No começo do mês de setembro, o cantor e compositor Guardiano fez a sua estreia com o disco inédito “Lokomotiva”, já disponível em todas as plataformas digitais. O trabalho promete uma viagem sonora entre o folk e a MPB e chegou acompanhado também do videoclipe da faixa-título. No total, são 10 faixas que compõem o álbum.
Com exclusividade para a Nação da Música, o artista comentou sobre cada faixa do trabalho, que passeia por diversos estilos, desde o MPB à country, do folk rock ao rock setentista, do contemporâneo à viola caipira. O músico não teve medo de experimentar e de explorar as possibilidades estéticas que os sons lhe permitem.
Agora com as palavras do próprio Guardiano, fiquem com o faixa a faixa do disco “Lokomotiva”.
1 – “Cancioneiro”:
“Cancioneiro” é minha canção de boas vindas ao álbum, ao passo que carrega uma identidade sonora que vai aparecer novamente apenas na última música, “Viva!”.
Com a sonoridade da viola caipira, declamo em versos um manifesto sobre o que é o álbum “Lokomotiva”. Existem dois segredos guardados na música “Cancioneiro” que ouvidos atentos poderão perceber. O primeiro deles é de que na letra eu adicionei referências de títulos das próximas canções, e a segunda é de que a mixagem busca emular a sensação de estar tocando em um rádio antigo dentro de um trem, porém com uma duplicação de voz que assemelha com que eu esteja cantando fisicamente ao lado do ouvinte. Esses artifícios são pistas de que “Lokomotiva” será um álbum com a mistura de algo vintage e intimista, com uma energia contemporânea e intensa. Bem como o que sou, um cancioneiro.
02 – “Colibri”:
“Colibri” é a música mais calma do álbum, e não é por acaso que escolhi adicioná-la como a segunda canção. Começar a viagem com a introdução de cancioneiro, e logo em seguida a viagem se tornar leve e aconchegante, como se logo que você sentasse para um passeio a primeira coisa que fizesse fosse encostar a cabeça em seu assento, relaxar os pés, e pela janela apreciasse a viagem. Como um colibri que te acompanha pela janela, guiando por um céu azul e sereno, o ressoar agradável das cordas do violão, e o quentinho no coração com a vibração da gaita (do meu amigo e produtor, Francisco Romaro)
03 – “Presente”:
Aqui nossa viagem se torna mais intensa, o sol já surgiu por trás das montanhas e esquentou nosso caminho. “Presente” surge após o ouvinte já estar confortável com a viagem, e se pega pensando na vida, com as clássicas dúvidas existencialistas em sua cabeça (coisa que faço demais). É a música que começa a introduzir também minha característica de músicas reflexivas, se repararem com atenção bem vão perceber que as quatro primeiras músicas começam todas em primeira pessoa, e sim, são exatamente sobre uma maneira particular de interpretar a vida, apenas eu posso falar por mim mesmo! Também é uma forma de fazer com quem escuta se sentir parte, como uma conversa franca entre amigos.”Vou viver agora! “ é uma refrão sincero sobre a tentativa de afastar as dores da ansiedade, do pensamento no amanhã, e aproveitar o momento presente. Aqui também existe uma gravação de áudio que recebi por WhatsApp de minha mãe em meio a pandemia, que resolvi eternizar em uma canção.
Um comentário final sobre “Presente”, é que essa música foi produzida durante o falecimento de minha avó materna Helena Guardiano (na qual dedico esse álbum) e serviu como um novo fôlego para um ano tão difícil, no dia do enterro de minha avó eu estava com a música pronta, e após o funeral, dentro do carro coloquei para minha mãe ouvir. Minha mãe, Ivete, não sabia que eu havia colocado a sua voz no meio da música, e ficou surpresa ao notar que havia a voz dela na gravação! Eu tive a felicidade de ver em seus olhos um pouco da tristeza da perda de sua mãe sumindo, e a felicidade de ouvir “Presente” deixando as coisas mais leves. Nesse momento eu percebi que minha missão estava se cumprindo, e fazer música é sobre isso.
“Presente” teve um videoclipe produzido todo em libras, pela poetisa Yanna Porcino, junto da empresa de interpretação Avua Libras.
04 – “Velhinhos Bitolados”:
Sabe quando você tem um papo sério com alguém e logo em seguida conta algo engraçado para descontrair? “Velhinhos Bitolados” é isso. É um desabafo sobre a era das aparências, o mundo conectado (que inevitavelmente todos estamos), o desejo de ser alguém real! Como se estivesse botando tudo isso dentro de uma fogueira, e em algum momento a música explode! Em uma sentença de “deus me livre ser esses velhinhos bitolados, que não fizeram nada que queriam!” É exatamente isso que você vai escutar, o desejo de querer viver a vida real. “Qual é cara, dá um tempo, também quero ficar de bobeira sabe? Eu também quero ser hippie”, essa é a frase final. Se estamos em uma Lokomotiva, creio que Velhinhos seja o começo da brasa quente que incendeia a fornalha!
Tô meio cansado de tanta gente amargurada criticando como os outros devem viver, fazer, comer, cantar, falar. Quero ter uma vida plena e bem vivida, ter coragem pra encarar meus sonhos, botar o pé na estrada, e não passar nem perto de ser assim. (Contraditório, pois quando digo que não quero ser assim, estou sendo assim com quem é assim, pensou nisso já? É…)
05 – “Lokomotiva”:
Tchu Tchu! Apertem os cintos, preparem-se para curvas sinuosas, velocidade máxima e muitas luzes pelo céu! “Lokomotiva” é o embalo da viagem em seu ápice. Penso que o que contém em “Lokomotiva” é muito mais do que a energia de suas guitarras (mais um trabalho incrível do produtor Francisco Romaro) sua letra e a mensagem clara do que quero dizer com esse álbum. Estou te dizendo que sou uma “Lokomotiva”, e não vou parar, se quiser fazer parte dessa jornada faça o embarque!
