Entrevistamos Lucas Silveira, da banda Fresno, sobre o “INVentário”

Fresno
Crédito: Divulgação/Camila Cornelsen

Em 2021 a Fresno iniciou os lançamentos de seu “INVentário”, onde disponibilizaram nas plataformas digitais músicas inéditas e regravações. Para fechar o projeto, ao lançar a faixa “000” na última quarta-feira (13), a banda aproveitou para anunciar o lançamento de seu próximo álbum “Vou Ter Que Me Virar” para o dia 5 de novembro.

O Nação da Música conversou com o vocalista Lucas Silveira sobre essa fase do grupo, como surgiu a ideia do “INVentário”, o processo de composição, parcerias e muito mais!

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Entrevista por Mariana Rossi.
——————————-Leia a íntegra:
Olá, tudo bem? Muito obrigada por falar com a Nação da Música! Em 2021 a Fresno decidiu abrir o seu INVentário e dividir com os fãs músicas inéditas, que estavam guardadas, inacabadas e reinvenções. Como surgiu a ideia desse projeto? Eram músicas que vocês tinham como “um dia vamos lançar essa” ou já estavam esquecidas?
Lucas Silveira: 
A ideia do INVentário surgiu com o Guerra, essa é a verdade. Tudo o que eu faço, eu mostro pro Guerra, depois de ouvir a décima coisa que eu mostrava e sabendo que não tínhamos tantas janelas pra lançar tantas coisas, ele falou, ‘cara, por que a gente não pega tudo que não lançamos e tudo que achamos que não cabe num disco e lança logo?’ e assim surgiu o INVentário. Apesar das músicas serem bem diversas e bem doidas em relação uma à outra, quando ouvimos tudo na ordem existe uma timeline ali rodando, transformando a audição do do INVentário num bagulho bem prazeroso.

Será lançada alguma versão física do INVentário ou o foco do projeto é apenas virtual? Pode nos contar qual o número total de faixas do INVentário e até quando podemos esperar pelos lançamentos?
Lucas Silveira: Não existe um plano de lançar uma versão física de INVentário, mas acho que também nada é proibido, nunca se sabe. A princípio, ele é um projeto que nasceu pra ser virtual, pra desafiar as maneiras que temos lançado coisas, já que as plataformas digitais obrigam os artistas a lançarem os projetos de um jeito parecido: lança um single, lança outro, lança o álbum… Isso faz com que os lançamentos sejam todos iguais. Não conseguimos soltar um álbum em uma lapada só e deixar a galera ouvir tudo, acaba que só uma música vai parar em playlists porque você tem que escolher uma faixa foco. Apesar das plataformas serem muito modernas, ainda existe um pensamento muito antigo de música de trabalho e, às vezes, um álbum com músicas de estilos diferentes é explorado só por um lado. O INVentário serve pra quebrar um pouco disso, a gente faz músicas muito livres e tem música ali que poderia entrar na playlist de Rap, MPB, Rock… Por elas estarem separadas, ajudam a confundir o algoritmo e essa era a nossa vontade.

Algumas das músicas lançadas contam com participações de outros artistas, como com a banda Terno Rei e os gêmeos Keops & Raony e 2STRANGE. Como é o processo de escolha sobre quem convidar para uma parceria? Vocês já compõem a música pensando nisso ou depois que está pronta sentem que precisa de algo mais?
Lucas Silveira: O processo de escolha pras participações é a vida. Tem pessoas que são do nosso círculo de amizade ou da nossa cena, que é o caso do Keops e do Raony, ou até o Terno Rei, uma banda um pouco mais nova, mas que encontrávamos nos festivais. Eu procuro estar com as antenas muito ligadas, sempre atrás de uma coisa diferente, acaba sendo natural esbarrarmos com esses artistas fora da nossa cena e rolar as parcerias. Elas são tão diferentes entre si, que talvez não encontrássemos um álbum ou um lugar pra encaixá-las ou fazer um álbum só de parcerias. Então, decidimos colocar muitas das colaborações no INVentário pra, inclusive, mostrar a amplitude que a gente consegue atingir com a nossa música.

