Uma das grandes revelações da música nacional, a banda Baleia divulgou recentemente seu novo álbum de estúdio, “Atlas”, que vem surpreendendo pela sua sonoridade e principalmente criatividade. Para conhecer um pouco melhor como é o processo de criação do grupo, a Nação da Música bateu um papo com o Gabriel nesta quinta-feira (28), que nos contou sobre o que podemos esperar da versão física do disco, a gravação do clipe “Volta” e qual caminho desejam trilhar com a banda. Confira:
Perguntas por Rafael Strabelli / Entrevista por Felipe Santana
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Um pouco antes do lançamento do novo disco, vocês divulgaram o videoclipe da música “Volta”, que foi muito bem produzido e contou com a participação do ator Igor Angelkorte. Quem levou a ideia que originou a gravação do videoclipe, de um personagem que aparentemente passa por diversas fases, e também, como surgiu a ideia de chamar o Igor para interpretar este personagem?
Basicamente, a gente conheceu o trabalho do Kayhan e do Vicente por consequência – que são os dois diretores – e aí a gente gostou muito da estética que a gente viu de alguns vídeos dele, e a gente chamou ele pra produzir esse clipe. A gente na verdade ia fazer o clipe de “Estrangeiro”, só que a ideia que a gente começou a ter ficou tão megalomaníaca e tão cara que a gente teve que deixar ela na espera, e eles já tinha escutado “Volta” também e estavam gostando muito dessa música, e eles sugeriram de fazer o clipe de “Volta”. E aí a gente começou na verdade a explicar por alto as nossas impressões da música e da letra que a gente tinha feito, e eles foram desenvolvendo a ideia em cima.
Então eles vieram com essa proposta depois, desse negócio meio mistico, meio inspirado em Jodorowvisk de uma certa maneira, e depois a gente foi junto com eles afinando algumas ideias que a gente achava mais interessante dar enfase ou não. Mas a ideia veio muito dos diretores, a ideia do clipe em si. Já o Igor eu conheci ele muito de leve, mas na verdade foi uma coincidência. O Kayhan já tinha trabalhado com ele e resolveu chamar porque ele era um ator que ele confiava muito e sabia que ia fazer de coração, e sabia que ia aguentar a pedrada que ia ser a gravação porque ele foi submetido a muitas provações nessa gravação: ele caiu na lama, ficou pelado a noite inteira no frio, levou pó xadrez na cara, depois levou querosene no corpo inteiro, teve que ficar sendo “queimado vivo”, enfim, muitas provações pro menino.
Vocês já estão planejando lançar um novo videoclipe? De “Estrangeiro” talvez?
A gente tá começando já a pensar para o próximo clipe, talvez a gente ainda não vá fazer de “Estrangeiro” porque a gente acabou fazendo esse lyric video que a gente acha que ainda tem fôlego pra se sustentar. Então a gente tá pensando em fazer um clipe de uma outra música, mas não posso ficar falando ainda porque tá muito no ar, mas tá rolando, vai rolar.
Vocês sempre são muito bem vistos por conta da criatividade não só como no videoclipe citado, mas também em suas composições e arranjos das músicas. Como funciona o processo criativo de vocês na hora de compor novos sons?
É um pouco caótico. É difícil explicar porque na verdade foi um pouco diferente, no primeiro disco foi bem coletivo, e a gente teve muito tempo pra fazer as músicas, a banda não tinha lançado nada ainda, então você vai trabalhando no tempo que dispor. Então a gente ficou dois anos meio que maturando essas músicas, criando, tocando, e aí cada um dava ideias e a gente vai juntando as coisas, jogando argumentos e contra-argumentos, e a música vai se tornando uma coisa mais concreta e viva. Mas nesse último disco, o processo foi um pouco diferente porque a gente partiu muito de demos – o Felipe mandava umas demos, eu mandava umas demos, as pessoas iam mandando numa pasta no Dropbox, coletivo. E ficou por muito tempo só isso, as demos não tinham letra praticamente nenhuma, de nada.
E ai chegou dois meses antes da gente gravar o disco mesmo, a gente se juntou e meio que levantou tudo muito rápido, só que não foi tão junto – a gente se juntava um dia todo mundo, tocava, as vezes se juntava só eu e o Felipe, e depois gravava em cima da demo e mandava de volta pra galera, depois outra galera se juntava e gravava, jogava ideias de volta. E a gente meio que foi gravar o disco com tudo ainda muito fresco, muita coisa a gente fez na hora, gravou na hora. E as letras foram feitas todas depois, em um período de algumas semanas, que a gente tirou pra fazer letra.
Na verdade a gente ainda tá entendendo como funciona o nosso processo de criação, porque ele ta meio que mudando ainda, a cada ano que passa a gente vai entendendo o processo de uma maneira diferente. Mas assim, não deixa de ser sempre uma coisa muito coletiva, a gente ta sempre tentando tirar de cada um de nós o melhor possível e tentar sempre não fica muito confortável. É difícil falar. Eu não sei explicar, tá num processo de mudança ainda.
