Com a ansiedade à flor da pele, Bemti se prepara para o show de apresentação do seu disco “era dois”, que acontece no dia 22 de novembro, no SESC 24 de maio em São Paulo. Junto dele, estarão Johnny Hooker e Nina Oliveira, além de prometer surpresas para a noite.
O álbum é o primeiro trabalho solo do cantor, que também participa da banda Falso Coral. Tivemos a oportunidade de conversar com Bemti sobre o significado deste disco para ele, como foi convidar diversos artistas para colaborarem nas músicas e, claro, sobre as expectativas para o show no SESC.
Entrevista por Marina Moia.
———————————————————————————— Leia a íntegra:
Bom, vamos começar falando sobre seu primeiro disco solo, “era dois”. Sei que é álbum de reconstrução, você mesmo já comentou sobre isso em diversas ocasiões, e podemos ver muito disso nas letras. Como foi o processo criativo desta vez?
Bemti: Eu gosto muito de comparar com outros processos de disco solo, de outros artistas, que geralmente são uma coleção de músicas feitas durante a vida. Esse não. Eu já tenho o projeto com a minha banda, Falso Coral, há alguns anos, e ano passado o que me levou a ter essa guinada do tipo “vou fazer um disco meu” é que o disco é literalmente um processo que tive ano passado até o começo deste ano.
Das 10 músicas do disco, 9 são do ano passado. Desde o começo ele foi pensado narrativamente. Começou como uma terapia, numa situação de encerramento de ciclo, de ruptura amorosa, ruptura de amizade, ruptura profissional. As músicas começaram a vir meio como uma autoterapia.
Eu gravei primeiro “Gostar de Quem”, no primeiro semestre do ano passado, e aí junto com o produtor Luis Calil, comecei a pensar em outras. Foi aí que pensei “caramba, acho que vou tomar coragem e fazer uma coisa minha”. Porque na Falso Coral eu não sou o vocalista, então foi uma tomada de coragem do tipo “eu estou compondo essas músicas e acho que chegou a hora de fazer uma coisa só minha”.
Da Falso Coral, o que você trouxe para este trabalho?
Bemti: É tudo muito direto. No Falso Coral, eu uso também a viola caipira, só que como são mais pessoas, fica um som de banda mesmo. No projeto solo, optei por seguir mais o lado do minimalismo, de ter mais referência eletrônica. Mas eu só estou nesse momento solo por causa da confiança que eu adquiri durante o meu tempo na banda. Porque há dois anos, se você falasse pra mim que eu ia ter um disco, que ia começar a fazer show sozinho e que ia me apresentar no SESC, eu falaria “não, de forma alguma, você está viajando!”. Eu não tinha essa coragem e foi uma coragem que veio com essa experiência da banda.
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Você chamou várias pessoas para colaborarem em “era dois”, tanto cantando como instrumentistas também. Como foi essa troca com tantos artistas de gêneros e regiões diferentes? E como foi escolher esses nomes, como o Johnny Hooker, Natália Noronha, entre outros…
Bemti: Eu brinco que se fosse combinado, nunca teria dado certo. É um disco que tem vozes de todas as regiões do Brasil; o Johnny é de Recife, a Natália é de Natal, a Marisa [Brito] é de Belém, foi gravado entre Goiás e São Paulo, eu sou mineiro… Se eu tivesse pensado que meu primeiro disco solo seria eu com outras vozes do Brasil, não ia dar certo [risos]. Deu certo justamente por ter sido espontâneo.
Eu fiquei amigo do Johnny no ano passado, assim que ele mudou de volta para São Paulo. A Fernanda Kostchak eu já conhecia e já tinha tocado com ela há um tempo. No processo de fazer o disco, o Johnny estava meio por dentro do que eu estava fazendo e aí eu mandei “Tango” pra ele e disse “essa música aqui é a sua cara”. Eu já tinha pensado nele quando fiz a música. Sabia que ia ficar sensacional. Dai ele me respondeu falando que adorou a música, que se identificou demais e aí já gravou a participação dele na primeira diária do disco.
A partir dai já pensei que o disco ia ficar foda porque a música ficou muito foda e eu tenho um orgulho danado dela. Por ter o Johnny, por ter a Fernanda no violino, eu já pensei “caramba, essa música está muito boa!”.
Comecei a pensar em quais outras músicas seria legal ter outras vozes, fazer uma celebração. Ter várias vozes, várias texturas. A Natália eu não conhecia, foi pela internet. Foi muito legal que todo mundo [que convidei] topou. Isso diz muito sobre a força das músicas também. Tenho certeza que se essas pessoas não tivessem se interessado pelas músicas, elas não teriam topado participar.
É um projeto totalmente independente, já a Natália é da Som Livre. Pedimos autorização pra ela participar e a gente nem se conhecia pessoalmente ainda. São pessoas que viraram amigas depois. A música uniu a gente neste sentido.
Falando em colaborações, não tem como não destacar o clipe de “Tango”. Por ser formado em audiovisual, sei que você é muito envolvido nessas produções. Pode nos contar como foram as gravações, o processo de criar esse clipe?
Bemti: Pra mim, mesmo no Falso Coral onde eu já tinha dirigido alguns, eu me sinto mais completo criativamente nos clipes, nessa união da música com o audiovisual. O tango começou como uma dança entre homens, argentinos, era uma diversão. O clipe de “Gostar de Quem” tinha uma pegada completamente gay e masculina, eu com mais seis caras. Pro clipe de “Tango”, eu queria mudar isso completamente, não só no elenco como na equipe. Queria que fosse um clipe mais feminino.
