Resenha: “LADY LESTE” – Gloria Groove (2022)

Gloria Groove
Divulgação / Capa “Lady Leste” / Foto Rodolfo Magalhães

“Lady Leste”, lançado na última quinta-feira (10), como você pôde conferir aqui na Nação da Música, é um manifesto à versatilidade musical de Gloria Groove, drag queen, cantora e rapper. Explorando funk, pop, hip-hop, pagode e até reggaeton, a artista consegue mostrar tudo do que é capaz nas 13 faixas do disco, se é que ela não tem mais cartas na manga.

Anunciado no primeiro semestre do ano passado, 2021, “Lady Leste” é o segundo álbum de estúdio de Gloria Groove, e mostra quanto ela cresceu desde 2017, sua estreia com “O Proceder”. Focado em rap, o primeiro disco é uma faceta só de Groove, enquanto este novo realmente se sente como uma artista completa.

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Mergulhados no funk, com umas pitadas de pop-rock com as guitarras, nós começamos o álbum com “SFM”, colaboração com MC Hariel. Significando ‘sexta-feira maluca’, a música é basicamente sobre isso mesmo, uma grande festa ou um momento de aproveitar, provocar seu interesse amoroso e, em cima de tudo, se divertir.

Deliciosamente explícitos, os versos dos dois artistas caminham entre a fala cantada do funk e o rap estruturado do hip-hop, como esperado de Groove. A produção mantém-se em sua maioria a mesma na música inteira, deixando Gloria e Hariel comandarem. Uma ótima faixa para abrir o disco, que se afunda mais em quem é a cantora.

O primeiro single dessa nova era, “BONEKINHA” é quase uma homenagem à música do começo dos anos 2000. Mesclando um solo de guitarra do pop-punk emo com uma batida tradicional do funk brasileiro, além dos versos com o flow ‘a la’ Lil’ Kim de Gloria Groove, a canção é uma apresentação da artista.

Usando um ideal de ‘boneca’ presente dentro da arte drag, junto com uma brincadeira com gênero, a rapper coloca-se como uma rebelde durante a faixa inteira, especialmente com a letra que mais define “BONEKINHA”: “A bonequinha não sabe brincar”.

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Em “SFM”, MC Hariel fala em “ela veio de vermelho, no tom da maldade” e Gloria Groove domina essa cor em “VERMELHO”. A música é difícil de conectar a um gênero em específico, tendo toques melódicos nos versos, enquanto o refrão é a parte mais intensa da canção, atingida pela batida crescente no pre-chorus.

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Amplamente confiante, a queen em “VERMELHO” é flertante e sensual, conceito que começa mesmo na escolha da cor em volta da qual a faixa vai ser construída. Menos dançante que os outros singles, essa música continua mostrando mais de Groove.

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Indo para o lado de um funk mesclado com um pop brasileiro, “FOGO NO BARRACO” é uma das músicas menos inovadoras do disco, sentindo-se um pouco como uma continuação de “SFM”. Descrevendo um encontro sensual, especialmente durante o verso do parceiro MC Tchelinho, que tem a provocação esperada na voz.

No entanto, mesmo que bastante divertida, a canção soa bastante repetitiva considerando a qualidade do resto do álbum e dos singles que foram lançados anteriormente. Perdendo um pouco de empolgação no final, “FOGO NO BARRACO” não é uma música para passar, mas talvez não seja uma que visitaria por si só.

Completamente inesperado um álbum ir de um funk para um pagode cenográfico, mas, é exatamente isto que acontece com “TUA INDECISÃO”, colaboração com Sorriso Maroto. Mais romântica que qualquer outra faixa do disco até agora, essa música mostra Gloria Groove como uma pessoa sensível e vulnerável.

A produção é surpreendentemente positiva enquanto as letras descrevem o final de um relacionamento ou pelo menos um pedaço turbulento da relação. No entanto, tudo acaba combinando com as vozes suaves dos artistas participantes.

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APENAS UM NENÉM” é uma mistura de pagode com pop caracteristicamente brasileiro, além de contar com um dos maiores nomes em ascensão da cena, Marina Sena. Tentando solucionar uma briga, Gloria Groove e sua parceira cantam para seus interesses amorosos e pedem que eles voltem e acabem com a carência delas.

Versos como “Porque você gritou comigo assim, neném?” e “Eu sou apenas um neném” mostra que elas sabem que ambos os lados do relacionamento estão tendo atitudes meio imaturas, mas, são nesses momentos que eles acabam se encaixando.

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Agora uma transição ainda mais intensa que entre “FOGO NO BARRACO” e “TUA INDECISÃO”, vamos do pop-pagode suave e romântico para o reggaeton marcante de “JOGO PERIGOSO”. Com um ritmo tradicional para este gênero, a faixa é interessante principalmente porque é empolgante ver Gloria Groove explorando-se.

