Na última sexta-feira (23), a banda Medulla lançou seu álbum “Deus e o Átomo”, que está recheado de participações especiais, como Marcelo D2, Teco Martins, Síntese, entre outros. Com produção de Pedro Ramos, do Supercombo, e cheio de misturas de sons e estilos diferentes, o disco foi lançado pela gravadora HeartBleedsBlue.
A Nação da Música teve a oportunidade de conversar com Raony, vocalista da Medulla, que falou sobre o processo de criação de “Deus e o Átomo”, como surgiram as colaborações e também sobre as influências da banda.
A entrevista foi feita por Marina Moia
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Obrigada por falar com a gente!
Raony: Pô, eu que agradeço! Obrigada também porque vocês divulgam a gente direto ai, legal pra caramba.
Primeiro de tudo, parabéns pelo novo álbum! Como está sendo a recepção do público e dos fãs com esse novo trabalho?
Raony: Pô, valeu! Cara, tá demais… a gente ficou muito feliz com a resposta da galera. É uma coisa que você sabe que a gente fica super nervoso antes de lançar porque a gente faz com todo coração. É um trabalho de bastante tempo, a gente ficou mais de um ano fazendo o disco. Então, a gente também tava muito ansioso pra poder colocar ele no ar. É muito trabalho, cada detalhe do lançamento a gente tava por trás, correndo atrás pra ser uma coisa bonita e tal.
E ai quando o disco saiu, a resposta da galera surpreendeu muito a gente. As pessoas se conectaram de verdade com o que a gente tava dizendo ali, com os arranjos, então a gente ficou realmente muito feliz com a resposta da galera. São respostas muito profundas também, as pessoas entenderam que a gente fez um disco com profundidade, com verdade e tal, então essas pessoas tem uma verdade muito parecida com a nossa, que vivem coisas parecidas com a gente, que tem desejos, e também necessidades parecidas com as nossas, se identificaram de imediato. Então, pra gente isso foi um presente mesmo.
Qual o significado por trás do nome do álbum, “Deus e o Átomo”, e como ele se relaciona com as faixas como um todo?
Raony: O nome do álbum não é algo que a gente gosta muito de dissertar sobre porque a gente gosta mais da ideia dele ficar em aberto pras pessoas terem a própria interpretação ali do nome literal, “Deus e o Átomo”. Mas a gente entende também que o nome é como se a gente estivesse dando a temperatura pro álbum. O álbum não é um álbum que eu possa dizer que é temático, as músicas não dissertam sobre Deus e o átomo ali, mas elas falam diretamente do nosso ponto de vista porque Deus e o átomo sempre estiveram nas nossas conversas, mais como tema do que como um título, sabe?
A gente é bastante espiritualizado e entende também essas duas realidades, Deus e o átomo, como uma realidade muito mais extensa assim. Então, ela é meio como se fosse um ambiente, uma temperatura pras conversas que a gente tem e que acabaram sendo musicadas, de certa forma no disco.
E ai o disco se divide em duas partes, já pensando que a gente lançaria ele em vinil. Então, a primeira parte é a que começa com a música “Deus” e o interlúdio do Síntese [“70×7”], que simboliza Deus no disco e a segunda parte com a música “Átomo” e o interlúdio do Edgar [“Z”], que simboliza o átomo no disco. A primeira parte é a parte mais conceito do disco, em cima do conceito que a gente pensou pro álbum e de eletrônico, de recorte de sample, essas coisas, e na segunda parte do álbum tem as músicas mais estranhas mesmo, mais rock, mais torto, que é como as pessoas faziam essa divisão do vinil antigamente, por isso que nasceu o Lado B. Então, a segunda parte do disco é o Lado B do disco.
Vocês postaram vários teasers no YouTube com imagens das gravações, dos momentos de estúdio, das colaborações. Pode falar um pouco sobre como foi esse processo de criação do álbum dentro e fora do estúdio?
