No final do mês de abril, o cantor e compositor Thiago Ramil divulgou o novo álbum visual “O sol marca o andar do tempo e a imensidão do universo todo dia”, conjunto de canções e vídeos que mergulham profundamente na musicalidade e narrativas do artista gaúcho, conduzido pelas nuances sonoras e cromáticas das estações do ano.
O trabalho foi dividido em estações do ano e depois lançado como uma obra completa e recebeu o cuidado de quatro produtores musicais e quatro artistas visuais diferentes para representar cada fase do disco. A Nação da Música teve a oportunidade de conversar com Thiago Ramil sobre a produção do álbum.
Entrevista por Marina Moia.
——————————————– Leia a íntegra:
Obrigada por falar com a Nação da Música! No final de abril, você lançou o disco “O sol marca o andar do tempo e a imensidão do universo todo dia”. Como foi o processo criativo deste álbum e como surgiu a ideia de dividi-lo em estações do ano?
Thiago Ramil: Primeiramente quero agradecer o interesse pelo trabalho e por ajudar a compartilhar ele com as pessoas. :)
O processo criativo deste trabalho foi bastante desafiador, por ter sido realizado em um contexto de isolamento e tendo o envolvimento de muitos parceiros e artistas. Ao mesmo tempo, esse desafio foi muito inspirador, pois nos mostrou que existem formas de driblar a solidão do isolamento e realizar processos de criação coletiva. É, de certa forma contraditório, mas esse álbum é meu trabalho que mais envolveu artistas e músicos e tendo sido feito em um momento de isolamento social. Ele me surpreendeu de forma positiva e mostrou como é possível chegar a bons resultados a partir desses contexto.
Com relação ao conceito do álbum e o diálogo com as estações do ano, eu vinha, ao longo de 2020, cultivando a vontade de organizar meu trabalho em EP’s (3/4 faixas) e no final do ano escrevi um projeto, que foi contemplado no edital Aldir Blanc, e que reunia 4 EP’s com produções musicais diferentes e a produção de um álbum visual para cada EP, tendo também mais quatro diretores (um para cada álbum visual).
A fim de encontrar uma unidade dentro dessas quatro expressões, propus aos produtores e diretores esse diálogo sutil com as intenções e colorações de cada estação do ano, servindo de inspiração no conceito e na estética de cada trabalho.
Buscando reforçar o sentido de unidade desse trabalho múltiplo, o título do álbum completo é o resultado da soma dos títulos dos eps, conforme sua ordem de lançamento. E o título que resulta desse mosaico fala sobre o movimento de translação, esse movimento que marca o ciclo do ano, navegando por quatro estações.
– O título completo: O sol marca (verão) O andar do tempo (outono) E a imensidão do universo (inverno) Todo dia (primavera)
Cada fase recebeu o cuidado de produtores e artistas visuais diferentes para dar vida ao trabalho. Como foi alinhar o trabalho visual junto com o sonoro?
Thiago Ramil: No âmbito do trabalho de áudio e a produção do disco, tivemos um engenheiro de mixagem (leo bracht/ transcedental áudio) e um engenheiro de masterização (felipe tichauer / redtraxxmastering), a fim de buscar uma unidade no tratamento do áudio. Além disso, os produtores (Felipe Zancanaro e Vini Albernaz/EP1 | Guilherme Ceron/EP2 | Pedro Dom/EP3 | Dessa Ferreira/EP4) também atuaram como músicos nas produções dos outros, o que gerou uma diálogo mais estreito. Também tiveram a atuação de músicos em mais de um ep, em destaque para Gutcha Ramil, o Lorenzo Flach e o Pedro Petracco, que gravaram bastante ao longo de todo o álbum.
No âmbito da imagem, buscamos através do trabalho da bailarina e antropóloga Geórgia Macedo, criar um dispositivo artístico que atuasse como um fio condutor no diálogo com os quatro diretores (Coletivo Ilha Maravilha/EPV1 | Lucas dos Reis/EPV2 | Isabel Ramil e Geórgia Macedo/EPV3 | Guilherme Becker e Ocorre Lab/EPV4).