A música 6h34 já era sucesso entre os fãs, pois havia sido lançada através do projeto solo Visconde e agora aparece em uma versão diferente. Como surgiu essa ideia?
Lucas Silveira: Quando eu compunha músicas e lançava como Visconde, pelo menos ali no começo do projeto em 2010/2011, surgiu da necessidade em disponibilizar músicas pras pessoas quando a Fresno ainda era uma banda de gravadora e não tínhamos tanta liberdade. Então, eu acabava fazendo muito mais música do que a banda lançava e só tinha um projeto solo, o Beeshop, que era de músicas em inglês. Nunca quis fazer músicas em português nele, mas essas eram composições que nasceram pra Fresno e não tinham como sair, aí surgiu o Visconde, que se tornou uma espécie de INVentário que eu fazia sozinho. Gravei as músicas de um jeito específico, com uma roupagem lo-fi e a galera gostou muito. São músicas que nasceram pra ser da Fresno, a diferença é que agora elas meio que estão voltando a ser da Fresno aos poucos. A cada projeto acabamos regravando uma ou outra e, agora, acho que a gente já cobriu quase todo o repertório de Visconde. Ainda lanço algumas coisas por lá, mas são músicas nascidas pra ser Visconde e não como válvula de escape.

O estilo musical que se vê até aqui nessas novas faixas é bem diferente dos álbuns anteriores da Fresno. Essa mudança foi proposital ou ocorreu de forma natural?
Lucas Silveira: Eu nem acho o estilo musical muito diferente das músicas que já lançamos. Acontece, é que a variação de estilos fica mais clara, mas a gente sempre flertou com tudo isso que está saindo em INVentário. Mas se tu for pegar a música com a Jup do Bairro, ela tem uma irmandade lá com “Hoje Sou Trovão, pt.2”, já a “INV001: 12 WORDS 30000 STONES”, que é em inglês e em português, tem a ver com “A Minha História Não Acaba Aqui”, “Revanche”, “Natureza Caos”, até as faixas mais de piano e diferentes, tem uma uma relação. Só que quando tu bota tudo junto, como uma exposição de arte, aí parece que tem muitos formatos diferentes, mas no fundo a Fresno já fez aquilo.

Imagino que suas influências musicais também mudaram muito ao longo dos anos. Existe alguma banda que lá no começo vocês não gostavam de jeito nenhum, ou simplesmente não tinham interesse em conhecer, e hoje adoram?
Lucas Silveira: O que influencia a banda é o que a gente está ouvindo no momento, mas acho que as influências mais profundas no nosso som são as referências de quando começamos a compor. Então, por mais que o nosso estilo vá passando por fases, eu ainda sou muito influenciado pelo o que me motivou a compor lá atrás, então sempre vai ter um um misto de hardcore, rock brasileiro e o próprio pagode que eu ouvia quando era adolescente. Tiramos as melodias muito da alma, mas obviamente, tem coisas mais modernas que vamos ouvindo e acabam influenciando a maneira de produzir ou como fazemos o arranjo de uma música, mas cada vez mais somos influenciados pelo nosso próprio trabalho, pelo o que já produzimos.

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A Fresno já tem mais de 20 anos, quão diferente é o processo de composição e gravação hoje em dia comparado com os primeiros discos? Sentem que são mais rígidos com vocês mesmos atualmente?
Lucas Silveira: O processo de composição é basicamente o mesmo sempre. Bem no início da Fresno eu acabava compondo o começo da música, aí em algum momento mostrava isso pro resto da banda e decidíamos se valia a pena seguir com aquela música e fazíamos os arranjos todos juntos. Essa oportunidade de compor é muito democrático. É normal a pessoa ficar cada vez mais dura pra compor, porque a gente vai vendo o que faz sucesso, o que não faz e aí o artista acaba se prendendo numas fórmulas que ele mesmo inventou. INVentário é justamente uma busca por corromper essa forma consagrada de compor, tem muita música ali que as pessoas vão achar que é inacabada porque ela não é normal, não tem verso ou refrão, mas isso é basicamente nós compondo de maneiras diferentes, não nos limitando ao que a gente já fez.

