Anunciado oficialmente no dia 26 de março desse ano, 2021, como você pôde ler aqui na Nação da Música, o álbum “MONTERO” do rapper e cantor Lil Nas X saiu nessa última sexta-feira, 24, e foi recebido com muita empolgação por seus fãs e pelo público em geral. Com 15 faixas e contando com participações de nomes como Miley Cyrus, Elton John e Megan Thee Stallion, o artista consegue, em seu disco de estreia, mostrar uma variedade de ritmos, temáticas e maneiras de expor seu talento, indo de raps extremamente rápidos para versos completamente cantados.
A estética fantástica e os vídeos super-produzidos podem enganar o ouvinte – simbolizando que esse seria um projeto fantasioso e desligado da realidade de Lil Nas X, mas ao longo de todas as canções, ele é honesto e revela mais das suas experiências de vida, especialmente considerando seus obstáculos como homem negro e gay. Enquanto “MONTERO” realmente contém muitos gêneros e talentos do rapper, ele acaba, devido à maneira que a tracklist foi organizada, sendo dividido em núcleos animados e lentos, o que pode fazer com que o ouvinte acabe não percebendo o contraste tão grande entre as canções e falhe em observar por completo o universo apresentado para ele nos quarenta minutos de música.
Abrindo com o single “MONTERO (Call Me By Your Name)”, Lil Nas X chuta a porta de entrada, sem nenhum pingo de remorso ao empurrar seu público nessa jornada por suas multitudes. Por cima de uma batida sensual, o artista consegue amarrar diversas temáticas em uma faixa só, indo de falar sobre um interesse amoroso ou sexual, sua fama rapidamente crescente até dificuldades reais de namoro na cena gay, como o fato de ter que se esconder com seu parceiro e a dificuldade entender sua própria atração, especialmente no verso: “Quero transar com aqueles que eu invejo”.
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Em seguida temos a primeira música inédita, “DEAD RIGHT NOW” é violenta, mas também sentimental, caminhando na linha entre o ódio por uma pessoa e a noção de que ela se interessava por ti anteriormente – cantando “Vou te tratar como se você estivesse morto agora”. Durante a canção não fica completamente claro os momentos nos quais ele fala de um possível namorado ou ficante, e nos quais ele fala sobre sua mãe e as dificuldades de sua infância – além de citar o momento em que ele estava criando músicas, mas sem o sucesso de hoje. É uma canção que contém muitos episódios da vida de Lil Nas X.
“INDUSTRY BABY” com a participação do rapper Jack Harlow foi também um dos singles lançados de “MONTERO” – e é um momento que os dois tiram para honrar as suas jornadas e comemorar onde estão agora, além de rir de quem não achou que eles conseguiriam. Os flows de Lil Nas X e Jack Harlow são muito diferentes durante a faixa, enquanto o primeiro conecta uma frase na outra, o segundo vai de verso em verso marcando o ponto final com força – o que pode ser um choque auditório para o ouvinte, especialmente com a batida pesada por trás das rimas. No entanto, é uma das partes mais descontraídas do álbum e uma garantia de um boost na confiança – com letras como “Eu não fodo com vadias, sou queer ha” mostrando a completa certeza de Lil Nas X em sua identidade.
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A próxima música é uma das mais tristes do disco, mesmo que suas letras estejam escondidas embaixo de uma produção de pop animado. “THATS WHAT I WANT” contém o artista mostrando pela primeira vez seu range de canto, usando seu controle de tons graves e mais agudos para expor suas emoções profundas sobre como ele quer muito alguém para amar. Dizendo que se sente solitário e que não quer mais que seja somente ele e seus sonhos durante a madrugada, Lil Nas X grita no refrão sobre esse anseio, enquanto solta algumas rimas de rap dentro dos versos.
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“THE ART OF REALIZATION” é o primeiro interlúdio de “MONTERO” e conta só com o rapper conversando, dizendo que tem dirigido muito esses tempo, sem nenhum destino certo e se perguntando se está realmente feliz. O que segue, no entanto, é outra das faixas do disco que exalam confiança imparável – “SCOOP (feat. Doja Cat)” conta com os dois artistas lançando rimas descontraídas e preenchidas de orgulho por cima de uma batida tradicional de hip-hop. Usando “Scoop” – palavra que se refere, entre muitos significados, a notícias inéditas e importantes – para falar sobre como eles, suas figuras e sensualidades são onde o holofote tem que estar.
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A canção “ONE OF ME (feat. Elton John)” tem uma das batidas mais suaves de “MONTERO” e conta com Lil Nas X cantando e versando sobre suas inseguranças e coisas que já falaram para ele após seu sucesso com “Old Town Road” de 2019. Com frases como “Se você soltar outra música, nós não vamos nos importar” e “Você é um meme, você é uma piada, foi um truque desde o começo”, o rapper mostra uma face cheia de fragilidade e sentimento – descrevendo suas dificuldades no mundo da música.
“LOST IN THE CITADEL” segue e sua produção mistura uma batida descontraída com guitarras e percussão comuns do pop-punk – o que pode ter sido uma das inspirações da faixa, com as suas letras cheias de revolta e emoções. A suavidade do ritmo base aproxima ele de “ONE OF ME”, mas os aspectos de rock diferenciam as duas músicas nessa, que é uma canção sobre perceber que seu interesse amoroso na verdade não era a pessoa que ele parecia ser e que você merece mais. No entanto, o crescimento de “LOST IN THE CITADEL” nunca resulta em algo, as guitarras e baterias não recebem o espaço para um refrão intenso e forte – mantendo-a em uma nota só durante sua duração.