É sobre uma atitude de coragem, uma mensagem sobre persistência e força de vontade. No campo da sonoridade, existe um resgate muito forte das minhas referências setentistas na música, como Mutantes e Raul Seixas.
Agora, vou citar algo aqui que nunca comentei a respeito, o porquê de Lokomotiva ser com K. É justamente a alusão a LouKura. Em minha juventude tive problemas muito sérios com meu entendimento a respeito da arte que havia em mim, estudei em colégio público e infelizmente o incentivo a arte era muito limitado. Com 12 anos fui humilhado por uma turma inteira de classe por ser chamado de deficiente mental, eu nunca entendi se tinha a ver com meu intelecto ou se era por eu estar sempre no meu mundinho, o fato era que esse bullying me rendeu traumas intensos durante essa fase. O resultado foi que passei anos duvidando se havia algo de errado comigo, e a arte foi quem me serviu de companhia para entender quem eu era, tanto a música como o desenho e a arte plástica. Eu fui expulso desse colégio, fui estigmatizado durante anos, e em todo esse tempo a arte me soprou ao ouvido sobre o que fazer com todo esse sentimento. E aqui estou eu, anos depois reinterpretando a loucura que atribuíram a mim em um álbum repleto de: verdades, sentimentos, histórias e uma boa dose de louKura.
06 – “Outra estação”:
A única faixa que de fato tem algum barulho de trem. Você se lembra de alguma vez que teve uma noite incrível e ela está acabando? Então você se vê no caminho de volta ainda ofegante, e aos poucos aquele estranho silêncio surgindo? É sobre isso que “Outra estação” “fala” (coloco fala em aspas, pois é uma música instrumental).
E aos poucos você naquele silêncio todo começa a pensar em sua vida, com o céu já escuro, talvez um pouco de chuva lá fora e respingos das gotas na janela. Uma saudade de alguém, ou de algo, ou de alguma sensação
07 – “Saudade”:
E temos aqui a passagem comprada pra um outro sentimento, melancolia. Há quem diga que não goste desse sentimento, outros que adoram, eu prefiro dizer que é um sentimento natural da vida, e que quando eu a senti, resolvi transcrevê-la em uma canção.
Sinto saudade do meu pai, Luiz Carlos Pereira, que por uma doença rara chamada Síndrome de Crohn, me deixou em 2008, aos meus 17 anos. Ele quem me deu a primeira guitarra e amplificador, e era um apoiador apaixonado pelo meu trabalho. Dedico esse álbum ao meu velho também.
Essa música foi usada em 2019 pela empresa D’Or Consultoria para uma campanha de Novembro Azul, saúde do homem, com o tema: Seja saúde, não seja saudade.
08 – “Camaleão”:
Ando me sentindo estranho, sei lá. Quem nunca? “Camaleão” nasceu em uma manhã onde eu resolvi mudar meus métodos de composição e arranhar algumas teclas num teclado. Então quando vi, estava botando pra fora um sentimento que me ocorria naquele exato momento, o de mudança.
Mudança de estilos musicais, de ideias, de formas de compor, de entendimento sobre minha vida. A letra veio fácil, pois era exatamente o que acontecia dentro de mim naquele momento. E assim como “Velhinhos bitolados”, existe um manifesto de dizer “Imagine se eu fosse o mesmo que eu era, dinossauro parado na terra, esperando a hora passar?”, auto explicativa essa ideia né? Está ficando bem óbvio que acredito que mudanças e movimento são necessárias para nos mantermos sãos e sadios, criatividade é sobre isso.
Levei essa música para o estúdio e mais uma vez meu camarada Frank, Single Mama Studio, ajustou aquelas linhas de teclado meio tortas que eu havia feito, e a música evoluiu muito! Nesse tempo, eu conheci um outro cantor incrível que é o Alttin, e o convidei pra fazermos um feat nessa música. Foi pontual, pois o Alttin estava passando por muitas mudanças em sua vida também, e a música também se tornou parte de sua voz
09 – “Aurora”:
Penso ser poético que, a primeira música que compus e produzi, seja a última música (com letra) do álbum. Após uma viagem carregada de sensações, altos e baixos, o ouvinte é convidado a visitar aquela mesma sensação de calmaria de “Colibri”, porém, agora tendo o contexto da viagem em sua memória. “Aurora” é o amanhecer cedinho de céu lilás, minha canção folk com uma verdade tão sincera em sua letra. Fala sobre tempos de discórdia, sobre fé, ensinamentos e esperança. A deixei por último pra acabar com final feliz, o refrão final evoca o nascer do Sol, e ao menos em mim deixa um gosto de que tudo valeu a pena e que temos muito pela frente. “Sei que já passou da hora, de tu por o pé na estrada, bota fé na caminhada e segue o sol, o sol!”
10 – “Viva!”:
Viva! Viva! Viva! Viva Tião Carreiro e Pardinho, Almir Sater, Renato Russo, Raul Seixas, Elis Regina, Tim Maia, Rita Lee! Viva aos grandes mestres da música popular brasileira.
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