Entrevistamos Glass Animals sobre “Heat Waves” e passagem pelo Brasil

glass animals
Foto: Pooneh Ghana

A banda britânica Glass Animals divulgou o terceiro disco da carreira, “Dreamland”, em agosto do ano passado. O single “Heat Waves” virou hit e chegou ao primeiro lugar na parada australiana e, recentemente, ganhou um EP de remixes.

A Nação da Música conversou com o vocalista da Glass Animals, Dave Bayley, sobre o sucesso da música, o disco “Dreamland”, a passagem pelo Brasil em 2017 e também sobre a recuperação do baterista Joe Seaward, que sofreu um grave acidente em 2018.

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Entrevista por Marina Moia.

———————- Assista ao vídeo da entrevista (com legendas):

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———————- Leia a íntegra:
[as duas primeiras perguntas não estão no vídeo por problemas técnicos, mas se encontram transcritas abaixo na íntegra]
Primeiro de tudo, parabéns pelo sucesso de “Heat Waves”! É uma das músicas mais tocadas no Spotify, tem mais de 10 milhões de visualizações no videoclipe. Como você tomou a decisão de lançar um EP de remixes desta faixa? Como foi trabalhar com Oliver [Heldens] e Sonny [Fodera]?
Dave: Eu me sinto muito sortudo de ter trabalhado com eles. São produtores incríveis. Talvez nós tenhamos mais remixes para lançar em breve, não sei. Então esta é a primeira parte. As pessoas já estavam remixando a faixa. Nós fizemos uma competição, assim que lançamos a música. Nós permitimos que todo mundo pudesse remixá-la, escolhemos nossas favoritas e nós lançamos na parte estendida do disco. Algumas pessoas incríveis se envolveram, garotos de 15 anos que fizeram suas versões e eu pensei que era um adulto que frequentava escola de jazz, mas é simplesmente um menino que vive com os pais no norte da Inglaterra e fez o remix. Eu acho que algumas pessoas não viram essa competição e entraram em contato perguntando se podiam remixar a faixa. Dai selecionamos algumas das nossas favoritas.

“Dreamland” é um álbum bem diferente dos anteriores da Glass Animals. Mais pessoal, mais autobiográfico. Como foi o processo criativo e o que você sentiu de diferença em relação aos outros?
Dave: Como você disse, a principal diferença é que é pessoal. Tem só uma música no disco anterior que é pessoal, que fala da minha vida, e eu nem queria colocá-la porque achava muito pessoal. A banda que me convenceu a incluir a faixa no álbum. A resposta do público foi o que me encorajou a continuar fazendo isso. É uma música chamada “Agnes”, que é bem triste. Eu nunca tinha recebido cartas de fãs e comecei a receber por causa desta canção. Eu nunca pensei que nossa música poderia ajudar alguém. É um pouco estranho. Eu percebi que é isso que eu sinto com as minhas músicas e compositores favoritos, que escrevem músicas pessoais e fazem com que as pessoas se sintam menos sozinhas. Eu pensei “vamos fazer isso então!” [risos]

Isto é algo que você quer continuar fazendo? Escrever músicas pessoais e lançá-las em álbuns?
Dave: Acredito que sim. Ainda não pensei sobre o que vem em seguida… Este álbum só tem uns seis meses, mas tem tanta coisa acontecendo por causa dele que nem tive tempo de pensar no próximo passo. Mas parte de mim se sente um pouco egoísta ao escrever músicas pessoais. Não sei, eu não gosto tanto de falar de mim mesmo. Mas ao mesmo tempo acho que as pessoas parecem gostar mais desse tipo de música. Então não sei o que farei em seguida, quem sabe?!

É porque as pessoas conseguem se sentir próximas de você, já que estamos longe e ainda mais com a pandemia, sem shows. As pessoas se sentem mais próximas e conseguem se identificar com você, como disse antes.
Dave: É, as minhas favoritas são as mais tristes, mais pessoais. Eu não sabia se as pessoas iriam gostar se eu fizesse isso. Mas eu tentei!

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A quarentena, a pandemia, afetaram todos nós. Mas músicos precisam fazer shows e é algo que não podem fazer ainda. Já faz um ano desde que tudo começou. Como estão lidando com isso? Afetou a criatividade de vocês de alguma maneira?
Dave: Bom, nós lidamos. Tivemos que lidar! Nós adiamos o álbum o máximo que a gente pode quando percebemos que era algo que ainda estava acontecendo. Nós precisamos fazer isso. Falamos para as pessoas que iríamos lançar este disco e já estava atrasado desde então. Então nós o lançamos e foi como se não houvesse amanhã. Nós tentamos achar maneiras de substituir as turnês. Sair em turnê sempre foi muito importante para nós. E o motivo de ser tão importante é que podemos sair, interagir e conhecer as pessoas e apresentar as músicas com algum contexto. O design do palco, o show e o jeito que você se apresenta são coisas que dão contexto à música. E eu acho que isso é muito importante, mas não tínhamos isso, então tivemos que compensar. Eu fiquei muito envolvido na produção de videoclipes pela primeira vez. Eu nunca tinha me importado antes. E eu me envolvi muito com esse álbum, lançando stems e tentando achar maneiras de interagir com as pessoas, que não fosse encontrá-las pessoalmente. É assim que temos lidado.

