Resenha: “Dawn FM” – The Weeknd (2022)

The Weeknd
Reprodução / Instagram

Na última sexta-feira (07), o cantor The Weeknd, nome artístico do canadense Abel Tesfaye, soltou seu primeiro álbum desde 2020 – o mais novo projeto chama-se “Dawn FM”, como você pôde ler aqui na Nação da Música.

Com 16 faixas, contando interlúdios e participações faladas de convidados, o disco replica, como o nome simboliza, um programa de rádio.

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Na voz do ator Jim Carrey, o álbum conta com diversas seções de uma personagem locutora, que guia os diferentes capítulos de “Dawn FM”, como se estivesse passando pelos blocos nesta estação fictícia, a 103.5. Usando temáticas de drogas, morte e corações partidos, o The Weeknd cria uma obra que mistura, em base, synth pop e R&B.

O cantor já havia, anteriormente ao lançamento do disco, explicado que ele funciona como um guia purgatorial, como se você que ouve já estivesse morrido e está relembrando sua vida com ajuda deste rádio. Somos apresentados a este conceito na primeira faixa, “Dawn FM”, que abre com sons de pássaros e um sintetizador crescente.

“Eu irei assumir minha liderança neste caminho” é uma das primeiras letras da canção, que tem, na verdade, pouca participação do artista. Jim Carrey assume como protagonista e age como o locutor, introduzindo a “Dawn FM”, incentivando o ouvinte a andar para a luz de braços abertos com efeitos de voz que lembram de rádios antigas.

A primeira música oficial é “Gasoline” e é nela que percebemos a primeira temática do disco do The Weeknd: o synth pop anos 80, com seus sintetizadores agindo como os instrumentos base da faixa. O cantor começa com uma mutação em sua voz, que retorna para os versos no restante da faixa, mostrando a vocalização conhecida só no refrão.

Uma canção sobre dependência e apoio em seu parceiro, “Gasoline” tem como seu eu-lírico uma pessoa que precisa de seu amor para impedi-lo de morrer ou perder a conexão com o mundo, apresentando uma personagem niilista e perdida sem esta outra pessoa, tanto que ele encoraja a queimada de seu corpo assim que morrer.

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A próxima é “How Do I Make You Love Me?” e nos mantemos na tendência do synth pop, além de continuar com este anseio e desespero existencial por amor. Junto a isto, temos este personagem que promete tudo para sua parceira, dizendo que pode a acender de novo e fazê-la se sentir bem, enquanto praticamente implora pelo carinho eterno dela.

O único single prévio do disco é “Take My Breath” e foi lançado em agosto do ano passado, 2021. Nele também podemos perceber o extremo deste gênero que Abel escolheu para a primeira seção do disco: nesta faixa, os sintetizadores reinam, mesmo acima de sua voz. A história contada pelas letras é uma interessante brincadeira com a morte e o sexo.

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Ao cantar “Take my breath!” (Leve minha respiração, em tradução livre), The Weeknd parece estar continuando o anseio pela morte das últimas faixas, no entanto, ao adicionar “Away” em sua melódica voz ao fim da frase, ele muda completamente o sentido, que adota o significado de pedir que a pessoa o choque, o surpreenda.

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O segundo single foi solto no mesmo dia que o álbum e chama-se “Sacrifice”. Fechando esta seção do disco que é mais controlada pelo synth pop, a canção já meio que se entrelaça com um pop mais tradicional, sendo bastante disco (de discoteca) também. O protagonista da canção é uma pessoa distante e fria, especialmente após ter se sacrificado pelo amor de sua parceira e não ter funcionado como ele queria.

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A Tale By Quincy” é o primeiro interlúdio que recebemos durante o álbum e, além da história tocante e o papel de convidado na rádio “Dawn FM”, a track por trás das falas é bem mais R&B do que o resto do álbum, apontando o caminho deste seguinte capítulo.

Out of Time” é bem menos recheada de sintetizadores que as anteriores. Pianos elétricos e uma percussão rítmica controlam a melodia da faixa, que descreve uma nova pessoa que, após focar-se em si mesmo e se curar, percebeu que sua amada o superou e tem uma nova pessoa agora, logo The Weeknd canta sobre estar atrasado em relação a este amor – mesmo ainda o sentindo.

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A faixa termina com uma fala de Jim Carrey como o locutor, tranquilizando o ouvinte, que na narrativa criada já está morto, e pedindo que ele aproveite uma série de “faixas lentas e facilmente ouvidas”. Em seguida temos a parceria com Tyler, The Creator, “Here We Go… Again” e o R&B sintético por trás da melodia tradicional de Abel é quase nostálgico.

Um dos sons que compõem a faixa lembram o zunido de uma luz neon, o que é adequado pois seu toque lembra o som do álbum fortemente neon “Starboy”. Contando a história de alguém se apaixonando, especialmente nos versos de The Weeknd, a faixa torna-se mais real quando ambos os artistas recusam-se a ignorar o fato de que este amor pode acabar.

