Prestes a sair em turnê mundial, a banda Ratos de Porão comemora os 30 anos do disco emblemático “Brasil”. Lançado em 1989, os Ratos ganham visibilidade internacional e chamam a atenção da gravadora holandesa Roadrunner, que contrata a banda para gravar o disco na Alemanha, o qual ganharia uma versão extra com letras em inglês. A produção fica por conta de Harris Johns, que já havia trabalhado com Sodom e Kreator, gigantes da cena Thrash alemã.
Com uma qualidade sonora superior aos discos anteriores, a evolução técnica do grupo é evidente. Com uma batida mais veloz e pesada, João Gordo (Jão – vocalista) começa a mostrar solos mais bem trabalhados. O álbum que retrata um Brasil de ontem e de hoje é considerado o melhor álbum da discografia do “RDP”. Disco que rendeu clássicos como “Beber até Morrer”, “AIDS, Pop, Repressão”, “Crianças Sem Futuro”, “Vida Animal”, “Herança” e que farão parte da atual turnê (a banda pretende tocar todas as músicas do álbum, incluindo as versões em inglês).
“Amazônia Nunca Mais” abre o disco e retrata o desmatamento como tema, denunciando a exploração desenfreada dos recursos naturais da Floresta Amazônica e a usurpação das terras dos povos indígenas.
“Retrocesso” é um recado vindo de 1989 sobre uma Ditadura recém acabada, onde os jovens ainda viviam a temerária ideia de um novo retrocesso da nação. Hoje, soa como um grito profético do que acontece agora: “Cuidado com o poder do regime militar/ O tempo vai retroceder/ O DOI-CODI vai voltar no BRASIL, BRASIL, BRASIL”.
Outro ponto histórico que o Ratos do Porão recortou através de suas letras foi em um dos seus hits eternos “Aids, Pop, Repressão” mostrando o quanto o final da década 80, início de 90, foi uma era mergulhada nas drogas, retratando o processo de avaliação dos excessos cometidos no final da década de 70 e 80. Logo, um dos seus clássicos aborda o balanço de uma juventude extraviada e seus frutos.
Em a “Lei do Silêncio” revela a apatia da população diante das atrocidades cometidas diariamente, sobretudo nas periferias dos grandes centros, e como as pessoas não se sentem seguras em denunciar ao Estado, pois muitas vezes são os próprios agentes estatais responsáveis por tais atrocidades.
Os problemas sociais seguem sendo um ponto central em “S.O.S. País Falido”, os “metais pesados” do rock in roll mostram o peso da inflação que nem “São Tancredo iria ajudar”. Fato que, em seguida, viria um dos piores governos do período democrático que faria um verdadeiro assalto institucionalizado ao povo brasileiro com um pacote econômico restritivo que resultou no primeiro impeachment do país.
“Gil Goma” é uma “homenagem” ao saudoso repórter Gil Gomes que, na época, despontava na TV, com uma maneira única de reportar jornalismo mesclando contos com sensacionalismo e um toque de horror. Influenciados, Ratos do Porão absorvem a programação televisa da época retratando os noticiários jornalísticos policiais e muito filme de terror.
“Beber Até Morrer” é outro clássico da banda que faz uma autocrítica da forma de vida que vinham levando ao longo dos últimos anos, em questionando será que “Beber até morrer é a solução?”
“Plano Furado II”; “Brasil” foi lançado em ano de eleições presidenciais, onde figuravam nas cabeças Collor e Lula, ambos nordestinos porém com um abismo de diferença em suas pautas políticas. Contudo sua composição deu-se anteriormente, ainda sob a presidência de Sarney que quando assumiu, e a cortina de fumaça que mascarava o regime militar havia afundado o Brasil, não apenas em termos de Direitos Humanos, mas economicamente falando, tentou regularizar a economia do país com dois pacotes econômicos, extremamente desastrosos, Planos Cruzado e Cruzado 2 e isso é bem retratado em “Plano Furado II”
Na época, a heroína já tinha chegado aos grandes centros do país, tais como São Paulo, tornando-se uma das drogas mais badaladas do momento, trazendo sérias consequências e diversos obtidos aos jovens e às jovens da época. Então, os Ratos, em um verdadeiro “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço” tentava frear, através de alertas, o consumo desenfreado da droga do momento. “Heroína Suicida” deixa claro esse grito.
“Crianças sem futuro”, dando um panorama da mortalidade infantil, relacionada aos altos níveis de pobreza da época, níveis esses que estão voltando a crescer.
“Farsa Nacionalista” é um reflexo atualíssimo que vale até hoje: “Seu orgulho é totalmente sem sentido, Se trabalha como um animal, E vive como um cão”.
“Traidor” fala justamente da alcunha que foi dada aos Ratos, que na época se distanciavam do punk e se envolviam no cenário metaleiro.
“Porcos Sanguinários” é o retrato da violência policial. Porcos Sanguinários retrata o abuso de poder, o falso moralismo e o uso da arma como escudo em uma sociedade afugentada pelo medo.
“Vida Animal” fala dos extremos de uma sociedade que se sente desprotegida e em completo surto de empatia.
A faixa instrumental emblemática do álbum, “O Fim”, com um riff de guitarra pesadíssimo com total thrahêra!
“Máquina Militar”: “Olhe soldado, Esqueça seu passado, Você deixou de existir, Agora você é uma máquina do sistema, Somente para matar, Somente para destruir”;
A preocupação com a situação do país continua na faixa “Terra do carnaval”, que retrata o conformismo social.
“Herança” é um grito sobre os assassinatos em série familiares expostos no noticiário.
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