Entrevistamos Capital Inicial sobre novo projeto 4.0

capital inicial
Foto: Divulgação

Os próximos meses serão de celebração para os fãs de uma das maiores bandas de rock do Brasil. O projeto Capital Inicial 4.0 é uma comemoração da história e legado do grupo, com foco no futuro e na conexão cada vez mais forte com o público. Desdobrando-se em três frentes, álbum, DVD e turnê, essa nova era levará os grandes hits para audiências de todas as gerações.

A Nação da Música conversou com o vocalista Dinho Ouro Preto sobre os 40 anos de banda, a importância dos fãs e também sobre as gravações do disco e do DVD.

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Entrevista por Marina Moia.
—————————————– Leia a íntegra:
Dinho, da última vez que nos falamos, era 2018. Muita, muita coisa mudou desde então. A pandemia foi cruel para os músicos e bandas também, que tiveram que parar as atividades ao vivo. Como está sendo essa volta aos palcos?
Dinho: Uma das coisas que sempre caracterizou o Capital é que eram turnês ininterruptas. A gente compunha os discos novos enquanto a gente ainda estava na estrada, gravava durante os dias de semana quando voltávamos pra casa, pensávamos no cenário e nas luzes novas e, de um final de semana para outro, nós emendávamos uma turnê na turnê seguinte. A gente veio fazendo isso desde 1998. Então, de 98 até a pandemia, em 2020, o Capital tirava no máximo 15 dias de férias. 15 dias no inverno e 15 dias no verão. Todo santo fim de semana a gente estava na estrada. Eu acho que outros artistas no Brasil tendem a ter turnês com começo, meio e fim. Eu nem sei porque o Capital entrou nessa batida e nunca mais parou.

Quando começou a pandemia, foi uma sensação muito estranha. Eu levei um bom tempo até me adaptar a ficar em casa. Lentamente, eu fui relaxando, fui pro sítio com a minha família. E agora que o Capital tá voltando, numa batida maior, desde abril, eu estou tendo dificuldade de me readaptar ao que era minha vida até dois anos atrás! É como se você nunca estivesse satisfeito [risos]. Quando para, você acha ruim. Quando volta, você também acha esquisito.

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O que o Capital vai tentar a partir de agora, que talvez seja o legado dessa experiência toda, é fazer turnês mais “userfriendly”, que são mais amigáveis e ter um começo, meio e fim. Essa turnê do 4.0 é a primeira tentativa. Uma turnê mais amigável, mais confortável. A gente vai anunciar agora em julho 20 datas e vão ser [apenas] essas 20 datas que o Capital vai fazer. A gente vai tentar fazer de outro jeito. Fazer shows maiores e menos shows. Vamos ver se dá certo. É justamente ver se algo muda pós-pandemia.

E o pontapé inicial da turnê vai ser, nada mais nada menos do que no Rock in Rio. Vocês já são veteranos do festival, mas como estão as expectativas para esse show e a turnê que segue?
Dinho: O Rock in Rio é algo singular, aquele oceano de gente. Mas tem uma atmosfera festiva, de que todo mundo foi pra lá pra se divertir. É animal. É sempre divertido, sempre supera as expectativas. A gente tocou em quase todos, menos em dois. Teve um que a gente deixou de fazer, mas eu trabalhei como curador junto com outros artistas brasileiros que já tinham tocado no festival. É como se eu fosse parte da família. São amigos de muitos anos, queridos, e eu adoro que seja o pontapé inicial da turnê. É auspicioso. É começar com o pé direito.

O show que a gente colocou de pé tem como diretor de arte o Batman Zavareze e a gente chegou nele através do trabalho dele com os Tribalistas e mais tarde com a turnê da Marisa Monte. É um grande artista que fez parte desse time, que dirigiu o DVD e fez a direção de arte também. O áudio é do Dudu Marote, com quem a gente não tinha trabalhado, embora ele seja um cara premiado e que já trabalhou com Emicida, com BaianaSystem, com Skank, com inúmeros artistas brasileiros. E a luz, que também é uma peça essencial pro show, é do Cesio Lima, que trabalha com o Capital há algumas décadas. Ele fez todos os Rock in Rio com o Capital também. É um time de ases, de vários Neymars [risos].

A gente vai botar o trabalho que esse time montou na rua a partir do Rock in Rio. Com esse novo formato que é inédito pro Capital Inicial, que trabalhava sem fim. Pela primeira vez, vai ser algo com as datas contadas nos dedos. O que, na minha opinião, amplifica o valor dessas 20 datas. É pegar ou largar.

