Resenha: “GRACINHA” – Manu Gavassi (2021)

Manu Gavassi
Foto: Reprodução / Capa de “GRACINHA”

Na última sexta-feira (26), a cantora, compositora, diretora e participante do BBB20, Manu Gavassi, soltou a parte cinematográfica de seu álbum visual “GRACINHA”, com visuais extremamente estruturados e uma atmosfera mais tranquila e independente nas suas músicas.

Com nove faixas, incluindo os singles “Eu nunca fui tão sozinha assim” e “sub.ver.si.va”, sobre as quais você pode ler aqui e aqui na Nação da Música, o disco é etéreo e fluido, mostrando um lado diferente do pop de Manu Gavassi.

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A produção para um filme coeso e narrativo, que também foi dirigido pela artista, pode, no entanto, ter machucado o lado musical do álbum, que apresenta momentos bastante parecidos dentre as canções – mesmo que bastante sólido para um novo caminho. Com isto em mente, vem saber o que achamos de cada uma das faixas de “GRACINHA”!

A primeira música, “GRACINHA”, é um bom início para o disco, que já a partir dela parece estar criando uma vibe narrativa. Com um piano tradicional do MPB, que logo é adicionado a sons leves e pontuais, oferecendo uma aura suave e íntima, a canção é uma apresentação da personagem de Manu Gavassi.

A cantora usa versos como “Se eu pudesse, eu cairia na sua frente / Mas, meu mapa astral me prende” para explicar ao ouvinte as emoções da protagonista do projeto. Além disso, é inegável as influências do jazz, nessa canção e no álbum inteiro, em especial com as participações melífluas de Tim Bernardes e Amaro Freitas.

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Pendendo mais para um pop acústico e soando como a trilha sonora de uma tarde ensolarada mas triste, “Eu nunca fui tão sozinha assim” foi um single ideal para o álbum, vendo, principalmente, a maneira que a música apresenta o lado mais artístico de Manu Gavassi, que transborda em “GRACINHA”.

Também sendo baseada no piano, adicionando dessa vez um saxofone, esta é uma canção em que as letras da artista mereciam uma produção menos típica, devido a sua característica melódica e poética, apresentando versos como “Pessoas de máscara sorriem pra mim”, que pinta vivamente uma cena. A estrofe em francês do cantor Voyou, com o ritmo de “Eu nunca fui tão sozinha assim”, encaixa-se perfeitamente, no entanto.

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Outro dos singles do álbum, “sub.ver.si.va” é um dos destaques do álbum. A voz leve de Manu Gavassi é perfeita para a aura superior que a narradora da faixa adota, parecendo, ao mesmo tempo, fria e inocente. “Te testo só pra ver se fica e você fica” mostra que ela está em completo controle da situação e do relacionamento em geral – mesmo que pergunte ao interesse amoroso o porquê dele voltar. Seria interessante ouvir um ritmo mais dedicado ao pop nesta canção, mas este encontra seu lugar mais facilmente na narrativa etérea que “GRACINHA” tem, dando uma impressão mais coesa.

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Uma das únicas músicas que apresentam uma mudança completa de produção em relação ao resto do álbum é a próxima, “Reggaeton triste (feat. Vic Mirallas)”. Enquanto as três passadas engancham-se em ritmos afluentes do MPB tradicional, esta usa alguns dos instrumentos anteriores e mostra a mesma aura flutuante do resto do projeto, entretanto a percussão é característica do reggaeton, o que justifica o verso em espanhol do cantor convidado. Sensual e melancólica, a faixa é a maneira esperada para Manu Gavassi tocar no tópico de sexo, usando frases como “Quero ver como duas almas livres se comportam”.

Voltando à atmosfera francesa de “Eu nunca fui tão sozinha assim”, “Tédio” tem um sentimento europeu e desconectado – mas dessa vez é exatamente o que a faixa pede. O instrumental eletrônico enquanto as duas cantoras, Manu Gavassi e Alice et Moi, cantam sobre a emoção de tentar se entreter com alguém devido a um tédio controlador é uma combinação perfeita.

Com a desconexão do resto da música quando Manu canta “Não era amor, era tédio, de novo”, a faixa não é somente um dos destaques deste projeto, mas também é uma prova de que a artista não precisa se tornar mais intensa para aperfeiçoar esta aura que está criando, somente entender quais das letras que escreve merecem este tipo de produção.

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(não te vejo meu)” é tradicionalmente sentimental e é um pop triste tradicional, acompanhado pelo mesmo piano e alguns toques leves de anteriormente, justificando sua existência neste projeto que é extremamente coeso. Não é triste devido à emoção de tristeza, a música é na verdade bastante romântica, mostrando a habilidade que Manu Gavassi tem de tecer comparações facilmente compreensíveis, abrindo sua música para qualquer ouvinte. Pela primeira vez no projeto, esta é uma faixa tradicional demais.

Em uma bossa nova bastante intencional, “Bossa Nossa” é uma crítica decisiva ao sentimento de que o antigo é sempre melhor, de que alguém pode ser ‘artístico’ demais e à emoção de ser hipster. O ritmo mistura um pouco de outras batidas brasileiras e apresenta algumas letras mais inteligentes do álbum, como “Nunca gostei dos Mutantes sem a Rita Lee”, que expressa uma crítica ao machismo e à superioridade masculina.

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Em uma decisão interessante, Manu Gavassi também inclui um áudio de seus votos no BBB 20, mostrando o apoio que teve durante o programa, mas, além disso, explicitando que a verdadeira ela está nas letras deste projeto e não no reality show.

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Catarina” é a música mais cheia de emoções de “GRACINHA”, uma honra direta a sua irmã por cima de um violão, criando uma atmosfera extremamente íntima e que coloca em palavras o amor que Manu Gavassi tem por Catarina, sendo um lindo presente. “Catarina se você soubesse que / O que você vê em mim eu vejo também / Mas eu vejo em você” expressa tanto em somente poucas frases.

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A música “CANSEI” fecha o álbum e tem uma aura de jazz misturado com lo-fi e solidifica a personagem da cantora como uma pessoa independente que está dedicada a nunca mais se esconder e limitar sua auto expressão. Com “Me falaram que eu era louca por tempo demais / Acho que acreditei”, Manu Gavassi quebra correntes que a prendiam a suas personas anteriores, cansada de não ser completamente ela mesma.

O projeto, que acaba com a frase “Cabô, chega de gracinha”, mostra uma face diferente de Manu Gavassi, que é menos pop, mais suave e etérea, combinando com a estética presente no seu filme para o álbum visual. No entanto, esta dedicação com uma obra cinematográfica narrativa e coesa torna “GRACINHA” um álbum que bate na mesma nota talvez vezes demais, com ritmos bastante parecidos e faltando uma variação que seria muito bem-vinda – fosse ela indo completamente para o lado do pop ou dedicando-se inteiramente a uma faixa MPB.

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Pedro Paulo Furlan
Pedro Paulo Furlan
Estudante de jornalismo, não-binárie e apaixonade por música. Sempre aberte para ouvir qualquer gênero, artista ou década. O universo do pop, principalmente hyperpop, k-pop e synthpop, é onde eu vivo e sobrevivo.
Manu Gavassi expressa em “GRACINHA” suas vivências de forma completamente coesa e encantadora, mas, com a coesão vem também uma certa falta de variação, que pode ferir a experiência de alguém que está ouvindo o disco sem o filme que o acompanha.Resenha: “GRACINHA” - Manu Gavassi (2021)