Acho que esses elementos, tanto no âmbito do áudio como do visual, fortaleceram o sentido de unidade a partir da multiplicidade desse trabalho.
A pandemia e o isolamento social influenciaram na sua criatividade? Como é lançar um disco neste momento da vida?
Thiago Ramil: Certamente. A pandemia é um impacto gigantesco na vida de todo mundo, e é difícil pensar numa normalidade nesse momento, muito devastador. Estamos precisando nos reinventar radicalmente; é muito complexo tudo isso. Mas falando no âmbito dos processos criativos, a composição sempre teve uma função terapêutica pra mim, sempre me ajudou a elaborar processos e expressar sentimentos. Por isso ela foi uma grande aliada no ano passado e a maior parte do repertório do álbum é composto por canções desse momento, desse período. Ter tido a possibilidade de viabilizar esse trabalho e lançar essas canções foi uma grande alegria nesse momento sombrio e fiquei muito feliz de poder reunir muitos artistas que admiro para criar comigo e compartilhar com o mundo esse processo. Apesar das dificuldades que permanecem, a impossibilidade de retomar os shows, de encontrar as pessoas, entre tantas outras, acredito que ter conseguido realizar e lançar esse trabalho nesse momento e chegar ao resultado que chegamos juntos, com equipamentos próprios e driblando a distância, foi algo que nos fez bem; trouxe muita alegria pra mim e acredito que pra todos.
Em “O sol marca o andar do tempo e a imensidão do universo todo dia”, você trabalhou com muitos colaboradores, desde produtores a músicos. Com quem você gostaria de fazer uma parceria no futuro?
Thiago Ramil: Gosto muito de trabalhar em parceria e o disco. O último álbum está cheio delas e muitas também foram feitas a distância. É algo que, contraditoriamente, nos aproxima. Gosto muito do diálogo e do intercâmbio artístico, aprendo muito a cada nova parceria. Seja no âmbito da escrita ou da harmonia e da melodia. Então estou sempre disposto e aberto para esse processo. Gostaria muito de poder compor algo com aqueles que são mestres, como Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Nascimento, … Com relação aos artistas que são contemporâneos meus, gostaria muito de trabalhar com a Larissa Luz em alguma oportunidade, pois admiro muito o trabalho dela; e também com a incrível Mayra Andrade (Cabo Verde), seria sensacional!
Agora que o disco está no mundo, o que mais podemos esperar de Thiago Ramil para 2021?
Thiago Ramil: Esse projeto foi muito importante pois mostrou a possibilidade de chegar em ótimos resultados a partir de produções que se iniciam em casa. Isso me impulsiona para dar mais vazão ao processo criativo e confesso, que tenho vontade de lançar ainda esse ano um EP reunindo versões canções que nunca lancei. Mas isso seria mais pro final do ano.
Outro trabalho que pretendo desenvolver ao longo do ano é o projeto “As lágrimas coloridas de uma árvore falante”, que realizo junto com o parceiro Raul Jung e atua na interface entre a música e a psicologia. Esse projeto envolve a composição e disponibilização de acalantos para crianças em acolhimento institucional da rede municipal de porto alegre, buscando contribuir com as questões e dificuldades relacionadas ao dormir.
Pretendemos, ao longo desse ano, ampliar a atuação do projeto e estudar e desenvolvê-lo como uma ferramenta terapêutica, pois nos interessa muito pensar as contribuições pedagógicas e terapêuticas da produção artística.
Gostaria de deixar um recado para os leitores da Nação da Música?
Thiago Ramil:
Cantem
pra vocês
pode ser baixinho, sussurrado
pode ser bem alto, até gritado
mas cantem.
sem medo de cantar
porque a vida não é um palco
a vida é a sala
é a casa
é a alma
então cantem
pra esquentar
o peito
pra sorrir
por dentro
cantem
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