Raony: Inclusive, os vídeos foram algo que deu um gosto muito legal pra gente fazer. A gente pode revisitar a época das gravações. A gente fez muita coisa em estúdio mesmo, não teve uma pré-produção da banda se encontrar e tocar o disco antes dele ser gravado. Muita coisa foi ali criada no estúdio pra ter essa coisa mais espontânea mesmo, mais instantânea das ideias irem entrando ali. A gente não se prendeu no instrumento de cada um, todo mundo gravou um pouco de guitarra, um pouco de baixo, um pouco de cada um dos instrumentos que entrou ali.
Antes da gente entrar pra gravar o disco, antes da gente entrar em estúdio, eu e o Keops tivemos um processo muito grande de pesquisa, como se a gente levantasse um mural que a gente acreditaria que podia ser o disco. Vendo muitas referências, ouvindo muitas coisas novas, e nesse processo a gente achou alguns rappers que, na verdade, eles tem uns discos muito musicais mesmo e ai você fica meio que esperando “pô, mas não era pra ser um rapper?” e na verdade ele dá esse choque assim. E a gente queria dar esse mesmo tipo de choque, tipo “mas não era pra ser uma banda de rock?”, entende? E com essa pesquisa, a gente acabou utilizando muito dessas coisas de sample, de beat eletrônico, essas vozes que entram dentro dos beats, scratch, sopro, todas essas coisas que acabaram segurando ali no disco, vieram desse processo de pesquisa.
E ai foi legal pra caramba também gravar com o Toledo, guitarrista da Supercombo, ele produziu o disco e gravou todas as baterias. Isso ai pro processo de criação do disco foi muito massa porque ele é muito criativo, ele é muito torto, muito doido, gosta muito de experimentar coisas com pedal, então pra gente isso enriqueceu todo o processo.
O disco está repleto de participações especiais, como Teco Martins, Helena D’Troia e também o Marcelo D2, que teceu vários elogios pra banda no Instagram dele na semana passada. Como surgiu a ideia dessa parceria?
Raony: O D2, a gente é brother dele desde que a gente era moleque. Eu e o Keops, a gente cresceu dentro desse furação que foi a Hemp Family, que eram várias bandas do circuito underground. O Planet Hemp foi uma banda que acabou emergindo do circuito underground ali no Rio de Janeiro e que eles tinham também como base essa ideologia da mistura. Era muito característico das bandas de rock no Rio nos anos 90 de misturar o rock com o rap.
E a gente quis fazer isso de uma forma mais moderna, então a gente começou a encontrar muito com o D2, quando a gente mudou pra São Paulo. Todo show que ele vinha tocar aqui, a gente ia encontrar com ele. Desde os show do Planet [Hemp], agora com a volta deles, até os próprios shows solo dele. E a gente teve bastante tempo de conversa, de troca de ideia, de sair… No meio disso, a gente já tava construindo o disco e a gente teve a ideia de fazer um trap com o rock. Com esse encontro com ele, a gente falou que seria massa se fosse o D2, até pra trazer uma vertente diferente do que é óbvio no trabalho dele e ali a gente falou “pô, vamos dar um toque no D2 pra quando ele vier ai num próximo show”. A gente deu um salve, teve um tempo num hotel e tal, trocamos uma ideia sobre os conceitos do nosso novo disco e ele explicando como seria o disco novo dele. Ai acabou que o convite foi natural e a gente ficou muito feliz com a participação dele.
Ele é muito aberto com a gente, já fez vários posts antes falando sobre o Medulla, sempre cita o Medulla onde ele vai e a gente é muito honrado por isso também. Eu ia nos shows do Planet Hemp quando eu era moleque, de ficar com asma dentro da roda, nos mosh pits.
Vocês tem uma ligação forte com as bandas do rock brasileiro atual, como a Scalene e a Supercombo, que vocês participaram do álbum “Rogério” e eles estiverem muito presentes na produção de “Deus e o Átomo”. Como funcionou essa parceria, a produção e como eles agregaram no som da banda?