Algumas semanas antes da drag, Urias lançou seu álbum de estreia “FÚRIA” e essa música realmente soa como algo no qual ela se encaixaria. Sensual, divertida e experimental dentro da discografia de Groove, “JOGO PERIGOSO” garante um momento leve e dançante.

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A seguir, as próximas três faixas, temos o foco hip-hop do disco, com “GRETA”, “PISANDO FOFO” e o single “LEILÃO”. A primeira dessa sériezinha conta com a confiança exuberante de Gloria Groove e uma velocidade de versos reminiscente do começo de sua carreira, quase sendo nostálgica de “O Proceder”.

As rimas da rapper são sempre grudantes e, diversas vezes, bastante interessantes, como “Hoje eu sou anti-herói, miro pra te derrubar / Isso não é Tarantino, mas o sangue vai jorrar” e “Isso é um filme, spoiler, no final, ‘cê some”. Explorando o lado vilão da ‘Lady Leste’, “GRETA” é impossível de deixar passar na tracklist.

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Na minha opinião, o maior destaque do disco, “PISANDO FOFO” é uma colaboração com a dupla de potências do rap brasileiro Tasha & Tracie. Mais dominante que em todas as outras faixas, essa aqui destaca o quão boa rapper Gloria Groove realmente é, conseguindo se encaixar perfeitamente com as outras duas artistas na canção.

Uma injeção de confiança, as três conseguem construir uma mescla de ostentação, resistência e destaque no poder musical delas. A produção completamente foca no hip-hop mais clássico, batendo perfeitamente o fim de cada um dos versos.

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Seguindo, o terceiro single de “Lady Leste” foi “LEILÃO”, outra enchente de confiança, mas desta vez mesclada com a aura teatral que muitos dos trabalhos de Gloria Groove tem. Com uma marcante sonoridade cinematográfica, além de um leve som de metal batendo ao longo da música, quase como se fossem moedas caindo.

Colocando-se como o item mais caro desse “LEILÃO” fictício, a rapper mostra seus versos engajantes e sua capacidade para a mudança de flow, indo de um quase canto-rap na primeira seção para rimas rítmicas e rápidas na segunda.

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A maior representante do lado R&B de Gloria Groove, “LSD” poderia estar no álbum de grandes nomes deste gênero, como SZA ou Kehlani. Por cima da batida característica do ‘rhythm and blues’, a cantora cria a imagem de uma noite turbulenta com alguém a quem ela ama muito. Em versos como “Te amei com overdose e vício”, a artista descreve essa pessoa que deseja que ela se perca nessa nova fama.

No ápice de sua teatralidade, quase margeando a ideia de um musical, “A QUEDA” canta sobre uma das partes mais discutidas da vida de uma pessoa famosa: os haters, com certeza, mas também a, alegada, ‘cultura do cancelamento’. Em questão da produção, a faixa é perfeitamente encaixada no conceito de circo que Gloria Groove criou.

Mesmo falando de suas próprias experiências, “A QUEDA” soa como uma das letras mais básicas do disco. Não extremamente confiante como em “PISANDO FOFO”, e nem aberta e sentimental como em “TUA INDECISÃO”, os versos acabam repetitivos, apesar da seção de rap ser, como esperado, extremamente boa.

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Fechando as treze faixas completas do disco, “SOBREVIVI” é o dueto de Gloria Groove com a cantora Priscila de Alcântara. Sendo a única vez ao longo do projeto em que a artista usa os pronomes masculinos, como em “Eu tô cansado de esperar, me encontra naquele lugar”, a canção é honesta e cheia de emoção.

Com o instrumental mais no ‘background’, as vozes das duas, ambas vocalistas estelares, são as protagonistas de “SOBREVIVI”, além de contar com uma das composições mais cheias de metáforas e complexidades de “Lady Leste”.

Mesmo com alguns tropeços, o segundo álbum de estúdio de Gloria Groove é o que falei no início: um manifesto à versatilidade da artista. Contando com as produções mais complexas da carreira, além de um número imenso de gêneros musicais explorados, e uma polidez imbatível nos versos da cantora e rapper, “Lady Leste” nos apresenta a uma Groove que não pode ser limitada e que, continuamente, está em evolução.

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Pedro Paulo Furlan
Pedro Paulo Furlan
Estudante de jornalismo, não-binárie e apaixonade por música. Sempre aberte para ouvir qualquer gênero, artista ou década. O universo do pop, principalmente hyperpop, k-pop e synthpop, é onde eu vivo e sobrevivo.
Em “Lady Leste”, Gloria Groove mistura pop-punk, pagode, hip-hop, R&B e até funk, além de mostrar suas proezas vocais e como rapper, lançando alguns dos melhores versos de sua carreira e se fixando como uma potência no cenário musical brasileiro, e ainda assim mantendo um caminho para crescimento.Resenha: "LADY LESTE" - Gloria Groove (2022)