No final de maio, a banda Tuyo lançou o segundo disco da carreira, chamado “Chegamos Sozinhos em Casa”. Na primeira parte do material que será dividido em três, o trio carrega nas nove faixas processos de amadurecimento e pertencimento, verbalizando seus devaneios individuais e coletivos. Os integrantes, que antes moravam juntos na mesma casa, decidiram cada um viver em seu lugar.
A Nação da Música conversou com o trio formado por Lio, Lay Soares e Machado sobre o processo do nosso álbum, o que podemos esperar das próximas partes que ainda serão lançadas e também sobre os artistas e bandas que eles mais ouviram durante o isolamento social.
Entrevista por Marina Moia.
————————————- Leia a íntegra:
Obrigada por falarem com a Nação da Música! Primeiro de tudo, parabéns pelo lançamento de “Chegamos Sozinhos em Casa”. Como foi o processo criativo deste disco? Quão diferente foi do processo de “Pra Curar”?
Tuyo: Oooopa, pessoal! Agradecemos demais o convite para o papo! E, já começo contando as controvérsias: pensamos no “Chegamos Sozinhos em Casa” a partir da experiência do palco. Enquanto o “Pra Curar” tinha um jeitão mais íntimo, introspectivo, mais denso esteticamente, esse novo trabalho nasceu a partir da necessidade que sentimos na estrada, de explorar as possibilidades eletrônicas menos distantes do pop. Apesar da poética ainda intensa, as músicas passaram a ganhar refrão, o disco é mais upbeat, enfim… a gente quis se desafiar. A ironia é que tão logo a gente terminou de gravar um disco inspirado na experiência dos shows, e ‘acabou’ a era dos shows.
Por que a decisão de lançar o disco em duas partes? Como elas se diferenciam entre si e o que podemos esperar da parte 2?
Tuyo: Acho que esse trabalho é meio que como um mapa mental, um iconográfico com momentos emblemáticos da vida adulta, ou episódios que diagnosticam que a gente envelheceu, amadureceu. Fez mais sentido organizar esse mapa em duas partes para que a gente conseguisse dar conta de conversar sobre os temas com calma, não metralhar tudo em cima de quem tá escutando. No primeiro volume está condensada uma demarcação bastante territorial. A gente abre o disco falando de memória, de origem, com “Vitória Vila Velha”, cidade natal do Machado. E, seguimos falando sobre retornos, partidas, chegadas, reencontros… o segundo volume concentra um outro aspecto menos pragmático desses ritos contemporâneos de se entender adulto.
O disco conta com diversas participações especiais: Lucas Silveira, Jaloo, Luccas Carlos e Jonathan Ferr. Como foi trabalhar com estes respectivos artistas, principalmente, com o Silveira, que também participou da produção?
Tuyo: Acredito que as colaborações são um reflexo massa do que vivemos na estrada, durante a turnê do “Pra Curar”. Conhecemos boa parte dos artistas no disco nessas idas e vindas entre festivais e feiras de música e pra nossa sorte o carinho foi se estendendo para além dos line ups dos palcos. O Jonathan Ferr, o Luccas Carlos, o Jaloo e o Lucas Silveira são sortes na nossa história. Artistas que, além de talentosíssimos, têm a sensibilidade pulsando cada um ali à sua maneira. Com as colaborações, boa parte do trabalho precisou acontecer remotamente, para a nossa tristeza, mas nem a distância tirou o brilhantismo com que cada um enriqueceu as canções. Com o Lucas Silveira a gente teve um pouco mais de tempo, logo antes do lockdown, bem no início do ano passado. Rolou a felicidade de conseguir compor junto, gravar, discutir as faixas, aprender com ele… A gentileza da condução de criação desse álbum talvez seja a maior marca do processo todo com essa turma de ouro.
“Chegamos Sozinhos em Casa” é um retrato de quando vocês fecharam a porta dos seus respectivos lares e abriram um portal de possibilidades sonoras, de pertencimento e de amadurecimento. Mas, em relação à situação atual do nosso mundo, ela também teve influência no trabalho? Tanto a pandemia como o isolamento social.
Tuyo: O disco já tinha sido todo escrito em janeiro de 2020. Não se falava em lockdown, pandemia, nada do tipo. Escrevemos justamente sobre nossas experiências enquanto indivíduos, adquirindo autonomia a partir do território, da auto percepção. A situação do nosso mundo era essa paisagem: três jovens negros em ascenção no sul do país, usufruindo de um novo acesso – poder morar sozinho. É curioso falar sobre isso quando é tão coerente associar muito do que tem dentro desse disco com o que tem acontecido com o mundo hoje, mas talvez seja só um sinal de que a sensação pós apocalíptica tanto social quanto emocional não nasceu com a pandemia. Talvez a pandemia tenha sim saturado essas circunstâncias, mas desde o golpe em 2016 a gente já vem num ritmo progressivo de preocupação, né… nada comparado ao inferno que tem sido os últimos meses, mas a aflição é de longa data. Traz algum conforto pensar que a gente faz as manobras que consegue com arte, se conecta, se relaciona a partir do nosso tempo, do que a gente sabe sobre o mundo. Daí é bonito assistir as pessoas entendendo o disco como um novo amuleto para estes tempos estranhos.
Neste período de isolamento social, teve algum artista, disco ou banda que vocês mais ouviram?
Tuyo: A gente tem ouvido pra caramba o EP “Outro Rolê” do FBC e a banda The Blaze. Não faltou BEYONCÉ com aquele disco que salva a cabeça da gente “The Lion King: The Gift [Deluxe Edition]”, sempre rodeados de afrobeat também como Amaarae. Além de vários discos e artistas a gente acabou ouvindo muitas playlists, às vezes a gente começava o dia em playlist de pagode e anoitecia no R&B.
Gostariam de deixar um recado aos leitores da Nação da Música?
Tuyo: A gente fica feliz de ter sido convidado pra essa diálogo com a Nação da Música e, mais feliz ainda, de saber que vocês todos estão aí, lendo, se interessando e consumindo arte de todas as formas. Um abração pra você que tá aqui nessa conversa com nós da Tuyo e, que um dia a gente consiga sair desse período de aflição e poder viver um novo tempo.
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