Considerada umas das promessas do indie nacional, a cantora, compositora e pianista Tais Alvarenga acaba de lançar seu primeiro disco. Intitulado “Coração Só”, o trabalho foi divulgado nesta quinta-feira (08), composto por 16 canções.
A Nação da Música conversou com Tais sobre seu processo de criação, suas influências e também sobre o período em que morou nos Estados Unidos e estudou na Berklee College of Music.
Entrevista feita por Marina Moia.
————————————————————————————————————— Leia a íntegra
Olá, tudo bem? Vamos começar lá do começo! Tais, você começou a se interessar por música quando era bem pequena, dentro da igreja. Poderia nos contar como essa época e esse estilo de música te trouxeram até aqui? Esse período ainda tem influência nas suas criações?
Tais: A música é um instrumento forte nas igrejas. Isso me trouxe a possibilidade de um dos maiores encontros da minha vida: cantar, compor, tocar. Uma das coisas dessa época que me tocava era a experiência que tive com corais e grupos. Ouvir todas aquelas melodias juntas abriu minha musicalidade. Mas eu diria que não ficou muito do estilo musical que havia ali. Eu nunca gostei dos vícios que os estilos trazem, como o gospel e muitos outros que me influenciaram.
Nos meus aprendizados da Berklee, tentei limpar ao máximo todos os vícios que tinha e buscar o que seria mais genuíno e emocionante da minha voz. Mas existe algo muito forte nessas músicas da minha experiência com os ensinamentos da igreja: a narrativa. Desde cedo eu acreditei com muita força em coisas como o amor e a nobreza.
Esse disco vem de alguém que não entende a falta de profundidade dos dias de hoje, o fim do amor. Fui criada por duas pessoas que buscavam nobreza a qualquer custo. Que queriam estar prontas para ir para um “céu”. Existe céu nas minhas capas, nas minhas letras, nos meus sentimentos, nas minhas histórias. O amor é o divino do ser.
Da igreja para a Berklee College of Music. Para quem não conhece, poderia nos contar como esse período nos Estados Unidos te ajudou e te impulsionou a continuar na carreira musical?
Tais: Na Berklee eu me apaixonei por música verdadeiramente. Música em si. Antes, eu consumia música como nós brasileiros temos a cultura: vendo, ou escutando só o cantor principal, ou só porque está nas paradas. Na Berklee eu aprendia a apreciar cada instrumento, suas importâncias, suas potencialidades, como foram utilizados na história dos grandes compositores clássicos. De onde veio cada referência, independente de onde está no mercado.
Voltar para o Brasil e rever minha cultura depois de ter aprendido tudo isso foi essencial para entender meu caminho, até porque sou patriota e queria ser cantora no meu país. Hoje sinto que posso estar na música com a consistência que um músico precisa para defender a mesma. Hoje sei que a música é maior do que eu, e meu respeito é infinito. Estou à disposição da música e da arte sem nem entender os caminhos.
Finalmente você lançou seu primeiro disco autoral! Imagino que a ansiedade esteja bem grande! Como estão os sentimentos agora que você coloca esse “filho” no mundo? O que os fãs podem esperar de Tais Alvarenga em “Coração Só”?
Tais: Podem esperar muita entrega e o máximo de verdade possível. Estou emocionada. Foi um caminho de muitos “nãos” meus, por acreditar numa carreira limpa, e consequentemente tudo se deu mais árduo. Estou ansiosa para encontrar minha banda, e começar a levar esse projeto para os palcos, acredito que essa será sua maior força.
Você teve vários colaboradores neste disco, nomes de peso. Como foi o processo de produção e o período no estúdio?
Tais: É sempre difícil explicar esse processo com palavras. Foi diferente de todos os processos que já vivi de gravação. Mas sempre tento dizendo que o Pupillo, mesmo sendo o monstro que é, deu ao trabalho o cuidado devido e usou sua fúria musical para respeitar artisticamente o que acreditávamos ser mais genuíno. Tivemos momentos de discussão e até discórdia, e era tudo o que eu queria viver há anos. Queria produzir com alguém que tivesse a música como prioridade. O Pupillo e o Trilha foram a minha sorte.
O seu disco é descrito como autobiográfico e praticamente todas as canções falam sobre experiências pessoais. Como é o seu processo de criação e composição?
Tais: Eu sou muito intensa em tudo, até para compor. A maioria das músicas neste disco nasceram em mim como uma catarse. No estúdio, deixo a emoção falar mais forte para direcionar os arranjos. Tento expressar musicalmente o significado das letras. Mas acredito que criar seja um exercício da mente e da alma. Precisamos aprender a estar abertos para o divino.
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Recentemente, você gravou o videoclipe da faixa-título em Nova Iorque. Como foi a experiência? E como foi voltar aos Estados Unidos agora com seu disco pronto e prestes a ser lançado?
Tais: Foi lindo ver o quanto eu mudei. O quanto as percepções sobre esse país e essa cidade eram diferentes do que quando tinha 25 anos. Hoje, consigo entender o tamanho da sorte de ter ido estudar música na Berklee College of Music. Talvez naquela época não entendesse o quanto isso mudaria a minha vida. Foi muito significativo gravar o clipe lá, representando a minha loucura na solidão. Expressar o quanto o mundo nos invade quando estamos voando nos nossos abismos.
O que você tem mais ouvido ultimamente?
Tais: Estou numa fase muito Billie Eilish [risos]. Mas também voltei a estudar as partituras de Stravinsky. Amo reger suas músicas, mesmo que em casa para ninguém e com ninguém.
Com quem gostaria de fazer uma colaboração no futuro?
Tais: Gostaria de produzir um trabalho que fale de luz e evolução. Gostaria de conseguir tirar da arte um pouco da escuridão em mim. Da morte em nós. Da falta, da loucura. Acho que o mundo está no meio de uma evolução significativa. Eu tenho tentado me purificar ao máximo em todos os aspectos. Gostaria de contribuir dessa forma. Luz, purificação e som. Um dia eu chego lá.
Gostaria de deixar um recado aos leitores do Nação da Música?
Tais: Coragem.
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