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Vamos falar de Capital Inicial 4.0! É um projeto incrível e que vai reunir os grandes sucessos e participações mais do que especiais. Como está o coração ao completar 40 anos de banda? Lá no começo, imaginou que chegariam até aqui?
Dinho: Não. Mas eu preciso ser honesto com você. O Capital é uma sucessão de surpresas. Quando o Capital gravou o primeiro disco, em 1984, eu lembro de pegar aquele disco e olhar com uma surpresa. Porque tudo começou em Brasília de um modo bem despretensioso, sabe? Não havia essa infraestrutura que mais tarde se construiu em volta do rock. Não tinha festival no Brasil, as bandas gringas quase nunca vinham pra cá, tudo era menor e as bandas eram amadoras. Claro, a gente já tinha tido a Jovem Guarda, a Rita Lee, os Mutantes, mas a cada ano bissexto aparecia algo assim.

Foi uma surpresa a dimensão que as coisas tomaram. Foi uma surpresa o Capital poder tocar para plateias tão grandes. Foi uma surpresa o Capital ter o sucesso que teve com o Acústico. Foi uma surpresa como nós fomos recebidos no Rock in Rio. Foi uma surpresa fazer 40 anos. É uma atrás da outra. E que não param. O Capital fez uma turnê pelos Estados Unidos no ano passado e os lugares estavam cheios! Lotados! A gente tocando em casas de rock conhecidas, templos sagrados do rock. Mais uma surpresa.

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Se você acaba sendo abençoado com uma carreira longa como a nossa, você vai viver o suficiente para ver essas coisas surpreendentes passarem por você. E eu acho que você nunca deve perceber isso com uma atitude blasé, sabe? Você nunca deve se dar por satisfeito, fazer pouco caso ou tratar isso com indiferença. Eu fico profundamente emocionado, eu me surpreendo com facilidade e me emociono com facilidade. E sou muito grato e me dou perfeitamente conta da sorte que eu tenho. O privilégio que é poder viver de música, ainda mais rock no Brasil, e ter uma carreira tão extensa.

Eu já pude assistir ao vídeos com a Marina Sena, Ana Gabriela e Samuel Rosa e estão todos incríveis, uma energia muito boa. Como foi reunir tantos nomes para esse projeto? Tanto da nova geração como da mesma geração do Capital.
Dinho: A gente quis justamente fazer as duas coisas. A gente procurou os grandes nomes que a gente conhece há muitos anos, que eu admiro. A Pitty é uma delas. Ela é uma outra categoria. Eu acho que o mesmo vale pro Samuel. Ter esses dois caras no nosso disco é uma honra. Eu falo pro Samuel que ele foi abençoado com aquela voz. Eles são talentosos como intérpretes, como compositores, no palco, tudo que eles fazem eu acho genial.

A Ana [Gabriela], a Marina [Sena] e o Vitor [Kley] eu não conhecia. Eles então foram procurados na cara dura com o convite. E os três reagiram com surpresa também. Se sentiram privilegiados, gratos. Falaram coisas como “essas músicas fazem parte das nossas vidas”, “a gente cresceu ouvindo”. A Marina falou que ela era a própria Natasha da cidade dela, que ela era percebida como uma espécie de ET lá no norte de Minas Gerais. O Vitor contou que na casa dele todos ouviam “Primeiros Erros” e que todos na família ficaram super felizes dele gravar. A Ana também. A real é que, uma vez pronto e gravado, você vê o que eles fizeram. O Vitor se encontra comigo, até hoje, e me agradece. Pode isso? [risos]

Isso que ainda nem foi lançado oficialmente né?
Dinho: Nem saiu ainda! Ele é demais.

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Quando eu vejo o que a Ana gravou, eu ouço a voz dessa menina, eu penso “que sorte ter essas pessoas no disco”, sabe? Daqui a pouco elas vão ser estrelas gigantescas e eu não sei se vou poder mais contar com elas [risos]. São pessoas que estão fadadas a serem gigantescas. São muito talentosas. É um privilégio tê-las a bordo.

Faixas lado B também foram revisitadas para esse trabalho, certo? Como foi entrar em contato com essas canções de novo e trabalhar nelas?
Dinho: Algumas foram sugestões do Dudu Marote, produtor, como por exemplo “Insônia” e “Vendeta”. São músicas alternativas, mas que ele achou bem resolvidas. E tem uma música que chama “Kamikaze”, que é um pedido dos fãs. A gente tentou tocar muitas vezes e não rolava, não dava certo, daí dessa vez tentamos de novo e atendemos ao pedido dos fãs.

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O Capital tem inúmeros lados B, são mais de 20 discos, e foram músicas que foram ficando pelo caminho. A gente poderia muito bem ter gravado um álbum triplo. Em algum momento, você tem que deixar sob a responsabilidade de alguém. Se não, vamos ficar brigando entre nós. Quem acabou sendo o juiz, determinando o que ia entrar, foi o Dudu. O que a gente fez foi falar de algumas músicas que não podem ficar de fora. “Natasha”, “À Sua Maneira”, “Primeiros Erros”, “Tudo Que Vai”, “Veraneio”, são algumas músicas que se a gente subir no palco e não tocar, vão jogar pedra na gente. O resto ficou sob responsabilidade dele.

