Um clássico da cultura pop e o nascimento de uma estrela, o álbum “Pure Heroine” foi a estreia da cantora neozelandesa Lorde, nome artístico de Ella Yelich-O’Connor, em 2013 – enquanto ela tinha apenas 17 anos. Uma mistura de faixas de seu primeiro EP, lançado em março daquele ano, “The Love Club”, e novas adições, o disco ficou marcado como uma expressão absoluta das emoções que rondam a adolescência – especialmente para a geração Z – falando sobre os impactos da tecnologia, a nostalgia pela infância, os primeiros relacionamentos e muitos outros assuntos.
Batidas sombrias e pesadas, com sons metálicos e sintetizadores em repetição, estão presentes em várias faixas, mas nunca afogam a melancolia e o sentimentalismo de Lorde, tendo a voz da cantora como óbvia protagonista de “Pure Heroine”. Em comemoração ao terceiro álbum da artista sendo lançado nessa próxima sexta-feira (20), como você pôde acompanhar aqui na Nação da Música, vem relembrar as dez canções presentes na versão original do álbum.
“Você não acha que é chato como as pessoas falam?” é a maneira que Lorde começa “Tennis Court”, a abertura do projeto – expressando o tédio de estar presa em uma cidade pequena, a rebeldia adolescente e a dependência de seus amigos. Usando a quadra de tênis como uma metáfora para um lugar de reunião, a cantora convida o ouvinte a compartilhar sobre si mesmo enquanto ela se abre – além de propor formas de transformar suas vidas em aventuras. Seguindo com “400 Lux”, e começando com sintetizadores solitários, até uma batida percussiva ser repentinamente adicionada, Lorde consegue romantizar a própria solidão da adolescência e a atmosfera imutável do lugar onde cresce. “Somos vazios como as garrafas que drenamos” é um dos versos mais impactantes da faixa, no qual ela puxa seus companheiros para o seu romance.
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A próxima faixa é, inegavelmente, a canção que empurrou Lorde – com muita força – ao holofote. Com “Royals”, a artista fala sobre a contracultura de não desejar dinheiro, fama ou riquezas, coisas intensamente presentes na cultura pop da época – contando sobre como toda sua ‘turma’ está focada em um “tipo diferente de empolgação”, mas usando um tom sombrio, emocional e grave em sua voz. “Ribs” é outra das faixas que mais se mantiveram na imaginação popular até hoje. Descrevendo ocorrências com as quais muitos podem se relacionar, alguém derrubar um drink em você, correr pelas ruas à meia-noite, além de seus pais permitirem que você fique em casa sozinho, Lorde pinta um retrato de uma adolescência que, mesmo que muito bem aproveitada, está voltada ao medo de deixar esses momentos passarem. Com uma produção repetitiva e crescente, os sentimentos da cantora se intensificam ao longo da faixa, até o momento em que ela quase grita “Eu quero elas de volta / As mentes que tínhamos”.
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Representando o ponto-médio de “Pure Heroine”, “Buzzcut Season” continua a atmosfera escura do disco – como se estivéssemos olhando, ou melhor ouvindo, para esses acontecimentos através de uma névoa. “Eu vivo em um holograma com você”, com isso Lorde conta sobre o sentimento de irrealidade presente, ou às vezes desejável, na adolescência – criando esse ambiente no qual tudo está bem, tudo está certo, mesmo que na verdade o mundo em volta dela esteja em decadência.
“Team” é a seguinte faixa e mostra o valor que Lorde dá para o coletivo – algo expressado em outras músicas também. Apresentando um universo adolescente – escuro, suado e decadente, mas perfeito em sua própria maneira – a cantora constrói uma realidade na qual ela é a rainha e em que as imperfeições e inseguranças suas e de seus amigos são romantizadas, mesmo que nunca seja vista nas telas de televisões. “As peles deles com crateras como a lua” e “Cem joias entre dentes” podem ser referências a acne e a aparelhos dentais, já que ela está tecendo esse mundo com suas próprias imaginações adolescentes. No entanto, Lorde e seu grupo ainda querem fugir dali, se libertar – pois “O que esse palácio quer é estar solto”.
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A cantora, no entanto, nunca se prende em analisar somente a adolescência – em “Glory and Gore”, ela traz uma visão mais geral sobre o que estava acontecendo mundialmente e como essa sociedade vê sua juventude. Expressando-se por cima de uma produção épica, Lorde fala sobre se sentir uma gladiadora contra esse sistema que prende os jovens, sobre como pessoas desrespeitam as festas e diversões da adolescência mas que é essa juventude que vai salvar todos eles – e sempre refletindo sobre as dualidades e paradoxos desse momento em sua vida.
A canção “Still Sane” é uma das primeiras vezes em que Lorde, explicitamente, fala de sua fama. Com uma melodia mais suave que o restante de “Pure Heroine”, a cantora conta sobre como está crescendo e tentando esconder seu medo e nervosismo com a fachada de empolgação e trabalho constante, se mantendo sã e prometendo se manter boa e autêntica. Usando a metáfora de dentes brancos em “White Teeth Teens“, Lorde fala da conexão entre ideais de beleza e a popularidade adolescente. Cantando por cima de uma percussão de pandeiros e sintetizadores, ela toca na decadência de festas e assiste seus companheiros se divertirem enquanto ela mesma não se sente confortável – finalizando ao dizer que ao mesmo tempo que finge ser parte dos “adolescentes de dentes brancos”, o grupo popular, ela não se sente realmente dentro da turma.
Finalizando “Pure Heroine”, a faixa que segue é “A World Alone” e por cima de uma melodia clara, lenta e mágica, de certa forma, a cantora descreve uma visão mais realista e geral da sua adolescência. O romantismo está presente com certeza, com a pura noção de estarem vivendo em um mundo sozinhos – mas Lorde aponta as verdades por trás de seus sentimentos, além de trazer uma leveza e um sentimentalismo positivo para essa época tão paradoxal da vida. Ao fim da canção, ela faz um resgate à primeira faixa do projeto, fechando-o com maestria, ao recitar com um sorriso nos lábios: “Deixe eles falarem”.
O primeiro disco da artista Lorde já prometia muito para ela – tanto que se tornou um clássico entre apreciadores de música indie e pop. “Pure Heroine” traz sentimentos, noções, nostalgias e dualidades bem conhecidas da adolescência – tudo isso por cima de uma produção que é constante mas não cansativa – para os fones de ouvido de outros adolescentes presos em suas pequenas cidades, da mesma maneira que ela estava enquanto escrevia o álbum.
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