A gente insiste nessa ideia do trio menor, que é bem menor que os outros trios elétricos, que fica dentro do Furdunço e que visa resgatar um Carnaval sem cordas, mais próximo do público.
O Navio Pirata é o nosso combustível pro ano inteiro porque o Carnaval é muito presente no BaianaSystem como um todo, conceitualmente, todas as referências do Carnaval são muito importantes, desde a guitarra baiana, a percussão, as imagens que são ligadas às festas populares, das alegorias, a máscara. Então é um alimento pra gente estar no Carnaval e junto com o público, no Navio Pirata, vivemos quase uma experiência antropofágica.
Aliás, quais são os planos pra 2019 como um todo, depois do lançamento deste disco e do Carnaval?
Beto: A gente está começando o ano com o disco sendo lançado, então naturalmente vai vir o processo de seguir com os shows, de tentar entender como vai ser o show do “Futuro Não Demora” porque a gente ainda não sabe [risos]. Vai ser uma mescla do “Duas Cidades” e de coisas que vão entrando.
Muito provavelmente em junho, no meio do ano, vamos voltar pra Europa, Estados Unidos, que foi algo que já fizemos. Como disco está saindo em todos os lugares, é algo que devemos repetir. Sempre tentando buscar referências, como os festivais importantes, e usar isso. É algo que está presente desde o início do BaianaSystem, isso de tocar fora no meio do ano.
E mais projetos. Por exemplo, as músicas “Água” e “Fogo” são originárias de uma sinfonia, com a Orquestra Afrosinfônica, e as duas vão sair completas porque elas estão com um corte no disco. Elas vão sair com essa versão inteira de sete minutos.
O projeto já está engatilhado pra acontecer é fazer o show com a Orquestra Afrosinfônica, com até outras faixas que não são as do disco. Tem essas duas “Água” e “Fogo”, mas tem mais três movimentos que são de uma sinfonia que a gente pensa em apresentar nesse outro formato com a Orquestra.
Gostaria de mandar um recado aos leitores da Nação da Música?
Beto: Poxa, quando eu vi esse nome, eu achei demais! Nação da Música é uma coisa que tem muito a ver com o espírito do filme, digo, disco. Falei filme porque é como se fosse um filme na nossa cabeça mesmo, até por ter trilha ligada a isso, a coisa da ilha de Itaparica, as imagens que a gente tem gerado do disco.
Tem muito a ver com esse disco, isso de Nação da Música, porque dá uma sensação de colaboração e de aglutinação, que foi a tônica do disco. Muita gente participando, muita gente envolvida, a música nos direcionando, a música sem pressão de mercado. A música sendo uma parte viva disso.
Vamos a partir de agora, com “O Futuro Não Demora’, tentar colaborar junto com essa Nação, com o que a gente puder colaborar.
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