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O tecladista Mario Camelo recentemente anunciou a sua saída da banda, como vocês receberam essa notícia? E como a banda segue daqui para a frente, pretendem continuar como um trio ou estão já estão de olho em novos integrantes?
Lucas Silveira: O Mário decidiu sair no começo do do ano, em abril, mais ou menos, mas foi muito tranquilo. Ele teve uma responsabilidade muito grande, porque ele poderia ter ficado enrolando a quarentena inteira e ter falado que queria sair só no próximo ano, quando estivéssemos subindo no palco. Ele percebeu que tinha planos diferentes pro futuro e revelou eles pra gente, falamos ‘pô, que merda, né?’, porque nunca é legal alguém sair da banda, mas ao mesmo tempo, ‘boa sorte, obrigado’. Estamos muito de boa em relação a isso. Ainda não pensamos muito na formação ao vivo, provavelmente vai precisar de outra pessoa ali nos teclados, porque não é nossa intenção rearranjar tudo sem os teclados, mas não estamos preocupados com isso agora, estamos focados nos lançamentos e na parte de criação da banda.

Durante a pandemia, as bandas se reinventaram bastante na forma de comunicação com o público. Com a Fresno não foi diferente, vocês exploraram bastante as transmissões online e animaram as noites de muita gente com a QuarentEMO. Como foi essa experiência para vocês? Fez tão bem para vocês como fez para os fãs? Além disso, o que levarão da pandemia para a vida ‘normal’? Já conversaram entre si sobre continuar com as lives, talvez com uma frequência menor, quando voltarem aos palcos?
Lucas Silveira: Quando percebemos que seria necessário parar de fazer show, bateu primeiro um desespero, mas ao mesmo tempo, essa pausa nos obrigou a cuidar de coisas da banda que a gente não cuidaria se não tivesse parado. Aproveitamos pra reorganizarmos muitas coisas internamente. Um passo dado nesse tempo, foi migramos mais pro digital, abrindo um canal na Twitch. Isso nos deu expertise e conhecimento pra fazer a Quarentemo, que foi um sucesso estrondoso e nos encheu de esperança de que quando voltarmos a fazer show, o negócio vai ser insano. Não tem muito o que levar da pandemia pra vida, né? O que eu quero, é que ela acabe. Mas o que aprendemos, principalmente, é a sensação de ter que se virar. Quando começou, tivemos que inventar um jeito de manter nosso nome, manter a nossa relevância, manter e continuar ganhando algum dinheiro sem tá fazendo shows. A gente teve que se virar nesse sentido. No ponto que a gente está agora, já estamos nos preparando pros próximos shows. Eles não vão ser esse ano, vão rolar só no próximo, mas também estamos lançando INVentário, que é um negócio que dá trabalho e aproveitando pra arrumar a casa, inclusive, nossas vidas pessoais.

Para finalizar, gostariam de deixar um recado para os leitores do Nação da Música?
Lucas Silveira: Valeu galera do Nação da Música, tamo junto! Fiquem de olho! É muito difícil acompanhar esses lançamentos, porque sai música o tempo inteiro e ninguém tá acostumado com isso, mas a ideia é justamente essa, confundir, ser diferente e mostrar nossa produção musical. Um beijo pra todos vocês!

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Mariana Rossi
Mariana Rossi
Apaixonada por música, sempre com o fone de ouvido e procurando algum show para ir.