Resenha: Pela primeira vez no Brasil, David Gilmour entorpece público em São Paulo

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Parecia uma ilusão, mas até o fã mais cético sabia que aquilo, de fato, estava acontecendo. Pela primeira vez, o ex-vocalista e guitarrista do Pink Floyd tocava em terras brasileiras. São Paulo foi a cidade escolhida para estrear na turnê brasileira de “Rattle That Lock”, nos dias 11 e 12 de dezembro, no Allianz Park.
Tentei ao máximo procurar não saber os acontecimentos do primeiro dia. Alguns amigos no Facebook postando fotos, outros elogiando muito, mas me mantive firme até chegar a minha vez. Sábado seria meu encontro com um dos maiores guitarristas da história. E foi antológico.

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Gilmour entrou no palco às 21h10 e deu início ao espetáculo com “5 A.M.”, “Rattle That Lock” e “Faces of Stone”, músicas de seu novo álbum, de mesmo nome da segunda canção. O cartão de visitas estava dado, músicas de qualidade e voz poderosa. Mas David, beirando seus 70 anos sabe o que faz. Aqueceu o público antes de lhes dar aquilo que mais esperavam: Pink Floyd.

Mas engana-se quem acha que os fãs estavam preparados para levar nos ouvidos logo de cara um dos acordes mais famosos do músico britânico, era “Wish You Were Here”. Mesmo que a grande maioria já sabia a ordem das músicas, suas primeiras estrofes vieram como uma verdadeira pancada. Não só vinda de sua voz, mas das 40 mil que cantavam o mais alto possível e, com pouco mais de vinte minutos de show, já podia se ver a lágrima nos olhos de alguns, enquanto outros, hipnotizados, tentavam segurar. Era apenas a quarta música.

Gilmour não é só um músico, e deixa isso claro entre solos e acordes dedilhados. A vibração de sua guitarra não é deste mundo. Ela toca um por um assim como uma obra de arte toca seus especialistas. Os solos entram na alma, hipnotizam, entorpecem. Dentro do Allianz Parque, um mundo a parte, um verdadeiro espetáculo. Tão espetáculo que possui até divisão entre primeiro e segundo ato. Até os mais divinos seres humanos precisam de uma pausa, ainda mais com 69 anos. Após a também emocionante “High Hopes”, do álbum Division Bell (1994), o próprio músico anuncia a pausa. Acendem as luzes e por onde se olha festival de olhos vermelhos e lacrimejados. Jovens, adultos e idosos, todos estavam desnorteados.

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Passados os vinte minutos de intervalo, as luzes se apagam e o show recomeça. Após a psicodélica e experimental “Astronomy Domine”, canção que marca o álbum de estreia de sua ex-banda, Gilmour volta a atrair os olhares para as cordas de sua guitarra. “Shine On You Crazy Diamond” faz, mais uma vez, o público entoar o mais alto seu refrão. Um dos grande pontos altos da noite.

Obviamente, David Gilmour não é só Pink Floyd, e demonstra isso nas canções solo “In The Island” e o ótimo jazz “The Girl In The Yellow Dress”, que ao mesmo tempo conta uma pequena histórinha animada pelo telão sob um excelente solo de saxofone feito pelo brasileiro de vinte anos, João Mello. Aliás, a banda inteira dá um suporte espetacular e se destacam mesmo sob os solos de Gilmour.

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O telão é um dos pontos mais interessante da estrutura do espetáculo. Um circulo central rodeado de luzes, claramente inspirado nos palcos da turnê Pulse, do Pink Floyd. Para quem estava longe, pode ter sido um problema, pois este era o único telão do show e pouco mostrava as cenas da banda. Em compensação, os movimentos das luzes eram uma atração à parte. Eles formavam uma espécie de portal e se mexiam de maneira sincronizada.

A força da infraestrutura do show se mostrou maior em “Run Like Hell”, única música autoral de Gilmour em The Wall. Toda a banda com óculos escuros e não pra menos. A música é uma psicodelia total, com cores piscantes por todos os lados para ninguém tirar os olhos daquilo. É surreal, é Pink Floyd na sua essência.

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O britânico se despede com “Time” e chega ao seu maior ápice em “Confortably Numb”, outra de The Wall. O público já está extasiado, mas ainda há um espaço para que esta canção encerre o dia de maneira histórica. E aí não tem um que não saiba a letra e não fique, de fato, confortavelmente entorpecido com a música. É o fim. Fim de um dia histórico, fim de um espetáculo. As luzes voltam a se acender e ninguém parece acreditar no que acabou de ver.
David Gilmour prova que, seja na carreira solo ou cantando clássicos do Pink Floyd, a música pode causar lisergia mesmo sem precisar usar nenhum elemento químico.

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Vinicius Machado
Vinicius Machado
Vinicius Machado: Jornalista por opção, escritor por teimosia e apaixonado por música e cinema, principalmente quando essas duas artes se juntam. Além de escrever para o Nação da Música desde 2013, possui um blog de resenhas de filmes. É frequentador assíduo de shows e festivais. Já viu ícones como Bob Dylan, Roger Waters, U2 e Paul McCartney e só pretende largar essa vida depois que assistir aos Rolling Stones ao vivo.