Das 20 pessoas que estiveram na equipe, 17 são mulheres ou homens gays, sendo a maioria mulher. Eu comecei a pesquisar tango entre mulheres, que eu nunca tinha visto, e existem campeonatos e todo um universo. Comecei a gostar dessa ideia e as coisas foram caminhando para a base do vídeo ser a libertação através da dança e do movimento. São pessoas que estão apagadas por causa de traumas passados e a música é bem enfática nisso.
É uma música de fundo do poço, mas ao mesmo tempo ela tem uma força. O pessoal está tentando sair dali. Usamos uma metáfora. As mulheres se ajudando nesse processo de se desamarrem e o Johnny aparece meio que como uma entidade. Tudo através do movimento, do tango, da música em si.
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O show no SESC 24 de maio está chegando e os ingressos estão vendendo super bem, pelo que vi você falando nas redes. Quais as expectativas pra esse show? O que os fãs podem esperar?
Bemti: Eu to muito ansioso! [risos] Como eu te falei, essa ideia de apresentar solo é uma coisa recente na minha vida. É uma tomada de coragem muito grande. To muito ansioso e to super feliz que está vendendo bem. As vendas online já esgotaram e dai agora é só na bilheteria do SESC. Agora, se esgotar tudo, eu vou ficar muito feliz mesmo! O meu ano vai estar realmente cumprido [risos].
Vai ser um jeito de ver as músicas sob uma ótica diferente. Algumas músicas estão bem fiéis ao disco, mas outras a gente resolveu dar uma outra pegada. A banda sou eu na voz e tocando viola, Naná Rizinni na bateria, que é uma baterista excelente, e Kauê Lemes, que vai tocar piano e teclado. É uma formação completamente maluca [risos]. Não é muito usual ter a viola, piano e a bateria.
Vamos ter as participações da Nina Oliveira e do Johnny Hooker. Com ele vai rolar uma surpresinha, a gente ainda ta vendo, mas o pessoal vai ter que ir ao show pra saber o que é. Com a Nina… também não vou falar, é surpresa! [risos] A Nina é sensacional. Eu fico brincando que a minha vontade é chegar no palco e deixar os dois cantando tipo “vai lá, gente, canta que eu fico olhando!”. Estou super ansioso!
São essas parcerias que são boas! Você tem alguém com quem gostaria de trabalhar no futuro?
Bemti: É tanta, tanta gente. Preciso pensar um pouco pra não dar uma resposta de cinco linhas. É engraçado porque consegui montar um time dos sonhos já no primeiro disco. Então, a sensação que me dá é que de agora em diante, tudo é incrível.
No campo dos sonhos, o maior deles seria fazer alguma coisa com o Milton Nascimento. Ele é uma inspiração muito grande pra mim e eu, como sou mineiro, uso a viola caipira em todas as músicas, queria muito que o Milton pelo menos me escutasse. No campo dos sonhos, estaria a parceria com ele.
Mas acho que entre os mais próximos e os mais possíveis, estão Filipe Catto, que é um querido e eu muito me enxergo fazendo algo com ele no futuro, a Letrux, que é uma pessoa que eu acho incrível, mesmo não conhecendo pessoalmente. Eu queria muito fazer alguma coisa com Baleia, que é uma das minhas bandas brasileiras preferidas. E é isso, pra não dar uma resposta de cinco linhas [risos]. Ah, com o Rubel também! Acho que a vibe bate.
Neste ano, você lançou seu primeiro disco e vai fazer esse show super aguardado no Sesc. Mas quais os seus planos pra 2019?
Bemti: Eu queria muito conseguir tocar em alguns festivais. Queria muito que o disco chegasse nos programadores, que eles vissem o trabalho que eu estou fazendo. Já consegui, logo que lancei o disco, tocar no Vaca Amarela em Goiânia, foi super legal. Mas eu queria muito isso, de conseguir rodar os festivais no ano que vem com o disco.
E fazer mais clipes! Inclusive, nesta semana, foi gravar um novo com o pessoal de Cinema da Cásper Líbero, que vai fazer de TCC um videoclipe pra “Me Dei Um Novo Nome”. E isso foi ótimo porque eu também estou sem grana pra fazer um clipe [risos].
Sei que tem músicas minhas tocando em rádio em Portugal, tenho recebido muita mensagem. A arte de divulgação desse show do SESC é uma ilustração que ganhei de um artista português. Então com certeza vou pra lá no ano que vem. Fugir um pouco pra lá.
Tudo depende muito de como vamos estar no ano que vem. Ninguém sabe como vai estar o campo da cultura. Mas enfim, vamos levando. No geral, o objetivo é que o disco chegue em muita gente!
Gostaria de mandar um recado aos leitores da Nação da Música?
Bemti: Pra todo mundo que ama música e ama arte no geral, mais do que nunca, apoie os artistas que você gosta porque ano que vem vai ser essencial. A gente está vivendo um momento de caça às bruxas, todo mundo que faz arte, faz cultura. Se a gente não tomar cuidado, não dá pra saber até onde isso vai.
É o momento de resistir, mas também de apoiar. Buscar essas pessoas e se unir. Formarmos uma comunidade forte para resistirmos esses tempos difíceis.
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