A próxima não podia ser mais diferente, “DOLLA SIGN SLIME (feat. Megan Thee Stallion)” tem uma produção similar a “INDUSTRY BABY”, com seus trompetes e o fundo tradicional de rap. Entretanto, enquanto os flows de Lil Nas X e Jack Harlow são diferentes de maneira que apresentam um obstáculo – a combinação com Megan Thee Stallion é um duo perfeito. As rimas alongadas e audaciosas de Lil Nas X juntas com a maneira que a rapper solta versos de maneira tão rápida e cheia de poder criam um feat. que conta com mudanças de ritmos e flows, mas de alguma maneira ainda se mantém uma só.
“TALES OF DOMINICA” é um dos momentos mais honestos de “MONTERO” – no qual o artista direciona os ouvidos de sua audiência completamente para suas experiências difíceis e tristezas, além de inseguranças – já começando enquanto conta sobre uma casa quebrada e um colchão inflável que não enche mais. A batida baseada em um violão acústico é o fundamento por cima do qual Lil Nas X canta, mostrando mais uma vez o potencial emotivo de sua voz como cantor – dissertando com uma expressão pesada em seu tom e soltando versos como “Eu estive vivendo no meu pior, isso é seguro de dizer / Espero que meu pouquinho de esperança não desapareça”.
Seguindo pelo disco, temos “SUN GOES DOWN” e é outra das entradas sentimentais de Lil Nas X – com beats suave por trás de seus versos, nos quais ele reflete sobre suas experiências com bullying, racismo e pensamentos suicidas e também fala sobre a gratidão de não estar mais naquele lugar ruim. Até fazendo referência a seu perfil de fã para Nicki Minaj no Twitter, o artista consegue reunir diversas vivências pelas quais passaram outros meninos negros e gays – além de muitas outras pessoas da geração Z, como se esconder de sua vida na internet. Mesmo fazendo parte de um momento em “MONTERO” no qual as músicas apresentam produções parecidas, “SUN GOES DOWN” é claramente um dos destaques do disco por completo.
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“VOID” continua essa seção mais lenta e suave do álbum, mas apresenta uma diferença grande na composição em comparação com as outras – nessa Lil Nas X se dedica a letras narrativas, contando a história de ter de fugir e infelizmente deixar uma pessoa amada para trás a forma de uma carta direta a esse personagem. Com frases como “Oh Blue, eu te amo também / Mas hoje eu vou fugir de casa” e “Eu choro pela noite / Não consigo achar um amor que me ama tanto quanto você”, o artista deixa claro os sentimentos que preenchem cada linha dessa canção e pinta uma narração que automaticamente aparece na cabeça de quem ouve.
Apresentando seu registro de voz mais grosso enquanto canta, e uma voz mais alta enquanto solta versos de rap, “DONT WANT IT” é um ponto médio entre as duas produções típicas de “MONTERO”. A suavidade se mostra presente durante os versos, enquanto um ritmo animado sempre crescente está no fundo, somente parando no momento em que Lil Nas X relembra alguns momentos especiais de sua carreira – com destaque para ser chamado para receber seus prêmios. Com a frase “Eu não sou a ‘fucking’ prova de que se você quiser, você pode ter qualquer coisa em frente a seus olhos?”, ele descreve sua trajetória de crescimento constante.
A penúltima faixa é “LIFE AFTER SALEM” e ela puxa de volta as guitarras e percussões de “LOST IN THE CITADEL”, mas mantendo o ritmo em meio-tempo, antes do clímax, e se aproximando de um blues-rock. Contando a história de um relacionamento complicado, se não abusivo, usando das linhas “Eu amo quando você não mostra amor nenhum” e “Nossas cicatrizes, elas ainda dançam umas com as outras”, Lil Nas X mostra de novo que não há nenhum gênero que ele não tem coragem de tentar. A música é ainda mais uma prova de que o artista está se moldando para um compositor honesto e cru, indo completamente contra a faceta de brincadeira da qual ele é acusado em “ONE OF ME (feat. Elton John)”.
Fechando o disco com a parceria com Miley Cyrus, “AM I DREAMING” começa com um dedilhado – prevendo mais uma faixa com ritmo suave, mas que apresenta a variação necessária na voz de Lil Nas X, que canta com tanta melancolia que os vocais tradicionalmente sentimentais da cantora parceira ficam no mesmo nível com os dele. Pedindo para que o ouvinte nunca o esqueça e terminando a música com som de alguém pulando e afundando-se em água, “AM I DREAMING” mostra um eu-lírico completamente vulnerável, tirando qualquer barreira atrás da qual ele pode ter se escondido no passado e apresentando-se em uma maneira aberta e natural.
“MONTERO” é uma contribuição interessante para a cultura pop, um álbum vindo de um artista completamente fora do padrão do que se torna famoso, um homem negro e gay, e que foi taxado de “one-hit wonder” (maravilha de um hit só) por muito tempo. Honesto, emocional e cheio de talento, o disco somente falha em sua produção – em certos momentos – margeando a monotonicidade em períodos que deviam ser destacados, como “SUN GOES DOWN”, ao invés de escondidos no meio de faixas que apresentam batidas similares. O projeto é a confirmação necessária de que Lil Nas X tem muito mais a apresentar e sua potência não está nem perto de apagar – mesmo que talvez ele precise encontrar uma melhor maneira de organizar suas canções.
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