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Best Friend” traz de novo um pouco do synth pop de antes, porém a percussão rítmica ainda é mais lenta e reminiscente do R&B desta seção do disco. As letras refletem uma amizade colorida que tornou-se impossível, devido à sua parceira apaixonar-se por ele e Abel acreditar que não pode cuidar do coração desta pessoa, perdendo sua melhor amiga.

A décima faixa do disco é “Is There Someone Else?” e a produção sintetizada também é bastante pesada, mas, a diferença é que as emoções de The Weeknd são quem comanda a música. Um sintetizador tradicional, quase fazendo um som de choque elétrico, domina o fundo da canção e a frente é uma percussão que ordena o ritmo de seus versos.

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O eu-lírico ama sua parceira tão incondicionalmente nesta canção, que cede a lealdade e a fidelidade, questionando-a se há mais alguém que ela ama, mas não porque está com raiva e sim porque teme perder seu local dentro do coração de sua amada. Mesmo que ele saiba que não é saudável, Abel ainda fala “Se não estou com você, não quero ser nada”.

Com uma intro sequencial de um piano elétrico, que puxa o ouvinte para dentro da narração musical de The Weeknd, “Starry Eyes” é uma mistura quase sobrenatural de amor e desejo sexual. Pedindo a seu interesse amoroso que o deixe amá-la, o artista afirma que não se importa se a pessoa o fizer sofrer, só quer estar perto dela.

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Uma das canções mais enigmáticas do disco é “Every Angel Is Terrifying”, que, por sua vez, apresenta uma seção de sintetizadores brutais e uma narração falada tão intensas que é difícil entender o que está realmente acontecendo. O poema no início é sobre a beleza assustadora de anjos e seu encanto, enquanto o final, lido por Jim Carrey, funciona como o break para comerciais da estação de rádio.

Don’t Break My Heart” mostra nos vocais um dos grandes fortes de The Weeknd: a sua versatilidade na maneira de cantar. Mais grave e assertivo nos versos, o cantor torna-se melódico e sentimental no refrão, sobre uma série de sintetizadores de disco. Enquanto isto, as letras tratam de um pedido quase simples, “não quebre meu coração”.

Reminiscente do gênero japonês city pop, a faixa “I Heard You’re Married (ft. Lil Wayne)” tem um synth elétrico principal que vem e vai ao longo da música, além dos instrumentos orgânicos comandando o ritmo. Nas letras, os dois artistas narram um término, ou quase, relacionado a uma garota que os namorou mesmo casada.

No verso de Lil Wayne, uma seção interessante é quando ele fala “Eu não posso ser seu ‘side bitch’” pois esta ideia de uma namorada ao lado é algo muito comum quando são mulheres o assunto. Porém, é uma faixa mais tradicional na qual o artista convidado se encaixa perfeitamente, com sua voz característica.

A última música oficial do disco é “Less Than Zero” e realmente soa como uma faixa para o final de um filme, sendo mais alegre em sua produção, inclusive utilizando sintetizadores mais claros, quando o restante do álbum é bastante noturno. No entanto, as letras são mais sombrias que a produção, com certeza.

Contando sobre uma pessoa que não o vê como um parceiro em potencial e sim como uma pessoa ruim ou perigosa, especialmente após ele mesmo ter errado com ela, o eu-lírico replica uma narrativa em que tenta se libertar deste relacionamento, pois sabe que não resultará em algo positivo.

A última faixa é “Phantom Regret by Jim” e é somente uma seção falada pelo locutor fictício interpretado por Jim Carrey. “Todos os espectros são assombrados pela sua falta de confiança”, fala ele, explicando que é preciso esquecer seus arrependimentos de maneira a ficar leve e realmente entrar no Céu, ou aproveitar completamente este momento.

“Dawn FM” é um projeto quase enigmático, ao mesmo tempo que ele contém temas comuns na obra de The Weeknd, amor, sexo, drogas e até morte, o formato inovador e a narrativa que nos leva através deste purgatório é tão interessante que é impossível não se prender ao que o álbum nos relata.

A escolha do synth pop e a rádio foram tão perfeitos para o conceito porque é um novo caminho que nunca ninguém tentou para contar essa história da pós-vida. Abel sempre contou com produções e letras impecáveis, mas “Dawn FM” é completamente inovador – o que me faz pensar: como o resto da trilogia irá superar este disco?

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Pedro Paulo Furlan
Pedro Paulo Furlan
Estudante de jornalismo, não-binárie e apaixonade por música. Sempre aberte para ouvir qualquer gênero, artista ou década. O universo do pop, principalmente hyperpop, k-pop e synthpop, é onde eu vivo e sobrevivo.
Em “Dawn FM”, The Weeknd constrói um mundo inteiro em volta desta misteriosa estação de rádio, que conta a história de uma vida envolvida em diversos amores e traumas, tudo isto por cima de uma trilha sonora construída perfeitamente por seus sintetizadores impecáveis.Resenha: "Dawn FM" - The Weeknd (2022)