Resenha: “Fetch The Bolt Cutters” — Fiona Apple (2020)

Fiona Apple
Reprodução

Fiona Apple quebrou o silêncio (e sumiço) de mais ou menos oito anos em abril, com o lançamento do quinto disco de estúdio da carreira, intitulado “Fetch The Bolt Cutters”.

De acordo com informações do Genius, o título foi extraído de um episódio da série policial “The Fall” e a frase foi dita pela personagem da atriz Gillian Anderson (“Sex Education”, “Arquivo X”). Em entrevista ao New Yorker, a cantora declarou que o álbum é sobre “não ter medo de falar”, o que percebemos nitidamente quando nos atentamos ao conteúdo das letras.

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“Fetch” conta uma história que, ao meu ver, é melhor apreciada quando ouvimos na ordem em que foi montada ao invés de deixar rolar no aleatório, a princípio. Ele começou a ser gravado em 2015, é composto por 13 faixas. Apple é uma das produtoras do projeto, junto com Amy Aileen Wood, Sebastian Steinberg e David Garza.

A atriz e modelo, Cara Delevingne é creditada como uma das cantoras de apoio, assim como Maude Maggart, irmã de Fiona, que já havia aparecido anteriormente em “Hot Knife” e “I’m In The Middle of a Riddle”.

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Apple revelou à NPR que o primeiro single desse projeto deveria ser lançado apenas em junho, prevendo a divulgação dele na íntegra em outubro. Contudo, Mikaela Straus (mais conhecida como King Princess), enviou uma mensagem à ela expressando que era necessário que o mundo conhecesse sua nova arte logo porque “as pessoas precisam de música nova para ouvir” — dentro do contexto de isolamento que nos encontramos —.

“Estou hesitante em falar que espero estar ajudando pois, parece que estou me dando muito crédito, mas eu realmente torço para estar auxiliando as pessoas e que as experiências que tive possam ser ouvidas através do álbum, que isso seja catártico de alguma forma. Se eu conseguir ser uma espécie de catarse substituta, caso você consiga ter esse sentimento enquanto ouve [o disco]; esse é o maior objetivo que qualquer arte pode ter, ao meu ver”, declarou a artista na mesma conversa.

Poderíamos passar muito tempo falando sobre os elementos libertadores que a nova iorquina quis inserir nas suas letras bem como nas harmonias e melodias do disco utilizando suas próprias palavras. Contudo, vamos agora (ao menos tentar) dissecar cada uma dessas treze canções inéditas!

“I Want You To Love Me” é a balada que dá o tom inicial desse disco, basicamente apenas com Fiona Apple tocando piano. A letra fala sobre as mudanças pelas quais ela passou que a fizeram chegar até esse momento e que, apesar de todas as modificações, ela torce para que o ouvinte a ame pois “não precisamos voltar ao local onde estivemos”.

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Apesar de ter dito em entrevista ao New Yorker que “Shameika” foi inspirada por um momento no colegial em que uma valentona disse que ela tinha “potencial”, a compositora descobriu que essa memória pode estar confusa após receber uma foto dos seus companheiros de turma, onde estava a suposta personagem: “ela não parece uma valentona de jeito nenhum, tem um sorriso enorme no rosto!”, declarou à Vulture.

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O ritmo do álbum vai crescendo a partir desta segunda faixa, a artista vai mergulhando na sua verdade e a expõe cada vez mais ao seu ouvinte, como forma de se libertar e tentar passar o mesmo sentido de escape que ela sente e deseja atingir.

Em seguida temos a faixa-título que não só conta com Cara Delevingne nos vocais, como também tem a participação especial dos cachorros tanto da modelo quanto de Fiona. A música fala sobre você finalmente sair de uma situação infeliz, a respiração pesada da cantora nela transmitem a sensação de peso que ela sente.

“Cara e eu somos amigas por mensagens de texto há anos. Eu realmente queria que ela cantasse a faixa-título. Ela trouxe os seus cachorros, Leo e Alfie então, todos nossos cachorros estavam no estúdio quando a porta se fechou e eles estavam quietos durante todo o processo. E no final eles simplesmente começaram a latir, foi perfeito”, revelou também a Vulture.

