Jão lançou nesta sexta-feira (17) o seu primeiro álbum, “Lobos”. Com as composições assinadas pelo próprio cantor em parceria com Pedro Tófani, o trabalho recebe 10 faixas dos mais variados sons e estilos.
A temática do álbum é o amor, e isso já pode ser constatado logo ao batermos o olho na tracklist. Levando em conta as canções previamente divulgadas, não é uma surpresa. No entanto, a forma como o assunto é tratado fascina e conversa muito bem com os jovens, já que o “rir para não chorar” tá ali bem presente – mas já adianto que tem umas (bastantes) lágrimas sim. Para entendermos melhor “Lobos”, aqui tá a minha opinião com umas pitadinhas de comentários bem legais do Jão.
“Acho que o álbum todo foi um processo muito genuíno de composição e entrega. Eu fui me conhecendo mais pessoalmente e musicalmente e isso transparece no decorrer do disco”, diz o cantor. “Eu me inspiro muito nas minhas histórias e coisas que eu passei, mas também muitas vem de um lugar onde eu queria estar, um outro universo”, explica.
O projeto começa por um manifesto já na capa: “Quando a lua cheia cair sobre o sertão vazio, e iluminar a terra e seus corpos frios, anunciem em afoite. Saiam das ruas todos, foi iniciado o expurgo da noite. É o arrebatamento dos desgraçados, malcriados, vagabundos, um a um, ainda que em medo, irão todos. Pois que uivem alto os perdidos. A alcatéia saúda os novos lobos.” – escrito por Pedro Tófani e Jão.
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“Vou Morrer Sozinho” ficou encarregada de abrir “Lobos” e ser o primeiro single, já dando uma feição bem positiva para o LP. Os primeiros 14 segundos da música são guiados por um violão e alguns efeitos, mas é a partir dos 15 segundos que a batida entra e dá cara à canção. O refrão aflora a pegada brega e brasileira e é destaque junto com a voz grave de Jão ao repetir “ai meu deus, eu vou morrer sozinho”. O rótulo de “pop sofrência” é oficializado com o ritmo dançante e a letra sombria, tornando tudo muito cômico.
“‘Vou Morrer Sozinho’ tem muito a cara do álbum inteiro, não que ele seja tão pra cima quanto essa música, mas tem esse lado de sofrer e ser dançante ao mesmo tempo. É um trabalho muito intenso que tem seus altos e baixos emocionais o tempo inteiro”, explica o cantor.
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O álbum segue com “Me Beija Com Raiva” que grita single e “deu um trabalhão”, segundo Jão. Ela tem tom de despedida, ao mesmo tempo que implora por mais. A característica marcante e bem brasileira da vez é um acordeão que cria uma melodia ali no fundinho. A melhor parte da música é a construção do pré-refrão e do refrão em si. É chiclete, é pop, é bom e aflora a imaginação de uma história por trás – é também a minha preferida do momento, amanhã já vai ser outra.
“Lindo Demais” começa tipo um chute na porta. A batida da faixa é sensacional e não deixa o pé ficar parado. Mais uma vez uma ótima composição, mas o destaque fica mesmo com a produção – que também tem a participação de Jão em todas as canções. “É uma das faixas que eu acho que a galera vai mais curtir, principalmente nos shows, é uma música de gritar e celebrar o amor de todas as formas”, conta o cantor. Dois momentos diferenciam a música: uma “bagunça” feita por copos e vozes diversas gritando “PORRA, A GENTE SE AMA, ISSO É LINDO DEMAIS” e a voz do produtor Pedro Dash repetindo a mesma frase.
A quarta peça não é nem um pouco inédita. “Imaturo” aqui é veterana e bem madura, entrou em “Lobos” quase que como uma forma de agradecer aos fãs pelo sucesso e de manter a inocência na história que o disco conta. Ela é seguida por “Ainda Te Amo” começa com uma frase que, com certeza, vai gerar uns memes por aí: “minha mãe não dorme enquanto eu tô na rua e ela tá de pé já vai fazer um mês”.
Essa é primeira canção mais lentinha, apoiada totalmente em violão e sem uma grande batida. Ainda sim, o refrão te pega, o riff é bem marcante e a ponte é simplesmente linda, cantada com muita emoção e com uma referência a “Imaturo”. “‘Ainda Te Amo’ é uma das mais chororôs e dramáticas do disco. É a segunda vez que eu cito minha mãe em 5 faixas, eu invoco isso para buscar um conforto nela e pensar que, de alguma forma, eu gostaria que ela me salvasse dessas situações”, afirma Jão. “Ela também é uma música bem degradante, porque ela mostra a pessoa que é o pior lado da relação e ser essa pessoa nunca é fácil. A bridge dela, quando muda a harmonia do violão, dá um respiro e é uma das partes que eu mais gosto do álbum, quando muda a melodia e entra o coro”, completa.
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“A Rua” cita a mãe de Jão pela terceira vez… haja preocupação! É a faixa que mais se diferencia dos estilos até aqui, talvez também seja uma das melhores e com mais traços de Brasil. Não à toa, é a preferida do cantor no momento. “Não tenho [preferida], eu gosto muito e sou apegado a elas de uma maneira física e protetiva”, conta.
