Resenha: “Chromatica” – Lady Gaga (2020)

Lady Gaga
Foto: Divulgação

Lady Gaga foi uma das artistas de maior ousadia de sua geração. Ao se apresentar ao mundo no final dos anos 2000 com atitude e pose de superstar, a cantora já iniciou sua carreira como uma A-list no topo dos charts mundialmente. “The Fame” (2008) foi uma das obras responsáveis pelo renascimento cultural da música pop para a década seguinte, muito pautada pela Electronic Dance Music (EDM). Seu poder e influência na indústria em geral cresceu exponencialmente com as mensagens e hinos presentes em “Born This Way” (2011). Contudo, a cantora deixou seus little monsters órfãos da sonoridade electropop após o experimental e conturbado “Artpop” de 2013.

Após quase uma década explorando limites pessoais e mostrando ao público sua talentosa e vulnerável faceta no jazz, country/folk e na indústria cinematográfica, a cantora termina a era “A Star Is Born” com um Oscar nas mãos e a conquista de um amplo público, de todas as idades. Tendo agora lugar de fala e relevância não somente para a comunidade LGBTQ+, Gaga decide voltar às suas origens e retomar seu projeto de dominação pop com “Chromatica”, porém agora, sentimos que algo mudou.

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Foi com o registro “Joanne” (2016) que o grande público entrou em contato com o coração da garota novaiorquina por trás do excêntrico ícone pop. Expondo dolorosos dramas pessoais, Gaga se despiu de toda a extravagância e compartilhou sua luta diária contra doenças como o lúpus, depressão e fibromialgia, além de se abrir a respeito de abusos sexuais e dramas familiares. “Chromatica” é sim um retorno triunfal de Gaga ao pop, essencialmente influenciado pela característica glamourosa, eufórica e alegre da disco music dos anos 70 e 80, mas o objeto central do álbum é um processo de cura emocional diante ao caos de sua vida pessoal, superando assim a tristeza, seus traumas e fantasmas do passado.

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O projeto é divido em três atos. No primeiro, somos introduzidos a um melancólico e desesperado eu-lírico, o qual se encontra, em “Alice“, afundado na tristeza (Could you pull me out of this alive? / Where’s my body? I’m stuck in my mind). Os dois primeiros singles “Supid Love” e “Rain On Me” se tornaram aclamados hinos pelo groove oitentista e mensagem positivista de superação. Nessas faixas, a cantora luta pela felicidade, apesar de problemas e adversidades. A participação de Ariana Grande marca a quarta grande colaboração da carreira de Lady Gaga, a qual anteriormente cantou com Beyoncé (“Telephone”), Christina Aguilera (“Do What U Want”) e Tony Bennet (“Cheek To Cheek”).

Free Woman” é a canção que trata diretamente de pautas relacionadas a empoderamento e feminismo. Em “Fun Tonight“, Gaga se encontra perdida, desolada e presa em sua melancolia (You love the paparazzi, love the fame / Even though you know it causes me pain / I feel like I’m in a prison hell).

O segundo ato começa com “911“, que, apesar de resgatar a robótica e distorcida sonoridade futurista de sua discografia (“I Like It Rough”, “Heavy Metal Lover” e “Mary Jane Holland”), trata da árdua batalha que o deprimido eu-lírico trava com ele mesmo para se sentir bem com medicamentos para ansiedade e depressão (Turnin’ up emotional faders / Keep repeating self-hating phrases).

Plastic Doll” e “Sour Candy” reduzem a interessante excitação do álbum, não entregando o mesmo desempenho do primeiro ato. Liricamente, abordam a falsa e superficial vida de aparências (Tell me, who dressed you? Where’d you get that hat? / Why is she cryin’? What’s the price tag?). “Enigma” retoma a luxuosa estética retrô e, sampleando David Bowie, fala sobre uma paixão de uma noite. “Replay” se utiliza da sensações nostálgicas para fazer Gaga reviver traumas e monstros vividos no passado (The monster inside you is torturing me / The scars on my mind are on replay).

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O terceiro e último ato de “Chromatica” traz “Sine From Above“, dueto com Elton John, “1000 Doves” e “Babylon“. Após reviver os mais sombrios capítulos de sua vida, Lady Gaga abandona seu passado e começa a curar suas feridas emocionais (Before there was love, there was silence / I heard one sine / And it healed my heart, heard a sine). A sonoridade house e techno toma conta do gran finale como raios de sol, trazendo, finalmente, conforto, paz e felicidade.

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Dentre todas as lições que a artista já trouxe para o mundo em sua discografia, a dicotomia de conviver ao mesmo tempo com tristeza e alegria é a mensagem principal de “Chromatica” (I’d do anything for you to really see me / I am human, invisibly bleeding / When your smile is shaking, I’ll catch you as you fall). Sempre onde existe a luz, haverão sombras. É necessário conviver com nossos monstros e traumas mais profundos a fim de aceitar a felicidade e deixá-la entrar por completo e iluminar nossas almas.

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Guilherme Cossich
Guilherme Cossichhttps://guicossich.medium.com
Influenciador musical baseado em São Paulo
Lady Gaga entrega o que seus fãs ansiosamente estão pedindo desde 2013. Contudo, por trás da sonoridade glamourosa, alegre e enérgica de "Chromatica", a cantora compartilha seus mais sombrios e desesperadores fantasmas. Como um tratamento de cura de suas feridas mentais, emocionais e físicas, Gaga encontra, no final de uma jornada de três atos, a felicidade.Resenha: "Chromatica" - Lady Gaga (2020)