Tem uma outra, bem bonitinha, que entrou também chamada “Noite e Dia”, com a Gretel Paganini, que é só piano, cello e voz. Outro lado B que tinha ficado pra trás e também sugestão do Dudu.

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Deve ter sido uma viagem ao tempo revisitar essas faixas!
Dinho: Sim, sim. Mas o negócio é que quando você faz um projeto desses, você tem que acreditar em quem tá de fora. Nem sempre você é o melhor juiz. Você tem elo emocional com determinada canção porque foi importante pra você. Ou você fez a música num momento que foi relevante pra você. O que não necessariamente funciona pro resto. Com frequência, você não é o melhor juiz do seu próprio trabalho. Eu não me importo em fazer isso a quatro mãos. Foram poucas músicas. Acho que 16, algo assim. 16 músicas pra 40 anos é muito pouco.

Precisa ter alguém de fora mesmo, é o trabalho do produtor. Porque se não vai dar briga…
Dinho: Sim, a discordância dentro da própria banda! Imagina que a banda acaba se separando [risos].

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Como foram as gravações do DVD?
Dinho: Não foi fácil. O Dudu é um cara muito exigente e a gente ensaiou de novo, de novo e de novo. Todo dia, não sei quantas horas por dia, nas semanas que antecederam a gravação e no próprio dia da gravação. No dia anterior, a gente gravou duas vezes, com as câmeras no palco. No dia da gravação, a gente gravou à tarde e depois com a plateia, à noite. Acabou essa da noite, a gente refez o que tinha ficado ruim. Ou seja, quando acabou, a gente tinha feito o show quatro vezes em dois dias, refazendo os extras que não tinham ficado bons. Eu lembro que me deu uma exaustão, que eu nunca senti na minha vida. E olha que eu me cuido, não bebo, não fumo, eu corro…

Em retrospecto, eu dou razão a ele. Eu vejo o resultado, eu vejo as imagens, eu ouço a música, e fico “uau”. Mas, na hora, eu queria matar o Dudu [risos].

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Porque tem a exaustão física de ter feito o show quatro vezes e também a exaustão mental, de saber que tudo está certo, que está bom…
Dinho: Sim, exatamente. Exaustão emocional. Do tipo “eu não sei como melhorar o que você está pedindo! Já foi o meu melhor. O que você quer de mim?” [risos]. Uma hroa você não entende o que é e é terrivelmente frustrante. Mas dou a mão à palmatória porque hoje o resultado e como ficou legal.

Dinho, tem mais alguma coisa que você queira falar sobre esse projeto que ainda não tem perguntaram ou que você não falou e está dentro do seu coração para colocar pra fora?
Dinho: Como eu comentei com você, a gente vai fazer algo pela primeira vez, que a gente vai botar à venda 20 shows. Todos anunciados ao mesmo tempo agora em julho. Diferente de todas as anteriores, essa turnê tem começo, meio e fim. É uma coisa inédita para o Capital.

Uma coisa que a gente acontece é que a gente fala do projeto nessas entrevistas, fala dos convidados, das canções, dos técnicos, dos colaboradores. E o que a gente deixa de falar é dos fãs. O Capital tem os fãs mais aguerridos do Brasil e os melhores fã-clubes, que estão conosco faça chuva ou faça sol, em todos os lugares. Tem os fãs-clubes que são os militantes, que são pessoas generosas e incansáveis. Acho que a gente nunca agradeceu o suficiente essas pessoas, que sem elas, nada disso teria acontecido. As pessoas tatuam as nossas letras, tatuam o nosso logotipo, vão em todos os shows no Brasil e fora do Brasil. O Capital tem os melhores fãs do mundo.

Gostaria de deixar um recado a eles?
Dinho: Eu amo nossos fãs! Vários se tornaram amigos nossos. Tem meu telefone, falam comigo, se tornaram próximos. É outro efeito colateral dos 40 anos.

Isso diz muito sobre quem vocês são, sobre como vocês tratam os fãs e sobre essa carreira tão honrosa que vocês tem.
Dinho: Sim. O que a gente sempre diz é que eu gosto que as nossas músicas sejam acessíveis. Já vieram muitas pessoas me falar que aprenderam a tocar violão com as nossas músicas. Gosto da acessibilidade delas, de que qualquer pessoa pode pegar um violão e aprender a tocá-las. E assim como as nossas músicas são acessíveis, nós também somos.

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Marina Moia
Marina Moia
Jornalista e apaixonada por música desde que se conhece por gente.