Já são 10 anos como fã do Paramore. 10 anos, 2 quase términos, 2 saídas conturbadas de 3 integrantes, 3 discos, 1 volta e sempre 1 surpresa. Nenhum álbum da banda soa como o anterior, mas a mudança do homônimo de 2013 para o “After Laughter”, de 2017, foi a mais brusca de todas. E isso, de forma alguma, é ruim.
“After Laughter”, completou um ano de existência no último dia 12. Ele é um álbum triste e verdadeiro demais. É dançante e parece feliz, até você prestar atenção nas letras. “E eu ainda vou chegar ao fundo do poço”; “eu estou tão irritada, porque eu acabei de matar o que restava do otimismo em mim”; “pelo o que eu sei, o melhor acabou e o pior ainda está por vir”; “eu aposto que todo mundo aqui é feliz de mentira também”.
Aliás, o nome já dá o sinal do que esperar. A vocalista Hayley Williams explicou que o título “significa aquela expressão no rosto de uma pessoa depois que ela ri bastante e então tem aquele momento no qual ela volta para a realidade, eu gosto de ver isso”.
O lançamento de “Hard Times” como primeiro single foi certeiro, pois ele é um resumo perfeito do que Hayley Williams, Taylor York e Zac Farro querem passar. Não à toa, a música é também a que abre o CD.
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As três primeiras faixas – “Hard Times”, “Rose-Colored Boy” e “Told You So” – se complementam de forma magnífica. É impossível, depois de ouvir algumas vezes, não cantar o “for all I know” imediatamente depois da segunda faixa terminar. É por isso que elas devem ser ouvidas juntas e nessa ordem. Apesar do álbum como um todo se encontrar com uma temática comum, ele não precisa necessariamente ser escutado na ordem, a não ser por essas três canções – e “Idle Worship” e “No Friend” -, na minha opinião.
“Forgiveness” vem logo depois e decreta o que o álbum é: uma obra de arte na parte das letras, compostas em grande maioria por Hayley Williams e Taylor York, e uma ótima dança na parte da melodia, puxando a vibe anos 1980, dando valor aos sintetizadores e não deixando de lado os riffs que são a marca do Paramore. Cantar sobre perdão e de como ele é difícil faz sentido total a banda, que já perdeu membros originais, perdoou alguns, como Zac, e outros não.
“Fake Happy” tinha cara de single desde o princípio. O nome e o começo da faixa dão a ela o que seria esperado, mas a ‘vibe’ do álbum volta logo depois em uma quebra de expectativa e um refrão ótimo. A letra é certeira para momentos que todos passamos pelo menos uma vez na vida: fingir uma felicidade na frente das pessoas e se rastejar no momento que está sozinho. É aqui que fica claro que Williams quer também fazer uma crítica a fama e o olhar escrutinador de todos. “Por favor, não me pergunte como eu estou. Não me faça fingir”.
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A balada do álbum fica por conta de “26”, que em nada se compara ao top hit de rádio que foi “The Only Exception”, do “Brand New Eyes” (2009). Aqui, Hayley Williams canta para uma versão mais jovem dela mesma, como uma conversa, dizendo para ela “agarrar-se à esperança, se ainda a tiver” e “não soltar por ninguém”.
A introdução de “Pool” traz sensações de que realmente estou embaixo d’água. O som é construído em cima de sintetizadores e dá a música um ar new wave. A letra dessa vez é sobre um amor que não dá certo, mas que sempre volta a acontecer, é a teimosia de continuar voltando em um lugar onde a água acabou: “se eu sobreviver, eu vou mergulhar de novo”.
“Grudges” é um ponto alto do álbum. A faixa fala sobre uma amizade que foi extremamente estremecida, pessoas que passaram anos sem se falar e que se encontram na mesma situação esse tempo todo depois. É uma música que mostra como é difícil, mas ao mesmo tempo fácil, recomeçar com uma pessoa que um dia significou muito e como todos mudamos. É sobre deixar de lado os rancores. “Grudges” se encaixa como uma luva no Paramore, ela poderia ser sobre Josh Farro ou Jeremy Davis, mas é sobre Zac. É por essa razão que o coro de “por que demorou tanto?” cantado por Hayley e o baterista significa tanto, arrepia e mareja os olhos.
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“Caught In The Middle” pode ser definida como uma crise de meia idade em plenos 20 anos. O ponto em que você tem que deixar de ser um adolescente e virar um adulto, você não quer voltar a ser o que era, mas morre de medo do futuro, ficando “preso no meio” e sendo julgado por todos.
“Idle Worship” volta para o assunto da fama, e critica como as pessoas colocam seus ídolos em um pedestal, esquecendo que são simplesmente pessoas cheias de defeitos. Ela é seguida por “No Friend” – que funciona quase como um prólogo – a música mais perturbadora do álbum em termos de som. No começo da música é quase que inaudível a pessoa que fala ao fundo. A voz e letra da canção são parte de uma ‘slam poetry’ de Aaron Weiss, líder da mewithoutYou, uma das bandas preferidas de Hayley.
O disco é encerrado com a melodia do piano de “Tell Me How”, uma música sobre finais, sobre alguém que um dia você conheceu muito bem e era parte integral da sua vida, mas que agora não é mais. “Tell Me How” tem uma letra poderosa, mais uma, sobre como Hayley está cansada de começar algo novamente. A música pode ter diversas interpretações. Funciona para uma relação amorosa. Funciona para a história do Paramore. Funciona. Assim como o álbum inteiro.
“After Laughter” é perfeito para uma viagem de carro ou para cantar a plenos pulmões dançando sozinho no quarto. É também o trabalho mais bem feito de Hayley Williams até agora como compositora. Isso diz muito, pois todos os álbuns do Paramore têm letras maravilhosas e relacionáveis. É um dos fortes da banda. A produção e composição de Taylor York também devem ser elogiadas, a parceria que ele e a vocalista formaram é o que manteve a banda viva e é o que fez o “After Laughter” existir. Zac Farro voltou para ser a cereja do bolo e a coragem para dar o estilo que faltava.
O Paramore está sempre em mudança constante em todas as suas instâncias, incluindo o som, que é a mais importante delas. No entanto, a banda não deixa a desejar, pelo contrário, só melhora cada vez mais.
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