“No entanto, no processo de fazer o álbum, tem músicas que chegam antes e depois, e as mais recentes a gente acaba ouvindo mais, então no momento seria ‘A Rua’. Fiquei muito orgulhoso com ela e acho que é uma das pérolas do disco”. As vozes agudas de coro entoadas pelas mulheres “lavadeiras” caem muito bem, deixando um detalhe precioso. Uma característica do álbum é o fato de que todas as músicas clamam por um clipe que dança pela imaginação enquanto elas tocam.
A faixa-título, “Lobos”, coloca o cantor realmente na pele do animal, no sentido de liberdade e descoberta. Ela é construída para ser gritada a plenos pulmões e emocionar em um show. A música é também a mais antiga composição a entrar. “Ela é minha queridinha. Eu escolhi ela para ser a faixa-título desde sempre, todo o álbum foi construído ao redor dela”, entrega. “‘Lobos’ carrega essa mensagem de liberdade total, de você aceitar as suas imperfeições, de aceitar aquilo que você mais odeia em você. Eu me inspirei muito na música ‘Não Vá Embora’, da Marisa Monte, que fala exatamente o contrário, é alguém preso a outra pessoa. Eu queria falar que solto e sendo eu mesmo, fico muito mais bonito”, explica.
Em seguida, “Eu Quero Ser Como Você”, mantém o ritmo que vai desacelerando mais pro final do álbum, mas ainda tem uma batida marcada no violão e efeitos melódicos. Ela também fala de amor, de uma forma autocrítica (ou depreciativa) ao se comparar com outra pessoa. “Essa foi uma das mais difíceis de escrever”, diz Jão, “eu queria fazer um trabalho com todos os tipos de sentimentos, os que gostamos e os que não gostamos. E o sentimento de se apaixonar pela admiração e pela vontade de ser aquela outra pessoa não é uma ligação tão boa. Não é amor, é inveja. Isso aconteceu na minha vida, por muito tempo eu me espelhei muito em uma pessoa e isso me fez enlouquecer um pouco, como diz o refrão”.
“Aqui” também não é novidade, mas a versão é. O primeiro e único feat do disco acontece nesta faixa com o português Diogo Piçarra. “Foi um desejo de aproximar Brasil e Portugal, compartilhar música e o Diogo combina muito comigo”, contou Jão. A música foi apresentada diversas vezes ao vivo e ganhou uma versão acústica, parte do EP “Primeiro Acústico”, nas plataformas de streaming. Em “Lobos”, “Aqui” é mais pop e fica grandiosa com as duas vozes. No refrão, uma pequena mudança com a retirada de “a gente”, que não faz parte do vocabulário do português de Portugal. O original é resgatado por Jão apenas na última repetição.
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Para encerrar, “Monstros”, levada por um piano, se coloca como a mais lenta e emotiva, mas termina o trabalho em um patamar altíssimo. Aqui, Jão canta sobre e para si mesmo. Como um mero detalhe, essa é a única faixa que tem a palavra “lobos” cantada. “Ela é bastante confessional. O álbum funciona como um desabafo de todas as coisas ruins e encerra com essa música que fala das minhas lutas durante a vida e de como tudo vai ficar bem”, explica o cantor. “Ela é muito significativa para mim e foi ela que fez minha mãe chorar, principalmente no momento que eu canto ‘esse menino do interior’. Acho que não tem música mais perfeita para encerrar “Lobos”, dar essa mensagem de liberdade e convidar as pessoas a serem quem realmente são, assim como eu quero ser”.
Deixando um pouquinho a imparcialidade de lado e me aproveitando da licença poética do texto em primeira pessoa: é lindo ouvir essa voz, que eu conheço há quase 24 anos, se provando e crescendo. Não à toa, o nó na garganta orgulhoso apareceu todas as vezes que eu escutei “Lobos” até agora, seja na música lenta, ou na batida maravilhosa que me arrepia. Provavelmente esse nó vai continuar persistindo.
“Lobos” é forte. Nas letras, batidas, melodias e emoções. Em tempos de singles e mais singles perdidos por aí que visam somente a comercialização, ele surge com começo, meio e fim – e merece ser ouvido dessa maneira. A impressão que fica é que Jão deu muito de si, pois o álbum é completo. Não é “tudo”, pois dali ainda virá muita coisa, melhor e maior. Com um primeiro trabalho tão inteiro, tão cheio de possíveis hits e uma primeira impressão tão boa, a torcida fica para que o Jão e o pop continuem caminhando lado a lado.
Um fato importante a ser lembrado é que, apesar de algumas músicas terem a comparação com artistas já no mercado prontas para serem feitas, Jão faz sons novos e com a própria cara. Esses, na minha opinião, não podem, nem devem, receber comparações, pois têm vida própria. “Eu gosto como cada uma [das músicas] tem suas particularidades, o sax e o pós-refrão de “Vou Morrer Sozinho”, o uivo em “Lobos”, o coral em “A Rua”, o baixo de Lindo Demais… Eu queria muito fazer meu próprio som pop e que soasse muito com o lugar onde eu vivo e moro”, detalhou ele.
Agora que você já sabe algumas curiosidades de “Lobos”, que tal ir lá ouvir? Aos leitores do Nação da Música Jão deixou o uivo: “Vocês são lindos e queridos! Muito obrigado sempre! Ouçam Lobos auuuuuuuuuuu”.
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