Raony: Desde o começo dos encontros da gente com essas bandas que a gente conseguiu notar que todo mundo se influencia muito, sabe? Não é uma cena fake, é muito verdadeira a reunião que a gente tem. Pra gente foi ideal tudo ter acontecido mais ou menos na mesma época. E ai nessa época de encontro, a gente tava procurando produtor pro disco e encontramos tanto com os caras que essa pilha acabou sendo natural também. Os caras falaram “pô, por que vocês não fazem aqui no estúdio? A gente produz várias coisas aqui” e a gente ficou amarradão de ter essa possibilidade. E ai o Leo [Ramos – Supercombo], também no começo do trabalho com a gente, deu muitas ideias, ficou muito junto com a gente ali e acabou mixando o disco e masterizando junto com o Red [Fernando Martínez], que é do estúdio Gritaria, junto com eles.
Foi muito foda porque cada banda dessa tem suas características próprias, e ver essa pororoca de formação das bandas ali pra gente foi muito importante e ajudou o disco a ficar mais moderno, mais próximo das linguagens entre essas bandas que tem se encontrado. E a gente adora… inclusive vai ter um festival [Festa Avalanche – Rock] agora no final do mês que vem que vai ser o Medulla, Far From Alaska, Scalene, Ego Kill Talent e Supercombo, e vai ser meio que uma confraternização desse momento que a gente tá vivendo junto como banda, como cena e tal.
Ainda falando de influências e participação especial, qual artista, nacional ou internacional, que você gostaria de tocar junto e fazer uma colaboração no futuro?
Raony: Nossa… tem muitos artistas que a gente gostaria de trabalhar junto, de fazer alguma track junto. A galera do rap acaba sendo até mais natural porque a gente tem muitos amigos no rap, mas a gente também tem vontade muito grande de fazer com os caras que influenciam a gente pra caramba. Adoraria ter uma música com o Lenine, uma mistura desse tipo, mas também seria muito foda se a gente tivesse a oportunidade de fazer um som com a Erykah Badu ou com Kendrick Lamar, ou ainda com os caras do Odd Future, seria foda pra caramba. Com Liniker também seria muito legal!
Alguns integrantes saíram da banda recentemente, no ano passado e no começo deste. Como vocês lidaram como isso? Afetou o álbum e a produção de alguma maneira?
Raony: Eu acho que “afetar” não é o nome certo, mas você vê que o disco também é resultado desde o discurso que a gente fala à esse processo de transição, de mudança. São coisas que a gente não esperava, mas que acabou sendo natural. Mas a gente guarda amigos e a banda não é a gente como pessoa, é um projeto musical que precisa continuar e dizer as coisas que cabem à essa entidade chamada Medulla. Então, eu acho que só posso dizer que realmente fez algum tipo de diferença sim, sonoramente e tal, a gente ter mudado de formação, mas não acredito que “afetar” seja o nome.
Quais são os planos da banda daqui pra frente? Vocês vão lançar videoclipes?
Raony: Sim, a gente começou a campanha agora, mas a gente já tá conversando e acertando as coisas pro primeiro clipe, do primeiro single. Mas a gente também tá total focado pra fazer máximo de clipe possível e colocar outras ideias que não são padrão no ar, não só um videoclipe ou alguma coisa assim. A gente tá rascunhando ideias, principalmente pro ano que vem, pra gente poder colocar coisas diferentes no ar também. A gente sempre fez conteúdo pra YouTube ou offline, então ano que vem certamente vão ter umas surpresas legais, inclusive junto com as bandas que tem esse convívio com a gente.
E por último, você tem alguma mensagem para os fãs do Medulla e para os leitores do Nação da Música?
Raony: Pra galera que trampa no Nação da Música, eu tenho muito a agradecer porque a gente realmente tá muito feliz de ter mídia espontânea, uma galera que curte o trampo e apoia o trabalho da gente.
E pra galera que curte, a gente tá muito feliz de ver uma nova geração de consumidores de música, entendendo formas novas de consumir música, independente de padrão de rádio, TV, essas mídias grandes e tudo mais, mas uma galera que tá interessada no conteúdo mesmo, no conteúdo artístico das bandas. Essa galera é realmente a semente do fruto que tá dando, que a gente vê tantas bandas legais, tantos artistas legais, em vários segmentos, não só no rock. Mas é isso, dar um salve pra galera que tá interessada em cultura de verdade, pessoas de verdade.
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