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O novo disco saiu apenas em versão digital até o momento. Vocês pensam em lançar na versão física o disco “Atlas”?
Sim, a gente vai lançar a versão física do disco super em breve e a gente dessa vez quis fazer uma coisa mais interessante. Eu acho que não tá mais fazendo muito sentido você simplesmente lançar um disco, um CD com uma capinha qualquer, um encarte e é isso. Eu acho que a ideia agora é que a versão física dos discos tenham um valor material mesmo, então a gente tá com essa ideia, o disco físico vai ser mais um livro do que um disco, ele vai ser um pequeno livro, um pouco maior que o tamanho normal de um CD, e o disco vai ser como se fosse uma parte desse universo.
A gente se juntou com a Lisa Akerman, que é uma desenhista/designer, e a gente desenvolveu todo um universo estético, o que seria uma dimensão visual pro disco, pras canções, pros personagens, pros cenários que envolvem as canções do disco. A versão física vai ter um mapa embrulhando o livro, e cada canção a gente inventou junto com ela umas criaturas, então cada canção tá relacionada com alguma criatura fantasiosa que a gente inventou e pertence a um tipo de eco sistema especifico que a gente inventou também. Então eu acho que vai ser uma coisa que vai ter um valor material que vai ampliar o entendimento das pessoas que elas possam ter do trabalho.
E vocês possuem uma previsão para o material chegar às lojas?
Quem sabe disso bem é o Bruno, nosso produtor, só que ele ta em São Paulo agora e eu to no Rio, não sei dizer. Mas eu acho que dentro de pouquíssimas semanas ele vai tá pronto. A gente vai com certeza vender pela internet, as pessoas vão poder encomendar e receber em casa, nos shows. E a gente vai ver como é que a gente vai fazer com as lojas também, da melhor forma possível.
Vocês já fizeram o lançamento do disco em algumas cidades e capitais do Brasil, como está a recepção do público até agora?!
Tá sendo muito boa! Tá sendo bem legal, eu to bem feliz, acho que… Ah não sei, os shows tão com outra energia agora, eu to sentindo… Sei lá, tem uma troca de energia muito boa com as pessoas. A gente fez a estreia em BH, depois a gente foi pra Brasilia, Goiânia, a gente acabou de fazer no Circo Voador aqui no Rio com o Cicero, que foi muito muito foda. E cara, é isso. Agora a gente vai fazer São Paulo, a gente tá começando a rodar. A receptividade do público tá sendo muito boa, muito calorosa, a gente tá muito feliz de ver que o que a gente tá fazendo com tanta vontade, tanta verdade, as pessoas tão se reconhecendo também nisso… Enfim, aquela história né?
Todos nós acabamos sonhando com o nosso futuro de uma forma ou outra, desejando algumas coisas, e em fim. O que vocês desejam pra banda, não só para o momento mas onde vocês gostariam de chegar como banda daqui há uns 5 ou 10 anos?! Tocar em festivais, fazer parcerias…. O que vocês almejam de verdade? Que vocês sonham como banda?
Eu acho que eu posso falar isso por tudo mundo mesmo, o que a gente realmente almeja é de certa forma simples de almejar, mas não é tão simples de acontecer. A gente tá bem, a gente confia, a gente sabe que quando a gente tem a oportunidade de tocar para certas pessoas a gente ganha publico, quando as pessoas conhecem a gente, muitas pessoas gostam, se reconhecem, se identificam. Então eu acho que o que a gente mais almeja é cada vez poder tocar mais, ter mais espaço para as bandas independentes, para as bandas que estão fazendo uma coisa um pouquinho mais… diferente, um pouquinho fora do comercial, do que já é entendido, abordado e dado como normal.
Eu queria só que essas bandas tivessem mais espaço e mais investimento, mais lugar pra tocar. Tá melhorando por diversos fatores – a internet é um desses fatores, a internet tá unindo muito as pessoas – mas acho que ainda dá pra ser mais. Então é muito simples. Nosso sonho é só poder continuar nesse caminho que a gente tá, mas se pudesse com mais fluidez e mais tranquilidade melhor ainda. Rodar mais, poder chegar em mais cidades, ter mais oportunidades de chegar em mais lugares, ter mais editais do governo, investimento por parte do governo também, pra gente poder chegar até as pessoas, mais diretamente. Fora isso, só desejo que a gente continue com a mesma visão que a gente tem diante do nosso próprio trabalho, sempre permanecer autênticos e de acordo com o que a gente realmente acredita, esse papinho clichê.
Pra finalizar, agradecer vocês pela entrevista e pedir pra deixarem um recado para os fãs que foram e vão ainda nos shows de vocês.
Vocês são demais, vocês são tudo, vocês são o outro lado da gente, a gente faz a música mas ela só faz sentido se existem pessoas que tão do outro lado escutando e dando sentido a elas. Então muito obrigado e vamo dançar nessa vida doida.
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