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“Under The Table” é ambientada num jantar onde, apesar de todos os esforços da outra pessoa, a autora simplesmente se recusou a ficar calada diante de uma situação que achou errada. A percussão dessa faixa, dá o tom à seguinte “Relay” que fica cada vez mais intensa e marcante onde vários ressentimentos e desgostos são expressados.

O instrumental de “Rack Of His” poderia tocar num filme de espionagem e encaixaria muito bem. A letra fala sobre a dedicação da narradora à uma relação na qual ela está apenas sendo usada e acaba se diminuindo e não vendo o seu valor por causa disso.

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A trajetória de um relacionamento tóxico continua em “Newspaper”, onde Fiona Apple conversa com uma terceira pessoa sobre um homem que ela gostaria que sentisse orgulho dela e o quanto, ao mesmo tempo, ele não faz bem à ninguém.

“Se eu tento entrar em contato com alguém e conversar sobre as coisas e eles não querem falar comigo então, me desculpe, eu preciso escrever uma canção”, admitiu a nova iorquina.

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Se Fiona está falando sobre empoderamento feminino ao longo das sete canções anteriores, “Ladies” é a continuação disso em forma de balada, uma das poucas — como vocês já devem ter notado, caso tenham ouvido —. Aqui, David Garza e Maude Maggart aparecem nos vocais de apoio.

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“Heavy Balloon” é sobre depressão e a sensação de ter um peso sob si, como algo que nunca te abandona. Na mesma entrevista citada anteriormente nessa resenha, publicada pelo New Yorker, a cantora até “brincou” com o fato, fingindo que estar se divertindo com um balão e no final das contas percebendo que ele é apenas pesado e nada divertido.

“Comonauts” começa com leves batidas de percussão e vai progredindo conforme a narrativa se desenrola, fala sobre como o amor com o passar do tempo muda e pode ficar pesado e exaustivo. No final, Fiona Apple já está gritando, como se estivesse pronta para se soltar até momento que sua voz é apenas um sussurro, demonstrando cansaço.

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“For Her” é uma ode a todas as mulheres que sofreram violência sexual e tiveram a sua dor diminuída e desacreditada, foi escrita após às acusações contra Brett Kavanaugh surgirem na imprensa norte-americana.

“Embora seja uma coisa desconfortável de dizer em uma canção — “você me estuprou” — algumas pessoas precisam dizer em voz alta para entender o que aconteceu com elas. Minha esperança é de que talvez homens e mulheres cantem e isso permita a eles reconhecer a verdade. Porque às vezes é realmente difícil dizer, especialmente se você não quer machucar a pessoa que fez isso com você”, se justificou Apple à Handler, da revista Vulture.

“Drumset” é uma canção sobre rejeição, onde a percussão continua se sobressaindo — diria que essa é a marca mais forte do disco, o que o torna excelente — e o encerramento fica por conta de  “On I Go”.

Se ela começou o álbum declarando que queria ser amada após todas as mudanças, aqui ela declara que seus movimentos não são mais calculados e apenas como forma de mantê-la em movimento.

No geral, “Fetch The Bolt Cutters” fala sobre ter controle sobre sua própria história, se permitindo expressar todo o descontentamento, opinião contrária ou seja lá qual for a sua verdade. É um disco poético e necessário na vida de qualquer pessoa que se sentir presa, realmente cumpre o papel catártico que a cantora expressou desejar ocupar. Ouça o disco na íntegra pelo Youtube depois do rodapé!

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Stephanie Hora
Stephanie Hora
Jornalista, apaixonada por música, livros e cultura em geral.
"Fetch The Bolt Cutters" dá continuidade a narrativa poética de Fiona Apple e, apesar de ter letras mais diretas não deixa de ter suas entrelinhas para livre interpretação do ouvinte. Resenha: "Fetch The Bolt Cutters" — Fiona Apple (2020)