Resenha: “AMAR é para os FORTES” – Marcelo D2 (2018)

Marcelo D2
Marcelo D2 lançou, na última sexta-feira de agosto (31), o décimo álbum de estúdio da sua carreira: “AMAR é para os FORTES”. O trabalho está com exclusividade na Apple Music, tanto como só áudio, como em forma de trabalho visual. Os vídeos foram divididos em 9 capítulos, enquanto o disco leva 10 faixas.

O projeto leva o espírito de álbum visual, mas ele foi também transformado em filme – de mesmo nome – e exibido em alguns cinemas brasileiros. A direção é do próprio D2, que também assina o roteiro, a produção e, obviamente, a trilha sonora. O personagem principal, Sinistro, é interpretado por Stephan Peixoto, mais conhecido como Sain, filho do rapper que fez parte de “Loadeando”, em 2003.

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O primeiro recorte de clipe reúne as duas faixas iniciais: “INTRO (feat. Sant & Orochi)” e “PRELÚDIO EM RIMAS CARIOCAS”. A primeira é uma rima acapella e a segunda já entra com uma batida, sussurros e a apresentação de Sinistro, Snoopy (Mulato), Peixe e Rato. No filme, a câmera leva o ponto de vista do personagem principal, como se ele a carregasse e ela fosse seus olhos, enquanto os meninos descem o morro. A composição mostra que áudio e vídeo dependem um do outro e não podem ser separados. Quando a introdução está feita, Marcelo D2 dá voz à inúmeras referências por meio de rimas que são acompanhadas de um marcante trombone.

O fim do primeiro ato é também a deixa para o segundo. “ALTO DA COLINA” começa como um samba e coloca Sinistro em confronto direto e tiroteio. Em meio ao enfrentamento, cenas de uma dança artística e da reação de pessoas que somente passam pelo local. Nos versos de D2, uma crítica ferrenha e questionamentos às “balas perdidas” vindas da polícia. Ao fim do vídeo, dados aparecem na tela, alertando sobre o assassinato de jovens negros no Brasil.

“FEBRE DO RATO” tem uma pegada mais rock e uns tons mais sóbrios, contrastando com o colorido que fazia parte dos figurinos inspirados nos anos 1990 que voltaram à moda. O cenário também muda, saindo da favela e invadindo as ruas do Rio de Janeiro. Cenas de skate também movimentam em ritmo com a música. A faixa é também a chance de acompanhar os próximos passos de Sinistro ao sair da favela.

Após pendurar alguns quadros em uma galeria de arte, o personagem principal se aventura numa moto com uma moça pelas ruas do Rio em “PARTE 2”. De bar em bar, eles terminam sozinhos falando de arte para logo em seguida, em “DEPOIS DA TEMPESTADE (feat. Seu Jorge & Anna Majdison)”, as cenas mais quentes ganharem espaço. Em meio à briga de corpos cheios de tatuagem, as referências culturais são dessa vez mostradas em tela. O alto da colina é agora um terraço com vista privilegiada da cidade e um “easter egg” de Marcelo D2, que aparece rapidamente. O ritmo é mais lento, uma balada com suíngue, enquanto as vozes repetem “viver na guerra cansa, mas o amor traz esperança”.

“SURPRESA (PROS AMIGOS)” é outro samba com rap, a batida perfeita de D2. O vídeo mostra, dessa vez pela visão do par romântico de Sinistro, uma festa surpresa para o próprio. Em meio a abraços e carinho, a celebração da amizade fica clara no capítulo 6. O fim, entretanto, deixa a entender que algo acontecerá, já que uma foto dos quatro aparece rasgada.

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O capítulo 7, “RESISTÊNCIA CULTURAL (feat. Gilberto Gil)”, inicia com as mesmas fotos sendo rasgadas. Um acordeão dá a melodia que logo ganha a voz de Gil, para depois harmonizarem com a batida e rimas de Marcelo D2. As letras contam a história do mulato brasileiro, enquanto as imagens fazem uma festa com Sinistro e amigos.

O desfecho começa a se desenhar com a faixa-título, “AMAR É PARA OS FORTES”, que dá os detalhes de como o rosto principal da história chegou no mundo da arte e o que aconteceu no tiroteio do começo do filme. Assim como diz a letra, as consequências são parte das escolhas feitas a partir de questões impostas. Em uma briga de acerto de contas, após o fim de uma amizade que levava como base uma promessa, Sinistro abaixa a arma.

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“FILHO DE OBÁ (feat. Alice Caymmi, Rincon Sapiência & Danilo Caymmi)” é o capítulo 9 que funciona como um epílogo e créditos com um filtro que deixa as imagens com aspecto de décadas passadas. “Puxar o gatilho ou não, é isso que é liberdade?”, questiona a voz de Sinistro. Logo depois, um samba canta “Sinistro chegou pra ficar”.

O modelo de álbum visual – ou obra transmídia – vem sendo bastante usado nos últimos anos, mais por artistas internacionais, é verdade. No entanto, Marcelo D2 fez um trabalho tão bem feito que acende uma chama de esperança para ver outros brasileiros também trilharem esse caminho. A vantagem de trabalhar o audiovisual é que tudo sai da imaginação e ganha forma, é como viajar pela cabeça do autor. Claro que usar as próprias ideias e criar os próprios personagens também é um exercício muito válido, mas, às vezes, matar a curiosidade da exatidão é bem mais satisfatório.

Marcelo D2 entrega um trabalho impecável, com ritmo, rap, samba, críticas e (muito) estilo. Um projeto de artista gigante, como é D2, falando da realidade de tanta gente. Não sei se faz parte dos planos dele que isso volte ao mainstream, mas me parece de extrema importância que “AMAR é para os FORTES” alcance o maior número de pessoas possível.

Escute e assista o trabalho completo clicando aqui.

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Giovana Romania
Giovana Romania
Música é uma das minhas coisas favoritas do mundo. Formada em Jornalismo, amante da cultura pop e little monster sofrida.
O modelo de álbum visual - ou obra transmídia - vem sendo bastante usado nos últimos anos, mais por artistas internacionais é verdade. No entanto, Marcelo D2 fez um trabalho tão bem feito que acende uma chama de esperança para ver outros brasileiros também trilharem esse caminho. A vantagem de trabalhar o audiovisual é que tudo sai da imaginação e ganha forma, é como viajar pela cabeça do autor.Resenha: "AMAR é para os FORTES" - Marcelo D2 (2018)