Afetou a sua composição?
Dave: Estou compondo um pouco, mas principalmente para outras pessoas. Eu amo escrever com e para outras pessoas e produzir coisas para outros artistas. Acho que a principal maneira que afetou é que não podemos estar na mesma sala que essas pessoas, estamos apenas trabalhando remotamente. E isso pode ser difícil porque nem sempre você consegue ver o que a pessoa está sentindo. Se tratando de escrever músicas para a banda, todo mundo teve muito tempo para olhar para dentro de si mesmo. Acho que todo mundo está se sentindo um pouco introspectivo e nostálgico. E eu também.

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Engraçado que eu já sinto isso antes mesmo de começar a escrever o álbum e o disco é todo sobre isso. Porque nosso baterista Joe sofreu um acidente terrível e eu fiquei no hospital esperando por notícias e pela recuperação dele. O futuro parecia muito sombrio. Eu não saía de casa o dia inteiro. Ficava esperando por notícias o dia todo, muito ansioso. Ironicamente, isso se relaciona muito com a situação atual. Nessas situações em que você não sabe o que esperar do futuro, você começa a olhar para acontecimentos passados e a ficar nostálgico. É bem introspectivo.

O Joe está bem? Porque já se passaram três anos, dois anos e meio, certo?
Dave: Dois anos e meio. Ele está se recuperando super bem. Eu sempre soube que ele se recuperaria. Porque ele é muito determinado, ele é teimoso. Quando ele acordou e abriu os olhos, ele me deu uma olhada que eu percebi que ele estava determinado a ficar bem novamente. Não tenho certeza o quanto você pode se recuperar de algo assim. Você perde muita confiança. Porque todas essas coisas que você toma como certeza, acabam sumindo. Como andar, conversar, pensar, tocar bateria, ser capaz de andar de bicicleta… Não sei se uma pessoa consegue se recuperar 100% porque é muito traumatizante. Mas em termos de tocar bateria, sim. Ele já consegue tocar muito bem. Ele tem trabalhado muito e está melhor do que nunca.

Isso é ótimo! Ele conseguiu se apresentar algumas vezes antes da pandemia, certo?
Dave: Sim! A gente fez alguns shows pequenos para ver se ele conseguia tocar para o público. Eram shows para poucas pessoas. Correu tudo muito bem e dai a pandemia veio.

O bom é que quando tudo voltar ao normal, ele estará 100%.
Dave: Eu acredito que sim. Melhor do que antes!

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Agora ele vai ter uma grande história para contar também.
Dave: Sim, se ele se sentir confortável! Às vezes ele fala sobre o assunto, mas na maioria das vezes ele não quer pensar sobre isso. Ele começa a suar muito e a tremer. Ele prefere deixar de lado.

Glass Animals já tocou aqui no Brasil, no Lollapalooza. Como foi a experiência de tocar aqui e o que vocês mais gostaram?
Dave: Foi uma experiência incrível. Eu amei. Eu amo o Brasil. Nós ficamos por cinco dias porque tínhamos alguns dias livres antes. Ou depois. Então ficamos no Brasil por cinco dias e viajamos e experienciamos a cidade. Foi incrível. É um lugar incrível, com música vindo de todos os lugares e pessoas se divertindo. Amei isso. Tem muito futebol! Nós temos um time de futebol e gostamos de jogar. Então nós jogamos um pouco e perdemos feio para alguns jogadores brasileiros que eram muito mais novos que a gente. Eu também pude assistir a várias bandas naquele final de semana. Como The Strokes, que é uma das minhas favoritas de todos os tempos. Assisti-los e ver a reação do público, só de lembrar me dá arrepios. [Os brasileiros] são pessoas incríveis.

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Está mais do que convidado para voltar e jogar futebol, fazer mais shows… Os fãs da Glass Animals estão esperando quando for seguro para turnês.
Dave: Nossa, mal podemos esperar! Nós conversamos sobre isso porque planejamos uma turnê mundial antes da pandemia e iríamos para a América do Sul. Era prioridade para nós. Estava tudo planejado, as datas estavam prontas e…

Por último, mas não menos importante, gostaria de mandar um recado aos fãs brasileiros da Glass Animals?
Dave: Muito obrigado pelo apoio! Principalmente durante essa pandemia. Espero que vocês estejam bem e seguros e estaremos aí assim que pudermos, mal posso esperar para este momento.

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Marina Moia
Marina Moia
Jornalista e apaixonada por música desde que se conhece por gente.